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1.2 Onze países: Onze Bienais de Arquitetura

1.2.9 Bienal de Arquitetura do Chile

Foi o arquiteto chileno Cristian Fernandez Cox quem, em agosto de 1977, presidiu a primeira Bienal de Arquitetura de Santiago. Nesse momento, a Bienal foi constituída pelo grupo de arquitetos do centro de Estudos da Arquitetura CEDLA, o Colégio de Arquitetos do Chile CAC, a parceria com o Museu Nacional de Belas Artes e com a colaboração das escolas de arquitetura da época. Esse evento foi divulgado, desde o seu começo, na revista com as publicações oficiais do CAC, em uma edição especial para cada evento. Desde o início existiu uma temática para cada versão, o que permitia dar foco ao desenvolvimento do encontro, "o nosso

patrimônio arquitetônico” por exemplo, foi o

tema da primeira Bienal de arquitetura de

Figura 20: Cartaz da XIX Bienal do Chile. Fonte: Disponível em: <http://www.bienaldearquitectura.cl/manifiesto-invitacion-bienal-de- arquitectura-y-urbanismo-2015-2/>. Acesso em: 20 Fev. 2017.

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Santiago. A partir dessa versão, inclui-se, na sua programação, a entrega do Prêmio Nacional de Arquitetura criado pelo CAC, em 1969, máximo reconhecimento de uma vida de trabalho ao serviço da arquitetura.

No editorial da revista Ca 1833, Cox escreve motivado pela inauguração da mostra Bienal,

alude-se à importância do CAC , na medida em que os arquitetos poderiam juntar a reflexão e a força para influir, na medida do possível, em um contexto social e cultural desafiante. Para cumprir com este desafio o Cox enfatiza a importância da comunicação e retroalimentação mútua com as universidades e com a sociedade, ponderando, assim, a função realizada pelo CAC na construção dessa relação, estabelecida a partir dos diversos condutos de comunicação com a comunidade, em todas suas formas, pontuando a criação da Bienal como o começo do diálogo com a comunidade nacional.

Desde o início, essa Bienal foi um evento dirigido a um público especializado, embora com os anos começou-se a estabelecer uma relação com a sociedade. Sua locação inicial foi no Museu de Belas Artes, passando, desde então, por diversas sedes, cada uma delas alvo de um programa curatorial igualmente diverso, em que muitas vezes, transcendeu a própria mostra da arquitetura. Segundo Mardones34, essas mostras têm garantido uma plataforma comunicativa eficiente, e desde

1991 esse papel de integração foi se tornando mais relevante, graças, em parte, às instalações e intervenções que foram feitas para as exposições, as quais muitas vezes saíram dos limites dos espaços fechados, propondo outra maneira de interagir com a cidade. O Mardones ressalta também as montagens, nas Bienais de 1995, na estação Mapocho, realizada pelo arquiteto Mathias Klozt e as montagem para a Bienal de 2000, por Sebastian Irarrázaval. Nessas, evidenciou-se um especial interesse pelo design da montagem do espaço, o qual receberia a exposição da Bienal. Dessa maneira, Mardones salienta o que poderia ser uma certa relação de coerência entre a montagem e a qualidade da mostra. Neste ponto, sublinha-se, também, o aspecto particular da experiência do espaço expositivo.

Em 2011 o diretório nacional do colégio de arquitetos do Chile cria o Acordo No. AC.06. 08.2011 para estabelecer os alcances, objetivos e formas de funcionamento das futuras Bienais de arquitetura, com a realização e a administração da Fundação Espaço e Desenvolvimento FED, entidade anexa ao CAC e criada exclusivamente para esse evento. O aumento dos temas da cidade e do território são a justificativa para a criação desse acordo que agregou e estabeleceu os parâmetros para a organização das Bienais. Entre os objetivos que o acordo estabeleceu está a planificação da

33 Nesta primeira Bienal, Cristian Fernandez Cox desempenhava-se como o presidente da Bienal e vice-

presidente do Colégio de Arquitetos do Chile CAC, em 1977.

34 MARDONES, Patricio, As Funções de uma Bienal: XVI Bienal de Arquitetura de Santiago. In. Revista AU, Edição

177, 2008. Disponível em: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/177/artigo118598-2.aspx>. Acesso em: 10 Jun. 2016.

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mostra, enfatizando a visibilidade e a repercussão desta Bienal diante da sociedade, o que propiciaria aos arquitetos chilenos a possibilidade de expor os seus trabalhos recentes à avaliação do público. Neste sentido, se faz um grande esforço por congregar a comunidade em geral, sem que o predomínio seja só das esferas acadêmicas ou especializadas. Por outro lado, refere-se à necessidade de cumprir com uma ampla cobertura comunicacional que garanta uma difusão que vincule as informações até à cidadania, mediante a sua participação da mostra. Isso poderia ser entendido como uma tentativa de transformação da Bienal em um evento de conotação cultural, como esforço de romper as barreiras dos circuitos fechados da prática disciplinar.

Este decreto define a FED como responsável pela organização da Bienal. Essa fundação é uma figura criada dentro do mesmo CAC, que, para além da logística própria da Bienal, também divulgaria as temáticas arquitetônicas, urbanísticas e meio ambientais, assim como a realização de outros eventos paralelos que promovessem tais fins, conforme apareçam nos seus estatutos. Essas Bienais contam com um presidente, um curador e um comissário, os quais, à exceção do curador, farão parte do CA. O curador será o responsável pela configuração da sua equipe de trabalho, sempre com a aprovação da FED, tendo que apresentar para esta, os itens seguintes, tal como aparece no decreto:

“tema da bienal, nome ou lema, conteúdo e sessões, vinculação com circuitos culturais, catálogo, cartaz, montagem, convidados, cerimônias, eventos colaterais, modalidades de participação e concursos, local e locais, duração, plano de difusão e escritório de imprensa, gestão, página da web, orçamento e alternativas de financiamento, gestão e operação”. Isso tudo deverá estar contido em

um documento chamado “proposta Bienal”35. Cada Bienal resulta de “um colocar em cena” um novo projeto com autonomia própria, que muda ou propõe um novo conceito. O esforço feito pelo CAC, na consolidação de um regulamento que abrangeria de maneira ampla os que seriam os princípios e alcances da mostra, salienta o amadurecimento alcançado, e a prova disso pode ser constatado no caráter dinâmico da Bienal. Por outro lado, esse acordo também levanta questões a respeito da essência temática da proposta curatorial e da sua coerência como exercício profissional e das relações que se constroem ao seu entorno, nas variadas esferas. A área da imprensa da Bienal ou do CAC, segundo o coordenador, compromete-se a apresentar as estratégias de comunicação e difusão em todos os estádios do evento, além de manter uma estreita relação comunicacional com a área educativa, relação que será uma ponte com a sociedade. No tocante à transcendência territorial da bienal, esclarece-se que ela se dá para além do entorno imediato e da cidade, e também não termina com os limites sociais, dada a aspiração de reconhecimento internacional.

A Bienal do Chile estrutura-se a partir da temática que irá definir as ferramentas para a abordagem de cada uma das atividades que nela acontecem, e da qual se espera certa coerência ou

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resposta, como é no caso da montagem ou instalação artística. Nesse sentido, dado seu caráter de chamada aberta a premiar a produção arquitetônica do Chile, o alvo da Bienal é, sem dúvida, a mostra nacional de projetos, que compreende uma seleção de obras, cuja premiação varia amplamente em cada versão, sendo que, em algumas Bienais, tem-se contado com um prêmio nacional de arquitetura; em outras, os prêmios têm sido entregues sem a ênfase ou ponderação de alguma obra em especial, e sem premiações por categoria. O fato é que a mostra almeja sempre mostrar um grupo de obras. Dentro dessa mostra fazem parte os palestrantes convidados, patrocinadores, estudantes e público em geral. Conta-se com uma mostra das faculdades de arquitetura como uma tradição consolidada desde a fundação do evento. Nessas mostras apresenta- se os trabalhos que desenvolvem as escolas de arquitetura, destacando-se aqueles participantes que

fazem pesquisa e concursos de projetos. Sobre estas recairão os prêmios que estejam dentro do plano curatorial da Bienal. De forma complementar, está o Prêmio Nacional de Arquitetura, máximo reconhecimento dado para um arquiteto e sua trajetória.

A última Bienal XIX, em 2015, foi organizada pela “Asociación de Oficinas de arquitectos” AOA, a Red de Escolas de Arquitetura do Chile e o CAC. Nessa versão, a proposta da apresentação dos projetos muda, sendo o protagonista também tema da divulgação. Disponibilizou-se um catálogo de livre acesso na internet, em que continha as informações de todo o evento, temática, seleção de projetos, concursos e estudantes. A proposta de apresentação dos projetos também revolucionou o tradicional método de exposição e representação, apostando, sobretudo, em uma informação sintetizada e que propusesse uma abordagem analítica das obras, permitindo uma leitura mais didática e homogênea, isso traduziria- se em uma ferramenta de análise para o júri. E talvez uma das mais ousadas apostas da Bienal “arquitectura+educacion” foi sair do seu tradicional Santiago do

Chile, onde teriam acontecido todas suas versões anteriores, para ser levada, finalmente a outras Figura 21: Montagem exposição de projetos da XVIII Bienal do Chile. Fonte: Disponível em: <http://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02- 223579/montaje-xviii-bienal-de-arquitectura-por-cristobal-palma/50eae65fb3fc4b10a3000288-montaje-xviii-bienal-de-arquitectura-por- cristobal-palma-foto>. Acesso em: 20 Fev. 2017.

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instâncias, tornando-se o Valparaiso a sede, além de contar com algumas atividades paralelas, em outras cidades do país.

Das convocatórias consultadas fica evidente que há diferença com outras Bienais. Estas compreendem toda uma proposta curatorial que renova os conceitos para cada versão, mesmo seguindo os parâmetros preestabelecidos da Fundação Espaço e Desenvolvimento, oferece a possibilidade de propor locações novas, explorar formatos, manter ou não critérios de chamada, seleção e apresentação das obras, rever as experiências das Bienais anteriores ou questionar os conceitos da exposição de arquitetura, com todos os aspectos negativos ou positivos que pode representar a perda da continuidade de alguns elementos, em comparação com Bienais mais tradicionais. Isso pode corroborar-se, por exemplo, nas suas convocatórias, no caso especifico das categorias oferecidas, que mudam em cada versão, refletindo-se também na distinção ou não dos reconhecimentos.

Poderíamos pensar que um dos aspectos notáveis dessa Bienal concerne ao caráter dinâmico de cada uma de suas edições, o que a coloca junto às Bienais internacionais de Buenos Aires e São Paulo, como os eventos mais diversos das demais Bienais desta pesquisa. A realização próxima da edição dessa Bienal está prevista para outubro de 2017, sob o lema “Diálogos Impostergables”. Dessa forma, estaria garantida a continuidade com a última, em 2015, que fez parte do nosso recorte.

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