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Para atingir o nosso objetivo, utilizamos – além de pesquisas bibliográficas em autores que tratam do tema proposto – dados sobre emprego industrial formal e outros necessários à caracterização do trabalho e perfil do empregado da IT (faixas salariais14, grau de instrução, faixa etária, ocupação por gênero, tempo de permanência no emprego e formas de contratação), disponibilizados pela RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Trata-se de um registro administrativo instituído em 23 de dezembro de 1975, através do decreto nº 76.900, a princípio com fins fiscalizatórios sobre o mercado de trabalho formal nacional15, mas que logo se tornou uma valiosa ferramenta para os que se interessam em estudar o funcionamento deste mercado e suas relações. Desde 1976 todos os empregadores ficaram incumbidos de fornecer, a cada ano-base, informações sobre seus empregados.

A base de dados da RAIS permite a realização de cortes analíticos e temporais considerando vários aspectos, tais como: unidades geográficas com seus graus de agregação,

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Cabe destacar que, para efeito de comparação e de uniformização, os dados sobre a remuneração serão convertidos em Real (quando assim for necessário) e deflacionados com base no Índice Nacional de Preços ao

Consumidor – INPC de dezembro de 2010, calculado pelo IBGE.

15Segundo a RAIS, considera-se como emprego formal aquele em que o trabalhador possui carteira de trabalho

assinada, cujos benefícios e direitos são garantidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Sendo que a função desempenhada pelo trabalhador dentro da empresa lhe confere uma remuneração, chamada de salários. Por sua vez, o mercado de trabalho formal é o espaço onde tais relações de formalidade se manifestam.

desde as grandes regiões até os municípios; setores econômicos; tamanho do estabelecimento; estoque de emprego e perfil do trabalhador de cada ramo de atividade.

A RAIS tem periodicidade anual, cujos registros se referem ao estoque de emprego em 31 de dezembro do ano referido. É declarada por cada estabelecimento e possui uma cobertura de quase 100% do mercado de trabalho formal do país, sendo considerado por muitos autores

– como Saboia (2001) e Saboia e Tolipan (1985) – uma espécie de censo do mercado de

trabalho formal. Desta forma, tendo em vista a riqueza dos seus dados, podendo estes serem desagregados geograficamente, até em nível municipal, justifica-se a nossa escolha por esta base para o cumprimento dos objetivos propostos na pesquisa16.

Adicionalmente, alguns dados referentes ao desempenho das contas externas, PIB nacional e setorial, taxa de desemprego e outros relacionados ao setor industrial foram obtidos junto ao IBGE, ao Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio (MDIC), ao Banco Central (BACEN) e ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

No que tange à área geográfica de estudo, optamos, na maioria das vezes, por unidades mais agregadas, como o Brasil e as grandes regiões.

Porém, cabe destacar que no capítulo cinco, destinado a avaliar a correlação espacial entre os dados através do I de Moran e do LISA, tomamos as microrregiões brasileiras como unidade de análise, tendo em vista que os efeitos de aglomeração são mais fortes quando se considera unidades geográficas mais desagregadas e mais próximas. Já no cálculo do coeficiente de Gini, utilizado para verificar o grau de concentração do emprego e dos salários pagos na IT nacional, adotamos como unidade de referência o Brasil e como unidades de análise suas regiões. Por fim, o índice de Krugman toma por unidade de referência a estrutura produtiva nacional e como unidade de análise as estruturas produtivas de cada uma das cinco regiões (e as pertencentes a cada estado brasileiro).

Quanto ao período de estudo, optou-se por considerar as décadas de 1990 e 2000, marcadas por uma série de mudanças na economia nacional cujos reflexos alteraram a dinâmica e funcionamento do mercado de trabalho brasileiro, em especial, o da IT onde a reestruturação tecno-organizacional se fez mais presente, sendo este também o setor mais afetado pelas várias crises internacionais que assolaram o período.

16 Cabe destacar que a melhoria na cobertura da RAIS se deu a partir do final dos anos de 1980 e que estas

continuaram durante a década de 1990. Desta forma, na tentativa de evitar qualquer contaminação ou distorções dos dados e corrigir possíveis falhas na cobertura (que viessem a comprometer os resultados), optou-se por baixar para cada ano das décadas de 1990 e 2000 (e unidade analisada) cada variável (dado) que será apresentada

e discutida nos capítulos destinados à análise dos resultados – mesmo tendo em vista que a cobertura da IT já se

mostrava satisfatória desde o início dos anos de 1980 –, de modo a verificar se, de um ano para outro, houve (ou

não) alterações discrepantes (e não justificadas) em seus valores, e em caso positivo, fazer as correções de forma a obter um cenário mais representativo da realidade vivida pelo emprego industrial nos últimos anos.

Contudo, cabe destacar que faremos cortes temporais justificados em virtude dos fatos históricos e econômicos que caracterizaram cada corte e que são importantes para entender o comportamento do emprego industrial. São estes:

 Os anos polares de 1990 e 1994: período caracterizado pela intensificação da abertura

econômica, reestruturação produtiva e implementação do Plano Real, que provocaram perdas no emprego industrial e alteraram as participações regionais nesta variável;

 1994 a 2000: marcado pela intensificação das privatizações, políticas contracionistas

do Plano Real e crises econômicas internacionais que refletiram negativamente sobre o desempenho do emprego formal da IT, ocasionando uma possível relocalização deste para outras regiões que não o Sudeste. Ainda no final desse período se observa o abandono da âncora cambial e o estabelecimento da âncora monetária, que contribuiu positivamente para a retomada do crescimento do emprego industrial;

 2000 a 2003: transição de dois governos e de suas políticas econômicas. O segundo

mandado de FHC chega a seu fim em 2002 com baixo crescimento econômico e receio dos investidores quanto ao novo presidente, que iniciou seu mandado em 2003;

 2003 a 2007: período de retomada do crescimento econômico e dos investimentos em

virtude de uma conjuntura econômica internacional favorável, sustentação da demanda interna e maior atuação do Estado na economia. Fatores que contribuíram para impulsionar o crescimento do emprego industrial;

 2007 a 2010: marca a continuidade do segundo mandato do Lula, que enfrentou no

final de 2008 e quase todo o ano de 2009 os efeitos da crise norte-americana, com impactos foram sentidos com a redução no ritmo de crescimento do emprego no setor industrial.

Para um melhor entendimento da dinâmica apresentada pelo emprego industrial nas duas últimas décadas, da qualidade do emprego criado e seus impactos sobre o perfil do trabalho e nas disparidades nos mercados de trabalhos regionais vinculados a este setor, é necessário, além de considerar a IT como um todo, desagregá-la em segmentos, que são classificados de acordo com a intensidade de fator de produção utilizado. O quadro 1, abaixo, elaborado com base em Moreira e Najberg (1998) apresenta a IT (Seção D) com seus segmentos e suas respectivas divisões (de dois dígitos), conforme a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 95).

Quadro 1 – Indústria de transformação com seus respectivos segmentos, conforme CNAE 95

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Segmento Div. Nome da Indústria

Intensivo em Capital

17 Fabricação de produtos têxteis

23 Fabricação de coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares e

produção de álcool

24 Fabricação de produtos químicos

27 Metalurgia básica

28 Fabricação de produtos em metal - exclusive máquinas e equipamentos

29 Fabricação de máquinas de equipamentos

30 Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática

31 Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos

32 Fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de

comunicações 33

Fabricação de equipamentos de instrumentações médico-hospitalares,

instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios

34 Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias

35 Fabricação de outros equipamentos de automóveis

37 Reciclagem

Intensivos em Trabalho

18 Confecção de artigos de vestuário e acessórios

19 Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e

Calçados

21 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel

22 Edição, impressão e reprodução de gravações

36 Fabricação de móveis e industrias diversas

Intensivos em Recursos

Naturais

15 Fabricação de alimentícios e bebidas

16 Fabricação de produtos de fumo

20 Fabricação de produtos de madeira

25 Fabricação de artigos de borracha e plástico

26 Fabricação de produtos de minerais não metálicos

Fonte: Elaboração própria com base em Moreira e Najberg (1998).