• Nenhum resultado encontrado

4. SELESNAFES.COM: A REDAÇÃO VIRTUAL EM TERRA TUCUJU

4.3. ORGANIZAÇÃO DA EQUIPE JORNALÍSTICA DO SELESNAFES.COM

4.3.2. Distribuição de pautas e produção dos conteúdos

De segunda a sexta-feira, os repórteres de cotidiano não têm horário fixo. Há um acordo verbal para a entrega de duas matérias por dia77; enquanto os editores atuam em turnos

diferentes (geralmente das 7h30 às 13h30 e das 14h30 às 20h30). No sábado, um repórter de cotidiano trabalha em regime de plantão pela manhã. Os editores se revezam entre sábado e domingo. O repórter policial é o único profissional que trabalha todos os dias e recebe por produção.

As primeiras mensagens que surgem no grupo do WhatsApp são enviadas pelo repórter policial (RP1), ainda pela madruga ou no início da manhã. O profissional faz plantão noturno no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) do bairro Pacoval, local em Macapá que são levados todos os presos em flagrantes. Após finalizar a apuração, ele encaminha sonoras com entrevistas, texto-base com as principais informações e, se tiver, fotografias, vídeos e Boletim de Ocorrência.

Geralmente E2 fica responsável pelo turno da manhã. Então, o editor ou Nafes escreve o texto de acordo com o material repassado pelo repórter e encaminha ao grupo para revisão. Como RP1 realizou a cobertura da pauta e, às vezes, até acompanhou a ocorrência, ele aponta se o texto está favorável para publicação. Seguindo orientação editorial do site, as fotografias que contém sangue são borradas. A respeito disso, E1 (2019) defende a necessidade de contar histórias que envolvem a área policial para informar o leitor do site, apesar de gerarem certa exposição negativa do ponto de vista social e até emocional.

Além da editoria de polícia, são publicados pela manhã os textos sobre política escritos por Nafes. Ele faz a apuração com base no arquivo em PDF que recebe diariamente por e-mail com decisões judiciais envolvendo políticos e empresários amapaenses. As matérias do empresário não são compartilhadas no grupo do WhatsApp para serem revisadas.

Para os repórteres de cotidiano, há quatro tipos de sugestões de pautas: indicadas pelas assessorias das fontes oficiais ou pelo público do site, momentos ou assuntos que chamaram atenção dos jornalistas durante a ronda por Macapá, desdobramentos de matérias publicadas no site e posts nas redes sociais – as duas últimas decisões editoriais serão discutidas no próximo capítulo. Como na redação do SelesNafes.com não tem reunião de pauta diária, os profissionais compartilham no grupo as informações de possíveis publicações. As distribuições desse material são definidas por Nafes ou os editores, mas os repórteres também se manifestam quando pretendem escrever determinado conteúdo.

Para exemplificar a afirmativa acima, no dia 28 de novembro, o repórter de cotidiano 3 (RC3) encaminhou o texto do Governo do Amapá que convidava a imprensa para fazer a cobertura do “I Fórum da Juventude sobre o combate ao suicídio”. O jornalista declarou que no evento teria familiares das vítimas e pensou em entrevistá-los para “humanizar a matéria com eles” (2018, às 14h28). E1 concordou, relatando ter dados de suicídio entre jovens no estado; também repassou o contato da responsável pelas notificações na Secretaria de Vigilância em Saúde. O repórter, então, solicitou esses números e disse que faria fotos durante o fórum78.

Na falta de sugestão de pauta no grupo do WhatsApp, os repórteres de cotidiano se comprometem na procura de algum tema para se pautarem. RC2 (2019)79, primeiramente, procura identificar algum assunto que tenha repercussão, “que esteja acontecendo na cidade ou ‘rolando’ pelas redes sociais, algo que tenha algum tipo de clamor popular”. RC1 (2019), que trabalha atualmente na produção de um veículo televisivo, diz sentir a diferença em relação ao SelesNafes.com. No emprego mais recente, ele elabora as pautas para os repórteres, enquanto no site exige habilidades dos repórteres que incluem sugerir pauta, redigir texto e registrar imagens/vídeos para ilustrar a publicação.

Como mencionado anteriormente, não existe horário estabelecido na rotina de trabalho dos repórteres, mas os que fazem a cobertura sobre cotidiano costumam se dividir entre o período da manhã e tarde. No entanto, conforme esclarece RC2 (2019), “seria hipoteticamente de meio-dia às 18h, mas na verdade tem dias que desde de manhã a gente começa a procurar pauta”. O repórter policial também faz a cobertura das pautas que surgem durante o dia, mesmo atuando nos plantões noturnos. Os profissionais responsáveis pela produção dos conteúdos declaram sobre todo o processo produtivo (sugestão de pauta, agendamento de entrevistas, finalização das conversas com as fontes e início da escrita dos textos), sendo, inclusive, a maior

78 Disponível em: https://selesnafes.com/2018/11/conversa-pode-salvar-da-depressao-diz-jovem-em-forum-de-

combate-ao-suicidio/. Acesso em: 13 jan. 2020.

parte das interações no grupo.

Quando a apuração jornalística de RC1 (2019) acontecia em sua residência, ele realizava a entrevista via chamada telefônica, solicitava que a fonte enviasse as fotos e escrevia o texto no notebook ou smartphone. Mas na maioria das vezes a cobertura das pautas se dava na rua, com a produção da narrativa noticiosa também pelo celular ou em lan house80. No início da redação virtual, o repórter utilizava o e-mail para escrever as matérias, deixando-as salvas como “rascunho”. Após ter perdido material com essa alternativa, investiu em um aparelho tecnológico mais moderno e passou a utilizar a ferramenta do Word para celular.

RC2 (2019) prefere trabalhar em casa para utilizar o notebook durante o processo de escrita do conteúdo. Quando é necessário ir para rua, o smartphone se torna o principal instrumento de trabalho. Ele escreve as matérias no WhatsApp, no grupo que criou para tê-lo como único integrante, que auxilia nas anotações além da tradicional caderneta de papel levada para as pautas.

Na maioria das vezes, imagens e vídeos são registrados pelo celular pessoal dos repórteres, mas a empresa disponibiliza uma câmera para os profissionais de cotidiano dividirem. Para enviar ao grupo os arquivos capturados pelo equipamento durante a cobertura na rua, eles colocam o cartão de memória no smartphone.

Não conseguimos entrevistar RC3 e RP1, mas as mensagens no grupo do WhatsApp indicam que os referidos profissionais também escrevem os textos direto do celular, principalmente quando a notícia é para ser publicada com urgência. Nafes (2018)81 acredita na necessidade dessa agilidade para ganhar tempo frente à concorrência: “As coisas acontecem na rua, onde o repórter escreve e já envia para o editor. Os editores trabalham em escritórios em suas próprias residências”.

A descrição sobre a rotina produtiva dos repórteres remete ao conceito do trabalho com telas, que surgiu com a popularização da internet e se tornou mais acessível pelos motores de busca e gerenciamento do conteúdo (BOYER, 2013). Durante a apuração, os profissionais do SelesNafes.com colhem informações navegando pela web no notebook e em dispositivos móveis, tendo a possibilidade de agendar e/ou realizar entrevistas pelo WhatsApp, redes digitais ou e-mail. O registro de mídias, a escrita da narrativa e o envio de material para publicação também se dá pelas novas tecnologias.

A respeito do deslocamento para a apuração das publicações, RC1 (2019) acertava com

80 Lan house é um estabelecimento comercial que, mediante ao pagamento por determinado tempo, permite utilizar

um computador conectado à internet.

Nafes uma ajuda de custo para o abastecimento e a manutenção de sua motocicleta. Já RC2 (2019), que possui carro, retira parte de seu salário para o pagamento da gasolina, mas Nafes contribui quando se trata de lugares mais distantes, como no município de Santana (AP), a 17 quilômetros de Macapá.