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2.2.1 Vida

Foi cardeal em Bolonha. Eleito Papa a 3 de Setembro de 1914, tomou o nome de Bento XV. Exerceu o seu pontificado na época em que decorria a primeira guerra mundial. Nesta época Portugal tinha acabado de implementar a Lei da Separação da Igreja e Estado (1911).

42 LEÃO XIII - «Encíclica Santa Dei Civitas», ASS 13 (1880), p. 242. 43 http://www.opf.pt (11.40 min de 19.09.2011).

44 Ibidem. 45

35 Teve uma preocupação notável no campo estritamente eclesiástico. A problemática missionária não passou despercebida no seu governo da Igreja. Ele deu força ao surgimento em Milão da União missionária do Clero que tem como finalidade incentivar o trabalho e difusão das missões. O seu pensamento missionário foi bem expresso na encíclica Maximum Ilud46.

2.2.2 Encíclica Maximum Ilud (1919)

É na encíclica Maximum Ilud, publicada em 30 de Novembro 1919, que podemos encontrar as grandes linhas do seu pensamento no que diz respeito às missões. O documento procura dar um certo dinamismo na questão missionária. Foi considerado o primeiro documento moderno missionário do século XX. Nesta carta, por um lado, o Papa enaltece o trabalho exemplar dos missionários estrangeiros, por outro lado, procura, de forma muito incisiva, apelar a promoção das vocações locais de forma que a Igrejas nas missões sejam enriquecidas pelo clero nativo. Segundo o Papa, os superiores das missões devem ser os primeiros a darem o exemplo de zelo apostólico. Eles devem «procurar promover e excitar a vitalidade da missão até ao seu completo desenvolvimento», porque «sobre eles impede a obrigação estrita de procurar a salvação eterna de todos os habitantes» do território que lhe foi confiado. «Prodigalize todos os seus cuidados aos já convertidos a Jesus Cristo. Defenda-os e anime-os»47. No pensamento do pontífice, a questão missionária não é algo secundário mas uma questão de muita responsabilidade.

Numa altura em que em muitas partes de África, de modo especial em Angola, a formação do clero indígena não era prioritária, e mesmo os que eram ordenados ocupavam uma função de auxiliares, Bento XV não deixa de apelar à Igreja, aos superiores das missões a urgência na formação do clero nativo. Para ele, só se pode considerar uma Igreja enraizada num determinado território quando neste território existe já um clero nativo. Para isto é preciso que se dê mais atenção na promoção e formação do clero nativo. Para o Papa uma das grandes tarefas dos superiores das missões é educar e formar os naturais para o sacerdócio porque eles são a base principal

46 BENTO XV – «Encíclica Maximum Ilud», AAS 11 (1919), pp. 440-455.

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36 da esperança das jovens Igrejas. Os povos evangelizados sentem-se identificados e atraído pela mensagem quando constatam que os seus filhos podem fazer parte do clero. O sacerdócio deve ser encarado como um vocação que Deus concede a alguns sem olhar à raça ou à nação e não como privilegio. Sendo assim, na implantação da fé é preciso ter em conta o clero nativo e este é indispensável na acção pastoral. No seio das comunidades locais Deus pode suscitar vocações ao sacerdócio. E para isso é preciso que se aposte na promoção e formação deste clero. Esta formação deve ser sólida, completa e plena48, não pode um meio para acudir a gentes sem formação. É preciso formar o nativo para que possa estar à altura de assumir o seu ministério em qualquer ambiente e circunstância em que vier a encontrar-se. Segundo a encíclica, quando nos metemos neste desafio devemos saber que a formação que se proporcionar deve ser tal que amanhã o candidato possa ocupar um lugar mais destacado de condução da Igreja, como ser pároco, o que era raro, ou ser superior de uma casa religiosa. Em muitas partes, alguns eram formados para ocuparem lugares de auxiliares, isto é, funções de menor importância.

Diante das grandes convulsões sociopolíticas que se vivam no tempo, o Papa refere-se à necessidade de o missionário ter sempre diante dos olhos a excelência e a grandeza da sua vocação. É preciso sempre evitar um patriotismo exagerado e um interesse doentio aos bens materiais. Para o Papa, nada no missionário pode-se sobrepor aos ideais evangélicos. E chama atenção para que os ideais cristãos estejam sempre a frente que os ideias políticos.

Bento XV diz o seguinte:

«Deplorável seria que os missionários, como que esquecidos da sua dignidade, se ocupassem, mais da pátria deste mundo que da celeste, e curassem, mais do que convém, do acrescentamento do seu poderio e da sua glória sobre todas as coisas. Esta seria, sem dúvida, a peste mais temível para o apostolado, porque extinguiria no arauto do Evangelho a flama do amor das almas e diminuiria o seu crédito aos olhos das ovelhas do seu rebanho»49.

Por conseguinte o dever de levar a Boa Nova, deve suplantar todos os outros, isto é, deve ser um dever primário em relação aos outros interesses. Não se poderia

48 Cf. Ibidem, p. 445.

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37 entender um missionário que em vez de ensinar a mensagem cristã se ocupasse com outros negócios. Bento XV foi bastante contundente em criticar tais atitudes:

«Com grande amargura vemos que, nestes últimos tempos principiaram-se a divulgar-se publicações missionárias em que se insiste não tanto no desejo veemente de alargar as fronteiras do reino de Deus, como na ânsia de acrescentar a zona de influência da própria pátria. E é espantar o não se temer que semelhante atitude tenha como resultado, na alma dos infiéis, um grande afastamento da nossa santa religião»50.

No pensamento da Igreja ou melhor dos Papas, o missionário deve preocupar-se em fazer crescer a Igreja, enraíza-la no território onde ainda não está. Este pensamento constitui novidade porque com a questão do Padroado muitas vezes considerava-se a questão missionária como um dever nacional, e fazendo com que a convivência entre o Estado e a Igreja seja nociva ao próprio anúncio do Evangelho. O exemplo claro e negativo que ficou em muitos africanos foi o lema que acompanhou os descobridores e os colonizadores - Implantação da Fé e do Impérios - que dava a sensação de que o poder político estava muito colado ao poder religioso e consequentemente à missão evangelizadora. Por conseguinte, o Papa chamou atenção aos missionários: «não vos compete a vós alargar as fronteiras de um império humano, mas as do Império de Cristo, e não vos compete alistar novos cidadãos para uma pátria deste mundo, mas para a pátria celeste»51. O Papa continua: «Porque, por mais atrasados e grosseiros que sejam, os homens sabem muito bem o que o missionário quer e o que deles pretende. Têm sagacidade suficiente para adivinhar se o missionário pretende qualquer outra coisa não seja o seu bem espiritual»52.

Uma outra ideia que sobressai no pensamento do Papa é chamar à tentação do missionário de considerar a missão como algo que lhe pertence (como seu território ou território da sua congregação). O Papa tenta mudar esta ideia dizendo aos missionários de que as missões são obras de Deus, pertencem a toda a Igreja e o missionário deve considerar-se como trabalhador, como um colaborador. Sendo assim, seria um absurdo, que o clero missionário desejasse eternizar-se em determinada região ou diocese sem cuidar em substituir-se pouco a pouco.

50 Ibidem, p. 445.

51 Ibidem, p. 445. 52 Ibidem, p. 445

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