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6 O PERFIL DO EMPREGO NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

6.3 ESTOQUE DE EMPREGO INDUSTRIAL SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO

No que se refere aos anos de estudo, os dados da Tabela 35 mostram que durante as décadas de 1990 e 2000 houve um avanço substancial do grau de escolaridade dos trabalhadores da IT nacional, refletindo uma melhoria no nível educacional do país.

Entre os possíveis fatores que contribuíram para o crescimento na escolaridade média podemos sugerir: investimento governamental, através da ampliação no número de escolas, universidades, centros tecnológicos e adoção de programas de qualificação, como o Programa Nacional de Qualificação dos Trabalhadores - PLANFOR e o Programa Nacional de Qualificação - PNQ43; maior interesse dos trabalhadores em se qualificar e atender às exigências da modernização tecnológica e organizacional da indústria; a seleção feita pelas empresas, que geralmente escolhem os operários mais instruídos do conjunto ofertado.

Em 1990, a participação dos trabalhadores sem instrução ou com ensino fundamental incompleto era de 63,45%. Em 2000, esse valor decresce para 57,85% e continua a diminuir durante toda a década que se inicia, chegando a 20,63% em 2010. Por seu turno, os trabalhadores que têm no mínimo o ensino médio completo passaram a responder por 53,46% dos postos de trabalho na IT nacional em 2010, enquanto em 1990 este valor não chegava a 16%. Como consequência, há um aumento de 38,31% nos anos médios de estudo da mão de obra industrial (6,97 anos em 1990 contra 9,64 anos em 2010). Há, portanto, uma melhoria significativa no grau de instrução da oferta de trabalho, sugerindo uma adequação, ainda que

42 Ainda destacamos dois fatores: o tempo médio de permanência de empresa e a idade média que geralmente

são mais altos nas regiões mais desenvolvidas, conforme discutiremos com mais detalhes em tópicos posteriores.

43O PNQ foi instituído em 2003 com o objeto de corrigir as algumas falhas do PLANFOR) – lançado pelo

governo FHC, cujo objetivo era promover a inclusão dos trabalhadores com baixa escolaridade em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, priorizando, assim, a educação profissional básica, onde a maior parte das atividades de qualificação oferecidas foi executada visando o exercício de ocupações tradicionais. Diferentemente do PLANFLOR, o PNQ passa a incorporar as questões sociais na elaboração das políticas de qualificação, propondo assim uma maior interação entre esta política e as políticas de emprego e renda, no sentido de propor um Plano de Desenvolvimento de caráter includente, voltado à geração de emprego, distribuição de renda, promoção de maior equidade no mercado de trabalho e redução das desigualdades sociais (COSTA, 2006).

parcial, do trabalhador às exigências impostas pelo novo modelo de gestão da produção e do trabalho, de acordo com os princípios do toyotismo.

Outra evidência de uma maior escolaridade do trabalhador está no aparecimento, na década de 2000, de participação daqueles que possuem o título de mestrado ou doutorado, apontando para uma melhora qualitativa no nível de instrução da mão de obra da IT.

Tabela 35 – Distribuição do emprego na IT segundo o grau de instrução – Brasil 1990-2010 Grau de

instrução

1990 1994 2000 2007 2010

Emprego % Emprego % Emprego % Emprego % Emprego %

Analfabeto 176.028 3,27 137.161 2,72 94.711 1,94 66.971 0,95 57.296 0,73 Fundamental incompleto 3.244.134 60,18 2.778.322 55,13 1.944.830 39,81 1.722.905 24,33 1.569.220 19,90 Fundamental completo 747.994 13,88 838.011 16,63 1.015.017 20,78 1.261.400 17,81 1.216.179 15,42 Médio incompleto 378.351 7,02 405.962 8,06 524.203 10,73 778.808 11,00 827.044 10,49 Médio Completo 484.494 8,99 537.631 10,67 924.379 18,92 2.574.010 36,35 3.365.100 42,67 Superior incompleto 137.097 2,54 127.783 2,54 136.443 2,79 238.241 3,36 276.162 3,50 Superior completo 222.515 4,13 214.570 4,26 245.199 5,02 435.031 6,14 565.970 7,18 Mestrado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3.751 0,05 7.076 0,09 Doutorado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1.026 0,01 1.637 0,02 Total 5.390.613 100 5.039.440 100 4.884.782 100 7.082.143 100 7.885.684 100

Anos médios de estudo 6,97 - 7,34 - 8,22 - 9,26 - 9,64

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE.

Quanto aos três segmentos que compõem a IT brasileira também apresentaram ampliação no nível de escolaridade média dos seus trabalhadores e uma redução na participação daqueles que têm no máximo o ensino fundamental completo, embora persistam as diferenças setoriais de qualificação. Sendo, em todos os anos considerados, no segmento intensivo em capital onde estão os trabalhadores mais instruídos (o que pode ser um dos fatores que explique o porquê dos melhores salários estarem aí localizados), enquanto nos intensivos em recursos naturais são onde estão os que possuem um grau de escolaridade mais baixo, conforme já havíamos adiantado no capítulo quatro.

A Tabela 36 mostra o número de anos médios de estudos da mão de obra por segmento, entre 1994 e 2010, corroborando o exposto no parágrafo anterior.

Tabela 36 – Anos médios de estudo e participação dos empregados com até o fundamental completo nos segmentos industriais – Brasil (1994-2000)

Indústria 1994 2000 2003 2010 Anos de estudo % Anos de estudo % Anos de estudo % Anos de estudo % Intensivo em trabalho 7,29 77,90 8,14 64,88 8,58 56,85 9,52 37,29 Intensivo em capital 7,77 68,08 8,77 53,70 9,36 43,91 10,22 26,88 Intensivo em recursos naturais 6,43 80,48 7,35 70,46 7,83 63,14 8,82 45,50

Contudo, se comparamos estes resultados com os do tópico anterior, veremos que os salários médios andaram na contramão do aumento no grau de instrução da mão de obra. Gráfico 15: Escolaridade média versus salários médios na IT – Brasil 1990-2010

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE.

O Gráfico acima mostra que apesar do aumento das exigências para assumir uma determinada ocupação, os ganhos de produtividade conseguidos nesse período, em parte explicados pela ampliação da escolaridade do trabalhador industrial, não foram revertidos em aumentos salariais, ampliando a desigualdade na distribuição da renda entre empregados e empresários. O que, segundo Dedecca (2003) e Medeiros (2005) contribui para a viabilização do processo de acumulação de capital.

Tal resultado vem a confirmar o que foi exposto por Antunes (2007) segundo o qual as demandas das firmas por trabalhadores polivalentes ou multifuncionais nada mais é que um novo mecanismo desenvolvido pelo capital para intensificar seu grau de exploração sobre a forma de trabalho. Os trabalhadores ficam sobrecarregados de tarefas, embora os salários não acompanhem tal ritmo, já que os ganhos de produtividade oriundos do aumento da qualificação (aqui entendido como escolaridade) do trabalhador não são repassados na mesma proporção para este, sendo transformados em lucros adicionais para os donos do capital.

Outro ponto que merece ser trabalhado é a remuneração por grau de instrução. Veja: Gráfico 16: Salário médio do trabalhador industrial por grau de instrução – Brasil 1990-2010

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE.

5,36 5,86 4,77 3,25 3,04 6,97 7,34 8,22 9,26 9,64 0 2 4 6 8 10 12 1990 1994 2000 2007 2010 Salários médios Anos médios de estudo

1,41 1,92 2,16 1,98 2,72 4,62 10,70 15,15 15,42 - 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 Salários mínimos

Os dados evidenciam que permanece a diferenciação salarial entre os trabalhadores que possuem graus de instrução distintos. Em geral, uma mão de obra mais qualificada recebe remunerações médias mais elevadas. Sendo digno de nota o fato de que o maior ganho salarial para os trabalhadores foi percebido na passagem do ensino superior incompleto para o superior completo, um acréscimo de 131,49%.

Se compararmos o salário pago ao operário com o nível mais baixo de qualificação (analfabeto) com o mais qualificado (doutor), verificamos uma diferença de quase 1000% a favor do segundo, ratificando o que fora exposto no parágrafo anterior. Isso porque, geralmente trabalhadores mais qualificados são destinados, dentro da empresa na qual atuam, a assumir funções de chefia e/ou de gerenciamento.

Das informações contidas no Gráfico 16 podemos inferir que, um dos fatores que pode ajudar a explicar as diferenças regionais de salários pode estar relacionado aos diferenciais no grau de instrução. No Sudeste, em 2010, estavam os trabalhadores da IT com maiores anos médios de estudo (também foi aí os melhores salários). Já no Nordeste, onde estão os salários mais baixos, também foram encontrados os trabalhadores com menor escolaridade média. Tabela 37 – Distribuição dos empregados na IT de acordo com a região e o grau de instrução

– Brasil - 2010 Grau de

instrução Norte % Nordeste % Sudeste % Sul %

Centro- Oeste % Analfabeto 2.222 0,82 34.956 3,32 11.506 0,28 6.046 0,30 2.566 0,62 Fundamental incompleto 58.937 21,65 284.412 27,02 680.825 16,45 441.744 22,01 103.302 24,90 Fundamental completo 29.044 10,67 131.316 12,48 642.300 15,52 355.112 17,70 58.407 14,08 Médio incompleto 23.401 8,59 111.927 10,64 390.237 9,43 240.420 11,98 61.059 14,72 Médio Completo 137.714 50,58 428.474 40,71 1.877.826 45,37 766.790 38,21 154.296 37,19 Superior incompleto 8.004 2,94 22.259 2,11 146.863 3,55 85.247 4,25 13.789 3,32 Superior completo 12.752 4,68 38.441 3,65 383.758 9,27 109.738 5,47 21.281 5,13 Mestrado 180 0,07 557 0,05 4.711 0,11 1.470 0,07 158 0,04 Doutorado 33 0,01 98 0,01 1.205 0,03 249 0,01 52 0,01 Total 272.287 100 1.052.440 100 4.139.231 100 2.006.816 100 414.910 100

Anos médios de estudo 9,50 - 8,72 - 9,99 - 9,50 - 9,27

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE

Outra informação importante na Tabela 37 ficou por conta do Norte. Sendo nela onde se concentrou, em 2010, a maior participação relativa dos trabalhadores com o ensino médio completo (50,58%) na IT. Somado aos trabalhadores que têm até doutorado, esse percentual eleva-se para 58,28%, acima da média nacional e um pouco abaixo do Sudeste. O que fazem desta, juntamente com o Sul, as segundas regiões com maiores níveis de instrução da mão de obra.