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CONTEXTUALIZAÇÃO DO (SUB)DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÓMICO AFRICANO

3.3 A necessidade do desenvolvimento e o aparecimento das IBW

3.3.3 Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)

Como acima ficou demonstrado, o emprendedorismo de Keynes em muito contribuiu para o processo de criação do BIRD. Não obstante, a proposta White, em representação da Administração Americana, para que, contrariamente aos objectivos do FMI, o BIRD fosse visto como o mecanismo auxiliador das trocas para a reconstrução e desenvolvimento dos Estados-Membros, constituiu um facto importante para a institucionalização do mesmo.

Embora o BIRD tenha a nomenclatura de banco e seguir em grande medida as directrizes financeiras (naturalmente distintas das do FMI), a sua importância não se restringe apenas às aplicações financeiras. Isto é, no “decorrer dos tempos as funções de consulta e de apoio técnico ganharam uma importância igualmente muito significativa”(Ferreira, 2004:236). A esse respeito, Rotberg salientava, em 1981, que era “justo dizer que os mutuários acreditam no BM. Eles acreditam na sua objectividade e no seu empenho em simplesmente fazer as coisas correctas”. Na altura, na visão de Rotberg, os mutuários preferiam manter “um relacionamento com uma instituição que não liga[sse] laços políticos aos empréstimos e que [tivesse] um grupo de profissionais competentes, cujo papel é de tomar decisões estritamente de ordem económica e financeira”. Por isso, o autor esgrimia argumentos a favor do BIRD, dizendo que não tinha“dúvidas de que, para alguns mutuários, é essa «pool» de inteligência e a objectividade dos conselhos técnicos do Banco que contam tanto como a transferência efectiva de recursos” (Rotberg, 1981:11-12). Todavia, isso não invalida as vozes críticas ao BIRD que, como fazem em relação ao FMI, olham para os aspectos menos conseguidos pela instituição, como, por exemplo, a questão da parcialidade do BIRD, as actuações maniqueístas a favor dos países ricos/ocidentais, em contradição com as orientações estatutárias (George e Sabelli, 1999; Quereshi, 1999; Stiglitz, 2002; Ferreira, 2004).

Stiglitz (2002:93) chega mesmo a dizer que as IBW e em particular o BIRD “não são representativas dos países que servem”. Repare-se, a propósito, que o AcordoConstitutivo das IBW define que os objectivos do Grupo BM assentam nos seguintes princípios:

I. auxiliar a reconstrução e o desenvolvimento dos territórios dos membros, facilitando o investimento de capitais para fins produtivos, inclusivamente para restaurar as economias destruídas ou desorganizadas pela guerra, readaptar os meios de produção às necessidades do tempo de paz e encorajar o desenvolvimento dos meios de produção e dos recursos nos países menos desenvolvidos;

II. promover os investimentos privados no estrangeiro, através de garantias ou participações em empréstimos e outros investimentos realizados por capitais particulares e, na falta de capitais privados disponíveis em condições razoáveis, suprir o investimento privado, fornecendo, em condições apropriadas, meios de financiamento para fins produtivos provenientes do seu próprio capital, de fundos que reunir e dos seus outros recursos;

III. promover o desenvolvimento equilibrado a longo prazo do comércio internacional e a manutenção do equilíbrio das balanças de pagamentos, encorajando os investimentos internacionais, com vista ao desenvolvimento dos recursos produtivos dos mercados, e auxiliar, desta forma, o aumento da produtividade, o aumento do nível de vida e a melhoria das condições de trabalho nos seus relatórios;

IV. ordenar os empréstimos que outorgue ou as garantias que conceda aos empréstimos internacionais provenientes de outras origens, de forma a dar prioridade aos projectos mais úteis e urgentes, qualquer que seja a sua dimensão;

V. conduzir as suas operações tendo em conta os efeitos dos investimentos internacionais sobre a situação económica dos territórios membros e, durante os primeiros anos do pós-guerra, auxiliar a transição progressiva da economia de

guerra para a economia de paz (Resolução n.º 4/89, de 24 de Fevereiro de 1989 da Assembleia da República de Portugal).

A fim de cumprir esses objectivos, o Grupo BM foi albergando, no decurso do tempo, (1) o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (1946), a Sociedade Financeira Internacional (1956), a Associação Internacional de Desenvolvimento (1961), o Centro Internacional para a Resolução de Diferendos Relativos aos Investimentos (1966) e a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (1985) (Labisa, 2003). Desta forma, e em consequência dos ambiciosos objectivos e estruturas apresentadas, outro aspecto julgado interessante de apoio ao investimento por parte do BIRD é o chamamento para si, como parte da estratégia, dos Bancos regionais37 que, no caso africano, recaiu sobre o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), sedeado em Abidjan, na Costa do Marfim.

Não obstante outras iniciativas relevantes constantes no Acordo Constitutivo, como, por exemplo, as subscrições de capitais, a utilização dos recursos, a possibilidade de fiscalização, as imunidades dos seus funcionários e outras, convém salientar as questões relacionadas com as condições para a concessão de empréstimos por parte do BIRD aos Estados membros. Mas, antes, como nos dá conta Ferreira, “a partir dos anos 8038, o Banco influenciou o modelo económico dos países beneficiários da ajuda, através da exigência de uma orientação política caracterizada, no essencial, pela privatização, liberalização dos mercados e das trocas externas”. Para o autor, “a par dessa evidente forma de condicionalidade política, não se pode ignorar que o Banco tem vindo a desenvolver um conjunto de ideias força do que deverão ser as políticas de desenvolvimento” (Ferreira, 2004:270-271).

Essasideias que apareceram nas décadas subsequentes (1990 e 2000), em que os Programas de Ajustamento Estrutural eram cada vez mais urgentes e em que se comemorava o quinquenário das IBW, da entrada no novo milénio, o BIRD concluía

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Para Soros (2003), os Bancos regionais são uma “artificiosa ginástica financeira que concedia uma vantagem aos países pobres e que praticamente não envolvia custos para os países ricos” (Soros, 2003:83).

como desafio o reconhecimento da mais-valia das Organizações Não Governamentais como estrutura susceptível de participar e fomentar as políticas para o desenvolvimento integrado.

Outra evolução do BIRD prende-se com as questões ambientais que estão indissociavelmente ligadas ao desenvolvimento sustentável. O BIRD começa, em 1991, a financiar iniciativas ambientais, tanto de forma isolada, ou em parceria com outras instituições (Banco Mundial, 1991).

No capítulo dos empréstimos, salientam-se – primeiro – as normas constantes no Acordo Constitutivo, em que os empréstimos solicitados não poderiam ser superiores ao montante de reserva do país solicitador; a isenção de risco para esses países; o carácter subsidiário; condições mais vantajosas em comparação com outras instituições; ou da não exigência de garantias (Resolução n.º 4/89, de 24 de Fevereiro de 1989 da Assembleia da República de Portugal).

Porquanto, o BIRD evolui em matéria da política de empréstimos com a apresentação dos ODM com “dois documentos de estratégia – o Strategic Framework Paper (SFP) e o Strategic Directions Paper (SDP) – que envolvem uma apreciação das formas de financiamento numa perspectiva transversal, levando em conta os grandes objectivos do banco em matéria de desenvolvimento económico (…) A concessão de financiamento passou, assim, a estar condicionada por dois documentos fundamentais – o Poverty Reduction Strategy Papper (PRSP) e o Country Assistence Strategies (CAS) – que definem as perspectivas fundamentais em matéria de assistência a cada país e que vão passar a estar presentes de forma decisiva no ciclo de aprovação dos projectos” (Ferreira, 2004:244).

No sentido de diversificar a tipologia dos empréstimos, em “Agosto de 2004, um dos principais instrumentos de empréstimo do BM, os empréstimos para o ajuste, foi substituído pela nova Política de Empréstimos para o Desenvolvimento. Esta mudança de estratégia pretende adaptar o BM à nova conjuntura política e económica internacional, porém sem alterar os fundamentos e os princípios que norteiam a instituição desde os anos 80”(Vadell, 2004:1).

Para Vadell, o BIRD assume o novo papel de, junto com o FMI, “financiador dos ajustes macroeconómicos dos Estados em desenvolvimento, ou seja: 1. incrementar o apoio financeiro para fortalecer o desenvolvimento e para aliviar as dívidas dos países; 2. apoiar as reformas políticas, isto é, promover os investimentos para as políticas orientadas para o mercado (market-friendly) e; 3. encorajar o crescimento sustentável” (ibidem:2-3).

Na sequência de inúmeras solicitações de reforma das IBW atrás enumeradas, cabe citar, ainda, a de Setembro de 2006, realizada no quadro da Assembleia do FMI e do BIRD em Singapura, em que se iniciou uma ampla reforma das supracitadas instituições que, em teoria, visava ajustar a realidade actual da economia mundial, conferindo a representação dos países membros para que fossem equivalentes ao seu peso relativo na Economia global, melhorar a eficiência das instituições e aumentar a participação dos países em desenvolvimento.

O facto é que as divergências em termos de opinião acerca do funcionamento do BIRD continuam, pelo que Vadell concluiu que “o Banco Mundial continua sendo um banco e, como toda instituição dessa natureza, exige avais e impõe condições” (…); e, apesar de ter havido “uma auto-crítica da estratégia implementada, em nenhum momento o Banco se afasta dos princípios liberais económicos que defende desde os anos [19]80. Tratar-se-ia, agora, de reformas de segunda geração (…) [em que], alguns aspectos mais técnicos pouco mudam: a) para que os empréstimos sejam outorgados, exige-se que os países tenham políticas macroeconómicas satisfatórias; b) prevê-se uma estreita colaboração com o Fundo Monetário Internacional e, junto com isso, uma maior preocupação com a disciplina fiscal dos países prestatários” (ibidem:4).

Não obstante os países africanos serem, na sua totalidade, membros do BIRD, a fim de encontrarem mais soluções para o seu desenvolvimento, os próprios dirigentes têm apostado nos processos de integração económica e regional. Este assunto ocupará, a seguir, a nossa reflexão.

3.4 A integração para o desenvolvimento em África