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Comportamentos de cidadania organizacional

7. Cidadãos: “ser ou não ser, eis a questão!”

Será que todos os indivíduos que executam CCO são bons cidadãos? Será que os seus comportamentos são “desinteressados” e apenas têm o fim de ajudar na eficácia da organização onde estão inseridos? Ou será que “fazem de conta” ou, mais prosaicamente, efectuam aquilo que habitualmente se designa por gestão de impressões?

7.1 Gestão de impressões

Gestão de impressões, conceito que Goffman (1993) definiu para se referir aos esforços das pessoas para gerirem a imagem que os outros têm de si, por meio do controlo das impressões que projectam no(s) outro(s). A premissa fundamental desta noção é, como sugere o psicólogo social Schlenker (1980), a de que “conscientemente ou inconscientemente, as pessoas tentam controlar as imagens que projectam para as audiências, reais ou imaginadas” (p. 304).

Por isso, o esforço para "fazer boa figura, para impressionar", por parte dos colaboradores, pode representar uma fonte de erro, distorção, enviesamento nos juízos do decisor interferindo assim na validade da avaliação. Mas pode também indiciar, por parte do colaborador, uma capacidade de desempenho capaz de atingir objectivos específicos que lhe pode ser útil no desempenho das funções a que almeja.

Na maior parte das situações quotidianas, poucos gostam de parecer mal ante os superiores, semelhantes, subordinados ou qualquer outro que pode ter efeito sobre a sua carreira. Por conseguinte, as pessoas, voluntária ou involuntariamente, procuram controlar estas imagens que outros têm de si. O desejo de uma imagem positiva coincide com a teoria de Maslow (1943), isto é, baseando-se não só na necessidade de estima, mas possivelmente como uma ferramenta de auto-satisfação ou satisfazendo necessidades de afeição.

Como é perceptível no anteriormente escrito, os colaboradores tanto podem adoptar CCO para verdadeiro benefício da organização onde se encontram inseridos, como para criarem impressões positivas em alvos específicos (Bolino, 1999). A este propósito, Rego (2002a, p.40) dá alguns exemplos:

a) “A pessoa que ajuda o seu superior pode simplesmente desejar obter melhores classificações nas avaliações de desempenho.

b) Quando alguém faz sugestões construtivas para uma determinada tomada de decisão, o objectivo pode ser simplesmente o de vir a ser convidado para uma comissão em vias de ser criada.

c) A prestação de um favor pode resultar de uma estratégia destinada a obter favores especiais no futuro.

d) A adopção de uma postura de “bom cidadão organizacional” pode provir do desejo de mostrar um comportamento exemplar e, desse modo, obter um vínculo contratual mais forte com a organização (Van Dyne & Ang, 1998)”.

7.2 A questão de se saber se são “bons soldados ou bons actores”…

Do ponto de vista organizacional, a gestão de impressões pode conduzir a imagens que são por demais positivas ou, na pior das hipóteses, totalmente falsas. Drummond (1993) insinua que parte da gestão de impressões serve para dizer aos outros aquilo que eles querem ouvir e, logicamente, indicando uma imagem que pode não ser a mais precisa.

Então, como analisar a relação entre a gestão de impressões e os CCO? A esta questão, recentemente, Bolino (1999) proporcionou-nos, provavelmente, a melhor resposta. O seu modelo assenta em duas ideias básicas:

• As pessoas que adoptam comportamentos de cidadania organizacional tendem a causar imagens mais positivas nos seus alvos específicos.

• Muitos instrumentos de medida de gestão de impressões comportam acções que

têm sido incluídos em modelos englobando CCO.

Se atentarmos na taxonomia da gestão de impressões proposta por Jones & Pittman (1982), inserta no Quadro 2.3, poderemos compreender melhor as ideias acima expostas.

Quadro 2.3

Taxonomia de gestão de impressões Categorias Caracterização

Sedução • Procura ser visto como amistoso, cativante e encantador. • É dos primeiros recursos a ser utilizado na gestão de impressões.

Autopromoção • Tenta demonstrar competência.

• Tenta não entrar em conflito com ninguém. • Como táctica busca captar as boas graças de todos.

Exemplificação • Envolve a gestão de impressões de integridade, abnegação e mérito moral. • Oferece-se para tarefas difíceis

• Não se importa de sofrer para ajudar os outros. • Vai para além da chamada do dever

• Tenta influenciar e controlar as atribuições de virtude que podem conduzir à imitação.

Intimidação • Tem como meta o ser temido.

• Tenta ganhar poder social e influência, criando uma identidade de perigosidade, cujas ameaças e advertências serão acatadas ou, caso contrário, acontecerão consequências negativas.

Súplica • Explora a sua própria fraqueza para influenciar outros.

• Ao anunciar a sua incompetência, tenta activar uma regra social muito conhecida - norma de responsabilidade social - que afirma a necessidade de ajudarmos os que estão necessitados. • É o último recurso da estratégia de gestão de impressões.

Construído a partir de Jones & Pittman (1982)

Assim, não admira que muitos CCO sejam considerados como excelentes actos impressivos, pelo que, muitas vezes, é extraordinariamente difícil diferenciá-los de influência política usada pelos subordinados (Podsakoff et al., 1993). Exemplificando:

i) Ajudar o chefe, numa altura de promoções, pode ser considerada uma

estratégia de sedução com vista a subir de categoria;

ii) Trabalhar diariamente depois da hora ou entrar sistematicamente mais

cedo, numa altura de notações, pode ser olhada como uma estratégia de exemplificação com objectivo de conseguir uma melhor classificação; iii) Falar alto e de uma forma constante da colaboração que presta ao chefe,

dizer aos colegas que evitem ter aspirações, uma vez que se encontra em melhores condições para a promoção dentro do departamento;

iv) Dar, de uma forma voluntária, sugestões sobre este ou aquele projecto relevante para a organização ou proporcionar pistas de novos caminhos, uma vez que teve acesso a informações externas importantes, pode ser visto como um desejo de autopromoção, construindo, assim, uma imagem de proficiência tendo em atenção um aumento de ordenado;

v) Propiciar aos outros uma ideia de si, relevando os aspectos mais lúgubres pode denotar uma estratégia de súplica com o fito de obter o que almeja.

Mas não são só os colaboradores a empregar unicamente a gestão de impressões. Wanous (1989) fala de organizações que tentam influenciar as percepções dos candidatos. Criando panfletos, videogravações e, até mesmo, usando gratificações, recorrem à gestão de impressões como uma ferramenta de recrutamento. Esta situação é particularmente útil quando o desemprego é grande e a competição pelo trabalho é feroz.

C A P Í T U L O III