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3. PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

3.2 Pesquisa de Fülbier e Sellhorn (2008)

O artigo de Fülbier e Sellhorn (2008) descreve as características da pesquisa contábil ao longo dos últimos 30 anos. Os autores investigaram diferentes aspectos dos enfoques de pesquisa documentados nos abstracts dos papers apresentados nos congressos anuais do EAA. Mais especificamente, a análise dos autores consiste em (FÜLBIER; SELLHORN, 2008):

1) Realizar um balanço de abordagens de pesquisa em uma base agregada, uma média de todos os anos de congresso e todos os países representados, com o intuito de obter uma visão ampla da pesquisa contábil empreendida ao longo da história da EAA como um ponto de referência para análises subseqüentes;

2) Investigar a mudança nas abordagens de pesquisa ao longo do tempo, uma média em torno dos países, em um esforço para identificar tendências pertinentes, e desenvolvimentos;

3) Pesquisar diferenças nas abordagens entre os países, uma média ao longo dos anos dos congressos, com o intuito de verificar se as culturas de pesquisa nacional e/ou regional e tradições são detectáveis nos dados;

4) Enfocar a questão se as abordagens de pesquisa convergem globalmente ao longo do tempo pela análise de como as diferenças entre os países nos enfoques das pesquisas se comporta ao longo do tempo e;

5) Avaliar se os enfoques das pesquisas contábeis convergem internacionalmente ao longo do tempo.

O estudo de Fülbier e Sellhorn (2008) é estruturado em duas fases distintas:

1) FASE A (1a parte): Nesta fase os autores apresentam evidências em variáveis básicas

como temas abrangidos, métodos aplicados e outras características da pesquisa contábil (incluindo coautorias e cooperações internacionais, bem como entre instituições, ambos em termos de seu desenvolvimento ao longo do tempo e suas diferenças entre os países). Foram coletadas, para todos os abstracts contidos nos livros dos 31 congressos anuais do EAA, informações básicas incluindo país de

origem, tema, autor, afiliação e número de autores. (Anexo C)

2) FASE B (2a parte): Nesta fase os autores utilizam a análise de conteúdo dos abstracts

para inferir os enfoques metodológicos dos autores para as pesquisas contábeis (incluindo estratégia de pesquisa, objetivo de pesquisa/motivações e paradigmas). Primeiramente os autores tentam distinguir os enfoques prescritivos e descritivos das pesquisas em contabilidade. E depois classificam os métodos de pesquisa em: Empírico-documental (utiliza base de dados ou arquivo) (EA); Experimento empírico (EE); Campo empírico ou estudo de caso (EF); Levantamento empírico (ES); Não empírica – analítica (NEA); Não empírica – teoria (NET). Tal classificação é apresentada detalhadamente no Anexo B.

Contudo, é importante destacar que esta pesquisa, diferentemente do estudo de Fülbier e Sellhorn (2008) (FASE A), por enfocar os artigos publicados em periódicos ao invés de artigos apresentados em congressos da área contábil, tem a limitação de não possuir por meio

direto a classificação por tema. Desse modo, o presente estudo não faz a descrição das áreas temáticas dos artigos.

Em relação à segunda parte da pesquisa (FASE B), Fülbier e Sellhorn (2008) afirmam que, para os pesquisadores, as pesquisas podem ser prescritivas por natureza em dois níveis distintos: (1) no nível de objetivo de pesquisa (normalmente implícito) e, (2) no nível de questões de pesquisa (geralmente explícito). Os autores acreditam que essa diferença entre objetivo e questão de pesquisa é essencial para a inferência da posição metodológica do pesquisador a partir de um documento escrito da pesquisa.

Destaca-se, ainda, que (FÜLBIER; SELLHORN, 2008):

(1) O objetivo final (ou motivação) de um projeto de pesquisa contábil pode ser tanto descritivo (descrever e explicar a realidade contábil) como prescritivo (fazer recomendações políticas para os profissionais de contabilidade).

(2) A questão de pesquisa também pode ser descritiva ou prescritiva.

Os autores também afirmam que, enquanto a questão de pesquisa enfoca um problema específico não resolvido, o qual o pesquisador deseja enfocar utilizando métodos científicos; o objetivo de pesquisa denota uma intenção mais profunda, que motiva o pesquisador a desenvolver esta questão particular em uma pesquisa. Além disso, os autores identificam um terceiro nível: o método de pesquisa. “O método de pesquisa interage diretamente com a questão de pesquisa, uma vez que o método é escolhido pelo pesquisador para colocar dada questão de pesquisa” (FÜLBIER; SELLHORN, 2008, p. 14).

Fülbier e Sellhorn (2008) ressaltam a possível dificuldade da pesquisa (FÜLBIER; SELLHORN, 2008, p.14):

Uma vez que o nível de método de pesquisa não é deterministicamente relacionado ao nível de questão de pesquisa, a identificação e classificação dos métodos de pesquisa não é o centro deste estudo. A distinção “descritiva-prescritiva” pode apenas ser identificada nos dois primeiros níveis. A complexidade ocorre devido ao fato de que os pesquisadores talvez adotem questões de pesquisas descritivas enquanto implicitamente exercem um objetivo de pesquisa final prescritivo.16

Devido às limitações descritas anteriormente, os autores optaram por enfocar o objetivo final das pesquisas analisadas em seu trabalho. Fülbier e Sellhorn (2008) acreditam ser possível fazer essa avaliação de caráter prescritivo-descritivo por meio de palavras-chave

16 Tradução nossa. Texto original, Fulbier e Sellhorn (2008, p.14): “Since the research method level is not deterministically linked to the research question level, the identification and classification of research methods is not in the centre of this study. The “descriptive-prescriptive” distinction can only be identified on the first two levels. Complexity occurs due to the fact that researchers may adopt a descriptive research question while implicitly pursuing an ultimately prescriptive research objective. ”

encontradas no abstract. Portanto, a classificação de um trabalho dada por essa forma de análise requer as seguintes considerações (FÜLBIER; SELLHORN, 2008):

1. Pesquisa descritiva: quando um pesquisador afirma que sua pesquisa “pode” (may) ou “poderia” (could) ter implicações para normatizadores, reguladores, práticas de gestão, investidores, ou outros profissionais.

2. Pesquisa prescritiva: caracterizada pela redação que indica que o objetivo do pesquisador é contribuir para formação da realidade. Recomendações declaratórias como “deveria” (should) são redigidas relativamente claras, apesar de não necessariamente muito elaboradamente, dada a restrição de espaço no

abstract. Conseqüentemente, onde o pesquisador afirma explicitamente que a sua

pesquisa “tem” (has) implicações para a prática (ou é (is) relevante), os autores classificam o seu trabalho como prescritivo.

3. Em contraste, quando é mencionado que os resultados talvez ajudem (“help”) os normatizadores a entenderem (“to understand”) um problema particular, os autores definem como objetivo descritivo.

É importante destacar que os próprios autores listam as limitações de seu estudo, tais como:

1. Os pesquisadores podem não expor claramente seus objetivos ou questões de pesquisa, o que pode resultar em erros na classificação metodológica;

2. Alguns abstracts podem ter falta de clareza na exposição (até mesmo pelo fato de muitos autores não terem o inglês como a sua língua nativa);

3. O estudo se baseia principalmente em palavras-chave e não presume intenções escondidas ou implícitas quando não contidas na redação dos abstracts.

Contudo, apesar de reconhecerem as devidas limitações, os autores acreditam que o estudo resulte em substância empírica que contribua para os debates das tendências metodológicas e para a caracterização das pesquisas em contabilidade.