• Nenhum resultado encontrado

6. Tecnologia da exploração mineira

6.1 Sistema de aprovisionamento hidráulico

6.1.1 Barragens e açudes (Fig 24)

São mal conhecidas as barragens e açudes que funcionavam nas explorações mineiras. Existe uma grande diversidade de barragens, tanto em jazidas primárias como secundárias, não havendo um tipo diferenciado para cada tipo de exploração. Um dos trabalhos mais importantes sobre o assunto foi publicado em 1987, abarcando diversos tipos de barragens (Quintela et al., 1987), interessando para esta tese as que os referidos autores reportam como sendo de simples aterro. As quatro barragens romanas conhecidas do Complexo Mineiro Romano de Tresminas e Jales, podem incluir-se no tipo (i) da classificação de barragens efetuado pelos referidos autores, que dão como exemplo a barragem de Idanha-a-Velha, de que resta um troço numa das margens com 6 m de altura (Quintela et al., 1987: 25-26), a do Rochoso (Idanha-a-Nova, Portugal), com 4 m de altura e a da Lameira (Vila Velha do Ródão, Portugal), também com 4 m de altura. Estas barragens poderão estar ligadas a explorações mineiras aluvionares (conheiras), pois estas são frequentes na área destas barragens.

Um outro tipo de barragem, aproveitando um afloramento quartzítico que fecha um vale, tendo uma parte em aterro, e coroada com um muro de opus caementicium (argamassa tipo betão), paramentado com opus quadratum (pedras de tamanho regular), é a Barragem do Souto do Penedo, com 5 m de altura, ligada às explorações aluvionares da ribeira do Codes (Vila de Rei, Portugal) (Batata, 2006: 157-158). Do tipo (g), ou seja, constituída por dois muros com aterro intermédio, referida na obra de Quintela, é de referir a Barragem de Aquae

Flaviae, com 14 m de altura, que Rafael Alfenim considerava servir para abastecer a cidade

homónima (Alfenim, 1992: 85-98), e a Barragem da Represa (Gavião), com 10 m de altura, que Quintela e outros classificaram como sendo filipina. Ambas têm aspetos constitutivos

muito semelhantes e abundam as explorações aluvionares nas suas proximidades (Batata, 2011: 49-55).

Outra questão muito importante para os mineiros era garantir o abastecimento contínuo de água à exploração mineira. O trabalho de campo demonstra que tanto se podia construir uma grande barragem num rio, como num pequeno curso de água: o que importava era que estes nunca secassem, pois a exploração parava por falta de água nas lavarias. Foi assim que se foi buscar água ao rio Sil para alimentar Las Médulas (Espanha), a 143 km de distância.

As duas grandes barragens de Tresminas, a uma dezena de quilómetros da exploração, captavam a água num pequeno rio (Rio Tinhela), mas que nunca secava. A captação de água num regato, com uma represa (Barragem de Cabanas), diz-nos da pouca importância que o tamanho do curso de água tinha: o que importava era que a água fluísse sempre e fosse acumulável em cisternas e reservatórios.

Os dois casos seguintes são paradigmáticos, e comprovam que havia abundância de água a cota inferior da exploração, mas que o seu transporte para pontos altos (cisternas e reservatórios) era morosa e dispendiosa, pois só se podia fazer utilizando rodas hidráulicas de elevação. Se estas eram utilizadas em minas, porque não havia outra maneira de escoar a água que se acumulava nas galerias, o abastecimento para lavarias nunca se fazia por este processo.

No caso do Conhal do Arneiro (Nisa, Portugal), ao lado da exploração, a cota inferior corre a Ribeira de Nisa, durante o inverno, pois seca completamente no verão. Para garantir água permanentemente, foi construído um canal com vários quilómetros que serpenteia nas encostas desta ribeira, para ir captar água, numa linha secundária com nascentes, que garantia água no verão, mesmo naqueles anos em que havia grande seca.

Num outro caso, a exploração mineira secundária está num cotovelo do rio Zêzere, com muita água em volta, mas difícil de utilizar para lavagem dos sedimentos. Foi então construído um canal com cerca de 10 km, que faz a captação no pequeno Rio de Unhais, a cota mais elevada, perto de Unhais-o-Velho (Pampilhosa da Serra, Portugal), através de uma barragem de terra.

Para garantir o abastecimento de água a Tresminas, conhecem-se duas barragens construídas no rio Tinhela (cf. SA 01 e SA 02), desconhecendo-se a data da construção de cada uma delas. São, sem dúvida nenhuma, construções romanas, mas nos 250 anos de duração da exploração mineira (séc. I a meados do III d.C.), podem ter sido construídas cada

uma em seu século e não forçosamente logo no início da exploração.

A Barragem das Ferrarias (SA 01), estaria à cota de 900 m e o ponto mais alto da bordadura da Corta de Covas, à cota de 880 m. Em relação à Corta da Ribeirinha, a cota apontada era de 850 m (Domergue, 1987: 537). A realidade atual, após o levantamento topográfico, é que o ponto mais alto da Corta de Covas é de 845 m e a da Ribeirinha de 830 m; a cota altimétrica da Barragem das Ferrarias, não é conhecida, embora Carla Martins refira que ela está à cota de 883 m, com a largura de 9,30 m e comprimento de 31,50 m, construída com terra e cascalho (Martins, 2005: 166).

A Barragem do Vale das Veias (SA 02), apresenta as mesmas imprecisões, assinalando-lhe Carla Martins, as dimensões de 6 m de largura, por 122 m de comprimento, estando à cota de 850 m. Não se apresentam fotografias, pois estas barragens são tão grandes e com uma densidade de pinheiros tão grande, que não se consegue captar a sua real dimensão. A sua topografia e altimetria estão por fazer, mas calculou-se que a primeira tenha 30 m de altura e a segunda cerca de 15 m.

Para além destas, existiram outras barragens, de menor porte e importância, denunciadas pela existência de canais de água escavados na rocha. Assim, é provável que tenha existido uma barragem no Ribeiro das Fragas, local de onde parece provir um desses canais. O local da provável barragem apresenta um leito bastante assoreado, existindo um aterro que permite a passagem de um caminho florestal, de um lado para o outro.

Uma outra barragem existiria nas cabeçeiras do Regato do Sabugueiro, acima de Cevivas, denunciada pela existência de um canal de água escavado na rocha, e que se dirige às imediações da povoação de Cevivas, provavelmente para uma exploração mineira que deixou poucos vestígios na paisagem humanizada, ou então para o Aqueduto I da Galeria do Pilar.

A sudoeste do complexo mineiro, nas encostas da Serra da Padrela, existe um local denominado Alto da Presa (SA 03), que revelou a existência de uma outra barragem de terra, de menor amplitude que as anteriores (Foto 3). Esta, apesar de se situar na zona de Jales, não poderia alimentar essa mina, devido à forte inclinação do terreno. Como os canais têm sempre uma inclinação muito suave, o mais provável é que esta barragem alimentasse a mina da Fraga das Varandas (SA 04).

A nordeste de Tresminas, e um pouco a sul de Cabanas, existem restos de uma pequena barragem a fechar uma linha de água (Regato da Sobreira) (SA 27), com cerca de 3

m de altura por 5 de comprimento. Apesar da insignificância da linha de água, esta nunca seca, o que era fundamental para os mineiros, sendo alimentada por uma nascente, na sua origem, a noroeste de Cabanas. A poucos metros da barragem desenvolve-se o canal de água, cortando algumas rochas como acontece em Cevivas. A população refere que o canal vai para a Corta da Ribeirinha, querendo isto significar, mais concretamente, que alimentaria uma ou várias lavarias de Tresminas.

Em redor de Jales, também existem canais a denunciar a existência de barragens. Um dos mais notáveis (SA 35), encontra-se na encosta da margem esquerda do rio Tinhela, sendo possível segui-lo quase até à origem, ou seja, até ao local onde se encontraria a barragem. Infelizmente, apesar de o rio naquele local apresentar afloramentos rochosos que estrangulam o rio e que são propícios à instalação de barragens de terra, não foi encontrado nenhum vestígio.

Na margem direita do rio, também existe um canal, de que se conhece a extensão total, o terminus e o início, incluindo o local onde se situaria a barragem. Este conjunto alimentaria a Lavaria da Ribeira dos Minhos (cf. SA 05). A barragem, seria, neste caso, mais aproximada de um açude do que de uma barragem, situada na Ribeira da Peliteira, afluente do rio Tinhela. Reconhece-se no local, um estrangulamento da ribeira, formada por grandes batólitos de granito, onde foram colocados alguns outros de forma a represar a água.