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Desde sempre os leigos tiveram uma acção bastante participativa na transmissão da mensagem cristã. Foi através da ajuda dos leigos que mensagem cristã chegou aos lugares mais distantes do território de Angola. Ao longo dos tempos de missionação foram eles os tradutores, os guias, os que mantiveram a semente lançada nas mais longínquas aldeias. Sem eles, a Missão seria bastante difícil e penosa. O leigo catequista era o colaborador principal do missionário sacerdote. Era difícil para o missionário garantir a sua presença em todas as localidades. O surgimento de novas missões, de novas paróquias suscitava desafios que era preciso enfrentar. E uma das chaves de resolução deste desses desafios estava precisamente na imprescindível colaboração dos leigos. Eles foram autênticos cavouqueiros. Segundo Barnabé Lelo Tubi:

«nos primeiros tempos e ainda hoje temos de lamentar o facto do missionário, mesmo com toda a sua boa vontade e zelo, não podia garantir uma presença assídua em todos os aglomerados humanos, em todas aldeias. Mas essa presença que o missionário não podia manter sempre junto dos seus cristãos e catecúmenos, continuava a mantê-la o catequista em quem todos na aldeia, via e sentia o prolongamento do próprio missionário. Ensinaram o catecismo de Pio X de cor (diga-se de passagem que nos seus tempos havia pouquíssimas escolas). Presidiram à oração da manha e da noite. Acompanharam os missionários nas visitas pastorais. Participaram com afinco em todos os trabalhos da construção da igreja ou da residência missionária desde as casas de madeira até as de construção definitiva. Houve catequistas que neste período foram autênticos fac tutum (pedreiros, cozinheiros, ajudante de carro, alfabetizares …). Como canta o salmista, semearam campos, plantaram vinhas. – O Senhor os abençoou e multiplicaram-se e não deixou diminuir os seus rebanhos (Sl.106)»188.

187 NUNES, José – A teologia da Missão, Lisboa, 2008, p. 97.

188 TUBI, Barnabé Lelo – As missões centenárias da Diocese de Cabinda, 1873-1973, Lisboa, 1993, pp.

99 Antes da realização do Concilio Vaticano II, os Papas já apelavam sobre a presença de leigos na acção missionária. João XXIII, na Enciclíca Princeps Pastorum, afirmara que «a Igreja onde quer que se estabeleça, deve estar sempre presente e de uma maneira activa, com toda a sua estrutura orgânica. E portanto não apenas com a hierarquia, nos seus diversos graus, mas também com o laicado…»189. E continuando salienta que «nas novas cristandades não se trata apenas de procurar, por meio de conversões e baptismos, um grande número de homens para o reino de Deus, mas sim de, mediante uma adequada educação e formação cristã os tornar aptos a assumir a sua responsabilidade na vida e no futuro da Igreja»190. Já Pio XII na Encíclica Fedei donum faz um apelo sobre a formação que se deve dar aos leigos e tendo sempre em conta a ajuda que podem dar na acção evangelizadora. Na concepção deste Papa, a Igreja seria incompleta se ela não tivesse a preocupação de formar os leigos.

O Concilio Vaticano II veio ratificar o trabalho tão excelente feito pelos missionários que consistia na criação de uma escola de formação de catequistas em Benguela (Ganda) sob orientação da Congregação dos missionários de Nossa Senhora de La Salette levando à implementação de programas idênticos em Malange e em Sanza Pombo na diocese do Uige. Segundo Henderson , «a entrada em funcionamento destas escolas e a doutrina conciliar diversificaram as funções do catequista e criaram uma figura nova: o catequista-chefe, ou catequista-geral ou evangelista, conforme os lugares. Eles tornaram-se os coordenadores e animadores dos catequistas locais (catequista de aldeia)»191.

O Concílio Vaticano II veio dar um impulso no trabalho que estes homens e mulheres catequistas desempenhavam. Veio relembrar que a missão do leigo não é algo periférico, mas que faz parte do ser baptizado. Por conseguinte, os leigos tinham de ser valorizados. Não podiam ser tratados como crianças, como simples reprodutores daquilo que os sacerdotes diziam mas, pelo seu Baptismo, deviam ser conduzidos ao apostolado activo em espírito de fé, de generosidade e de liberdade de filhos de Deus, sob guia dos pastores. Devia existir na Igreja o princípio de subsidiariedade porque ninguém sabe tudo. Cada um precisa do outro. Era necessário que se soubesse que a

189 REGO, Silva, Lições de Missionologia, p. 83. 190 Ibidem, p. 83.

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100 missão não é responsabilidade de alguns indivíduos ou de algumas Igrejas, mas a vocação de todos os cristãos e de todas as Igrejas.

O documento conciliar Lumen gentium, no capítulo IV, apresenta uma riqueza de ensinamentos e orientações sobre o ser do Leigo e da sua missão na Igreja e de forma especial na sociedade. Segundo o documento:

«por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus [...]. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio oficio, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela erradicação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor»192

No número 33 da Lumen Gentium, nota-se que os Padres Conciliares procuram salientar que todos, pelo Baptismo, constituímos o corpo único de Cristo e sendo assim todos são chamados ao crescimento da Igreja e sua contínua santificação. E o apostolado dos leigos não é algo de acessório mas importante porque trata-se de participação na própria missão salvadora da Igreja193.

Com o Concílio Vaticano II, aquela visão tendencialmente patriótica e muitas vezes cheio de superioridade racial foi obrigada a deixar de existir194. A Boa Nova, apesar de ser transmitida através de homens que possuem a sua própria cultural, não tem cultura, ou melhor, adequa-se a todas as culturas, é universal e não propriedade de uma determinada cultura. E ela respeita todos os homens diferentemente das suas tradições. Isto significa que deve haver um respeito das culturas locais; para uma maior abertura

192 CONCÍLIO VATICANO II - «Constituição dogmática Lumen Gentium,» nº 31 AAS 57 (1965), p. 37.

193 Ibidem nº 33, p. 39. 194

No livro de Tony Neves Teologia África(s) que «a história da missionação portuguesa e do colonialismo apresenta-se, segundo a literatura cheia de convivência e de interpelações mútuas, a ponto de diversos governos reconhecerem o papel imprescindível da acção missionária como desbravamento e consolidação do colonialismo. O trabalho missionário aparece como civilizacional e político. Há uma infantilização da pessoa do africano selvagem ou indígena, marcado pela indolência, ociosidade e embriaguez, que exigia a intervenção missionária para reconstruir a sua individualidade e eliminar os vícios morais. Era preciso infundir neles uma visão do mundo ocidental e algumas formas capitalista de organização da economia. Era importante converter o homem primitivo-pagão libidinoso e sensual, satânico e /ou infantil (cf. Teologia Africana (s) in Igreja e Missão revista missionária de cultura e actualidades, p.343).

101 aos valores encontrados195. Paulo VI, em 1969, na sua viagem apostólica à Kampala, teceu as seguintes frase:

«voz africano, deveis, doravante, ser vós próprios missionários. A Igreja de Cristo está implantada nestas terras abençoada. Ser, vós próprios, os vossos missionários significa que deveis prosseguir a edificação da Igreja neste continente ( …) Uma adaptação da vida cristã nos domínios da pastoral, ritual, didáctico e também espiritual, não é apenas possível, mas autorizada pela Igreja. É isso que exprime, por exemplo, a reforma litúrgica. Neste sentido, vós podeis e deveis ter um cristianismo africano»196.