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Capítulo I Sensibilização à Diversidade Linguística com recurso às Novas Tecnologias

3. O Jogo na Educação Pré-Escolar

3.2. Benefícios do jogo

“Brincar é mais que aprender, é uma experiência essencial, um modo de decidir como percorrer a própria vida com responsabilidade” (Macedo, 2007)

As crianças gostam de brincar e de jogar. Mesmo cansadas elas querem e esperam que as deixem continuar a brincar ou a jogar. Jogar e brincar são atividades que lhes agradam, que as encantam. Há um afeto que liga a criança à atividade, que a compensa, quer física quer mentalmente e repete vezes sem conta as mesmas brincadeiras criando e aceitando regras que partilha com os amigos de brincadeira, com quem combina previamente espaços e tempos para tal (Macedo, 2007).

Brincar e jogar pode ser feito por uma só pessoa, contudo as crianças não querem brincar sozinhas, preferem companheiros de brincadeira. A companhia permite a partilha, a comunicação, o estabelecer de regras, a competição, o erro e o começar de novo. As crianças jogam sempre que podem e repetem os mesmos jogos e brincadeiras por prazer.

Sem a parte lúdica aprender pode tornar-se entediante. Aprender brincando, jogando e imaginando torna quem aprende criativo, ativo e feliz tanto quando falha como quando acerta. A criança delicia-se com o processo.

O jogo e a brincadeira são considerados tão importantes no desenvolvimento das crianças que foram integrados na Declaração dos Direitos da Criança onde se lê: “A criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a actividades recreativas, que devem ser orientados para os mesmos objectivos da educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por promover o gozo destes direitos” (Princípio 7º).

Brincar é um ato espontâneo e natural através do qual a criança vai exprimindo a sua relação com o mundo, apropriando-se dos objetos que a rodeiam conhecendo-os cada vez melhor, bem como ao grupo de pessoas com as quais se relaciona. É a brincar que a criança se põe muitas vezes no papel do outro (faz de conta que eu sou…) e se reconhece como um ser particular mas que faz parte e se relaciona com os outros e com os objetos. Ao falar do brincar, fala-se do movimento, que para a criança é a forma imediata e espontânea de se relacionar e experimentar as “coisas” e de lhes dar vida própria.

É a brincar que nos primeiros anos de vida se estabelecem e reforçam a maior parte das estruturas neurais responsáveis pelo enorme volume de informação e conhecimento que a criança integra. Os três primeiros anos de vida são talvez aqueles em que mais se aprende. Reparemos que, em apenas três anos a criança aprende, entre outras coisas, a falar, a interpretar mensagens não-verbais que observa na fisionomia dos seus interlocutores e aprende a andar de forma bípede, a correr, a saltar, etc. São aprendizagens enormes que adquire brincando, jogando na maior parte das vezes.

A infância é considerada a idade de jogar, de brincar e da diversão de tal forma que quando uma criança não brinca os progenitores compreendem que algo não está bem com esse filho.

Brincar é observar, é observar participando e reagindo aos estímulos dos outros. A infância é a idade em que se aprende brincando, jogando exercitando os órgãos dos sentidos desenvolvendo a motricidade, a memória, o raciocínio, etc.

Como refere Coelho, “a brincadeira é um local de fantasias, imaginação, socialização e divertimento infinito que se encontra com maior incidência na infância, mas perfeitamente natural em idades posteriores, nomeadamente na idade adulta, embora relegada para um papel mais secundário” (2007, p. 32).

Ferran, Mariet e Porcher afirmam que “(…) uma criança que joga é uma criança que socializa” (1979 in Rocha, 2012, p. 37). O jogo utilizado em sala de aula é uma importante ferramenta que pode promover o diálogo, a interação, a cooperação, a competição e em simultâneo exige o cumprimento de regras de convivência.

Um dos objetivos gerais da nossa investigação-ação pretende compreender como “Sensibilizar à diversidade linguística através do jogo”, por esse motivo e porque temos consciência da importância do jogo em idades do pré-escolar, as sessões de trabalho que planificámos no âmbito deste projeto propuseram atividades centradas em jogos que podiam ser desenvolvidos no QIM e também através de materiais manipuláveis com o objetivo de promover o desenvolvimento de uma consciência linguística através do contacto, reconhecimento e identificação de línguas diferentes.

O QIM é uma ferramenta relativamente recente na escola portuguesa particularmente nos primeiros anos de escolaridade e também no pré-escolar. Não se pode ignorar que cada vez mais cedo as nossas crianças vivem rodeadas das novas tecnologias. Mesmo antes de saber falar muitos bebés querem o comando da televisão porque perceberam que é este que

a controla, que é dali que surgem imagens e sons e mais interessante ainda pode escolher-se o que se quer.

O QIM em Portugal foi, desde o início, uma ferramenta aceite e aplaudida por muitos docentes e rejeitada, por outros. Tal como o computador fixo começou por assustar muitos docentes e mais tarde aconteceu o mesmo com os portáteis. Apesar de existirem na escola esses equipamentos muitos docentes dizem que já não são capazes de aprender a lidar com tais “máquinas”. Atualmente ouvimos os mesmos argumentos e sentimos as mesmas resistências em professores com muitos anos de serviço mas aos quais ainda faltam outros tantos para a aposentação. Os professores não escondem o seu receio de, em frente aos alunos fracassarem por não saberem manipular o QIM com a agilidade que os seus alunos revelam de forma quase intuitiva. Ouvir os professores em ambiente informal, quando partilham os seus receios com os seus pares permite tomar consciência de que alguns deles se sentem infoexcluídos a nível das novas tecnologias que podem usar na sala de aula e, pior do que isso, sentem-se incapazes de nesta fase da vida aprender a utilizar estes equipamentos que os assustam, numa altura em que a profissão os sobrecarrega com muitas tarefas que anteriormente eram tarefas administrativas.

As crianças, pelo contrário face a qualquer novidade no âmbito das TIC não revelam esses receios nem medos. Elas parecem ser compatíveis com o novo, com a cor, com o som, com o movimento. O seu cérebro parece aceitar as experiências diferentes, que as motivam e parecem atraídas para repetir sem receio de estragar, de partir. Procuraram apenas fazer funcionar o objeto que as gratifica e experimentam até o conseguir.

No mundo global em que vivemos e com a variedade de canais televisivos disponíveis atualmente, as crianças contactam diariamente com uma grande diversidade linguística. Torna-se necessário que a sensibilização para esta diversidade se faça o mais precocemente possível promovendo atitudes de respeito e abertura ao outro e a curiosidade em saber (mais sobre as) várias línguas.

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