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Bases epistemológicas da nova administração pública

1.5 LISTA DE SIGLAS E DEFINIÇÃO DE TERMOS

2.1.4 A nova administração pública

2.1.4.1 Bases epistemológicas da nova administração pública

A elaboração de novas ideias depende da libertação das formas habituais de pensamento e expressão. A dificuldade não está nas novas ideias, mas em escapar das velhas, que se ramificam por todos os cantos da nossa mente (KEYNES apud VASCONCELLOS, 2002).

Com tal citação, pretende-se reforçar a relação que existe entre a epistemologia - pressupostos implícitos que configuram uma visão de mundo – e as práticas profissionais e cria-se uma oportunidade de atentar para o paradigma de ciência que orienta a produção e a aplicação do conhecimento científico em diferentes áreas de atuação.

social. Ressalta que existem, tanto domínios explicativos da realidade observada, quanto critérios de aceitabilidade para diferentes explicações, e que a cada domínio de explicações, corresponde um domínio de ações que um dado observador considera legítimas, por ter preferido as premissas básicas que constituem esse domínio. Portanto, cada domínio explicativo gera um domínio de coerências operacionais na práxis daqueles que elegeram operar nesse domínio.

Segundo Maturana (1997, p. 256) “a ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa cultura ocidental, e, portanto, em nossas explicações e compreensões dos fenômenos.”

A presente dissertação pretende apresentar o conceito da nova administração pública, que se acredita ser baseado em um novo conjunto de pressupostos epistemológicos, uma breve revisão dos paradigmas tradicional e contemporâneo da ciência tentará demonstrar as possíveis implicações dessa mudança para o processo de gestão como um todo.

Segundo Houaiss et al. (2001), a palavra paradigma deriva do grego

parádeigma = modelo, padrão. Para Kuhn (1975) são dois os seus sentidos – teoria

e paradigma. No primeiro sentido, o termo foi usado para se referir a uma estrutura conceitual, partilhada por uma comunidade de cientistas e que lhes proporciona modelos para pensar a respeito dos problemas e de suas soluções. Correspondem a regras e padrões forjados da prática. Já no segundo sentido, este autor faz referência ao conjunto de crenças e valores que são subjacentes a qualquer prática, e que fundamentam os modelos e lhes fornecem analogias e metáforas. Inclui ainda compromissos com valores que sendo amplamente partilhados por diferentes comunidades de cientistas, proporciona-lhes um sentimento de comunidade.

Para efeitos deste trabalho, paradigma será definido como um conjunto de crenças e valores subjacentes à prática científica, sendo, portanto, transdisciplinar.

Segundo Rifkin (apud VASCONCELLOS, 2002), o paradigma de ciência, hoje, faz parte de uma visão de mundo que tomou forma há 400 anos e que, apesar de ter passado por modificações durante esses anos, ainda retém muito do paradigma newtoniano ou cartesiano do século XVII, o mundo como máquina.

Esse paradigma tradicional distinguiu três dimensões: o pressuposto da simplicidade, da estabilidade e da objetividade. O pressuposto da simplicidade partilha a crença de que, ao separar o mundo complexo em partes, encontram-se

elementos simples. Há um entendimento de que é preciso separar as partes para entender o todo e, como atitude de análise, disso decorre a busca por relações causais lineares entre os fatos ou acontecimentos observados. O pressuposto da estabilidade do mundo significa a crença em que o mundo é estável: o mundo já é. Ligados a esse pressuposto estão a crença na determinação – com a consequente previsibilidade dos fenômenos –, e a crença na reversibilidade – com a consequente controlabilidade dos fenômenos. O pressuposto da objetividade representa a crença em que é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade, e isso justifica a exigência da objetividade como critério de cientificidade. Daí decorre os esforços para colocar entre parênteses a subjetividade do cientista, como forma de atingir o universo, ou a versão única do conhecimento (VASCONCELLOS, 2002).

Entretanto, autores como Vasconcellos (2002), Morin (1983), Maturana (1987) e Capra (1996) questionam as dimensões do paradigma tradicional e apontam para um novo paradigma emergente baseado no pensamento sistêmico. Para esses autores, pensar sistemicamente é pensar a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade. Ao contextualizar o fenômeno, ampliando o foco, o observador pode perceber em que circunstâncias o fenômeno acontece; vê relações intrassistêmicas e intersistêmicas, não mais um fenômeno, mas uma teia deles interligados, e assim terá diante de si a complexidade do sistema. Ao distinguir o dinamismo das relações presentes no sistema, o observador estará vendo um processo em curso, um sistema em constante mudança e evolução, auto- organizado, com o qual não poderá pretender ter uma interação instrutiva; assume assim, a instabilidade, a imprevisibilidade e a incontrolabilidade do sistema (VASCONCELLOS, 2002).

Ao reconhecer sua própria participação na constituição da realidade com que está trabalhando, e ao validar as possíveis realidades verificadas por distinções diferentes, o observador verdadeiramente inclui-se no sistema que distinguiu, com o qual passa a se perceber em acoplamento estrutural; assim, estará atuando nesse espaço de intersubjetividade que constituiu com o sistema com que trabalha. Conceber a complexidade das relações causais recursivas nas redes de redes que constituem a natureza em todos os seus níveis introduz necessariamente a incerteza e a imprevisilidade. Visualizar a instabilidade, a irreversibilidade e a evolução, associados aos processos de auto-organização, exige uma ampliação de foco. Ou

seja, requer um pensamento complexo, integrador, que afaste a disjunção, a simplificação (VASCONCELLOS, 2002).

Por outro lado, a construção intersubjetiva do conhecimento também introduz instabilidade: se não há leis definitivas sobre a realidade, se só são possíveis afirmações consensuais, não existe mais expectativa de previsibilidade e controlabilidade. Por isso, parece impossível adotar qualquer um desses pressupostos epistemológicos sem assumir também os outros (VASCONCELLOS, 2002).

Assim, ao se fazer referência ao pensamento sistêmico, faz-se referência a uma epistemologia que implica distinções do observador nas três dimensões: visualizar ou distinguir a complexidade sem tentar simplificar ou reduzir, buscando entender as conexões; visualizar ou distinguir a auto-organização como característica de todos os sistemas da natureza e assumir as implicações de distingui-las; pensar o sujeito da ação como parte de todo o processo, o qual se constitui ou se constrói com ele, a partir de suas próprias distinções.

Acredita-se que a nova administração pública, como conceito, possui bases epistemológicas que foram construídas a partir desses pressupostos e, ora, passa a ser objeto de demonstração.