2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: O QUE MUDOU NAS
2.4 Bases conceituais da política de educação profissional do governo Lula: um olhar a
Tomando como referência as principais ideias do PNQ, é possível concluir que as bases conceituais da política de educação profissional do governo Lula estão alicerçadas nos seguintes pressupostos:
Quadro 5 - Bases conceituais da Política de Educação Profissional do Governo Lula
Bases conceituais da Política de Educação Profissional do Governo Lula
Dimensões Diretrizes Proposições PNQ
Epistemológica Desenvolvimento
político-conceitual Qualificação Social e Profissional como construção social e como direito de cidadania Social e política Articulação
institucional Integração das políticas de trabalho, educação e desenvolvimento. Superação da separação entre educação profissional e educação básica (foco elevação de escolaridade dos trabalhadores)
Efetividade social e
política Eficiência (cumprimento de metas) e eficácia (cumprimento de metas financeiras) Benefícios econômicos, sociais e culturais (inclusão social numa perspectiva emancipatória).
Empoderamento dos trabalhadores (individual e coletivamente)
Participação na formulação, implantação e avaliação da política pública
Pedagógica Qualidade pedagógica Educação integral (técnico-científica; sociopolítica, metodológica e ético-cultural)
Trabalho como princípio educativo Cidadania como princípio educativo
Valorização dos saberes dos educandos e de suas identidades culturais
Fonte: Formulação própria.
Esses pontos, além de marcarem as principais mudanças entre o discurso do PNQ e o PLANFOR, constituem as bases conceituais do primeiro.
Por um lado, indica-se que a política de qualificação profissional é direito, “devendo, nesses termos, ser objeto de uma política nacionalmente articulada, controlada socialmente, sustentada publicamente e orientada para o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a consolidação da cidadania” (PRESTES; VÉRAS, 2009, p. 56). Por outro lado, destaca-se a necessidade de articulação do trabalho, educação e desenvolvimento, ou seja, compreende-se que sem a integração das políticas públicas, não haverá melhores condições de acesso ao mundo do trabalho nem uma significativa melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores; portanto, busca-se superar a concepção de que o desemprego é uma responsabilidade individual, assumindo-o como um fenômeno estrutural que demanda ações integradas e estruturantes.
O PNQ, por sua vez, defende que a qualificação social e profissional, além de vislumbrar a inserção no mundo do trabalho, deve possibilitar a atuação cidadã dos sujeitos; isso significa assumir o trabalho como valor estruturante para a cidadania. Vale a pena destacar que a qualificação social e profissional não busca apenas atender as demandas do mercado formal de trabalho, propõe uma formação mais abrangente voltada para o mundo do trabalho, que engloba, além do mercado formal, as formas alternativas de geração de renda.
Nesse contexto, a educação integral do trabalhador ganha preponderância, bem como o trabalho, como princípio educativo, e a cidadania. Embora os documentos do PNQ não aprofundem a noção de educação integral, deixam explícita a necessária articulação entre a formação intelectual, técnica, cultural e cidadã. Quanto a assumir o trabalho como princípio educativo, entende-se que este proporciona a compreensão do processo histórico da produção científica e tecnológica, como conhecimentos produzidos historicamente pela sociedade, visando a transformação das condições naturais de vida e a ampliação das capacidades, potencialidades e dos sentidos humanos. O trabalho como princípio educativo também demanda a participação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo;
por isso a formação específica se fundamenta e justifica (BRASIL, MEC, SETEC, 2007). Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico deve ter como eixos o trabalho e a cidadania, e o currículo deve contemplar as dimensões: técnico-científica, sociopolítica, metodológica e ético-cultural.
São esses aspectos que serão levados em conta na análise do Consórcio Social da Juventude. Associados a estes, abordaremos os aspectos relativos à política de juventude no que se refere à ampliação de direitos e oportunidades que, de pronto, já chama a atenção o fato de não haver nenhuma referência do PNQ à política de juventude, à qual deveria estar fortemente vinculada. Apesar disso, foi possível sistematizar/categorizar estas políticas a partir de dimensões e diretrizes, conforme pode ser observado no quadro que segue.
Quadro 6 – Síntese das Bases Conceituais da Política de Juventude e de Educação Profissional do
Governo Lula
Dimensões Diretrizes Proposições Política de
Juventude Proposições Política de Educação Profissional /PNQ Epistemológica Desenvolvimento
político- conceitual
Perspectiva de geração baseada na ótica dos direitos e
ampliação de oportunidades.
Qualificação Social e Profissional como construção social e como direito de cidadania
Social e política Articulação institucional
Integração das políticas e transversalidade
Integração das políticas trabalho, educação e desenvolvimento. Superação da separação entre educação profissional e educação básica (foco elevação de escolaridade dos trabalhadores)
Efetividade
social e política Universalização da política pública com atendimento de demandas específicas,
reconhecendo as desigualdades e diversidades da juventude (fortalecimento das identidades juvenis – raça, gênero,
orientação sexual, etc.)
Eficiência (cumprimento de metas) e eficácia (cumprimento de metas financeiras)
Benefícios econômicos, sociais e culturais (inclusão social, garantia de direitos de cidadania)
Benefícios econômicos, sociais e culturais (inclusão social numa perspectiva emancipatória) Jovens atores estratégicos Empoderamento dos trabalhadores
(individual e coletivamente) Interlocutores ativos na política
pública (formulação, implantação e avaliação)
Participação na formulação, implantação e avaliação da política pública
Pedagógica Qualidade
pedagógica - Educação integral (técnico-científica; sociopolítica, metodológica e ético-cultural) - Trabalho como princípio educativo - Cidadania como princípio educativo - Valorização dos saberes dos educandos e de suas identidades culturais
Considerando que a política de educação profissional é um campo em disputa, sabe-se que os planos, programas, projetos dela decorrentes só terão êxito se o governo tiver capacidade de disseminar suas bases conceituais e coordenar estas ações tanto no interior da própria estrutura do Estado quanto junto à sociedade civil, de forma a constituir uma base social que dê legitimidade a esta concepção reconhecendo-a como uma formação profissional relevante para a classe trabalhadora e comprometendo-se assim com a efetivação dessa política.
CAPÍTULO 3