• Nenhum resultado encontrado

1.2 Onze países: Onze Bienais de Arquitetura

1.2.10 Bienal da Argentina

A primeira Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires BA acontece em maio de 1985 e, desde então, tem ocorrido ininterrompidamente durante 30 anos, com 15 versões, sendo a última delas a BA 15, em 2015. A iniciativa dessa mostra é atribuída a Jorge Glusberg, promotor de arte e arquitetura, que também foi fundador do Centro de Arte e Comunicação CYAC, em 1968, e do Comité Internacional de Críticos de

Arquitetura CICA, com sede em Paris, em 1987.

Essas duas instituições estão diretamente ligadas ao evento Bienal. A primeira edição dessa Bienal contou, ademais, com o seu precursor e do CYAC,

Figura 22: Logotipo XV Bienal Internacional de Buenos Aires. Fonte: Disponível em:

52

com a co-organização da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UBA. Desde o início da Bienal, Gluesberg foi o seu diretor e curador até seu falecimento, o qual motivou uma homenagem mediante a entrega de um reconhecimento que leva o seu nome.

Na atualidade, a BA conta com um comitê organizador e um comitê realizador: o primeiro, integrado pelo CYAC e Pichon Riviere & Diaz Bobillo Consultores PR&DB, serão os responsáveis pela direção do evento; o segundo, um staff integrado por um comitê executivo, uma área de marketing, comercial e de administração. A BA conta, de maneira similar, com as Bienais Pan-americana de Quito e a de Costa Rica, com um site especializado na difusão das informações sobre a mostra, sendo essa ferramenta de suporte e difusão, antes, durante e posterior à mostra Bienal.

Poderíamos supor como uma das razões pelas quais a BA se tornou um referente mundial, tal e como aconteceu com as EIAs, no âmbito da Bienal de São Paulo, foi em certa medida pelo caráter

integrador das artes e da arquitetura. Some-se a isso, a implementação logística e difusora que caracterizou a BA e o seu fundador Glusberg, colaborando com o seu auge no âmbito internacional. Desde a primeira versão dessa Bienal, a visão do evento foi a de congregar algo muito mais abrangente do que uma mostra de arquitetura tão somente, e sim um espaço de grande congregação das tendências e referências mundiais no âmbito da arquitetura, assim como da crítica e das artes. Talvez essa ideia de intercâmbio, que a diferencia da maioria das Bienais latino- americanas, esteja atrelada ao seu caráter internacional, cujo intuito aponta para balanços muito mais amplos que vão além dos contextos nacionais ou até regionais que alguns dos eventos aqui vistos já têm começado a integrar.

Figura 23: Mostra internacional de projetos na XIV Bienal Internacional de Buenos Aires, obras do escritório peruano Barclay&Crousse. Fonte: Disponível em: <http://www.arquimaster.com.ar/web/wp-content/uploads/2015/06/bienal_ba_2015_slide.jpg>. Acesso em: 20 Fe v. 2017

53

Essa mostra tem sido realizada principalmente no Centro Cultural Recoleta, embora tenha ocupado outros locais culturais para sua realização, como o Distrito das Artes, o Centro Metropolitano de Design, a Sede de Governo da Cidade, em Parque Patrícios, e os museus MAMBA, PROA, MALBA, FORTABAT e MARQ36. Da mesma forma como acontece com a Bienal do Chile, e de

São Paulo, a BA, concentra uma grande exposição dos projetos nacionais e internacionais, não só de arquitetura e urbanismo, como de arte. Sendo esse tipo de intervenções parte da agenda da Bienal, que demanda um trabalho curatorial que cuida do desenvolvimento de cada evento, principalmente no que tange às temáticas. Dessas, dependerá, também, a organização dos palestrantes, os quais serão sempre reconhecidos arquitetos internacionalmente. Por sua vez, a Bienal serve de plataforma para que outros eventos internacionais aconteçam dentro de sua programação.

Fora do âmbito da BA, acontece um outro de arquitetura existe a entrega do “Prêmio SCA

CPAU de Arquitetura e Urbanismo”37. Entregue, desde 1989, pela Sociedade Central de Arquitetos e

pelo Conselho Professional de Arquitetura e Urbanismo, ele é direcionado à obra e ao pensamento de arquitetos na Argentina. Traz-se à discussão a entrega dessa premiação, pois, a nosso ver, poderíamos pensar que esse evento é a maneira de se rejeitar as BA. Isso atrelado, de alguma forma, ao fato de ser organizado pelas instituições que representam o grêmio da arquitetura na Argentina. Por outro lado, chama a atenção a continuidade desse prêmio, que, sem entrarmos em maiores detalhes, tem adquirido, cada vez mais, traços de evento Bienal. Inicialmente (até 1992) esse prêmio era entregue a cada ano, quando começou a ser de caráter bienal. Por sua vez, divide-se em categorias que, mais ou menos, abarcam o entendimento da prática disciplinar. As categorias são três: a primeira, “Obras Construídas”, na Argentina ou no exterior, podendo ser também “Obras de

Paisagismo” ou “Obras de interiores”; a segunda, “Ensaios, Pesquisa e Textos Técnicos”; e a terceira, “Planos, projetos e Obras de Urbanismo em Escala Urbana”. Essa proposta bienal se mantém vigente,

sendo em 2016 a última realização. Evidentemente, trata-se apenas do lançamento de uma hipótese, que surgiu ao longo do desenvolvimento deste trabalho, como produto dos levantamentos de dados. A repercussão midiática, em comparação com a BA, é muito restrita. Um último fato que poderia dar corpo à nossa observação poderia ser o surgimento dos “Seminários de Arquitetura Latino-americana

SAL”. Esses foram uma resposta direta de desaprovação às BA.

Voltando às BA, as premiações desde a primeira Bienal foram para “escritórios de arquitetura

argentinos e latino-americanos, e as novas gerações, por obras construídas”. (Glusberg 2011, Pag.

11). Não obstante, na nossa revisão das últimas cinco Bienais poderíamos identificar três grandes

36Consultado em site ARQA. Disponível em: <http://arqa.com/agenda/conferencias/la-bienal-internacional-de-

arquitectura-de-buenos-aires-cumple-30-anos.html>. Aceso em: 22 Abr. 2016

37Consultado no site oficial dos Prêmios SCA-CPAU. Disponível em: <http://www.premioscacpau.org/>. Acesso

54

frentes temáticas que dariam conta não só das premiações, quanto da organização do evento. A primeira temática estaria relacionada diretamente aos prêmios da Bienal. Embora estes não sejam constantes, mantêm uma certa afinidade com os prêmios da primeira Bienal, acima comentada, em que o tema da trajetória é recorrente. Um dos aspectos que chama a atenção nas submissões é que não aparecem especificadas as categorias, tão somente se faz referência à maneira como concorrerão as obras: “As obras selecionadas participarão do Prêmio Bienal por categorias e o

Grande Prêmio bienal”38. Aparecem assim, de maneira intermitente, e com ligeiras modificações nas

cinco Bienais que foram estudadas, os prêmios a: “Trajetória Internacional”; “Trajetória Latino-

americana”; e a “Trajetória Argentina”. Também estão “Prêmio à Jovem Geração Internacional”, o “Prêmio à Jovem Geração Latino-americana”, “Prêmio à Jovem Geração Nacional”. Dentro dessas

variações, aparece também o “Grande Premio Bienal à Trajetória, Jorge Glusberg” pela primeira vez na XIV BA14, criado como homenagem ao fundador das BA.

De maneira similar, são entregues prêmios para obras em diferentes campos, embora estes sejam muito menos recorrentes do que os prêmios à trajetória, como foi constatado nos resultados. Assim, em algumas dessas cinco edições, identificaram-se o “Prêmio à Obra Internacional”; o “Prêmio

a uma Proposta Urbana”; o “Prêmio Internacional à Pesquisa Acadêmica”; o “Prêmio Bienal à Intervenção no Patrimônio”. Outros prêmios Bienais que a BA tem outorgado a diferentes obras, são

para exibições, mostras de arquitetura, gestão pública e explorações projetuais.

As duas temáticas seguintes que se desenvolvem no interior da BA são: os Prêmios CICA, que entregam premiações para obras internacionais nas áreas da arquitetura e do urbanismo, assim como por trajetórias, publicações, vídeos, e fotografias de arquitetura; e os Prêmios para o segmento de Concursos, organizados pelo CICA, sendo estes de inciativas de entidade públicas ou privadas. Como já mencionamos, estas acontecem como atividades e premiações paralelas ao evento protagonista que é a exibição da Bienal.

Para a participação das obras e escritórios nas premiações, publicações e exibições deve-se seguir os parâmetros que guardam uma semelhança com os processos de submissão das outras Bienais. Cabe ressaltar a inquietação a respeito dos processos de classificação das obras, já que não foi possível identificar como se dá a classificação das categorias nos editais, como no caso da Bienal Colombiana, em que, dentro dos quesitos, está uma apresentação da obra. O tempo da conclusão da obra deve exceder quatro anos. Adicionalmente, deve-se incluir fotografias, desenhos do projeto, memória descritiva, ficha técnica e dados dos autores. Só aqueles participantes que fossem selecionados apresentariam os painéis das obras, seguindo as indicações da Bienal.

38Extraído do documento de submissão para a XV Bienal Internacional de Buenos Aries BA15. Disponível em:

55

A BA continua mantendo o seu formato internacional e o seu caráter mais o menos dinâmico, o que propicia certa facilidade para integrar vários segmentos ao seu programa. Assim, durante a BA15 realizou-se a convocatória oficial do Prêmio Oscar Niemeyer ON da REDBAAL (da qual a BA é membro), cujos resultados, como já foi comentado, aconteceram no âmbito da BAQ, em 2016. A próxima BA deve acontecer ainda em 2017, e já conta com alguns eventos pré- Bienais.

Documentos relacionados