• Nenhum resultado encontrado

1 1 O INÍCIO DA CRISE: A ATUALIZAÇÃO DA VISÃO MENDELIANA

2. ESTUDO EMPÍRICO 1 MÉTODOS

2.3. Considerações finais

Um resultado geral interessante observado foi que as disciplinas de Genética têm influência na UFPR, mas não têm na UFBA, conforme os testes para todas as questões mostraram. Na UFPR, em todas as três questões as disciplinas de Genética promoveram um aumento da categoria (a), na qual o aluno responde que há conseqüências para o conceito de gene decorrente do fenomeno e, então, explica o fenômeno ou qualquer peculiaridade dele, e, uma redução da categoria (c), na qual o aluno afirmou não saber a resposta, não respondeu ou a resposta não foi compreensível. Isto pode indicar que o ensino desta universidade aborda debates atuais sobre a diversidade de fenômenos descobertos pela pesquisa.

As categorias em que as respostas foram classificadas foram despropositalmente padronizadas. Ou seja, foi coincidência o fato das categorias de todas as questões terem adquirido tal forma básica: (a) o aluno responde que há conseqüências para o conceito de gene decorrente do desafio em questão e, então, explica o que o desafio ou qualquer peculiaridade dele; (b) O aluno responde que não há tais conseqüências e então, explica o desafio ou qualquer peculiaridade dele; e (c) o aluno afirmou não saber a resposta, não respondeu ou a resposta não foi compreensível,

Um resultado preocupante foi de que, dentre os que entendem o fenômeno, muitos consideram como um desafio ao conceito de gene e outros não. Neste sentido, foram

encontrados dois problemas gerais, o primeiro é com relação aos alunos desconhecerem os fenômenos moleculares que as questões traziam, e o segundo é com relação aos alunos não identificarem os problemas que estes achados trazem para definições de gene. Isto pode ser relacionado, entre outros fatores, aos resultados de analises de materiais didáticos de ensino médio (Santos & El-Hani, no prelo) e ensino superior (Pitombo, Almeida & El-Hani, 2008a,b), nos quais, quando os referidos desafios são abordados, os livros não os utilizam como base para propor qualquer discussão explícita sobre o conceito de gene e suas dificuldades, bem como sobre os debates atuais sobre esse conceito. Isto é, nos livros didáticos há uma notável ausência de reconhecimento que alguns fenômenos que são discutidos correspondem a desafios ao conceito de gene molecular clássico. O mesmo pode ser dito do próprio reconhecimento da existência de debates sobre genes nos livros didáticos. Vale lembrar que tanto os livros didáticos quanto as disciplinas de genéticas são alguns dos muitos fatores que influenciam a concepção dos estudantes.

Os resultados obtidos no presente estudo indicam a necessidade de transformar o ensino sobre genes e função gênica, de modo a criar melhores condições para os contextos históricos de sua construção e os contextos apropriados para sua aplicação. Em nosso entendimento, uma abordagem dos conceitos de gene e função gênica informada por uma dimensão histórica e epistemológica ajudaria a criar condições para uma compreensão mais adequada da diversidade estrutural do gene molecular, e, consequentemente, para que os estudantes apresentem um olhar mais crítico com relação à definição de gene como unidade de estrutura e/ou função.

2.4. REFERÊNCIAS

ALBERTS, B., JOHNSON, A., LEWIS, J., RAFF, M., ROBERTS, K., & WALTER, P. Molecular

Biology of the Cell (4th Ed.). New York: Garland, (2002) BARDIN,L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70 (2000)

BAEK, D.,VILLEN, J., SHIN, C.,CAMARGO, F.D.,GYGI, S.P.,&BARTEL, D.P. The impact of microRNAs on protein output. Nature, 455, p. 64-71, 2008.

BETRÁN, E.; WANG, W.; JIN, L. & LONG, M. Evolution of the phosphoglycerate mutase

processed gene in human and chimpanzee revealing the origin of a new primate gene. Molecular Biology and Evolution, 19, p. 654-663, 2002.

BALAKIREV E.S. & AYALA F.J. Pseudogenes: Are they "junk" or functional DNA? Annual Review of Genetics, 37, p. 123-151, 2003.

BRETT,D.POSPISIL,H.VALCÁRCEL,J.REICH, J.EBORK,P. Alternative splicing and genome complexity. Nature genetics, vol. 30, p. 29-30 (2002).

COYNE,J.A. The gene is dead: Long live the gene. Nature, 408, p. 26-27, 2000.

EL-HANI, C.N. Controvérsias sobre o conceito de gene e suas implicações para o ensino de

genética. In: Atas do V Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Bauru-SP: ABRAPEC, p. 178-190, 2005.

_____. Between the cross and the sword: The crisis of the gene concept. Genetics and Molecular Biology, 30(2), p. 297-307, 2007.

EL-HANI,C.N.;QUEIROZ,J.&EMMECHE, C. A semiotic analysis of the genetic information

system. Semiotica, 160, p. 1-68, 2006.

_____. Genes, information, and semiosis. Tartu: Tartu University Press (Tartu Semiotics Library), 2009.

EPP,C.D. Definition of a gene. Nature, 389, p. 537, 1997.

FALK,R. What is a gene? Studies in the History and Philosophy of Science, 17, p. 133-173, 1986.

FIRE A.,XU S.Q.,MONTGOMERY M.K.,KOSTAS S.A.,DRIVER S.E.&MELLO C.C.Potent and specific genetic interference by double-stranded RNA in Caenorhabditis elegans. Nature, 391, p. 806-811, 1998.

FOGLE,T. Are genes units of inheritance? Biology and Philosophy, 5, p. 349-371, 1990. GERICKE N.&HAGBERG M. Definition of historical models of gene function and their relation

GERSTEIN, M.&ZHENG,D. The real life of pseudogenes. Scientific American, 295, p. 48-55,

2006.

GERSTEIN M.B.,BRUCE C.,ROZOWSKY J.S.,ZHENG D.,DU J.,KORBEL J.O.,EMANUELSSON

O.,ZHANG Z. D.,WEISSMAN S.& SNYDER M. What is a gene, post-ENCODE? History and

updated definition. Genome Research, 17, p. 669–681, 2007.

GELBART,W. Databases in genomic research. Science, 282, p. 659-661, 1998.

GHILDIYAL M. ET AL. Endogenous siRNAs Derived from Transposons and mRNAs in Drosophila Somatic Cells . Science. Vol. 320. no. 5879, pp. 1077 - 1081 (2008)

GILBERT,W. Why genes in pieces? Nature, 271, p. 501, 1978.

GINGERAS T.R. Origin of phenotypes: Genes and transcripts. Genome Research, 17, p. 682–

690, 2007.

GLASER, V. Tapping miRNA-Regulated Pathways. Genetic Engineering & Biotechnology

News, 28(5), 2008. Disponível em

http://www.genengnews.com/articles/chitem.aspx?aid=2382 Acessado em 12/10/2009.

GLOVER, D.HOGNESS, D. A novel arrangement of the 18s and 28s sequences in a repeating

unit of Drosophila melanogaster rDNA. Cell, vol. 10, p. 167-176 (1977).

GRIFFITHS, P.E. & NEUMANN-HELD, E. The many faces of the gene. BioScience, 49(8), p.

656-662, 1999.

GUIMARÃES,R.C.&MOREIRA,C.H.C. O conceito sistêmico de gene – uma década depois.

In: D’OTTAVIANO, I. M. L. & GONZÁLEZ, M. E. Q. (Eds.) Auto-Organização: Estudos

interdisciplinares, Vol. 2, p. 249-280. Campinas: CLE-UNICAMP, 2000.

HALL, B. K. The gene is not dead, merely orphaned and seeking a home. Evolution and

Development, 3, p. 225-228, 2001.

JACOB, F. & MONOD, J. Genetic regulatory mechanisms in the synthesis of proteins.

Molecular Biology, 3, p. 318-356, 1961.

JUDSON,H.F. Talking about the genome. Nature, 409, p. 769-769, 2001.

KAPRANOV,P.;CAWLEY,S.E.;DRENKOW,J.;BEKIRANOV,S.;STRAUSBERG,R.L.;FODOR,S. P. A. & GINGERAS, T. R. Large-scale transcriptional activity in chromosomes 21 and 22.

Science, 296, p. 916–919, 2002.

KELLER,E.F. O século do gene. Belo Horizonte: Editora Crisálida, 2002.

_____. The century beyond the gene. Journal of Biosciences, 30(1), p. 101-108, 2005.

LANDER E. S. ET. AL. Initial sequencing and analysis of the human genome. Nature, 409, p.

LODISH, H., KAISER, C. A., BERK, A., KRIEGER, M., MATSUDAIRA, P., & SCOTT, M. P.

Molecular Cell Biology (5th Ed.). New York: W. H Freeman (2003)

MAGURRAN, A. Backseat drivers, Review of The century of the gene by E. F. Keller. New

York Times Book Reviews, 10 December, p. 26, 2000.

MAYNARD SMITH,J.The Cheshire cat’s DNA. The New York Review of Books, 47, p. 43-46,

2000.

MODREK,B.,&LEE,C. A genomic view of alternative splicing. Nature Genetics, 30, p. 13-19,

2002.

MOSS, L. Deconstructing the gene and reconstructing molecular developmental systems. In:

OYAMA, S.; GRIFFITHS, P.E. & GRAY, R.D. (Eds.) Cycles of contingency: Developmental

systems and evolution, p. 85-97. Cambridge-MA: MIT Press, 2001. _____. What genes can’t do. Cambridge-MA: MIT Press, 2003.

MOYLE, L. Most ingenious: Troubles and triumphs of a century of genes. Biology and Philosophy, 17, p. 715-727, 2002.

NEUMANN-HELD, EVA. Let’s talk about genes: The process molecular gene concept and its

context. In: Cycles of Contingency: Developmental Systems and Evolution, Susan Oyama, Paul E. Griffiths and Russell D. Gray (eds.), pp. 69-84. Cambridge-MA: MIT Press. (2001)

O'NEILL, R.V.; DEANGELIS, D.L.; WAIDE, J.B. & ALLEN, T.F.H. A hierarchical concept of ecosystems. Princeton-NJ: Princeton University Press, 1986.

PARDINI,M.I.M.C.&GUIMARÃES,R.C. A systemic concept of the gene. Genetics and Molecular Biology, 15, p. 713-721, 1992.

PITOMBO, M. A., ALMEIDA, A. M. R. & EL-HANI, C. N. Conceitos de gene e idéias sobre função gênica em livros didáticos de biologia celular e molecular do ensino superior. Contexto & Educação (Brasil) 77: 81-110 (2008).

PITOMBO,M.A.,ALMEIDA,A.M.R.&EL-HANI,C.N.Gene concepts in higher education cell and molecular biology textbooks. Science Education International 19(2): 219-234. (2008 a) PORTIN, P. The concept of the gene: Short history and present status. Quarterly Review of Biology, 56, p. 173-223, 1993.

RHEINBERGER,H.-J. Gene concepts: Fragments from the perspective of molecular biology. In: BEURTON,R.;FALK,R.&RHEINBERGER,H.-J. (Eds.). The concept of the gene in development and evolution, pp. 219-239. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.

SANTOS,V.C. Genes, informação e semiose: Do conhecimento de referência ao ensino de

biologia. Dissertação. Salvador-BA: Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências, UFBA/UEFS, 2008.

SANTOS,V.C.&EL-HANI,C.N.Idéias sobre genes em livros didáticos de biologia do ensino

médio publicados no brasil. No prelo. Idéias sobre genes em livros didáticos de biologia do ensino médio publicados no Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências. SARKAR, S. From genes as determinants to DNA as resource. Historical notes on development and. genetics. In: Neumann-Held E, Rehmann-Sutter eumann-Held, E., and Rehmann-Sutter, C. (Eds.) Genes in Development: Re-Reading the Molecular Paradigm (Durham: Duke University Press) (2006)

SELBACH M., SCHWANHAUSSER B, THIERFELDER N, FANG Z., KHANIN R, & RAJEWSKY N.

Widespread changes in protein synthesis induced by microRNAs. Nature, 455, p. 58-63, 2008.

SCHERRER K & JOST J. The gene and the genon concept: A functional and information- theoretic analysis. Molecular System Biology, 3, p. 1-11, 2007a.

_____. The gene and the genon concept: Coding versus regulation. A conceptual and information-theoretic analysis storage and expression in the light of modern molecular biology. Theory in Biosciences, 126, p. 65-113. 2007b.

SCHULZ R.A,CHERBAS L.&CHERBAS P. Alternative splicing generates two distinct Eip28/29 gene transcripts in Drosophila Kc cells. Proceedings of the National Academy of Sciences USA, 83, p. 9428- 9432, 1986.

SMITH,M.&ADKISON L. Updating the model definition of the gene in the modern genomic

era with implications for instruction. Science Education, no prelo.

SOREK,R.;SHAMIR,R.;AST,G. How prevalent is functional alternative splicing in the human

genome? Trends in Genetics, 20(2), p. 68-71, 2004.

TAM,O.H.;ARAVIN,A.A.;STEIN,P.;GIRARD,A.;MURCHISON,E.P.;CHELOUFI,S.;HODGES, E.;ANGER, M.;SACHIDANANDAM,R.;SCHULTZ,R.M.&HANNON, G.J. Pseudogene-derived

small interfering RNAs regulate gene expression in mouse oocytes. Nature, 453, p. 534-538, 2008.

THE ENCODE PROJECT CONSORTIUM. Identification and analysis of functional elements in

1% of the human genome by the ENCODE pilot project. Nature, 447, p. 799-816, 2007. TUSCHL,T.,MEISTER,G. Mechanisms of gene silencing by double-stranded RNA Nature, 431, p. 343-349, 2004.

WAIZBORT, R. F. &SOLHA, G. C.F. Os genes interrompidos: O impacto da descoberta dos íntros sobre a definição de gene molecular clássico. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, 5, p. 63-82, 2007.

WATANABE,T.;TOTOKI,Y.;TOYODA,A.;KANEDA,M.;KURAMOCHI-MIYAGAWA,S.;OBATA,

Y.;CHIBA,H.;KOHARA,Y.;KONO,T.;NAKANO,T.;SURANI,M.A.;SAKAKI,Y.&SASAKI,H.

Endogenous siRNAs from naturally formed dsRNAs regulate transcripts in mouse oocytes. Nature, 453, p. 539-543, p. 2008.

WILKINS, A. S. Grappling with developmental complexity. BioEssays, 24, p. 1193-1195, 2002.

────────────────── ────────────────── ──────────────────

──────────────────

Capítulo Quatro

────────────────────────────────────────────────────────────────────────────────────