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O perdão da dívida

4.7 Parceria UE-África 1 Enquadramento

Através do Plano Marshall, a Europa, devastada pela Segunda Guerra Mundial, é reconstruída. A procura da “paz douradora” incentivou a necessidade de se cooperar em vários domínios, tanto a nível regional, como mundial. Assim, seguiram-se várias acções que visaram a execução do desenvolvimento sócio-económico europeu. A mais significante dessas acções é o próprio processo de integração europeu que começou com a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951, com a França, a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo. Posteriormente, a 25 de Março de 1957,a CECA dava lugar à CEE – Comunidade Económica Europeia e a Euraton – Comunidade Europeia da Energia Atómica, num único diploma designado por Tratado de Roma. O objectivo principal daquele Tratado era a prevenção da guerra na Europa através do estabelecimento de instituições comunitárias.

Percorridos dezoito anos sobre a vigência da CEE, os decisores europeus assinalaram esse marco histórico com um “conjunto de transformações profundas no processo de integração, sendo a mais relevante a passagem da CEE à UE” (Costa, 2004:108), da qual o Tratado de Maastricht, de 1 de Novembro de 1993, é o mais significativo e emblemático, pelo facto de modificar todos os anteriores Tratados e, pela primeira vez, abraçar o objectivo económico de construção do mercado comum com uma vocação deunidade política. Aliás, o próprio Tratado definia que constituía “uma nova etapa no processo criador de uma União cada vez mais estreita entre os povos da Europa (…)” (Tratado de Maastricht, 1993, art. 2.º).

A UE passava a ser o novo instrumento para liderar o processo de integração europeu que, segundo Maltez (2009:11-12), aparecia “como um estimulante objecto político ainda não totalmente identificado, nem pelas categorias conceituais do [nosso] armazém teórico-político, provindo das revoluções atlânticas que [nos] deram o demoliberalismo, talvez tenha uma missão bem mais desafiante na presente encruzilhada, onde os complexos desafios exigem uma resposta capaz de uma nova

emergência, dado que as anteriores divergências e convergências, assumem uma complexidade crescente, onde a hierarquia dos valores não pode minorizar a liberdade nem a justiça inteira e global”.

Para Costa (2004), o Acto Único Europeu “vem, de certo modo, atenuar a frieza do plano económico, ao introduzir a Coesão Económica e Social como forma de espalhar os frutos da integração por todas as regiões comunitárias” (Costa, 2004:76).

Desta forma, a UE, como um conjunto de Estados que “partilha soberania”, aparenta constituir um processo de aprendizagem tal que ninguém pode prever o seu fim, apenas podemos constatar algumas mudanças significativas e positivas, que apontam para uma atmosfera de maior concretização do projecto europeu.

Costa et alii (2009:18) salientam que “nos últimos 15 anos, o que hoje entendemos por UE passou por inúmeras e profundas transformações, quer do ponto de vista da extensão do número de Estados-Membros, quer no que respeita à sofisticação crescente do seu processo de integração”. Daí o seu posicionamento como um actor global nas relações internacionais, como “a maior entidade económica individual do mundo, representando mais de 20% de toda a riqueza gerada a nível global”. É a “maior potência global do mundo, quer no que respeita às trocas de mercadorias, quer no que concerne ao comércio de serviços, ultrapassando o seu rival/parceiro, os EUA”. É é a “maior fonte de ajuda pública ao desenvolvimento; o maior importador de energia do mundo; é detentora da segunda moeda mais importante do sistema monetário internacional e uma das maiores fontes produtoras de regulação” (ibidem:19).

4.7.2 África na política comunitária

Por ser um processo de integração económica, a UE dispõe na mesma, e naturalmente, de uma política económica comum de relacionamento com países terceiros. Exemplo disso, ainda na CEE, é a definição da Pauta Externa Comum (PEC) e, na sequência disso, a Política Comercial Comum (PCC), que, com “a expansão do comércio internacional se tornou uma das mais importantes políticas da Comunidade. Paralelamente, os sucessivos alargamentos e a consolidação do mercado comum

reforçaram a posição da Comunidade enquanto pólo de atracção e de influência nas negociações comerciais bilaterais com Estados terceiros ou multilaterais, no seio da GATT [Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio] e, mais recentemente, da Organização Mundial do Comercio” (Costa, 2004:68).

Como é sabido, alguns países membros da UE, nomeadamente, a França, o Reino Unido, a Bélgica, a Espanha e Portugal, foram, no passado, potências colonizadoras ou colaboradoras, em África. Este facto faz com que a UE sinta a necessidade de associar as ex-colónias e os territórios ultramarinos à política da união (Tratado de Roma, 1957).

De facto, a representação da África na política comunitária reflecte uma certa “solidariedade” europeia com o continente, com a finalidade de “assegurar o desenvolvimento e a prosperidade destes últimos”. Porém, “a definição de uma Política de Cooperação e Desenvolvimento só viria a chegar muito mais tarde, com o Tratado da União Europeia, em 1993”(Costa, 2004:70).

A controversa questão colono/colonizado, entendido pelo comportamento de “bloqueio” nas relações entre os decisores políticos dos países outrora colonizadores com os ex-colonizadores, particularmente em África, é um facto histórico. Embora seja de natureza humana, a divergência de pensamentos, faz com que o desenvolvimento, quando está assente nas pessoas, tem a faculdade de as levar a uma plataforma deentendimento. Por isso, esse imaginado antagonismo caracterizado pela “natural” dificuldade de se adaptar a uma nova realidade, marca a cooperação entre os novos Estados africanos e os Estados em reorganizaçãoeuropeus. Aliás, com maior ênfase para os países africanos, procuravam-se mecanismos de cooperação que lhes permitissem distanciar das antigas metrópoles, numa lógica de “afirmação”. Todavia, quando era possível a aproximação, o sentimento dominante era de exigência, de compromisso e de culpabilização, o que dificultava, ainda, um saudável acordo de cooperação ou de parceria.

Do lado europeu, para além da própria gestão das exigências, a questão era colocada mais a nível das influências que os Estados, nomeadamente, a França e o Reino

Unido gozavam, no seio da UE, e que estão, de certa forma, reflectidos nos acordos assinados.

4.7.3 De Yaoundé à Revisão de Cotonou, 2010

A cooperação entre a UE/Europa e a África/UA, no percurso que remonta à primeira Convenção de Yaoundé, de 1964, conta, até ao Acordo de Cotonou de 2010, com 11 iniciativas, entre convenções, um processo e um acordo (Quadro 4.1).

Quadro 4.1 – De Yaoundé a Cotonou, 2010

Convenções, Acordo e Parceria Data

I Convenção Yaoundé 1964

II Convenção Yaoundé 1970

I Convenção Lomé 1975

II Convenção Lomé 1980

III Convenção Lomé 1985

IV Convenção Lomé 1990 Processo de Barcelona 1995 Acordo de Cotonou 2000 Acordo de Cotonou 2005 Parceria Estratégica 2007 Acordo de Cotonou 2010

Fonte: adaptado de Costa (2009)