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A preservação da biodiversidade e dos ecossistemas asseguram à humanidade um estilo de vida e de crescimento econômico sustentável e faz com que esta reflita a importância de conhecer os limites postos pela dinâmica da biosfera à vida humana. Por outro lado, a poluição e o envenenamento dos recursos naturais e dos alimentos, a destruição dos

30 solos, a perda da biodiversidade e o assoreamento dos rios representam elevados riscos para a sociedade, podendo gerar consequências ainda piores (MOREIRA, 2000).

A diversidade biológica está diretamente ligada à variação que ocorre em todas as espécies de plantas e animais, em seus materiais genéticos e no ecossistema em que se encontram. De fato, a diversidade pode ocorrer em três níveis (RAO e HODGKIN, 2002):

a) diversidade genética - variação nos genes e nos genótipos;

b) diversidade de espécies - riqueza da diferença entre as espécies;

c) diversidade de ecossistema - comunidades de espécies em seus ecossistemas.

Em um contexto em que as questões ambientais encontram-se no centro de muitos debates ao redor do mundo, como é o caso dos efeitos das mudanças climáticas, emerge uma crise ambiental cujas repercussões podem ser (e em alguns casos, já são) devastadoras, como é o caso da perda da biodiversidade (RAO e HODGKIN, 2002).

A biodiversidade, por sua vez, pode ser definida como um termo amplo utilizado para definir o grau de variedade na natureza, o que inclui tanto a quantidade quanto a frequência de genes, espécies e ecossistemas em uma região (DE PAULA, 1997). Outra conceituação seria a variabilidade entre os organismos vivos e a complexidade ecológica em que estes ocorrem, englobando os distintos ecossistemas, as espécies, os genes e suas diversificações seletivas (DE PAULA, 1997; SANDERSON e REDFORD, 1991).

O conceito de biodiversidade possui uma dimensão quantitativa e qualitativa. O primeiro se refere à quantidade e à variedade genética, assim como à variedade de espécies e ecossistemas. Já no segundo, o foco está na saúde das realidades biológicas e dos ambientes onde estas ocorrem. Por isto, a biodiversidade é também um sensível indicador de qualidade, sustentabilidade e enriquecimento do patrimônio genético, essencial para a saúde do planeta a longo prazo (DE PAULA, 1997).

Com o decorrer dos anos, em função da presença ou ausência de determinados fatores, a biodiversidade se transforma, o que afeta a composição local de espécies, o aparecimento e o desaparecimento de ecossistemas, resultando, consequentemente, em alterações nas paisagens. Tais processos se relacionam com a evolução dos organismos e suas implicações. Devido à esta realidade é que se faz necessário o estabelecimento e

31 o manejo das áreas protegidas. O gerenciamento das unidades de conservação deve considerar a escala em que estes processos acontecem de forma a garantir sua integridade ecológica a longo prazo (BENSUSAN, 1998). Neste sentido, emergem discussões em diversas áreas do saber em torno dos impactos da engenharia genética e da utilização de matrizes transgênicas em práticas agropecuárias e alimentares, de forma a garantir a biossegurança (MOREIRA, 2000).

Para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2010), a biossegurança é utilizada para descrever quadros que englobam a política de regulação, o controle e o gerenciamento dos potenciais riscos relacionados ao uso da biotecnologia moderna com o objetivo de contribuir para uma agricultura sustentável e para garantir a segurança alimentar. Desta forma a FAO (2010) compreende biossegurança por meio de uma abordagem estratégica e integrada como um conceito holístico diretamente relacionado à defesa do meio ambiente e da biodiversidade, o que também inclui a introdução de zoonoses e pragas (tanto animais quanto vegetais), bem como a introdução e a liberação de OGM e seus produtos.

Ao analisar a biossegurança é importante verificar concomitantemente o papel da agricultura neste cenário. A agricultura representa um dos principais fatores que impactam a biodiversidade e sua preservação. No entanto, as mudanças ambientais contemporâneas tiveram início há mais de 9.000 anos, quando animais e plantas foram domesticados, caracterizando-se o que fora chamado por John Bennet (1976) de Transição Ecológica. Esta pode ser definida em termos tecnológicos - tendência a utilizar quantidades cada vez maiores de energia com incrementos tecnológicos para atender necessidades ecológicas do ser humano que datam de antes mesmo da Revolução Agrícola; ecológicos - incorporação da Natureza na Cultura; sociológicos - maior complexidade das redes sociais e de comunicação; e; por fim, filosóficas - mudança de uma visão contemplativa da natureza pela materialização e instrumentalização do mundo natural. Tal transição parece estar em vias de esgotamento como pode ser observado no crescente número de metrópoles e megalópoles insustentáveis dos pontos de vista energético, ecológico, social e ambiental (GUIMARÃES, RUNTE e FONTOURA, 2009).

No que diz respeito à questão ecológica, constata-se que a biodiversidade sofreu consequências significativas ao longo deste processo de transição devido em especial às práticas agrícolas. Em países em desenvolvimento como o Brasil, a agricultura atua

32 como um ator econômico de grande relevância, tanto no que se refere ao consumo interno, quanto no que diz respeito à empregabilidade e às exportações. Entretanto, o modelo tradicional implantado por cada segmento agrícola está ameaçado pela inserção de tecnologia transgênica (introdução de OGM na agricultura) em práticas agropecuárias e alimentares, o que gera também reflexos negativos (mesmo que não exclusivamente) na diversidade dos ecossistemas, ou seja, na biodiversidade (HALL, MATOS e LANG FORD, 2008).

Os OGM podem ser definidos como organismos cujo material genético (DNA) foi alterado de uma forma que não ocorre naturalmente, ou seja, pelo acasalamento sexual e pela recombinação genética (NODARI e GUERRA, 2001). A tecnologia adotada para este procedimento é chamada de “biotecnologia moderna” ou “tecnologia genética”, “tecnologia do DNA recombinante”, ou até mesmo, “engenharia genética”. Neste caso é possível selecionar individualmente os genes que devem ser transferidos de um organismos para o outro, e também entre espécies não relacionadas, ou seja, tornando viável transferir genes não apenas entre seres da mesma espécie (eliminando etapas na transferência de caracteres desejados) (ARAÚJO, 2001; UNWHO, 2006).

Por meio desta tecnologia e pela transferência dos genes são geradas plantas geneticamente modificadas, utilizadas no cultivo de alimentos transgênicos (UNWHO, 2006). De acordo com Nodari e Guerra (2001, p.83) a transformação genética de plantas consiste “na inserção no seu genoma de uma ou mais sequências, geralmente isoladas de mais de uma espécie, especialmente arranjadas, de forma a garantir a expressão gênica de um ou mais genes de interesse”. Tais conhecimentos advindos da engenharia genética quando aplicados e instrumentalizados pela biologia molecular, permitem a modificação deliberada do genoma em uma direção predeterminada e possibilita a abreviação e o direcionamento do processo de produção de organismos de forma programada (ARAÚJO, 2001).

No Brasil, a Lei 11.105 de 24/03/2005 determina que OGM é o organismo cujo material genético (ADN/ARN) tenha passado por modificações por meio de qualquer técnica de engenharia genética (BRASIL, 2005). Para este estudo, será utilizado o termo transgênico como sinônimo de OGM, muito embora não haja consenso em torno desta sinonímia (NODARI e GUERRA, 2001).

33 Ao final dos anos 1990, o Brasil passou por um período de intenso contrabando de soja transgênica, mais especificamente, das sementes advindas da Argentina, conhecidas como Soja Maradona. Este contrabando teve início no Rio Grande do Sul (onde a área de soja cultivada é grande) e se entendeu em um curto espaço de tempo para todo o sul e sudeste do país (BENTHIEN, 2010). Após tentativas mal-sucedidas de conter o contrabando da soja do RS, o governo autorizou o cultivo da soja geneticamente modificada em 2005, não apenas para os produtores que já a cultivavam ilegalmente, mas também, aos novos produtores deste tipo de soja (BRASIL, 2005; BENTHIEN, 2010). A inação do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) frente ao combate à ilegalidade contribuiu, já no governo Lula, “para que grupos com forte interesse na promoção da transgenia induzissem o governo a adotar uma política de fato consumado, como caminho para a aceitação da transgenia comercialmente no país” (BENTHIEN, 2010, p.2).

Com a liberação oficial, o número de lavouras transgênicas cresceu rapidamente (BENTHIEN, 2010). Em 2003 o Brasil já era o quarto maior produtor de cultivos transgênicos do mundo (JAMES, 2003). No ano de 2010, o país passou a ocupar a segunda posição com 25,4 milhões de hectares plantados, representando um aumento de 19% em relação ao ano anterior (SINDAG, 2011). Sua base de produtos geneticamente modificados reside na soja (71%), no milho (31%) e no algodão (16%) (FOLHA, 2010). Para o pesquisador Leonardo Menezes da consultoria Céleres, do setor de agronegócio, “esse é um caminho que não tem mais volta, e a tendência é que a adoção dessa tecnologia aumente cada vez mais” (VALOR, 2011).

Portanto, é importante analisarmos os efeitos dos OGM no que se refere à biodiversidade e de que forma a Política Nacional de Biossegurança e o Protocolo de Cartagena influenciam nesta questão. Conforme destacava Araújo (2001), “está nascendo uma nova geração de plantas e de animais” o que nos limita a idéia de qual o horizonte a atingir. Neste caso, o princípio da precaução seria elemento indispensável na formulação de uma política de introdução de OGM, principalmente, por ser o Brasil um país megabiodiverso, com uma das maiores biodiversidades do mundo, com a flora mais diversa do mundo (Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado), com alguns dos biomas mais ricos do planeta em relação ao número de espécies vegetais, além de possuir também a maior riqueza de espécies da fauna mundial (MMA, 2011).

O princípio da precaução torna-se mais divulgado e internacionalizado após a Declaração do Rio para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, resultado da Conferência

34 das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Conferência do Rio - em 1992. Este documento tinha por objetivo estabelecer uma nova e justa aliança global que buscasse proteger a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento por meio da elaboração de novos níveis de cooperação entre os Estados, iniciativa privada e sociedade civil (UNEP, 2011a). Após esta conferência, o princípio da precaução passou a ser uma referência importante para uma série de tratados e Protocolos internacionais (como é o caso do Protocolo de Cartagena e da Convenção sobre Diversidade Biológica). Consta na Declaração do Rio para o Meio Ambiente e Desenvolvimento que o princípio da precaução

shall be widely applied by States according to their capabilities. Where there are threats of serious or irreversible damage, lack of full scientific certainty shall not be used as a reason for postponing cost- effective measures to prevent environmental degradation. (UNEP, 2011a, principle 15)

Prevê-se, entretanto, que o avanço da biotecnologia agrícola aponte novos rumos às ciências agrícolas, como é caso do desenvolvimento de plantas tolerantes ao estresse ambiental (seca, frio, calor, salinidade e acidez dos solos, solos menos férteis, etc.) e que sejam também resistentes à pragas, à doenças e aos agrotóxicos (ARAÚJO, 2001). Diante destes desafios, a multinacional Monsanto busca desenvolver soluções eficientes para lavouras com um menor uso de água, tanto pela questão da sustentabilidade quanto pelas consequências das mudanças climáticas. Além da utilização de irrigação, no Brasil, a produção agrícola depende em grande parte das chuvas. Por tolerância à seca tratar-se de uma característica complexa, os testes serão fundamentais para a definição de qual região, e, portanto, contra qual tipo de estresse, as sementes serão indicadas (MONSANTO, 2010). Por outro lado, nos Estados Unidos, a Forest Nutrition Cooperative (FNC) iniciou testes de sementes de eucaliptos com 60 espécies e sementes oriundas do Brasil, África do Sul, Chile, Guatemala e Austrália de forma a identificar materiais genéticos mais tolerantes ao frio (PAINEL FLORESTAL, 2010).

Os OGM têm se tornado cada vez mais comuns nas paisagens agrícolas, não só do Brasil, como também em outros países. De 1996 a 2003, a área plantada com transgênicos cresceram de 3 milhões de hectares para 67,5 milhões de hectares ao redor do mundo (JAMES, 2003). Segundo os defensores dos OGM, este tipo de tecnologia elimina os problemas causados por pesticidas e promove a agricultura sustentável, além de incrementar o retorno financeiro para o produtor. Os principais benefícios apontados são: redução do uso de pesticidas; maior facilidade na gestão de pragas, plantas

35 daninhas, e inimigos naturais; simplificação das práticas agrícolas e aumento da eficiência (GARCIA e ALTIERI, 2005).

Destaca-se ainda o argumento de que muitos destes processos biotécnicos permitem a incorporação de características desejadas em plantas cultivadas e animais criados e, desta forma, reduzem a necessidade de geração e uso de insumos advindos da indústria química. Deste modo, torna-se possível reduzir riscos de degradação ambiental e de acumulação de resíduos tóxicos nos alimentos. Consequentemente, a biotecnologia moderna passa a ser não apenas vantajosa para o lado da oferta, mas também para o lado da demanda de alimentos (GARCIA e ALTIERI, 2005).

Como exemplo, por meio da biotecnologia moderna é possível a produção de alimentos que favorecem o funcionamento desejado do organismo humano, como é o caso dos iogurtes produzidos com cepas que reduzem o colesterol. Da mesma forma, torna-se possível introduzir genes em plantas e animais para fins farmacêuticos. Por outro lado, um determinado princípio ativo de interesse contido em plantas de baixa produtividade pode ser produzido por demais plantas que tenham elevada produtividade. Assim sendo, a biotecnologia moderna e o crescimento dos OGM são defendidos como um grande avanço científico quando comparado com o processo de seleção natural (CRIBB, 2004). No entanto, para Araújo (2001), tais argumentos a favor da liberação dos OGM estão ancorados, em questões de ordem econômica e tecnológica nas quais o “progresso científico” deve avançar a qualquer custo, tangenciando a crítica à um possível obscurantismo ou à vinculações de interesses externos da parte de quem se opor à liberação de tais produtos.

Tal afirmação pode ser constatada pelo argumento dos maiores produtores privados de sementes geneticamente modificadas que são, por sua vez, os maiores defensores deste tipo de tecnologia, tanto no que se refere ao meio ambiente quanto aos seres humanos. Em 2010, os maiores produtores mundiais de sementes transgênicas são as multinacionais Monsanto, Bayer Cropscience, Syngenta e Dupont/Pioneer. A tabela 1.0 descreve os argumentos centrais de tais empresas que também atuam fortemente no Brasil.

36 Tabela 1.0 – Argumentos do setor privado a favor da utilização dos OGM na agricultura

EMPRESA DEFESA PARA O MEIO

AMBIENTE

DEFESA PARA OS SERES HUMANOS

MONSANTO • Os OGM reduzem

significativamente a

quantidade de agroquímicos

empregados pelos

agricultores; possibilita a adoção de práticas agrícolas preservacionistas;

• Estudos demonstraram que as plantas transgênicas

aprovadas para

comercialização não

diferem das plantas

convencionais quanto aos potenciais impactos ao meio ambiente;

• As plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos-praga, conhecidas também como culturas Bt, receberam um gene do Bacillus thuringiensis, que as deixa resistentes apenas a determinadas espécies de insetos que atacam essas culturas, mas que não tem efeito sobre as demais categorias de insetos ou quaisquer outros seres vivos.

• Os OGM ajudam a reduzir

as intoxicações de

trabalhadores rurais por agroquímicos, uma vez que esses trabalhadores ficam

menos expostos a

inseticidas;

• No caso da soja

convencional seria

necessária a combinação de pelo menos 4 a 5 tipos diferentes de herbicidas seletivos. Isso se reverte em benefícios econômicos (economia de insumos), ambientais e para a saúde desses agricultores.

BAYER CROPSCIENCE

• Os OGM melhoram a

produtividade nas terras

agriculturáveis, sem prejudicar as áreas de preservação ambiental; Protegem e melhoram os ecossistemas viáveis; • O emprego de defensivos

agrícolas para o manejo de insetos, fungos e plantas daninhas, deve sempre ocorrer com a prerrogativa de não oferecer efeitos

secundários ao meio

ambiente.

• Os OGM contribuem para o fornecimento de produtos agrícolas diversos e de alta qualidade o ano todo; Melhorar a qualidade de vida e a subsistência dos agricultores, o que, por sua vez, beneficia também as comunidades;

• Os OGM melhoram a saúde ambiental e a higiene e, assim, a qualidade e os padrões de vida das pessoas;

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EMPRESA DEFESA PARA O MEIO

AMBIENTE

DEFESA PARA OS SERES HUMANOS • O manejo integrado e dirigido de todos os aspectos da agricultura moderna – irrigação, utilização de fertilizantes, proteção de cultivos e uso tecnologias inovadoras de sementes – é a única maneira de contribuir com um aumento significativo dos rendimentos globais de alimentos.

SYNGENTA • A biotecnologia agrícola

pode melhorar a

produtividade, garantir e aprimorar a safra e produzir safras de melhor qualidade; • Para atender ao crescimento

populacional esperado da

próxima geração, os

incrementos genéticos devem estar disponíveis como uma opção para os produtores;

• Os OGM oferecem

benefícios significativos ao oferecer suporte a práticas integradas de gestão de culturas, com soluções eficientes e ambientalmente favoráveis aos desafios da produção; Alimentos e rações geneticamente modificados são os mais amplamente testados e regulados de todo o setor de alimentos;

• A agricultura tem o potencial de reduzir os gases de efeito estufa produzindo safras para

biocombustíveis, uma

alternativa com menor taxa de carbono do que os combustíveis fósseis.

• A demanda em rápido

crescimento por

alimentos, ração, fibra e combustível está elevando os preços agrícolas a patamares sem precedentes; • Os OGM impulsionam o desenvolvimento de ferramentas e tecnologias inovadoras que ajudam os agricultores a produzirem em áreas de cultivo mais difícil.

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EMPRESA DEFESA PARA O MEIO

AMBIENTE

DEFESA PARA OS SERES HUMANOS

DUPONT/ PIONEER

• É possível contar com grande

número de materiais

provenientes de fontes renováveis, que utilizarão

processos com menor

impacto ambiental que os atuais.

• Os OGM são importantes

para atender as

necessidades da crescente população mundial e as restrições dietéticas da população idosa;

• Os OGM também serão capazes de suprir a demanda por produtos específicos, para o auxílio

em tratamentos de

diversos problemas de saúde da população. Fonte: elaborado pela autora desta dissertação.

Por outro lado, os principais impactos avaliados são: as espécies com OGM interagem com demais espécies do agroecossistema e do ambiente ao redor o que pode afetar seu desempenho, a dinâmica populacional, as funções ecológicas e as interações, alterar a dinâmica da população e as estruturas da comunidade, transformando também as funções dentro e fora dos agroecossistemas (GARCIA e ALTIERI, 2005; CRIBB, 2004; ARAÚJO, 2001; NODARI e GUERRA, 2001; UNWHO, 2006).

Dentre os riscos apontados, a poluição genética, por meio da transferência vertical e da transferência horizontal, é considerada a ameaça mais importante. Isto se deve ao fato de que as espécies que adquirirem determinados transgenes poderão alterar seu valor adptativo e, por conseguinte, impactar na dinâmica de suas populações e de outras espécies. Acrescenta-se a isto, o risco de possíveis efeitos danosos em espécies não-alvo (aves, minhocas, peixes, entre outros), juntamente com contaminação de solo e água. No que tange à questão agrícola, a transferência de genes pode facilitar o surgimento de plantas daninhas e pragas resistentes, assim como variantes genéticas, quase impossíveis de se antecipar. Além disto, a agrodiversidade poderá ser afetada (NODARI e GUERRA, 2001; UNWHO, 2006).

No que se refere ao argumento de que o cultivo de transgênicos reduziria o uso de fertilizantes, o que se constata no mercado brasileiro é o contrário. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola – SINDAG, a indústria brasileira de fertilizantes fechou o ano de 2010 com vendas 16 (dezesseis) porcento superiores em relação à 2009 (SINDAG, 2011). Isto se deve, entre outros

39 motivos, pelo aumento do limite máximo de resíduo (LMR) autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos cultivos transgênicos de soja e milho, nos últimos anos (ECOA; PARANÁ; AVEWORLD; ANDEF; SINDAG; 2011). No caso do milho, o volume de agrotóxicos despejados nas lavouras do país elevaram em dez vezes o LMR, passando de 1 para 10 miligramas por quilo (mg/kg). Ou seja, o grão conterá mais resíduos de herbicidas com base no princípio ativo glifosato (AVEWORLD; ANDEF; SINDAG; 2010). Já a soja, teve seu LMR aumentado pela Anvisa de 0,2 para 10 miligramas de glifosato por quilo de soja transgênica, elevando o limite em 50 (cinquenta) vezes (PARANÁ; ECOA; 2011).

Tal aumento no uso de fertilizantes ressalta ainda mais o risco alimentar do consumo de alimentos transgênicos. Antes mesmo deste aumento, Cribb (2004) chamava a atenção para a sociedade que o excesso de alimentos transgênicos poderia provocar distúrbios no funcionamento do organismo humano. As principais formas de eventual manifestação deste risco são: a produção de substâncias tóxicas, a síntese de proteínas que causam alergia e a difusão de genes com resistência à antibióticos.

Araújo (2001) destaca ainda que o argumento apresentado por alguns defensores dos transgênicos de que a transgenia seria algo recorrente na natureza, sendo a intervenção humana apenas um “atalho” no processo de evolução, acelerando os processos naturais, é uma falácia. Segundo o autor, trata-se de mudança paradigmática no que tange à possibilidades de obtenção de novos seres. Ou seja, não se trata de um aprimoramento dos métodos convencionais, mas sim compreende “um novo método, que permite obter elementos desejados de uma espécie para transferí-los a outras espécies, mesmo que as espécies envolvidas sejam animal e um vegetal” (2001, p.124). Este aspecto é algo irrefutável e deve ser considerado no momento de formulação de políticas públicas, leis,

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