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UFPB/DGEOC/PPGG bartolomeuisrael@gmail.com

INTRODUÇÃO

A desertificação é um tipo de degradação ambiental de ocorrência bastante antiga, estando presente sempre que algumas formas do Homem utilizar os recursos naturais nos ambientes de clima seco tenha criado uma situação de superação da resiliência destes. Dessa forma, esse tipo de degradação constitui-se em uma mudança importante na abundância das espécies, nas características originais dos solos ou processos dos ecossistemas dessas regiões, em resposta às perturbações ou alterações nas condições ambientais (SCHEFFER & CARPENTER, 2003; BESTELMEYER et al., 2011; BESTELMEYER ate l., 2015).

Levando em consideração os principais eventos que fizeram com que a desertificação passasse a ser alvo da atenção mundial, acarretando o medo de que o mesmo pudesse ou já estivesse começando a acontecer em outras áreas, temos a ocorrência do Dust Bowl, nos EUA, na década de 1930, e a grande seca que atingiu a região do Sahel (África), entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Nos dois casos, as formas insustentáveis de uso dos solos, em muito resultantes de resquícios coloniais e agravadas pelas relações de mercado em nível mundial, acentuaram os problemas gerados pela ocorrência de estiagens prolongadas, ao mesmo tempo em que grande parte da população atingida e das economias locais não estava preparada para lidar com o aumento das adversidades existentes a partir daquele momento, dando início a forte crise social, morte de milhares de cabeças de gado e perdas de safras, características ainda hoje presentes em grande parte das zonas de clima seco no mundo, particularmente nas regiões subdesenvolvidas.

Acompanhando quase ao mesmo tempo o que estava acontecendo na América do Norte e principalmente na África, ao analisarmos um pouco a história recente do Brasil, temos a ocorrência de situações muito semelhantes, tanto nas causas como nas consequências, as quais atingiram principalmente parcelas significativas da Região Nordeste do país.

A partir dos eventos destacados anteriormente, várias reuniões foram e continuam a ser realizadas em diversas partes do mundo para discutir essa problemática, tanto do ponto de vista científico como na articulação para desenvolvimento de atividades que visem a prevenção dessa degradação e também a recuperação das áreas já atingidas, existindo um órgão específico da ONU

que trata sobre o tema, a United Nations to Combat desertification – UNCCD, com sede em Bonn (Alemanha).

A definição oficial para esse processo por parte da ONU, adotada desde 1992 no Rio de Janeiro, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco- 92) e incorporada à Agenda 21, indica a existência de um entrelaçamento de fatores que resultam nesse tipo de degradação, os quais estão relacionados tanto as variações climáticas como as atividades humanas, atingindo os solos, os recursos hídricos, a vegetação, a biodiversidade e a qualidade de vida da população nas zonas de clima seco (CCD, 1995).

No contexto acima descrito, a degradação é entendida como

[...] a redução ou perda, nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas, da produtividade biológica ou econômica e da complexidade das terras agrícolas de sequeiro, das terras agrícolas de regadio, das pastagens naturais, das pastagens semeadas, das florestas ou das áreas com arvoredo disperso, devido aos sistemas de utilização das terras ou a um processo ou combinação de processos, incluindo os que resultam da actividade do homem e das suas formas de ocupação do território, tais como:

(i) A erosão do solo causada pelo vento e/ou pela água;

(ii) A deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas ou econômicas do solo e,

(iii) A destruição da vegetação por períodos prolongados. (CCD, 1995, p. 14).

Durante a Eco-92 as Nações Unidas negociaram a elaboração da Convenção Internacional de Combate à Desertificação e à Seca, sendo esta concluída em 1994 e assinada por mais de cem países, dentre eles o Brasil, o qual terminou o seu Plano Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca/PAN-Brasil, em 2004 (BRASIL, 2004). Neste documento, a área oficial de possível ocorrência deste fenômeno no país está concentrada em grande parte na Região Nordeste, envolvendo também um pequeno trecho da Região Sudeste (norte de Minas Gerais e noroeste do Espírito Santo). Todos os estados onde a desertificação é tida como possível de ocorrer, criaram em anos distintos os seus próprios planos de combate ao processo, destinando-se a estas áreas uma série de políticas públicas relacionadas a essa questão.

Mesmo com as discussões que constantemente vem sendo feitas em nível nacional e internacional sobre essa temática, a desertificação ainda carece de muitas informações que possam subsidiar de forma mais precisa, entre outras questões, medidas intervencionistas que sejam mais

efetivas quanto a recuperação das áreas atingidas pelo processo e também a diminuição do avanço desse tipo de degradação. Ao contrário do que poderia se pensar inicialmente, tais respostas não são tão fáceis, uma vez que essa temática envolve variáveis naturais e sociais em uma espécie de amálgama, quando ainda temos dominando na Ciência uma visão parcelada e praticamente incomunicável dos saberes. Tornando ainda mais complexa essa situação, enquanto as terras de clima seco são naturalmente propensas a mudanças de estado (BESTELMEYER et al., 2015), ainda somos em grande parte orientados por uma visão baseada na estabilidade dos sistemas. Logo, é preciso aprender muito sobre esses ambientes.

Nesse contexto, o presente artigo tem o objetivo de discutir algumas questões que tornam a desertificação um tema ainda polêmico no Brasil, e também explorar algumas respostas e possíveis caminhos que tem sido revelados através de pesquisas sobre essa temática, em particular no semiárido paraibano.