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Extracção de nutrientes do milho cultivado em Portugal Nutrient uptake of maize grown in Portugal

Castro Pinto, João1*, Fernandes, Manuela1

1ADP Fertilizantes SA, apartado 88, 2616-907 Alverca do Ribatejo *castropinto@adp-fertilizantes.pt

Resumo

Com o objectivo de se conhecerem as extracções da cultura, analisou-se o teor de nutrientes de plantas de mi- lho, cultivado com altas produtividades em Portugal, em cinco estádios do ciclo vegetativo: V4-V5 (milho joalhei- ro, 7-8 folhas visíveis), V6-V7 (10-11 folhas visíveis), V10-V11 (12-13 folhas visíveis), aparecimento das sedas e maturação (colheita). Os resultados obtidos diferem do que é citado na bibliografia portuguesa e espanhola, realçando-se os seguintes factos: o nutriente mais absorvido pela cultura é o potássio, com extracções na ordem dos 500-600 kg K2O/ha, maioritariamente absorvidos (62%) até às 12-13 folhas visíveis. A extracção de azoto é

de 22,1 kg N/t de grão (14% hum.), sendo 31% absorvido até às 10-11 folhas visíveis, e 77% até ao aparecimen- to das sedas. Só 8% fósforo é absorvido até ao milho joelheiro, e 40% é extraído depois do aparecimento das sedas. As extracções de cálcio, magnésio e enxofre são superiores ao que era suposto, e acontecem principal- mente após o aparecimento das sedas. No caso concreto do enxofre, o ritmo de extracção não acompanha o do azoto, sendo absorvido mais tardiamente. Os micronutrientes mais importantes são o ferro, zinco e manganês, sendo principalmente necessários depois do aparecimento das sedas.

Palavras-chave: Milho, extracções, potássio, macronutrientes secundários. Abstract

In order to know maize nutrient uptake, nutrient content was determined on highly productive plants grown in Portugal, in five stages of the crop cycle: V4-V5 (jeweler maize, 7-8 visible leaves), V6-V7 (10-11 visible leaves), V10-V11 (12-13 visible leaves), silking and maturity. Results differ from what is cited in the Portuguese and Span- ish literature, highlighting the following: The most abundant nutrient uptaken by maize is potassium, with estimat- ed uptakeof500-600 kg K2O/ha, mainly absorbed (62%) until 12-13 visible leaves. Nitrogen uptake is 22,1 kg

N/ton of grain (14% hum.), being 31% absorbed until 10-11 visible leaves, and 77% at silking. Only 8% of phos- phorus is absorbed until 7-8 visible leaves, and 40% is up taken after silking. Calcium, magnesium and sulfur uptake is higher than what was expected, and occur mainly after silking. Timing of sulfur uptake do not follow nitrogen timing uptake, being later than nitrogen uptake. The most important micronutrients are iron, zinc and manganese, with their main uptake after silking.

166 Introdução

O milho (Zea mays L.) é uma das principais culturas arvenses de Portugal, tendo-se cultivado 183.365haem 2014 (INE, 2015). Cerca de 39% da área semeada estará no Norte do país, 31% no Centro e 27% na Lezíria do Tejo e Alentejo. A produção de milho forrageiro representa aproximada- mente 42% da área cultivada em Portugal. No presente trabalho avaliou-se a extracção de nutrientes da cultura do milho, em diver- sas fases do ciclo vegetativo, em duas regi- ões de Portugal, Minho e Ribatejo, e apre- sentam-se os principais resultados.

As duas regiões em estudo, no que respeita à fertilidade dos solos cultivados com milho, apresentam características muito diferentes: No Minho predominam os solos ácidos (50%) e pouco ácidos (44%), teores altos (44%) e muito altos (39%) de matéria orgâ- nica, níveis altos (30%) e muito altos (47%) de fósforo extraível e níveis altos (36%) e muito altos (52%) de potássio extraível; na Lezíria do Ribatejo e Península de Setúbal predominam os solos neutros (30%) e pou- co alcalinos (32%), teores médios (32%) e baixos (47%) de matéria orgânica, níveis altos (25%) e muito altos (55%) de fósforo extraível, e níveis altos (38%) e muito altos (38%) de potássio extraível (dados não pu- blicados, “Estudo da fertilidade dos solos cultivados com milho, de 2008 a 2013”, ADP 2014).

Material e métodos

As amostras de material vegetal, necessá- rias para a realização deste estudo, foram colhidas nos diversos ensaios e campos de demonstração realizados pela ADP em mi- lho de variedades da Dekalb, Syngenta, Pioneer e KWS, de ciclos FAO 400, 500 e 600, semeadas no Minho e Ribatejo, entre 2012 e 2015. Tratava-se de ensaios com delineamento estatístico com blocos casua- lizados e 4 repetições, ou demonstrações comerciais em grandes parcelas, com ou sem repetições. Em cada ensaio ou de- monstração, as amostras analisadas foram oriundas de plantas sujeitas à mesma adu- bação média, e foram constituídas com re- curso à colheita de4, 5, 8, 10, 12 ou 20 plan- tas por amostra, nos diversos estadiosfeno-

lógicos. Os estádios fenológicos foram defi- nidos pela metodologia da “lígula visível” proposta pela Iowa State University (Aben- drothetal., 2011), e pela metodologia da “folha visível” normalmente utilizada pelos agricultores. Após a colheita da amostra, pesou-se o seu peso verde e enviou-se para o laboratório, para determinação da matéria seca (secagem a 60ºC até peso constante) e do teor dos seguintes nutrien- tes: azoto, fósforo, potássio, cálcio, magné- sio, enxofre, boro, cobre, ferro, manganês, molibdénio e zinco. As extracções foram calculadas com base na densidade média de plantas de cada parcela, a matéria seca produzida por hectare e a análise química da biomassa.

No Minho todas as parcelas foram sujeitas a uma adubação única antes da sementeira do milho, com doses de NPK compreendi- das entre os seguintes valores: 125-204 kg N/ha, 50-72 kg P2O5/ha e 63-120 kg K2O/ha;

no Ribatejo, as doses de NPK em adubação de fundo foram as seguintes: 35-65 kg N/ha, 73-166 kg P2O5/ha e 100-240 kg K2O/ha,

sendo o azoto total aplicado à cultura de 285-323 kg N/ha.

Resultados e discussão

Nos quadros seguintes apresenta-se a ex- tracção acumulada de cada nutriente, bem como o seu valor percentual em relação à extracção total, da cultura do milho nos cinco estádios do ciclo vegetativo: V4-V5 (milho joalheiro, 7-8 folhas visíveis), V6-V7 (10-11 folhas visíveis), V10-V11 (12-13 folhas visí- veis), aparecimento das sedas e matura- ção/colheita. Adicionalmente, apresenta-se a respectiva produção de matéria seca da par- te aérea das plantas, á data da colheita das amostras.

Do Quadro 1 conclui-se que cerca de 10% dos macronutrientes principais são extraí- dos até ao estádio V4-V5 (milho joalheiro, 7- 8 folhas visíveis), valor que duplica ou tripli- ca no estádio seguinte analisado (V6-V7, 10-11 folhas visíveis). Neste ultimo estádio, o potássio é já o nutriente com maior ex- tracção, seguido do azoto, fósforo, magné- sio, cálcio e enxofre. É de realçar que no caso concreto do azoto, nutriente cuja apli- cação é habitualmente repartida pelas adu- bações de fundo e cobertura, com o objecti-

vo de aumentar a sua eficiência de utiliza- ção, a extracção atinge o valor de 122 kg N/ha, valor que acrescido de 10-20%, para prevenir eventuais perdas por lixiviação, deverá estar disponível na solução do solo até a cultura atingir o estádio V6-V7 (10-11 folhas visíveis).

Quadro 1 – Extracções do milho no Ribatejo

Estádio (joalheiro, 7-8 folhas V4-V5 visíveis) V6-V7 (10-11 folhas visí- veis) Matéria seca (t/ha) 0,88 3% 4,71 14%

Nutriente kg/ha % do total kg/ha % do total

N 37 11 122 31 P2O5 11 8 54 24 K2O 71 12 190 38 CaO 16 7 36 11 MgO 4 5 24 23 SO3 6 6 10 11 B 0,01 3 0,03 13 Cu 0,04 5 0,03 7 Fe 0,14 4 0,50 10 Mn 0,07 2 0,43 23 Mo 0,0001 0,4 - - Zn 0,04 2 0,23 9

Analisando conjuntamente ambos os es- tádios no Quadro 1, e considerando que entre V4-V5 e V6-V7 decorre um período médio de 19 dias, obtêm-se um ritmo diá- rio de extracção de macronutrientes prin- cipais de 4,5 kg N/ha, 2,3 kg P2O5/ha e 6,3

kg K2O/ha, equivalente à extracção de 85

kg N/ha, 43 kg P2O5/ha e 119 kg K2O/ha.

Quadro 2– Extracções do milho no Ribatejo

Estádio V10-V11 (12-13 folhas visíveis) Aparecimento das sedas Matéria

seca (t/ha) 9,55 29% 14,31 (43%) Nutriente kg/ha % do total kg/ha % do total

N 242 62 299 77 P2O5 80 36 133 60 K2O 308 62 392 79 CaO 68 21 92 29 MgO 37 36 55 54 SO3 37 37 58 58 B 0,11 46 0,18 73 Cu 0,13 29 0,44 97 Fe 0,80 16 1,14 23 Mn 0,46 24 1,11 58 Mo 0,001 6 - - Zn 0,36 14 0,83 31

Dos Quadros 1 e 2, contabilizando um perí- odo médio de 14 dias entre os estádios V6- V7 e V10-V11,obtem-seum ritmo diário de

extracção, para os macronutrientes princi- pais,de8,6 kg N/ha, 1,9 kg P2O5/ha e 8,4kg

K2O/ha, equivalente à extracção de 120 kg

N/ha, 26 kg P2O5/ha e 118 kg K2O/ha. As-

sim, entre estes estádios, duplica o ritmo de extracção diária do azoto, aumenta o do potássio, e o fósforo mantém a mesma in- tensidade de extracção.

Do Quadro 2, considerando, em média, 16dias entre o estádio V10-V11 e o apare- cimento das sedas, obtêm-se um ritmo diá- rio de extracção de macronutrientes princi- pais de 3,6 kg N/ha, 3,3 kg P2O5/ha e 5,3 kg

K2O/ha, equivalente à extracção de 57 kg

N/ha, 53 kg P2O5/ha e 84 kg K2O/ha. Vemos

assim, o ritmo diário de absorção do azoto e potássio a diminuir e o do fósforo a aumen- tar.

Por ultimo, no final do ciclo, analisando os Quadros 2 e 3, deduz-se que entre o apare- cimento das sedas e a maturação completa (colheita), a extracção de macronutrientes no Ribatejo é de 90 kg N/ha (23%), 90 kg P2O5/ha(40%), 104 kg K2O/ha (21%), 228 kg CaO/ha (71%), 48 kg MgO/ha (46%), 41 kg SO3/ha, (42%), 0,06 kg B/ha (27%), 0,02 kg Cu/ha (3%), 3,86 kg Fe/ha(77%), 0,79 kg Mn/ha (42%) e 1,83 kg Zn/ha (69%).

Quadro 3 – Extracções totais à colheita do

milho em duas regiões de Portugal Região Minho Ribatejo Matéria seca

(t/ha) 26,65 32,74

Nutriente kg/ha kg/ha

N 336 389 P2O5 139 223 K2O 591 496 CaO 240 320 MgO 87 103 SO3 105 99 B 0,34 0,24 Cu 0,72 0,46 Fe 3,86 5,00 Mn 4,12 1,90 Mo - 0,02 Zn 1,87 2,66

Do ponto de vista quantitativo, e por ordem decrescente, os nutrientes sujeitos a maior extracções são o potássio, azoto, cálcio, fósforo, enxofre, magnésio, ferro, zinco, manganês, cobre, boro e molibdénio. No que respeita às diferenças entre as duas regiões, observa-se uma maior extracção

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de azoto, fósforo, cálcio, magnésio, ferro e zinco no Ribatejo e maior extracções de potássio e manganês no Minho.

Conforme se apresenta no Quadro 6, as extracções por tonelada são semelhantes em ambas as regiões, com excepção do fósforo, superiores no Ribatejo, e do potás- sio, superiores no Minho.

Quadro 4 – Extracções unitárias do milho em duas regi-

ões de Portugal

Região Minho Ribatejo

Matéria seca

(t/ha) 26,65 Total 32,74 Total Grão (14% hum.) 17,61 Nutriente kg/tm.s kg/tm.s. kg/t grão N 12,6 11,9 22,1 P2O5 5,2 6,8 12,7 K2O 22,2 15,2 28,2 CaO 9,0 9,8 18,2 MgO 3,3 3,1 5,8 SO3 4,0 3,0 5,6 g/tm.s. g/tm.s. g/t grão B 10 10 10 Cu 30 10 30 Fe 140 150 280 Mn 150 60 110 Mo - 1 1 Zn 70 80 150

Os Quadros 3 e 4 apresentam algumas diferenças em relação aos valores normal- mente citados em Portugal (ANPROMIS, 2000) e Espanha (MMAMR, 2010) para as extracções da cultura do milho, que estão resumidos no Quadro 5.Evidenciam-se as maiores extracções de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, e todos os micro- nutrientes com excepção do ferro.

Quadro 5 – Extracções do milho

ANPROMIS (Portugal) 10 t grão/ha ou 18,5 t m.s./ha MMAMR (Espanha) Nutriente kg/ha N 197 28 kg/t grão P2O5 80 11 kg/t grão K2O 208 23 kg/t grão CaO 52 - MgO 32 - SO3 22 - B 0,07 0,126 kg/ha Cu 0,08 0,199 kg/ha Fe 5,0 6,240 Mn 0,7 0,483 Mo - 0,011 Zn 0,6 0,440 Conclusões

Este estudo evidencia que as extracções de milho em Portugal, cultivado de forma inten- siva e com altas produtividades, são muito diferentes do que é referido na bibliografia e pelas entidades oficiais. Podem realçar-se os seguintes factos mais significativos, com impacto directo na prática da adubação: - O nutriente mais importante é o potássio, com extracções na ordem dos 500-600 kg K2O/ha, maioritariamente absorvidos (62%)

até às 12-13 folhas visíveis. É necessário ter presente que só 23% do potássio está contido no grão (dados não publicados), pelo que a exportação deste nutriente no caso do milho grão, será de 115-138 kg K2O/ha.

- A extracção de azoto é de 22,1 kg N/t de grão (14% hum.), sendo 31% absorvido até às 10-11 folhas visíveis, e 77% até ao apa- recimento das sedas.

- Só 8% fósforo é absorvido até à fase do milho joelheiro e 40% é extraído depois do aparecimento das sedas.

- As extracções de cálcio, magnésio e enxo- fre são superiores ao referido na literatura e ocorrem, principalmente, após o apareci- mento das sedas.

- No caso concreto do enxofre, o ritmo de extracção não acompanha o do azoto, sen- do absorvido mais tardiamente.

- Os micronutrientes mais absorvidos são o ferro, zinco e manganês, sendo necessários principalmente depois do aparecimento das sedas.

Agradecimentos

Os autores agradecem a revisão e suges- tões do Professor João Coutinho.

Referências bibliográficas

[1] INE, 2015. Estatísticas agrícolas 2014. INE, I.P.,Lisboa. Portugal

[2] Abendroth, L.J., R.W Elmore, M.J. Boyer, and S.K. Marlay. 2011. Corn Growth and Development. Iowa State Univ. Extension Publication #PMR-1009. [3] ANPROMIS, 2000. Guia de campo para a cultura do

milho.Lisboa.

[4] MMAMR,2010.Guía práctica de la fertilización racional de los cultivos en España. Ministerio de Medio Am- biente y Medio Rural y Marino. España.

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