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2.4 Bibliotecas no Brasil

2.4.3 Biblioteca Pública da Bahia

Para falar de Biblioteca Pública no Brasil, devemos voltar até a Biblioteca da Bahia, que foi fundada no dia 13 de maio de 1811, como já foi dito, no aniversário do Príncipe Regente, por iniciativa dos próprios cidadãos da cidade. De acordo com Santos (2010, p. 56), foi encabeçado por um senhor de engenho chamado Pedro Castelo Branco e um grupo de homens inteligentes e cultos que tinham apreço pela leitura. Segundo Adriano Cataldo Azevedo (2012), a Biblioteca Pública da Bahia se tornou um local onde os pensadores podiam trocar suas ideias e seus conhecimentos sobre ciências e artes, sendo um local para socialização de pensamentos e para construção de saber.

A Biblioteca Pública da Bahia foi a primeira em terras brasileiras com característica pública, onde os leitores poderiam adentrar e ter acesso às obras ali presentes, a oportunidade para que a leitura chegasse a outras pessoas surge com esta biblioteca. Apesar de já existir bibliotecas, no Brasil, a da Bahia nasce do povo para o povo, sem, inicialmente, ter qualquer apoio do governo; infelizmente não foi uma atitude que prosperou inicialmente como podemos ver:

A Biblioteca Pública da Bahia é a primeira que com esse caráter se fundou no Brasil, pois a dos conventos não eram públicas e a Biblioteca Real do Rio de Janeiro já existia em Lisboa e tinha sido somente transferida de sede. O ato de fundar uma biblioteca por iniciativa dos cidadãos, sem ajuda do governo, infelizmente não frutificou [...]. (MORAES, 1979, p. 143)

Segundo Schwarcz (2002), a Biblioteca Pública da Bahia surgiu por meio da doação do acervo particular de seu fundador Castelo Branco, o que motivou, também, outros doadores a colaborarem com o desenvolvimento desta biblioteca, que, em pouco tempo, já tinha em seu acervo 3 mil volumes, passando depois de 7 anos para 5361 volumes dos mais diversos assuntos, como literatura, filosofia, politica, ciências e outros. É interessante ressaltar que muitos livros doados para esta biblioteca vieram da Biblioteca Real, que mandava livros que tivessem duplicados em seu acervo, para compor o acervo dessa instituição. Contudo, estes livros, como ressalta Schwarcz (2002), não poderiam constar no catálogo desta biblioteca, por ordem expressa de D. João VI.

A Biblioteca Pública da Bahia, assim como a maioria das bibliotecas, desenvolveu-se por meio de mobilizações de seus idealizadores, também, por intermédio de ajuda do governo e outras doações. Porém, sempre, enfrentou dificuldades e problemas para se manter, inclusive um bombardeio que dizimou seu acervo, no ano de 1912, causando o que é definido por Azevedo (2012, p. 7) como “primeira morte da Biblioteca Pública da Bahia”. Muito se perdeu, mas como toda biblioteca importante foi reconstruída e colocada, novamente, à disposição do público, continuando seu papel de permitir que leitores tivessem acesso ao conhecimento.

A Biblioteca Pública da Bahia é um ponto inicial para as diversas bibliotecas públicas que, futuramente surgiriam no país, bibliotecas universitárias, municipais, escolares, todas com o mesmo objetivo de levar informação para o maior número de leitores possível.

No processo de evolução das bibliotecas na história, podemos acompanhar, também, o desenvolvimento da leitura, mesmo passando por momentos críticos como sua proibição, conseguiu resistir e acompanhar o processo de evolução da humanidade. E é inegável que as bibliotecas contribuíram muito com este processo, pois foi, por meio delas, que as fontes principais da leitura foram guardadas e preservadas, nas bibliotecas que muitas vezes as únicas pessoas que sabiam ler encontravam-se reclusos.

Já no século XXI, num novo contexto histórico, com uma enxurrada de informações, as bibliotecas têm assumido um novo papel, em que, além de armazenar, de gerir e de disseminar a informação, elas também passam a contribuir com ações que ajudam na formação de leitores. Contribuindo, assim, para que seus frequentadores possam ter o melhor contato com sua matéria-prima, que é o livro e a leitura.

3 O LEITOR LITERÁRIO NA UNIVERSIDADE

“Meu irmão tem uma espada e eu tenho minha mente. E uma mente precisa de livros como uma espada precisa de uma pedra para amolar. É por isso que eu leio tanto, Jon Snow.” (J. R. R. Martin, Crônicas de Gelo)

“Quanto à menina, ela sentira um desejo repentino de lê-lo, que nem sequer tentara entender. Qualquer que fosse a razão, sua ânsia de ler aquele livro era tão intensa quanto qualquer ser humano de dez anos seria capaz de vivenciar.”. (Markus Zusak, A Menina que roubava livros.)

É muito comum, quando se pensa em formação de leitores literários, associarmos quase que, automaticamente, com o ensino fundamental e médio, ou seja, o ensino básico dos estudantes, que deveria ser o principal momento para formar o indivíduo como leitor. É que nos primeiros anos escolares, está se aprimorando a dimensão cognitiva deste futuro leitor.

Contudo, infelizmente, o que tem sido observado, atualmente, são diversos alunos chegando à universidade com pouco contato significativo com a leitura, inclusive com a leitura literária. Paula Carlino (2015) contribui com esse pensamento ao apresentar algumas queixas de professores relacionado ao contato dos alunos com a escrita e com a leitura, como podemos ver:

“Os alunos não sabem escrever. Não entendem o que leem. Não leem.”. Essas queixas, na boca dos professores, aparecem ao longo de todo o sistema educativo, desde a educação básica. Também na universidade. E a responsabilidade sempre parece ser de outro: o primeiro ano deveria ter feito algo que não fez, os pais deveriam ter feito algo. E também se diz que o ensino médio deveria ter formado os alunos para que chegassem no ensino superior sabendo escrever, ler e estudar. (CARLINO, 2015, p. 26)

Muitos dos indivíduos que chegam à faculdade tem pouca ou quase nenhuma prática de leitura literária e, na maioria das vezes, encontram dificuldades para desenvolvê-la no ensino superior, pois o principal foco neste nível educacional é a formação profissional.

É importante ressaltar que a falta de leitura pode influenciar em todo o aprendizado do aluno, pois é por meio da leitura que a pessoa consegue apreender a informação e transformá-la em conhecimento. Conforme Maria de Lourdes Dionísio (2005), é importante que o leitor, mais que ler rapidamente e de forma fluente e eficaz, saiba utilizar essa leitura na aplicação de diversas situações do seu dia a dia.

Principalmente, na universidade, a necessidade de leitura é constante, pois a quantidade de leitura técnica e especializada apresentada ao aluno é muito grande. E, para ter facilidade ou mais familiaridade no acesso a esta leitura acadêmica, a leitura literária pode ser utilizada como porta de entrada para se construir o hábito e as habilidades para um bom aproveitamento da leitura que será feita, constantemente, pelo leitor universitário.

Porém, do que adianta muita leitura se o aluno não consegue ter compreensão? Daí surge a necessidade de uma preocupação com a formação de leitor não apenas no ensino básico, mas também na universidade, para que se tenham alunos que, além de decodificar informações, também, consigam transformá-las em conhecimento e, assim, poder utilizar deste conhecimento para exercer sua profissão.

Talvez, com o advento da internet, na era das redes sociais e blogs, nunca se tenha lido tanto, mas com tão pouca qualidade. Não podemos dizer que as pessoas leem pouco, pois não é raro vermos uma pessoa com um celular na mão, seja lendo uma notícia, anotando uma receita ou enviando uma mensagem e postando algo em sua rede social.

Está acontecendo o que Roger Chartier (1997, p. 142) já havia previsto ao dizer que “o texto eletrônico poderia, com o tempo, supor a retomada da leitura no espaço doméstico e privado ou nos lugares em que a utilização dos bancos de dados informáticos, das redes eletrônicas, é a mais importante.”. O acesso ao texto virtual ou eletrônico, como tematiza o autor, tem possibilitado que as pessoas consigam ler mais, ter mais contato com textos de todos os tipos e tamanhos, seja em sua casa, em seu trabalho, na escola, ou mesmo na rua.

Entretanto, essa leitura, por vezes é superficial, com uma escrita cheia de siglas e abreviações que, para muitos, nem significado encontram, são vários “vcs”, “tbms”, “Tmj”, que talvez seja preciso um novo dicionário para decifrar essa nova linguagem que chegou com a era das redes sociais.

Quando pensamos em leitura na universidade a primeira lembrança são os diversos textos científicos apresentados pelos professores para auxiliar ou embasar o conhecimento ensinado em sua aula. De acordo com estudo realizado pelo Instituto Pró- Ler (2016, p. 74) é nos mostrado que “57% de pessoas com ensino superior gostam muito de ler”, confirmando que uma quantidade significativa de alunos universitários se interessa pela leitura. Assim, novamente é impreciso dizer que os acadêmicos não leem, talvez essa até acabe sendo a única forma de leitura experimentada pelos alunos da graduação.

Porém, mesmo considerando o universitário como um leitor, surge a seguinte questão: este aluno sabe utilizar aquilo que lê? Sua leitura lhe permite algo além do processo de decodificação, levando-o a um pensamento crítico? E, assim, atentamos para o fato de que a leitura não está apenas no ato de decodificação, mas, principalmente, no contexto do meio acadêmico, ela precisa estar ligada à proficiência, ao desenvolvimento de habilidades críticas que permitam ao aluno conhecer e refletir sobre a realidade de mundo que é apresentada a ele.

Assim, percebemos que também na universidade é muito importante a preocupação com a formação dos leitores, entendendo que essa formação permite que o discente desenvolva uma leitura proficiente, saindo do patamar superficial da decodificação. É preciso entender que a leitura literária pode ser uma porta de entrada para a leitura crítica, que, como já foi dito, é fundamental no processo de formação acadêmico.

Preocupados com a formação deste leitor em nível acadêmico, este capítulo abordará a relação entre a leitura e a formação de leitores na universidade, apresentando como a leitura se apresenta no meio acadêmico, além de mostrar como a formação de leitor se relaciona na universidade e finaliza apresentando como a Biblioteca pode contribui neste processo de formação de leitores.