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I NFORMAÇÃO B IOLÓGICA

1.5. BIOSSEMIÓTICA

O campo da Biossemiotica, que tem como objetivo analisar sistemas biológicos como sistemas semióticos, - isto é, sistemas de interpretação de signos- pode tornar possível um avanço na compreensão do conceito de informação em Biologia (Emmeche 1999, Queiroz et al., 2005; El-Hani et al., 2006; Queiroz & El-Hani 2007, Santos 2008).

Esta abordagem é fundamentada na semiótica do filósofo pragmatista norte americano Charles Sanders Peirce (1839-1914) e procura conceber sistemas biológicos específicos como envolvendo a ação de signos. A semiótica pode ser um caminho para sairmos da situação em que se encontra o discurso sobre informação em biologia, repleto de metáforas sem significados claros, indo em direção ao esclarecimento da natureza da informação em sistemas vivos. Na abordagem peirceana da informação biológica, a informação não é algo que a célula contêm ou nela está depositado, mas sim, algo que a célula desempenha, faz, exerce como um sistema dinâmico complexo, e portanto, a informação é um processo semiótico. Desse modo, se a célula for concebida como sistema semiótico, a construção de um conceito semântico de informação deverá levar em conta que o significado biológico é relacionado às propriedades de todo o contexto celular, e portanto, irredutível a reações bioquímicas isoladas. A abordagem peirceana da informação biológica é orientada a processo, isto é, a informação é uma propriedade encontrada somente no sistema como um todo, e não em suas partes.

Esta proposição, de modo sucinto, considera que o trecho de DNA contém somente genes em potencial. Em sua divisâo mais fundamental dos signos, Peirce caracteriza icones,

indices e simbolos, correspondendo, respectivamente, a relacoes de similaridade, contiguidade e lei entre o Signo e o Objeto que ele representa na triade Signo-Objeto-Interpretante (S-O-I). Neste contexto, um ‘ signo potencial’ é algo que pode ser um signo de um Objeto para um Interpretante, ou seja, um signo potencial é um signo que não está envolvido em semiose efetiva, em um dado tempo. Portanto, um gene, enquanto um signo em potencial é algo que pode vir a ser um signo. Com relação a informação, temos a informação potencial e a informação efetiva. A informação potencial, embora carregada por trechos do DNA, deve ser tratada como a potencialidade de um processo, e a informação efetiva é um processo triádico. Neste sentido, genes são considerados signos no DNA, o qual pode somente ter um efeito em uma célula através de um processo triádico dependente. Este processo é a informação genética e envolve mais do que apenas genes como signos no DNA, mas também Objetos e Interpretantes, por isto triádico. Por exemplo, a tradução é o processo por meio do qual uma forma em um Objeto Dinâmico (uma proteína funcional) é comunicada para um Interpretante (a reconstrução de uma seqüência especifica de aminoácidos em uma célula) por meio de um signo no DNA (El-Hani et al 2006).

Neste contexto, um gene potencial, enquanto signo potencial, é somente um elemento em semiose. Isto significa que genes potenciais, como padrões no DNA, não são unidades de informação, também não a carregam. Eles são somente o primeiro correlato de um processo triádico-dependente, que é, enfim, definido como informação. Nesta abordagem, portanto, o material genético não faz coisas com a célula, mas, em vez disso, é a célula, como um sistema semiótico, que faz coisas com o material genético. (Queiroz et al., 2005; El-Hani et al., 2006; Queiroz & El-Hani 2007).

Em nosso entendimento, é melhor conceber a informação biológica como sendo fundamentalmente dinâmica e distribuída. A proposta da biossemiótica elimina metáforas simplistas de programas, ou qualquer outra que atrele o DNA a algo com instrução ou projeto para formar um organismo, e está associada a uma tendência recente do pensamento biológico que enfatiza processos, ao invés de entidades (Neumann-Held 2001; Keller 2005). Afinal, na perspectiva da biossemiótica a informação é entendida como um processo, o qual não oferece margem para interpretações deterministas genéticas e, ainda, colabora com uma perspectiva sistêmica, que considera organismos como sistemas integrados de processos coordenados (Queiroz et al., 2005; El-Hani et al., 2006; Queiroz & El-Hani 2007, Santos 2008).

2. MÉTODOS

2.1. AMOSTRA

A amostra estudada foi composta por 112 estudantes de graduação das Universidades Federais do Paraná e da Bahia (UFPR e UFBA, respectivamente), os quais responderam um questionário sobre genes previamente testado em estudo piloto. Sessenta estudantes cursavam Ciências Biológicas na UFPR e 52 na UFBA. A escolha destas duas universidades se deu pelo fato de que a mestranda que aplicou os questionários cursava o mestrado na UFBA e havia concluído a graduação na UFPR, assim, havia facilidade de acesso aos grupos de estudantes dos dois estados. Devido a certa resistência por parte dos estudantes em responder o questionário, não foi possível manter um número equivalente de alunos entre os grupos. Optamos por analisar os 112 questionários que conseguimos, visto que a assimetria da amostra não interfere no valor dos resultados aqui relatados.

Cada um dos grupos foi subdividido em estudantes que já haviam cursado as disciplinas de genética e aqueles que ainda não haviam cursado. Vale ressaltar que ambas as matrizes curriculares apresentam duas disciplinas de genética. Além disso, todos os estudantes do grupo que já haviam cursado as disciplinas de genética também haviam cursado biologia celular previamente. Isto é, de acordo com as matrizes curriculares da UFPR e da UFBA correntes na época em que os questionários foram aplicados, a disciplina de biologia celular é cursada no segundo semestre, a primeira disciplina de genética é cursada no terceiro período e a segunda disciplina de genética no quarto período. Deste modo, a disciplina de biologia celular, embora tenha exercido influência relevante nas concepções dos estudantes, não foi considerada uma variável de confusão na análise que realizamos.

2.2. FERRAMENTA DE COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados a partir de um questionário construído com o intento de abranger diversas idéias sobre os conceitos de gene e de informação encontrados na literatura, bem como os principais desafios a estas idéias. Os questionários foram aplicados com o consentimento informado dos participantes e a confidencialidade das informações foi garantida previamente. O termo de consentimento consta no apêndice. O projeto ao qual está vinculado o presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (CEP-ISC. http://www.isc.ufba.br/etica.asp) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tendo recebido o número de registro 12112.O questionário foi previamente testado em estudo piloto em ambas as universidades e apresenta

três seções, a seção (A) questões requeria dados pessoais dos estudantes; e as seções (B), (C) apresentam um total de onze questões, sendo as questões da (C) fechada. O questionário completo esta anexado no apêndice.

Neste artigo, apresentamos os resultados obtidos nas questões sobre o conceito de informação em Biologia, apresentadas a seguir. Todas as questões eram abertas e os estudantes dispuseram de espaço livre para respondê-las.

A primeira questão que analisamos aqui propunha diretamente a pergunta “Em sua visão, o que é informação?”. As questões seguintes levam em conta que há dois tópicos importantes e inter-relacionados que devem ser considerados na discussão do termo ‘informação’ em sistemas biológicos. O primeiro é como considerar legitima uma teoria da informação biológica, e o segundo, quais objetos podem ‘possuir informação’.

A segunda questão analisada foi a seguinte: “De acordo com sua definição, genes possuem informação? Se você considera que eles possuem, em que sentido genes possuem informação? Se você pensa que eles não possuem informação, por favor, explique por que você pensa dessa maneira”.

A terceira questão analisada propunha as seguintes perguntas: “Outras estruturas celulares possuem informação, no sentido em que você definiu o termo? Se você considera que outras estruturas celulares possuem informação, mencione alguns exemplos de tais estruturas e explique em que sentido elas possuem informação? Se você pensa que outras estruturas celulares não possuem informação, por favor, explique por que você pensa dessa maneira

A última questão solicitava que o estudante respondesse se concordava ou não com o trecho abaixo, justificando sua resposta:

“O genótipo é o projeto de um organismo, o conjunto de instruções para o desenvolvimento recebido dos pais. O fenótipo é a manifestação da informação contida no genótipo na forma de características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas ou comportamentais”.