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4. SELESNAFES.COM: A REDAÇÃO VIRTUAL EM TERRA TUCUJU

4.2. DO BLOG PESSOAL AO SITE DE NOTÍCIAS

A jornalista Alcinéa Cavalcante é considerada a primeira amapaense a publicar notícias na internet (SANTOS, 2019). Desde 1996, o blog Liberdade de Expressão67 também possui um

caráter particular, com fotos da família, amigos e viagens da jornalista, além de artigos de opinião e textos sobre experiências pessoais. Depois dela, outros blogs surgiram, principalmente a partir da segunda metade do século XXI, como Repiquete no Meio do Mundo68 em 2005 e o Blog do Corrêa69 em 2008, administrados respectivamente pelos jornalistas Alcilene Cavalcante (irmã de Alcinéa) e Antônio Corrêa Neto.

Inspirando-se nos blogueiros amapaenses mencionados, Seles Nafes (2019)70 explicou que o planejamento inicial envolvia o lançamento de um blog político com notas diárias. No entanto, segundo o profissional, a proposta foi alterada para um site jornalístico ao perceber que possuía diversas fontes de informação conquistadas ao longo de quase 30 anos no mercado de trabalho.

Quando decidiu que o projeto necessitava de maiores investimentos, o jornalista fez empréstimo bancário para montar o escritório e ter o auxílio de outros profissionais. Além de Nafes, a equipe no período do surgimento do veículo – em dezembro de 2013 – era formada por um repórter e uma web designer. Com a consolidação do SelesNafes.com a partir do relacionamento com o público e o crescimento de acessos, o proprietário do site contratou uma repórter e, posteriormente, um editor.

67 https://www.alcinea.com/. Acesso em: 25 jan. 2020.

68 https://www.alcilenecavalcante.com.br/. Acesso em: 25 jan. 2020.

69 O Blog do Corrêa permaneceu no ar até 2013, finalizando as atividades devido ao falecimento do jornalista. 70 Entrevista concedida à autora no dia 15 de dezembro de 2019.

No período do lançamento do webjornal, Nafes ainda era apresentador da primeira edição do Jornal do Amapá, principal telejornal da Rede Amazônica (filiada à Rede Globo no estado). Mesmo sendo concorrente direto do G1 Amapá, o jornalista permaneceu empregado pelo conglomerado até março de 2016, quando decidiu sair da empresa na qual ficou por mais de uma década e meia para dedicar-se a outros projetos pessoais – entre eles, o site de notícias (NAFES, 2019).

Atualmente, a página é dividida em sete editorias (Amapá, Polícia, Política e Economia, SNTV71, Turismo, Cultura e Interessante). A equipe é composta por nove profissionais, sendo seis jornalistas (Nafes, dois editores, um repórter policial e dois repórteres de cotidiano), uma administradora e dois responsáveis pela área de informática (um programador e um analista de sistemas). Os colaboradores72, que não têm vínculo trabalhista, emitem nota fiscal como prestadores de serviços para a empresa de Nafes.

4.2.1. Transição da redação física para redação virtual

Em relação ao grupo no WhatsApp, também denominado SELESNAFES.COM, a criação ocorreu no dia 4 de abril de 2014. Na época ainda existia a redação física localizada no bairro Marabaixo, Zona Oeste de Macapá, no qual os profissionais precisavam se reunir e cumprir horário de trabalho. Com o tempo, o sistema presencial “não foi se tornando algo tão necessário assim, por conta de os repórteres conseguirem responder a maioria das demandas de entrevistas e os editores poderiam e teriam liberdade de estarem em casa”, pondera o editor 1 (E1, 2019)73, que acompanhou com o ex-repórter de cotidiano (RC1) a transição para a redação virtual.

Mesmo durante o período da estrutura física, Nafes permitia em algumas situações que os repórteres enviassem o material para publicações por e-mail. Percebendo a possibilidade em ampliar essa forma de trabalho, o empresário transformou o grupo do WhatsApp exclusivamente como uma redação para concentrar a distribuição de tarefas e compartilhamento de textos, mídias e documentos. A iniciativa, esclarece Nafes (2019)74, surgiu em função da redução de custos e para dar mais celeridade na produção e edição de conteúdos: “Como a gente

71 Os vídeos do SNTV são associados ao Meio Mundo Produções, que editam as entrevistas realizadas

principalmente por Nafes.

72 Como Nafes (2019) afirma que os prestadores de serviços não são funcionários da empresa, acreditamos que o

termo “colaboradores” é mais adequado para citar sobre os referidos profissionais.

73 Entrevista concedida à autora no dia 3 de novembro de 2019. 74 Entrevista concedida à autora no dia 26 de janeiro de 2019.

iria trabalhar a distância quase o tempo todo, o WhatsApp foi a ferramenta mais barata e ágil que encontramos para compartilhar vídeos, fotos e textos. Concentramos todas as informações no grupo. Por isso que, às vezes, tem muitas mensagens para ler”.

Nafes (2019) explica que a adaptação da equipe transcorreu de maneira “tranquila”, já que todos estavam familiarizados com o instrumento de comunicação móvel. A afirmação do proprietário do site é confirmada quando RC1 (2019)75 discorre sobre a experiência nova: “Fomos migrando naturalmente. Eu achei até melhor depois que me dava mais liberdade, não precisava estar indo lá [para redação] se eu quisesse vir para casa escrever”.

Com a estratégia em alterar o modelo de redação jornalística, Nafes (2019) observa que as publicações passaram e ser mais dinâmicas: “Conseguimos postar com uma velocidade maior. E é uma coisa que eu cobro, essa agilidade, essa quase instantaneidade da notícia”. E1 (2019) declara que o deslocamento da sua casa até a redação demorava aproximadamente uma hora e meia, por isso ele consegue otimizar esse tempo na produção e edição: “Deu uma melhorada na produtividade, no tipo de dinâmica de horário mais flexível sobre a presença dos editores e nesse formato tradicional de estarem unidos na redação”.

Nafes (2019) diz não ter encontrado dificuldade em interagir com os jornalistas na maioria das vezes via WhatsApp. Como todos dão atenção ao grupo, logo respondem aos questionamentos do proprietário do site. Para os repórteres, a praticidade da ferramenta facilitou a comunicação entre a equipe. A respeito disso, E1 (2019) pondera que o fato dessa dinâmica de trabalho estar dentro de sua casa acaba se transformando na extensão da rotina pessoal. Também vale apontar acerca dos primeiros problemas enfrentados quando o editor 2 (E2, 2019)76 se tornou membro do SelesNafes.com:

No jornal impresso, onde eu nasci no jornalismo, tinha um sistema que era separado tudo por pastas. Era uma pasta de um repórter, dentro da pasta do repórter vinham as editorias das quais ele tomava conta. Então ele ia postando o material, era todo separadinho ali. Então no início para mim foi dificultoso, porque senti certa desorganização [...]. Hoje em dia já se respeita mais uma ordem. Alguém posta, por exemplo, um texto, aí o outro espera quando o cara parar de postar (E2, 2019).

No início da idealização do projeto da redação virtual, dependendo da demanda, havia reuniões presenciais para os jornalistas discutirem os direcionamentos das pautas durante uma ou duas vezes por semana (NAFES, 2019). Depois, quinzenalmente a equipe se encontrava para tirar dúvidas e receber orientações editoriais referentes aos textos (E1, 2019; RC1, 2019).

75 Entrevista concedida à autora no dia 6 de novembro de 2019. 76 Entrevista concedida à autora no dia 15 de novembro de 2019.

Atualmente, as reuniões são de forma esporádica, acontecendo principalmente durante a cobertura de eventos de grande proporção, como nas eleições estaduais de 2018, em que repórteres e editores dividiram pessoalmente as tarefas de trabalho. Durante o acompanhamento da redação (23 novembro de 2018 a 16 de maio de 2019), somente na confraternização de fim de ano que Nafes convidou os membros do veículo para interagirem pessoalmente.

Todos colaboradores participam do grupo, mas as interações ocorrem, principalmente, entre a equipe jornalística. Segundo Nafes (2019), não foi necessário repassar aos integrantes da empresa que o espaço no WhatsApp serviria apenas para assuntos profissionais, mas os jornalistas possuem funções definidas e informam o que está sendo realizado no momento.