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4.1 Mercados dos Blocos Pré-Carnavalescos

4.1.1 Bloco Baqueta

A entrevista ao bloco Baqueta ou Baqueta Clube de Ritmistas foi realizada no dia 21 de junho de 2013, com seu diretor-geral Carlos Henrique, também conhecido como

0 10 20 30 40 50 60 70 0 100 200 300 400 500 600 2006 2008 2010 2012 2014 N úm er o de b lo co s V al or es e m m il (R $) Ano Valores em mil (R$)

Carlinhos, na sede do bloco, localizada à Avenida Engenheiro Santana Júnior, nº 2977, Pátio Cocó. A duração da entrevista foi de 23 minutos e foi gravada com recursos de mídia digital.

O Baqueta ou Baqueta Clube de Ritmistas foi criado em 2007 por seu atual diretor-geral Carlinhos, utilizando recursos financeiros próprios. Carlinhos relata que o Baqueta foi inspirado no tradicional projeto de percussão Tamborim Sensação, um dos pioneiros no Rio de Janeiro, criado pelo mestre de bateria Ricardinho e fundamentado pela metodologia “O Passo”, utilizada em escolas e oficinas de percussão no Brasil e no exterior.

A princípio, Carlinhos teve a ideia de trazer uma filial do Tamborim Sensação para Fortaleza, mas o mestre Ricardinho achou que a distância dificultaria o monitoramento do projeto. Então, Carlinhos decidiu criar um bloco próprio, dando a ele este nome de Baqueta. Segundo Carlinhos, a escolha do nome foi bastante feliz, pois a baqueta é o acessório que está presente em quase todos os instrumentos da bateria de escola de samba e, para garantir direitos sobre a marca, ele decidiu fazer o registro desta no Instituto Nacional de Propriedades Intelectuais - INPI em 2011.

A concretização do projeto só foi possível com o apoio do Buoni Amici’s, que abriu as portas e viabilizou a implantação dos projetos dessa natureza em Fortaleza. O Buoni Amici’s tem financiado a vinda de mestres de escola de samba do Rio de Janeiro desde 2007, com larga experiência em percussão, como Odilon (mestre de bateria da Grande Rio), Átila (mestre de bateria da Império Serrano), Jonas (mestre de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel), Ricardinho (mestre de bateria da Acadêmicos do Cubango e criador da Tamborim Sensação, a mais famosa escola de tamborim do Brasil), Nilo (mestre de bateria da Portela), Vinícius (diretor de tamborim da Portela), Pichulé (intérprete da Portela), Mestre Maurão (integrante do Monobloco Show, professor da oficina do monobloco, atual mestre de bateria da Acadêmicos da Rocinha, já desfilou como ritmista e diretor de bateria de importantes agremiações), Zeca Macapá (professor/monitor de percussão, workshops na Europa – Holanda, Finlândia, Ilhas Canárias, Alemanha, já desfilou na bateria por importantes agremiações do Carnaval carioca), Biguli (vocalista do Monobloco), Preto Jóia (intérprete oficial da Imperatriz Leopoldinense).

Em parceria com o Amicis, o Baqueta fez parte destas oficinas de percussão, com instrutores mestres de bateria vindos do Rio de Janeiro, iniciando com cerca de 20 a 30 integrantes. O objetivo da vinda destes mestres é ministrar oficinas para as pessoas interessadas e praticantes do samba e realizar apresentações no projeto da casa, intitulado Farra na Casa Alheia.

Uma das maiores dificuldades foi fazer com que as pessoas conhecessem esse segmento de bloco, bateria e escola de samba, pois muitas pessoas ainda associam o Carnaval a paredões de som, bandas de forró e axé. Carlinhos considera que a falta de divulgação e incentivo da prefeitura e do estado à época, eram as principais razões para a baixa popularização dos blocos pré-carnavalescos.

Atualmente, o Baqueta é uma empresa, com pessoa jurídica, e conta com cerca de 300 integrantes entre alunos e ritmistas. No ano passado o Baqueta inaugurou uma sede no Rio de Janeiro, coordenado pelo diretor de bateria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, Vinicius, que já acompanha o Baqueta desde a fundação, através da realização de oficinas de percussão. A sede do Baqueta no Rio de Janeiro, mesmo com pouco tempo de existência, já possui aproximadamente 200 integrantes.

O bloco Baqueta apresenta uma estrutura organizacional composta pelo diretor- geral e fundador, cerca de 25 instrutores dos mais variados instrumentos de percussão (agogô, caixa de guerra, tamborim, cuica) e equipe de captação de patrocínio, além de equipe de 15 a 20 pessoas que atuam na produção dos desfiles no período do Pré-Carnaval.

A sede do bloco foi erguida com investimentos próprio do seu diretor-geral e conta com um estúdio para realização das aulas de percussão, conforme ilustra a Figura 14. Segundo Carlinhos, o Baqueta é o único bloco no Brasil que dispõe desta infraestrutura para ensaios. Além disso, os ritmistas dispõem de estacionamento para veículos e segurança, considerando que a sede está instalada no estacionamento do centro comercial Pátio Cocó.

Figura 14 – Foto do Estúdio onde são realizadas as aulas de percussão

Carlinhos relata que tem recebido apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza para realização dos desfiles, no valor de seis mil reais, em concorrência por meio de edital público. Segundo o fundador, esse valor não corresponde a 30% dos investimentos para realização dos desfiles. Ele reporta que gasta em média sete a oito mil reais em cada sábado que o bloco desfila com carros de som, cordeiros (pessoas que fica delimitando o espaço onde ficam os brincantes do bloco durante o desfile segurando cordas), cachês de intérprete, passagens, hospedagem e cachês de cantores e ritmistas do Rio de Janeiro, entre outros.

Ainda segundo o diretor-geral do bloco, os recursos arrecadados através das empresas patrocinadoras garantem a realização dos desfiles e custeio das despesas associadas. O Baqueta está sempre efetivando as atuais parcerias para os próximos anos e buscando novos patrocinadores, dada a visibilidade que o Pré-Carnaval está tendo nos últimos anos.

O Baqueta desfilou com 160 ritmistas em 2013 e já há uma previsão de 250 para 2014. Carlinhos relata que sempre faz uma pausa de um mês após o Carnaval e depois já inicia as aulas dos mais variados instrumentos de percussão, o que resulta em novos ritmistas para o ano subsequente. No entanto, com o aumento do número de ritmistas torna-se necessário a ampliação dos investimentos nos desfiles, como carros de som adequados ao porte da bateria, mais cordeiros e investimento em segurança, considerando ainda que quase 80% dos integrantes do Baqueta são mulheres.

Carlinhos afirma que o Baqueta é composto predominantemente por jovens, profissionais liberais, na maioria inseridos nas classes A e B. Contudo, ele não soube afirmar se a predominância deste público está associado à localização da sede em um bairro nobre da cidade, Cocó. Segundo relatos do próprio diretor, o Baqueta cobra de seus alunos mensalidades compatíveis com outros blocos pré-carnavalescos de Fortaleza e ainda fornecem aos alunos o instrumento quando estes são fundamentais para a bateria, como no caso do tamborim. Em outras palavras, os cursos oferecidos pelo Baqueta estão dentro do valor de mercado, em uma cidade onde não há uma cultura forte de samba e sim de forró.

Em relação à influência cultural, o Bloco Baqueta baseia-se na cultura do samba, do Carnaval Carioca, embora ocorra em eventos específicos o uso de instrumentação regional como triângulo e sanfona. Carlinhos afirma que os desfiles de blocos em Fortaleza tinham um pouco de cada cultura como Maracatu, frevo, axé, mas não tinha uma identidade específica. Agora o samba está ganhando força em Fortaleza e atraindo cada vez mais adeptos a este estilo que não é unicamente do Rio de Janeiro e sim do Brasil.

Carlinhos afirma que embora não possa revelar todos os seus planos para o futuro, um de seus objetivos é conseguir manter o bloco viável, autossustentável. O diretor ressalta

ainda que há necessidade de mudanças na estrutura operacional dos desfiles. Ele considera que com o crescimento dos blocos, a Avenida Historiador Raimundo Girão já não está conseguindo atender satisfatoriamente. Como sugestões de novos locais para realização do evento, ele aponta a Cidade Fortal ou Lagoa do Colosso, até para desobstruir o trânsito nesta avenida.

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