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A pesquisa se valeu de um processo investigativo que abordou tanto assuntos de cunho teórico quanto do próprio setor em análise no qual ocorre o processo de transferência de política. Para isto, a coleta dos dados foi efetuada em duas etapas:

52 1) Dados secundários: pesquisa documental em publicações do MCT, da CDB, da Casa Civil da Presidência da República (subchefia para assuntos jurídicos), bem como pesquisa em artigos acadêmicos, teses e dissertações relacionadas ao tema da pesquisa;

2) Pesquisa em dados primários: entrevistas semiestruturadas (ver Apêndice 1 e 2 com os roteiros das entrevistas) de forma a enriquecer o estudo com depoimentos de pessoas que participam diretamente ou indiretamente na Política Nacional de Biossegurança e que, se não participam atualmente, já atuaram nesta Política ou acompanharam seu processo de formulação (ver tabela 3.0 com a relação dos sujeitos entrevistados).

Esta segunda etapa da coleta de dados utilizou o método da triangulação o qual possui como princípio o fato de se aprender mais quando se observa o objeto por meio de múltiplos pontos de vista, ao invés de uma única perspectiva. O tipo de triangulação utilizado foi de entrevistados, no qual analistas respondentes de áreas diferentes e com distintas perspectivas possibilitam o enriquecimento dos resultados finais da pesquisa, mediante múltiplas perspectivas, experiências e características sociais (NEUMAN, 2011).

Tabela 3.0 – Relação dos sujeitos entrevistados

Nome Atividades Mês e Ano Presencial/ Telefone Roberto Guimarães

Professor Doutor Coordenador do MBA em Gestão Ambiental - Fundação Getulio Vargas. Professor Visitante do Doutorado em

Ambiente e Sociedade - Univ. Estadual de Campinas. Ex-Presidente e Membro (2002- 2010) do Comitê Científico do IHDP- International Programme on the Human Dimensions of Global Environmental Change. Coordenador do NAPSA - Núcleo de Análises e Projetos Socioambientais. Sócio Principal da Visão Ambiental, Formação, Gestão e Consultoria.

Fevereiro, 2011

Presencial

Leila Oda Presidente da Associação Nacional de Biossegurança, Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz na área de biossegurança. Consultora da Organização Mundial de Saúde. Foi presidente da CTNBio até o ano 2000.

Fevereiro, 2011

Presencial

53 Nome Atividades Mês e Ano Presencial/ Telefone Lídio Coradin

Gerente de Recursos Genéticos, Secretaria de Biodiversidade e Florestas/MMA. Foi

representante do MMA na CTNBio, na condição de titular ou suplente, no período de 1996 a 1998 e, posteriormente, no período de 1999 a 2004. Fevereiro, 2011 Telefone Sergio Figueiredo

Assessor da Secretaria de Inovação (no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC). Coordenador Suplente do Comitê Nacional de

Biotecnologia e do Fórum Nacional de Biotecnologia. Fevereiro, 2011 Telefone Marijane Lisboa

Professora Doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atua na área de

Sociologia, ministrando cursos em torno das temáticas ligadas ao Meio Ambiente

(referência no tema transgênicos), Direitos Humanos e Relações Internacionais. Relatora do Direito Humano Ambiental da Plataforma DHESCA. Março, 2011 Telefone Jairon Nascimento

Coordenador Geral da CTNBio (no MCT). Fevereiro, 2011

Telefone

Francisco Aragão

Pesquisador da Embrapa Recursos

Genéticos e Biotecnologia (MAPA). Estuda a integração de transgenes no genoma de células vegetais e animais.

Fevereiro, 2011

Telefone

Gabriel Fernandes

Agrônomo, assessor técnico do Programa de Políticas Públicas da Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA). Fevereiro, 2011 Presencial Larissa Packer

Assessora Jurídica da organização Terra de Direitos. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná em Teoria das Relações Sociais. Atua no debate sobre propriedade intelectual e transgênicos no Brasil. Esteve na última COP-MOP do Protocolo de Cartagena em Nagoya, Japão.

Março, 2011

Telefone

Fonte: elaborado pela autora desta dissertação.

Para o tratamento dos dados a pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, em três etapas, por meio da utilização da Análise de Conteúdo (AC). O critério para escolha do método ocorreu em função da natureza do problema da pesquisa. De acordo com Bardin (2009), compreende-se por AC

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

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mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 42).

A AC como método de pesquisa não se trata de adivinhar ou criar observações de estudo, mas sim de observar no conteúdo apresentado ao pesquisador além do que é possível se observar do fenômeno, tornando visível o oculto. Ou seja, ela requer do pesquisador um trabalho arqueológico de desconstrução para a construção, de forma a compreender que as palavras têm muito mais a dizer do que de fato dizem (CAMPOS, 2007). Ela é uma técnica que produz inferências de um texto focal para o seu contexto social de maneira objetivada (BAUER, 2002).

Devido à busca pela inferência a partir do material utilizado, muito se critica a AC por acreditar que esta se baseia em adivinhações, “achismos” e até invenções. No entanto, Campos (2007) destaca que, para este método, a palavra “inferência” deve ser utilizada em seu primeiro significado que é “deduzir por meio de raciocínio, tirar por conclusão ou consequência” (2007, p.265) e é nesse sentido que o método atinge a finalidade do pesquisador que é a possibilidade de buscar na subjetividade do indivíduo o real significado do que ele realmente está falando e/ou se expressando. Soma-se a isto o fato de que a AC se baseia também na interpretação tornando possível que o pesquisador seja atraído pelo que está escondido, pelo subentendido, desde que o ouvinte, o observador, tenha habilidade para isto. Neste contexto, o homem não só é o agente que influência, como é ao mesmo tempo influenciado pelo meio (CAMPOS, 2007).

Tais características configuram o primeiro objetivo da AC que é interpretar os significados dos fenômenos apresentados ao pesquisador, os quais não são facilmente compreendidos pelas pessoas e pela sociedade. Diante disto, é necessário que se tenha uma determinada flexibilidade por parte do pesquisador, uma vez que diversos dados coletados podem possibilitar diferentes interpretações. Neste sentido, o pesquisador se torna mais um instrumento que se utiliza para compreender os fatos do que alguém que apenas manipula os experimentos e as variáveis para obter os fatos (CAMPOS, 2007).

Em geral, a AC privilegia a interpretação de materiais textuais já elaborados (cartas, documentos) ou até mesmo que podem ser construídos ao longo do processo da pesquisa (CAMPOS, 2007). Embora a maior parte das análises clássicas de conteúdo se atenha a descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, muito tem se considerado aos aspectos qualitativos e distinções no texto, antes que se efetue qualquer quantificação. Deste modo, a AC relaciona o formalismo estatístico com a

55 análise qualitativa dos materiais caracterizando-se como uma técnica híbrida que pode inclusive mediar a discussão sobre as virtudes dos diferentes métodos existentes (BAUER, 2002).

Visto isto, torna-se evidente que por trás de um discurso aparente, de uma observação dirigida, existe uma mensagem oculta que precisa ser revelada, um conteúdo a ser analisado. Compreendem-se neste método três etapas básicas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados (BARDIN, 2009). Categorias são “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos” (BARDIN, 2009, p. 117).

Neste sentido, a pesquisa efetuou duas etapas de AC com abordagem qualitativa e com a utilização de grades do tipo mista nas quais as categorias definidas a priori, com base na pesquisa bibliográfica (VERGARA, 2006), mais especificamente, com base na literatura de transferência de política (DOLOWITZ e MARSH, 2000). No entanto, elas puderam ser alteradas no decorrer do processo de análise, por meio da inclusão de outras categorias (ver tabela 4.0 e tabela 5.0).

Tabela 4.0 - Categorias da primeira Análise de Conteúdo

Categorias Instituições Governamentais

Escopo

Efeitos Adversos Normas

Recursos Humanos, Conscientização, Educação e Participação do Público Mecanismos de Informação

Penalização e responsabilização Procedimentos

56 Tabela 5.0 Categorias da segunda Análise de Conteúdo

Categorias

Quem são os atores-chave envolvidos no processo de transferência de política? Por que os atores se engajaram na transferência de política?

O que está sendo (ou foi) transferido? De onde parte o aprendizado?

Quais são os diferentes graus de transferência?

O que restringe ou facilita o processo de transferência de política? Como demonstrar a transferência de política?

Como o processo de transferência de política está relacionado ao sucesso político ou à falha política?

Fonte: elaborado pela autora desta dissertação adaptado de Dolowitz e Marsh, 2000, p.8.

A segunda AC utilizou ainda a categoria “Análise dos casos desviantes”. Esta visava identificar no relato dos entrevistados, possibilidades de transferência de política na fala de entrevistados que, a priori, discordavam do processo de transferência.

A tabela resumo abaixo tem por objetivo relacionar o método de coleta de dados com as etapas de análise, de forma a obter uma resposta para o problema em questão (ver tabela 6.0).

Tabela 6.0 – Relação dos métodos de tratamento dos dados com a etapa de coleta Tipo de dados Método de Coleta Método de tratamento dos dados Dados secundários Pesquisa Documental 1ª etapa) Análise de Conteúdo

Dados primários Entrevistas semi- estruturadas

2ª etapa) Análise de Conteúdo

3ª etapa) Análise Comparativa Fonte: elaborado pela autora desta dissertação.

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