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1. INTRODUÇÃO

2.3 Bibliometria

Acredita-se que o termo “bibliometria” foi criado pelo belga Paul Otlet e está relacionado à introdução de métodos quantitativos a análises bibliográficas (DA FONSECA, 1986). Contudo, bem como afirmam Santos e Kobashi (2009, p. 157), para os autores de origem Anglo-Saxônica o seu criador foi Pritchard que defendia que a bibliometria é o “[...] conjunto de métodos e técnicas quantitativos para a gestão de bibliotecas e instituições envolvidas com o tratamento de informações”.

Nicholas e Ritchie (1978) destacam a importância dos estudos bibliométricos como fontes de informações para a predição de enfoques e abrangências futuras da produção de documentos em determinada área de conhecimento. Isso porque, de acordo com os autores citados, informações relacionadas às taxas de crescimento e tendências [como, por exemplo, estatísticas sobre os países de origem, temas, estruturas, métodos, bem como as suas distribuições (locais de publicação)] podem apontar fragilidades ou áreas passíveis de melhorias.

Dentro da área de bibliometria, de acordo com Vanti (2002), destacam-se três principais leis: a Lei de Lotka (Lei do Quadrado do Inverso), que mede a produtividade dos autores; a Lei de Zipf (Lei do Mínimo Esforço), que mede a freqüência de palavras em um documento e; Lei de Bradford (Lei de Dispersão), que mede a produtividade das revistas. Egghe e Rosseau (1990, p. 297) afirmam que essas leis são guiadas pelo success-breeds-

probabilidade que esta fonte irá produzir outro item; ainda que sempre haja uma (pequena) probabilidade que a fonte com nenhum item irá produzir o primeiro item”11.

Em relação à Lei de Bradford, Araújo (2006, p.14) afirma que Bradford objetivava analisar a extensão das publicações em determinado tema específico nos periódicos destinados a outros assuntos, sendo “a distribuição dos artigos em termos de variáveis de proximidade ou afastamento”. Assim, o referido autor descreve essa lei da seguinte forma (ARAÚJO, 2006, p. 15):

Se dispormos periódicos em ordem decrescente de produtividade de artigos sobre um determinado tema, pode-se distinguir um núcleo de periódicos mais particularmente devotados ao tema e vários grupos ou zonas que incluem o mesmo número de artigos que o núcleo, sempre que o número de periódicos existentes no núcleo e nas zonas sucessivas seja de ordem 1: n: n2: n3.... Assim, os periódicos

devem ser listados com o número de artigos de cada um, em ordem decrescente, com soma parcial. O total de artigos deve ser somado e dividido por três; o grupo que tiver mais artigos, até o total de 1/3 dos artigos, é o “core” daquele assunto. O segundo e o terceiro grupo são extensões. A razão do número de periódicos em qualquer zona pelo número de periódicos na zona precedente é chamada de “multiplicados de Bradford” (Bm): à medida que o número de zonas for aumentando, o Bm diminuirá.

Essa lei está ligada à dispersão do conhecimento. Assim, é utilizada para identificar quais os periódicos que mais publicam determinado tema. Já a Lei de Zipf está relacionada à freqüência de palavras em um texto. De acordo com Araújo (2006, p.17), essa lei determina que:

(...) se listarmos as palavras que ocorrem num texto em ordem decrescente de freqüência, a posição de uma palavra na lista multiplicada por sua freqüência é igual a uma constante. A equação para esse relacionamento é: r x f = k, onde r é a posição da palavra, f é a sua frequência e k é a constante.

De acordo com o princípio do menor esforço, há uma tendência, por parte dos autores, de utilização de uma mesma palavra variadas vezes ao longo do texto. Ou seja, o mínimo esforço está relacionado à variedade das palavras utilizadas. Assim, de acordo com essa lei, as palavras que mais aparecem no texto indicam o assunto do documento. (ARAÚJO, 2006)

Já em relação à Lei de Lotka, Merton (1968) afirma que, dentro de uma análise psicossociológica, o efeito Mateus da ciência seria o aumento da posição de um cientista que já é eminente em determinada área devido aos créditos desproporcionais dados a eles em caso de colaboração ou descobertas múltiplas independentes. O que resultaria no aumento de visibilidade da contribuição de cientistas renomados e a redução da visibilidade de cientistas menos conhecidos. Assim, Guedes e Borchiver (2005, p. 3) afirmam:

11 Tradução nossa. Texto original, Egghe e Rosseau (1990, p.297): “the more items a source has, the greater the probability will be that this source will produce another item; still there is always a (small) probability that a source with no items will produce a first item”.

A Lei de Lotka considera que alguns pesquisadores, supostamente de maior prestígio em uma determinada área do conhecimento, produzem muito e, muitos pesquisadores, supostamente de menor prestígio, produzem pouco.

Portanto, a Lei de Lotka é relacionada diretamente com a análise das autorias da produção científica em determinada área. Nicholas e Ritchie (1978) afirmam que os pesquisadores possuem interesse em três principais aspectos em relação à autoria: produtividade do autor, que é o número de papers/artigos publicados por autor; multi-autoria, que analisa a extensão em que as publicações são resultado da colaboração entre diferentes autores e; locais de publicação dos autores, que se referem a quais são os periódicos que os autores selecionam para publicação. Sendo assim, a Lei de Lotka está mais relacionada aos dois primeiros aspectos listados anteriormente.

Egghe e Rosseau (1990) afirmam que Lotka desenvolveu essa lei, no ano de 1926, ao estudar um índice cumulativo de dez anos de autores listados no Chemical Abstracts (1907- 1916) e no Auerbach’s “Geschichts-tafeln der Physik” (1910). Assim, Lotka notou a seguinte regularidade:

= (1)

Em que f(j) é o número de autores com j publicações e 2, mas não necessariamente = 2 . Contudo, em outros estudos (CHUNG; COX, 1990; URBIZAGÁSTEGUI ALVARADO, 2002; CARDOSO et al, 2005; entre outros) essa mesma equação é descrita da seguinte forma:

= (2)

Sendo an = f(j); j = n e = c = 2. Se = c = 2, = ,

= 6 ≈ 0,6079 (3)

Em que T é o número total de autores. Por exemplo, se considerarmos j = n = 1; então, os autores que publicam somente uma vez totalizam 60,79%. Assim, o cálculo das proporções de autores publicando n artigos pode ser calculado da seguinte forma: = 0,6079 . Ou, bem como afirma Urbizagástegui Alvarado (2002, p. 14), “[...] o número de autores que fazem n contribuições em um determinado campo científico é aproximadamente 1/n2 daqueles que fazem uma só contribuição e que a proporção daqueles que fazem uma só contribuição é de mais ou menos 60%”. Assim, a2 = 0,152; a3 = 0,0675 e assim por diante (CHUNG; COX,

Chung e Cox (1990) utilizam a Lei de Lotka generalizada para compararem com as constantes utilizadas no modelo de Lotka, que é expressa da seguinte forma:

= (4)

Em que an é o número de autores publicando n artigos, a1 é o número de autores

publicando um único artigo e c é uma constante. Então, os autores citados anteriormente calculam em seu estudo o melhor valor empírico que se enquadra do constante c alterando a fórmula através da inclusão do log em ambos os lados, obtendo o seguinte:

log ! = −#$%& (4)

Desse modo, tais autores calculam o valor de c pela estimativa da equação da regressão forçando que o termo de intercepto seja zero. Para medir o grau de adequação, esses autores utilizam o teste qui-quadrado. Nicholls (1989) afirma que os estudos que testam a validade do modelo de Lotka geralmente utilizam tanto o teste qui-quadrado como o teste

Kolmogorov-Smirnov; contudo, o citado autor defende que, apesar do teste qui-quadrado ser

mais utilizado, o segundo anteriormente listado seria mais apropriado.

Em relação à Lei de Lotka, Nicholls (1989) e Urbizagastegui Alvarado (2002) afirmam que são vários os estudos que testam a referida lei em diferentes áreas de conhecimento. Contudo, apontam que os resultados encontrados não corroboram para a validade dessa lei por serem contraditórios, conflitivos e inconclusivos. Portanto, o estudo acerca deste tema torna-se relevante à medida que contribui para esse debate em relação à verificação desta lei bibliométrica e pela possibilidade de comparação entre os estudos que adotam premissas e delimitações semelhantes nessa área.