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Capítulo I Sensibilização à Diversidade Linguística com recurso às Novas Tecnologias

2. O Jogo e as Novas Tecnologias da Comunicação na Educação Pré-Escolar

2.1. Educação tecnológica no século XXI

Ao longo da história o homem tem criado uma grande diversidade de meios para comunicar. As novas tecnologias desempenham um papel crucial na sociedade atual e, por esse motivo, consideramos premente familiarizar as crianças com este mundo:

“(...) nesta nova sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico. Acontece assim uma mudança qualitativa no processo de ensino/aprendizagem, quando conseguimos integrar dentro de uma visão inovadora todas as tecnologias que hoje em dia temos ao nosso dispor” (Marcelo, Silva, & Cruz, 2009, p. 8).

Assim sendo, este contacto com as novas tecnologias pode ser feito desde os primeiros anos, uma vez que “nesta idade precoce a criança está apta a descobrir e a explorar os computadores e os próprios educadores reconhecem a sua importância como potenciadores de aprendizagens” (Plowman & Stephen, 2003, in Santos, 2012, p. 7). Esta familiarização desde cedo com as NTC tem como objetivo formar indivíduos aptos a utilizá-las, de modo a facilitar a sua vida.

É necessário que a escola seja um espaço onde se deseja estar por proporcionar atividades de interesse para quem a frequenta, partindo de questões concretas que interessa resolver, disponibilizando os recursos indispensáveis para desenvolver as atividades. É importante que os recursos humanos e materiais sejam de excelência e não podemos aceitar que as novas tecnologias não estejam disponíveis, uma vez que, “podem ser um excelente recurso no processo de ensino aprendizagem pelo que, actualmente, as TIC são parte integrante da Educação” (Ramos, 2005, p. 19).

As TIC são ferramentas fundamentais para todos, quer na utilização dos diferentes programas, quer para comunicar com pessoas de todo o mundo, quer para aceder/pesquisar qualquer tipo de informação, entre outros aspetos. Na escola, se os professores tiverem acesso a elas e as souberem utilizar colocando-as de facto ao dispor da aprendizagem autónoma embora supervisionada das crianças, a escola fará sentido para quem aprende. Quando se está envolvido em atividades reais que nos interessam, como procurar a solução de um problema, ou ter que fazer a dramatização de um texto, a sala torna-se um espaço

apelativo que envolve ativamente as crianças que procuram definir possíveis estratégias para resolver a situação-problema. Estimular o envolvimento das crianças torna o processo de ensino e de aprendizagem mais eficaz e motivador. Quando as TIC são usadas com as crianças “para facilitar a aprendizagem de diversos assuntos, para desenvolver competências e também para adquirir conhecimentos práticos que lhes permitam enfrentar os desafios nesta área de desenvolvimento rápido da informação e da tecnologia” (ibidem), então estaremos a permitir a sua adaptação ao mundo em permanente mudança tendo as crianças implicadas e empenhadas na sua aprendizagem.

Num mundo cada vez mais evoluído a nível tecnológico torna-se premente desenvolver competência para um uso eficaz destas novas ferramentas tecnológicas. A designação literacia digital começou por se referir à capacidade de ler e escrever (literacia) e à necessidade de se usar os dedos (digital) para guardar e reutilizar essa informação (Marques da Costa, 2011, pp. 171-172). Atualmente está mais associada à capacidade de comunicar recorrendo a instrumentos que trabalham com recurso a sistemas matemáticos muito simples. Tais sistemas estão presentes nos computadores, nas máquinas de calcular e em todos os outros meios de armazenamento de dados e difusão de informação, que processam as informações a velocidades impensáveis até há pouco tempo. Em simultâneo trabalhou-se para se conseguir que estes equipamentos fossem instalados em aparelhos de dimensões cada vez mais pequenas, com mais funcionalidades. O génio humano permite hoje a comunicação com equipamentos sofisticados e portáteis dando ao utilizador o contacto áudio e visual com qualquer ponto do globo.

Pais/encarregados de educação e professores devem estar aptos a agir no sentido de informar as crianças dos riscos que podem correr quando entram no mundo da tecnologia, mas devem propor alternativas e providenciar para que o uso das NTC, pelas crianças, seja feito de forma a tirarem delas o maior proveito possível e que a utilização destas ferramentas seja feita de forma segura. As NTC são um poderoso recurso à disposição de pais e educadores que as devem utilizar com prudência mas aproveitando as potencialidades das mesmas.

As crianças de hoje aprendem a adaptar-se social e tecnologicamente à realidade da região em que nascem com muita rapidez, tal como na pré-história, as crianças dessa época se adaptavam às suas circunstâncias. Para dar um exemplo, os bebés de hoje clicam no teclado de um computador com toda a naturalidade procurando os sons e as cores de que

gostam e que sabem que aquele objeto produz. Não percebem como funciona mas sabem que funciona e experimentam sem receio. Apropriam-se do mundo que os rodeia e que está ao seu dispor, isto é, aprendem. Lembrando a questão colocada pelo Conselho da Europa “O que nos permite agir assim?” (2001, p. 11) valerá a pena compreender como pode um ser tão imaturo e dependente aprender, num curto espaço de tempo, a linguagem que, tal como explica Devau (2010), é o veículo que nos permite comunicar o que se pensa aos outros usando vários tipos de sinais e também é a matriz com a qual pensamos. Quando nascemos já possuímos um cérebro com potencialidades para que falemos mas ainda tão imaturo que ao nascer ninguém fala nem compreende língua nenhuma, mas cada bebé aprende a língua que se fala em seu redor.

Como pode o cérebro do bebé atribuir sentido aos sons que escuta construindo a compreensão de uma linguagem que é usada pelos outros? É muito complexo uma vez que é preciso “discriminer des sons et identifier les phonèmes (…) reconnaître et identifier les mots (…) donner une signification aux messages (…) élaborer une réponse” (ibidem). Este trabalho imenso desenvolve-se a alta velocidade, pois nos primeiros dias o bebé já identifica a voz da mãe, logo depois distingue a voz humana de outros sons e apenas alguns meses depois do nascimento já existe alguma consciência do que ouve e diz. Para se perceber como isto é possível abordaremos de forma muito simplificada alguns processos que, no cérebro, estão envolvidos na aprendizagem da linguagem.

Ao nascer, o cérebro está quase completamente formado (imagem à esquerda da imagem 1). O que muda a partir do nascimento é a formação de numerosas ligações entre os neurónios, as sinapses (imagem central da imagem 1).

Depois desta fase ocorre um período em que numerosas sinapses são eliminadas (imagem à direita da imagem 1). Entre os neurónios há comunicação de sinais elétricos ou

químicos, isto é, uma mensagem passa de um neurónio para o seguinte.

O bebé recebe estímulos do exterior, estes são captados e transformados em mensagem elétrica que se desloca de neurónio em neurónio passando pelas sinapses onde

Imagem 1 - Desenvolvimento cerebral do bebé

após o nascimento

neurotransmissores ampliam ou anulam o sinal que continuará ou não o percurso para o neurónio seguinte. Começam assim a existir percursos muito utilizados e outros menos utilizados.

O processo de formação e destruição de sinapses não acontece em todo o cérebro ao mesmo tempo. As sinapses do córtex auditivo têm o seu maior pico aos 3 meses, no córtex visual por volta dos 2 a 3 meses. O processo de formação e destruição de sinapses não é, como se disse, uniforme mas atinge o seu máximo aos 4 anos e fica estável até aos 10 anos. Os estímulos fornecidos ao bebé devem ser variados e adequados pois os seus órgãos dos sentidos estão preparados para receber estímulos com os quais o seu cérebro formará as sinapses necessárias para os integrar.

Ao falarmos usamos palavras organizadas em frases, fazemo-lo com um certo ritmo oral, com sons mais ou menos acentuados entre os quais existem silêncios mais ou menos curtos. Enquanto falamos respiramos e as inspirações e expirações também integram o ritmo do que vamos dizendo. No início os sons são captados pelo ouvido do bebé, transformados em sinais que são conduzidos pelos neurónios ao córtex auditivo (cf. Imagem 2) que no cérebro capta inicialmente apenas essas nuances.

Ao lado da área auditiva, existe a área de Wernicke (cf. Imagem 2) que se vai especializando na compreensão semântica dos sinais sonoros da voz humana. Em simultâneo, o cérebro associa informações visuais que lhe chegam ao córtex visual depois de captadas pelos olhos. Aos poucos estabelecem-se associações que vão permitindo compreender a intenção de uma mensagem. Observando a expressão facial de quem fala, o bebé vai recolhendo informações sobre o que sente quem fala pois as emoções alteram a intensidade, o ritmo e a tonalidade da voz.

A área de Broca (cf. Imagem 2) é responsável pela ordem pela qual as palavras que dizemos se sucedem. Esta sequência garante a coerência do que se diz (Guyton, 1992, p. 561).

A ligar a área de Wernicke à de Broca existe o Fascículo Arqueado, é aqui que se interligam as mensagens auditivas, visuais, tácteis entre outras. Esta região está ligada a

Imagem 2 – Vias cerebrais para perceção

funções abstratas e cognitivas entre as quais a linguagem. O hemisfério cerebral direito também contribui para a compreensão da linguagem verbal por ser sensível às características musicais da voz (ibidem, p. 562).

De forma muito simplificada podemos esquematizar este processo da seguinte forma: Som → Ouvido → Córtex Auditivo→ Wernicke → Fascículo Arqueado → Área De Broca → Córtex Motor → Aparelho Fonológico → Resposta

A forma como as células cerebrais se ligam e desenvolvem depende muito das experiências do recém-nascido com as pessoas que dele cuidam e das trocas de estímulos entre ele e o ambiente que o envolve. Esta troca é a origem da comunicação. O cérebro humano é dotado de plasticidade o que permite que as ligações dos neurónios se estabeleçam muito depressa no início da vida embora esta plasticidade se mantenha durante toda a vida, razão pela qual podemos aprender sempre desde que nos esforcemos por isso, compreendendo e memorizando.

Não podemos esquecer que qualquer dificuldade de audição ou de visão pode interferir com a aprendizagem, nomeadamente da linguagem.

As crianças atuais nascem num mundo em explosão exponencial de conhecimento e de evolução tecnológica. O conhecimento evolui rapidamente e no espaço de uma década aquilo que era novidade torna-se obsoleto.

É claro que todas as descobertas humanas podem ser aplicadas de forma benéfica ou maléfica. No caso das NTC cabe aos adultos permitir que as crianças beneficiem das suas potencialidades evitando com sabedoria os seus inconvenientes. Afinal não foi o que nos fizeram os nossos antepassados?

Em relação às NTC como o computador, telemóvel, iPAD pensamos que devem estar ao dispor das novas gerações, que se devem familiarizar com elas por serem uma componente importante da forma como o conhecimento se divulga e origina novos conhecimentos. A troca de ideias hoje faz-se a nível planetário e à velocidade que cada um desejar e todas as suas potencialidades devem ser disponibilizadas a todos, crianças, jovens ou adultos. O quadro interativo é uma ferramenta com muitas potencialidades como veremos no tópico seguinte, está disponível em meio escolar em grande número de escolas onde se deve assumir a responsabilidade de utilizar este recurso, tirando partido das suas múltiplas aplicações.

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