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Comportamentos de cidadania docente

4. Boas práticas

A evolução das relações entre os protagonistas da educação, essencialmente entre os membros da comunidade escolar, força o desenvolvimento de uma nova cultura aplicável nas trocas pedagógicas, abrangendo para além da qualidade dos serviços prestados, também os aspectos da segurança, sociais e éticos entre outros.

Compete a uma gestão informada e activa, desenvolver e liderar a implementação de um conjunto de elementos relacionados e actuantes, que suportem o estabelecimento de políticas e objectivos da organização, aos quais chamaremos de boas práticas, capazes de apoiar a concretização desses mesmos objectivos. Parafraseando Lee Iaccoca (citado em Crainer, 1999) “a competitividade de um país não começa na fábrica ou no laboratório de engenharia, mas na sala de aula” (p. 41). E correndo o risco de afirmar o óbvio: a escola é constituída por salas de aula.

Socorrendo-nos de Matos & Fonseca (2000) podemos atentar que “a capacidade das escolas se organizarem de forma a melhor cumprirem os serviços de educação que assumem, é permitindo a «transgressão» e colocando os recursos públicos ao dispor dos profissionais para que possam fazer melhor aquilo que já fazem bem e partilhar com outros a sua experiência.”

No entanto, perguntar-se-á: como poderemos encontrar soluções para os problemas da implementação das boas práticas docentes? A resposta está na disponibilização de recursos humanos, materiais e financeiros adequados ao prosseguimento dos objectivos inerentes à política de perfazimento das designadas boas práticas, rever e avaliar periodicamente a consistência do sistema de forma a garantir a adequabilidade daquelas face às necessidades dos «clientes», dos riscos operacionais e respectivos efeitos, assim como das perspectivas das partes em jogo. A presente resposta parece simples em teoria. Em termos concretos, há que cumprir de forma eficaz as tarefas, honrar acordos e respeitar compromissos, único modo que a gestão é capaz de avaliar, estabelecer caminhos e práticas, desenvolver mecanismos de controlo, em suma, liderar.

Como refere Ferraz (2001) “o estabelecimento de parcerias entre a escola e outras instituições é uma aposta forte, no sentido em que contribui para diminuir a clivagem existente entre a cultura da escola, dos alunos e da comunidade. A aproximação e interacção entre a escola, a família e a comunidade contribuem para diminuir o fosso existente entre estas instituições e para mudar mentalidades, atitudes e comportamentos.”

Nas palavras de Serra (1999) “a escola é assumidamente uma organização profissional (…), muito embora com características únicas. O trabalho aí desenvolvido é complexo e em grande parte controlado por agentes – os professores – com elevados níveis de competência e qualificação e que regateiam uma franca latitude de controlo do seu trabalho. Pode dizer-se que a vida nas escolas oscila entre a linha fluida da colegialidade (trabalhar para o bem comum) e o do individualismo (trabalhar para o interesse próprio). Sendo a aparelhagem escolar uma construção histórica marcada por époques e conjunturas oscilantes, esta dinâmica ainda por cima fica sujeita às inflexões das relações de poder e domínio do Estado e do seu aparelho político-administrativo.”

Fig. 3.1

Estratégias dos actores nos diversos contextos escolares

Sistemas centralizados

Democracia de Assimilação

ganhos pessoais colegial do

decreto

Individualismo Colegialidade

Jogo adocrático Simbiosinergia

de ganhos adocrática

pessoais

Sistemas descentralizados Fonte: Serra (1999)

E aquele autor avança a necessária interpretação:

• Em contextos fortemente centralizados política e administrativamente, as escolas marcadas pela força das estratégias individualistas dos seus actores, transformam as práticas de planificação – muito reguladas por uma lógica centralista e reprodutora – em ocasiões para obterem ganhos pessoais (tempo, competências, recursos, etc.).

• Contextos descentralizados e individualistas, tendem a segregar, condições em que a planificação surge como um exercício de programação flexível e oscilante, visando a inovação, mas constituindo ao mesmo tempo um palco onde os intervenientes se envolvem numa espécie de jogo meritocrático de conquista de notoriedade.

É claro que estes esquemas não constituem a realidade que envolve os processos de planificação escolar. Apenas são o que são: meros esquemas. O desafio é agora o de, olhando para as recentes mudanças nas práticas de gestão e administração das nossas escolas, identificar conteúdos, estratégias e condicionantes da planificação. Por outro

lado, planificar nestes ambientes organizacionais tem, como ponto de partida e de chegada para as pessoas que neles vivem e trabalham, a assumpção da vontade de assumir e partilhar responsabilidades, de criar sinergias, de manter estável o equilíbrio entre ganhos pessoais e responsabilidades colectivas”.

Continuando a falar de boas práticas, não nos podemos esquecer de mencionar as concernentes à implementação do(s) currículo(s), isto é, a procura de soluções e projectos curriculares mais adequados para fazer com que o maior número possível dos alunos aprenda mais e melhor aquilo de que precisam para prosseguir com segurança a sua aprendizagem ao longo da vida. Isto, no dizer de Roldão (1998), “significa, entre muitas outras coisas:

• tomar decisões sobre opções a adoptar dentro e fora dos programas;

• clarificar em conjunto metas a atingir e modalidades de as operacionalizar na escola;

• modificar práticas ou opções que têm falhado;

• repensar as disciplinas como vias para o saber de que todos vão precisar

numa sociedade que se anuncia como «do conhecimento»;

• reinventar o acto quotidiano de ensinar, recriando materiais e estratégias, que não se uniformizem em torno de um manual substitutivo do professor;

• estruturar projectos que se traduzam para os alunos em ter aprendido mais e com mais significado e não apenas em fazer coisas diferentes”.

Para uma escola ser boa necessita em primeiro lugar de um corpo directivo e docente sólido, competente e interventor que compreenda todos os factores determinantes na organização escolar e no ensino ministrado. Em segundo lugar que a escola estabeleça níveis de resultados, de exigências e de avaliação geradoras de melhores resultados e aproveitamento dos alunos.