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Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua implicância na Sociologia

No documento ALESSANDRA KRAUSS WIECZORKIEVICZ (páginas 95-99)

3.4 O PAPEL DA SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

3.4.2 Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua implicância na Sociologia

do contexto atual em que vive a sociedade, sobre o domínio das classes políticas e dominantes.

Diante disso, referente ao contexto atual, Ferreira e Santana (2018, p. 41) falam que: “A conjuntura política brasileira está marcada pelo avanço de uma agenda conservadora que tem provocado reflexos em diversos âmbitos da sociedade, atingindo inclusive a educação”. Nesse direcionamento, novas reformas educacionais são implantadas. Morais (2017, p.05-06) argumenta:

[...] através da lei é a n.13.415/07 de 16 de Fevereiro de 2017 instituiu a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral que, dentre as suas medidas, altera a Lei n.9.394, de 20 de dezembro de 1996, e estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, retirando a obrigatoriedade de Sociologia, Artes, Filosofia e Educação Física do Ensino Médio e colocando itinerários formativos com ênfase em áreas de conhecimento, a saber: Linguagens; Matemática; Ciências da natureza; Ciências humanas;

e a formação técnica e profissional.[...] o Ensino da Sociologia passa a compor o itinerário das ciências humanas e segue as orientações da Base Nacional Comum Curricular referente ao Ensino Médio, que inclui os estudos e práticas de Educação Física, Arte, Sociologia e Filosofia, entretanto, deixam lacunas no seu entendimento e interpretações.

Nesse direcionamento apresenta-se a BNCC, com a perspectiva de mudar os caminhos da educação, fazendo com que algumas disciplinas não sejam mais obrigatórias, que é a condição da Sociologia, mas trazendo um ensino técnico. Ferreira e Santana (2018, p. 45-46) ressaltam:

A relação entre a reforma e a BNCC para o ensino médio consiste no fato de o novo ensino médio precisar dessa base nacional para apontar a diretriz do que se espera ser estudado. [...] estados, municípios e a rede privada deverão reelaborar os seus currículos. Futuramente, provavelmente depois de 2020, também o ENEM precisará ser remodelado. O texto da Base segue a reconfiguração do ensino médio apregoada pela reforma, separando o ensino por áreas (Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática), além de indicar apenas português e matemática como disciplinas obrigatórias nos três anos.[...] Com relação ao aumento de carga horária do ensino médio, apenas 1.800 horas serão destinadas aos conteúdo das disciplinas obrigatórias, encaixadas dentro das áreas definidas pela BNCC. As demais 1.200 horas serão destinadas ao caminho escolhido pelo estudante dentre os itinerários disponíveis, sendo cinco eixos formativos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.

O estudante do ensino médio, deve concluir as 1.800 horas obrigatórias, e a partir dessa carga horaria concluída, escolher quais serão os itinerantes de seu interesse para continuar seus estudos. Com base nessa transformação curricular, foi questionado aos professores de Sociologia da Coordenadoria Regional de Educação de Canoinhas, quais são as implicâncias que a BNCC pode trazer para o ensino da Sociologia na Coordenadoria. As suas respostas podem ser classificadas em três categorias: implicância negativa, alunos sem condição de escolha e a BNCC fora da realidade educacional.

3.4.2.1 Implicância negativa

De acordo com os professores da Coordenadoria, a BNCC tem uma implicância negativa no ensino da Sociologia, pois torna a disciplina não obrigatória, deixando a escolha do Estado incluí-la nas escolas e do aluno escolher estudá-la ou não.

É uma discussão ampla, poucas linhas não são o suficiente. Mas, é importante analisar esta questão, pois os alunos já não acreditam na disciplina sendo “obrigatória” quiçá sendo optativa. Preocupante essa “não valorização” das ciências humanas no geral. Uma sociedade apenas como “mais um tijolo no murro” sem autonomia, emancipação, um produto (P2). Eu acho que é algo preocupante, porque é uma coisa assim o aluno não tem aquela afinidade, ele já não vai querer ficar, escolher a disciplina de sociologia, porque tem que ler, ter uma leitura, tem que ter um diálogo, uma rescrita ou escrita de uma produção textual. Eu vejo, como uma coisa meio complicada, talvez deveria se repensar, essa questão optativa, deveríamos deixar ao menos uma aula, que seja, no caso como tem hoje, uma na terceira, duas na segunda, e duas na primeira, pelo menos deixar uma aula, pelo menos ele terá que frequentar aula de sociologia não deixar há, ele vai escolher, se ele ver que aquilo para ele não tem relevância, ele vai acabar saindo, ele vai acabar não quero fazer, sabe que tudo o que a gente não é obrigado a fazer a gente não faz. Eu acho que é uma coisa bem crítica e deve ser repensado sobre essa questão (P3).

Vejo como ruim. Visto que muitas vezes as disciplinas de Filosofia e Sociologia na linguagem de muitos deve ficar em segundo plano, por não ser importante como matemática e L.P. por exemplo (P5).

Como nem todos “gostam” desta disciplina ou até mesmo do professor, pode ser que alguns não escolham cursar esta disciplina. Levando em conta que a sociologia estuda a sociedade e tudo que nela ocorre, acredito que deve permanecer como obrigatória nos 3 anos do médio (P6).

Acredito que sim (P11).

Acredito que é inviável. Os alunos optariam pela área das exatas, mas estariam deixando de exercer seu papel de cidadão diante das relações sociais que estabelecem, haveriam graves problemas a enfrentar (P13).

Percebe-se um olhar negativo e preocupante desses professores em relação à BNCC, uma vez que se perde a autonomia da disciplina, sua possibilidade de inserção em todas as turmas em todos os municípios. A partir do momento no qual existe o fator da escolha, fica a critério de cada interessado, seja pelo do aluno, ou pelos governantes escolherem a disciplina para ser lecionada em sala de aula. Ferreira e Santana (2018, p. 46-47) complementam:

A flexibilização é da oferta a ser definida pelas escolas e sistemas educativos e não de construção de itinerários de formação dos estudantes, a partir dos seus interesses e aspirações em suas escolas e municípios. [...] O ponto central a ser ressaltado é que, conforme a nova Lei, não há obrigatoriedade de oferta de todos os eixos formativos pelas escolas, ficando a cargo de cada instituição definir quais efetivamente serão oferecidos aos estudantes.

Além do ensino da Sociologia estar em situação de desaparecimento, pelas questões de escolhas, a formação integral dos alunos também está em desvantagem. Haja vista que serão oportunizadas pelas instituições itinerários relevantes e possíveis para a implantação de acordo com os professores disponíveis. E como já citado nessa pesquisa, a disciplina de Sociologia conta com poucos professores efetivos e habilitados na área e em atuação em comparação com as demais disciplinas.

3.4.2.2 Alunos sem condição de escolha

Outra característica mencionada por alguns professores, foi a questão de que muitos alunos ainda não teriam condições de escolher o que querem estudar.

Adolescentes que mal sabem se vestir/ ter em mãos escolhas tão significantes para seu futuro (P7).

Eles não têm plena consciência para escolher devido suas dúvidas (P14).

Acredito que o jovem não tem maturidade para tal escolha, pois a maioria não sabe seu futuro profissional. Não é interessante na perspectiva do governo cidadãos críticos e ativos socialmente (P15).

Acho que a sociologia, direta ela deve ser a mesma coisa que biologia no currículo escolar, então a pessoa que, sei lá, tem pensamento fascistas não vai escolher, sabe. Então acho, que seja importante rever isso, permitir que o aluno, escolha o que vai escolher o que ele vai aprender, porque ele vai ficar fechado na caixinha dele, sabe, fica na caixinha dele, e igual as pessoas que estão querendo falar que esses tempos atrás, que a educação em casa. Não! Mas é justamente para sair da caixinha da casa, tem educação pública obrigatória, sabe. Então, eu acho importante, e que nenhuma disciplina deveria sair, pelo contrário, devia de agregar mais, ter mais disciplinas, e horário mais, hora aula, já está ruim assim, imagina se sair (P16).

Vê-se na perspectiva desses professores, que seus alunos ainda não estão em plenas condições de escolher o que estudar. Fator, que pode ser decorrente da imaturidade, falta de conhecimento

e responsabilidade com a formação cidadã. Consequentemente, na visão desses professores, essa possibilidade de escolha, que a BNCC irá oportunizar ao aluno, é preocupante para o ensino da Sociologia, seja pela questão do não hábito da leitura dos alunos, pelo fato desses estudantes não terem a devida preocupação com o entendimento das relações sociais ou pela busca na formação técnica para sua inserção no mercado de trabalho.

3.4.2.3 BNCC fora da realidade educacional

Uma outra característica mencionada por alguns professores foi que a proposta da BNCC do ensino médio está fora da possibilidade de inserção, não condizendo com realidade atual da educação no país.

Primeiro eu duvido que o aluno vai poder escolher porque eu duvido que na organização atual da educação brasileira, se consigo fazer isso e se quiserem a destruição por que escolher o que? Eu sempre perguntei, por exemplo o Cid vai trabalhar as áreas de matemática por exemplo de todas as outras áreas vai para onde? Os alunos daqui vão para onde que eles vão conseguir construir todas as escolas cada escola trabalha em uma área separada daí então o aluno vai sair daqui de Porto União vai aonde é um lá no bairro vai então eu ainda não consegui entender como que eu vou fazer isso e duvido que vão fazer isso né porque eu acho que não vai dar certas áreas de humanas aí na escola literária semana vai ter sociologia e filosofia histórias essas questões né. Mas como que vão fazer isso é efetivamente eu às vezes. Imagino que esse pessoal sonha demais né sonha demais eu acho que não dava certo agora. Eu acreditaria numa educação eu sempre digo assim eles copiam tanto de outros países, porque não copiam as coisas boas? Quando copiam, ainda copiam mal né. Eu acho assim que é horrível né porque eles não fazem as escolas com salas de aula de laboratório para cada disciplina poder trabalhar, por exemplo se estivesse em uma aula de sociologia que tivesse dentro da sala de aula todos os materiais necessários os professores que mudaram de sala seriam os alunos mudariam de sala né. Como nas escolas norte americanas na Europa e na Ásia né. Então Ali seria o laboratório você poderia preparar todo seu material tudo no esquema para dar uma aula totalmente diferenciado, uma aula então moderna do jeito que eles querem mas não nós estamos aqui com um quadro negro, giz, caindo aos pedaços descascando da parede de sala de aula sem piso faltando Funcionários das escolas sabe então é como é que você quer passar fazer essa passagem? A passagem eu digo sempre assim alguns países, por exemplo: Finlândia, Noruega, eles levaram 30 anos fazendo a passagem né alguns menos 20, 25 mas a passagem Educação não é só você colocar no papel um projeto é a estrutura da escola é a estrutura da escola estrutura de quem vai trabalhar naquela escola é a estrutura do professor do dos funcionários se você tem que criar uma estrutura, não é do dia para noite é uma lei aprovada que faz é um processo e por isso não pode ser política de governo tem que ser política de estado. Por que o processo é um processo de 20 anos, por vários governos, então a educação é pensada no Brasil que eu digo assim é uma brincadeira para os cara tomar uma cervejinha no bar e pensam educação e vamos fazer então a BNCC, por exemplo a nova BNCC, tem muitas restrições com relação a ela com relação às disciplinas não só de sociologia, Filosofia mas com toda essas disciplinas, ela parece que é uma coisa pesada para um país que tem as melhores escolas do mundo não é verdade isso não é verdade tem que pensar a educação como um todo ( P1).

A própria BNCC não sabe onde quer chegar. As mudanças constantes demostram que o projeto de reforma do ensino médio não é algo pensado, analisado, maduro e responsável (P12).

Os professores de Sociologia da Coordenadoria fazem uma crítica à organização das propostas da BNCC, além de apresentarem sua inviabilidade para implementação. De acordo com esses professores, a BNCC é algo que não foi pensada de acordo com a situação atual do Brasil, deixando muitas ações que estão escritas no documento sem possibilidades de execução. Nesse contexto, Ferreira e Santana (2018, p. 44-46-47) apresentam os principais empecilhos para a implantação de novo ensino médio:

Se a ideia da reforma de ampliar o ensino médio das atuais 2.400 horas para 3 mil horas parece interessante num primeiro momento, a grande incógnita reside na inviabilidade de sua aplicação na rede pública sem que haja financiamento estatal de peso, a considerar a redução de investimentos imposta pelo atual governo[...]apelidada de “PEC do Teto dos Gastos”, que virou lei e acabou com a vinculação obrigatória de recursos para diversas áreas sociais, inviabilizando o aumento de financiamento da educação pública por vinte anos.[...] Observando os problemas de infraestrutura da maioria das escolas públicas, somos levados a imaginar que muitos serão os obstáculos para que as escolas ofereçam todos os itinerários formativos.[...] [...] Há um risco real de que os sistemas educativos não ofereçam itinerários nas áreas em que há pouca disponibilidade de professores. Se isso efetivamente acontecer, jovens da rede pública encontrar-se-ão diante da falsa possibilidade de escolha, ao invés de uma ampliação caracterizando uma lógica dual segundo a qual uma oferta de ensino sem igualdade de condições poderá acentuar ainda mais as disparidades educacionais do país. [...] Devido à ausência de professores de todos os itinerários formativos na rede pública, esse sistema poderá ser levado a priorizar a “formação técnica e profissional”.

Tanto na percepção dos professores como também de Ferreira e Santana, fica explícito a impossibilidade da implantação proposta pela BNCC, e muitas são as causas que impossibilitam esse novo modelo de ensino no país. Fica claro, que os professores de Sociologia da Coordenadoria não concordam com a nova proposta da BNCC, e entendem que ela irá implicar negativamente no ensino da Sociologia, podendo a disciplina ser eliminada nos municípios, por conta da autonomia que o estado tem em implantar as disciplinas, algo que pode ser feito com base nas disciplinas com maiores números de professores efetivos, que não é o caso dos professores da Sociologia.

Outro aspecto mencionado, é a ausência de condição dos alunos escolherem o que estudar, se isso acontecer. De acordo com esses professores, esses alunos não têm nenhuma condição para escolher o que pretendem estudar por questões de imaturidade e falta de responsabilidade social.

Além dos alunos não terem condições para escolher o que estudar, também foi criticado por alguns professores a proposta da BNCC, sendo apontando a sua inviabilidade de implantação. Segundo esses professores, a atual situação da educação não oferece condições para um trabalho adequado, quem dirá um ensino em período integral, aonde os investimentos serão maiores. Levando em consideração que essa proposta não condiz com a realidade da educação hoje.

Diante de todos os apontamentos realizados pelos entrevistados, é visível a não aceitação da BNCC, e sua implementação implicará de uma forma negativa, gerando um retrocesso no ensino da Sociologia na educação básica. Além da negação da formação do pensamento crítico e da formação cidadã, enaltecendo a formação técnica.

No documento ALESSANDRA KRAUSS WIECZORKIEVICZ (páginas 95-99)