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Comportamentos de cidadania docente

2.2 Cidadania docente

Esta ligação da cidadania à escola conduz-nos a um conceito específico: comportamentos de cidadania docente. É esta nova concepção que tentaremos explorar seguidamente.

A prática de cidadania docente deverá levar à implantação de uma cultura de aperfeiçoamento contínuo e à criação de hábitos de execução de actividades de melhoria por todos os elementos da escola. No seguimento do pensamento de Katz (1964), não só é necessário cumprir o trabalho diário de execução de tarefas e normas de trabalho, é necessário também evoluir nos métodos de trabalho, na produtividade, na resolução dos

problemas, na melhoria do cumprimento dos prazos, numa palavra, no aumento da qualidade docente.

Um professor cuja docência seja imbuída por princípios de cidadania deve esforçar-se por ser uma referência em toda a linha para a instituição com quem colabora e isso passa pela qualidade dos serviços que presta, mas também pela segurança e vigor que transmite aos seus «clientes» e pelos próprios valores que norteiam a sua actuação, nomeadamente ao nível da responsabilidade social.

Mas, concretamente, o que se poderá entender por cidadania docente? Praia (2000) refere que se deve começar “por se admitir a ideia de que a cidadania, mais do que a qualidade do cidadão que pertence a um Estado, é um modo de ser. Assim entendida, cada alteração do conceito de cidadania há-de fazer-nos regressar ao próprio homem como valor de referência. Ao homem qual território vulnerável a muitas influências, as quais tem de gerir com a consciência de ser único, mas não o único. Talvez aqui resida o cerne do cidadão que cada um de nós é a pensar, também, na cidadania da expectativa das transformações, das surpresas do quotidiano. Apela-se à sua competência para distinguir o certo do errado, o bem do mal”.

Hoje, cada vez mais, fala-se de cidadania docente. O termo nem sempre é usado dentro do seu contexto e muitas vezes é aplicado sem o necessário enquadramento.

A sociedade contemporânea exige garantias que podemos classificar genericamente de «seguranças», que visam salvaguardar as pessoas, o(s) saber(es), os bens e o meio ambiente. Estas preocupações são muito antigas e caracterizam-se sempre pela necessidade de uma verificação de conformidade com regras de todos conhecidas e aceites: ser bom cidadão.

Hoje, mais que nunca, as exigências da sociedade, em geral, e da comunidade educativa, em particular, são imensas. Quem compra, quem contrata, quem segura, quem empresta necessita de garantias, de certezas e de evidências. A sociedade desenvolvida não aceita dúvidas sobre a qualidade da sua alimentação, dos seus transportes, dos serviços que lhe são prestados, da segurança dos locais que frequenta, das escolas frequentadas pelos seus filhos, etc., etc. Quando alguma dúvida aparece, como tem acontecido com frequência, a reacção é violenta, nem sempre esclarecida e profundamente destrutiva para a actividade respectiva.

Ser cidadão é ser profissional. Esta é uma verdade «lapalissiana» que se aplica inteiramente aos docentes. Atente-se, por isso, no Quadro 3.2 resultante de uma pesquisa desenvolvida soba tutela do ex-Instituto da Inovação Educacional.

Quadro 3.2

Profissionalismo dos docentes

Ser profissional significa Trabalhar numa organização escolar implica

Š Mobilizar um capital de saberes, saber-fazer e saber-ser que cresce constantemente, acompanhando a prática e a reflexão sobre a prática.

• Desenvolver competências de cooperação, trabalho em equipa, trabalho com outros adultos e de gestão de problemas inter-relacionais.

Š Desenvolver uma prática reflexiva, que envolve a relação dialéctica entre a teoria (conhecimento profissional) e a prática.

• Considerar a formação corno uma componente essencial da gestão dos recursos humanos.

Š Ter constante necessidade de actualização dos saberes e competências.

• Promover modos de formação abertos, participativos, integrados no trabalho e que favoreçam a autonomia activa dos professores.

Š Cooperar com outros profissionais sempre que é necessário ou mais eficaz.

• Colaborar no programa de desenvolvimento da escola.

Š Reconhecer o desenvolvimento profissional como um processo contínuo, interactivo e que combina uma diversidade de formatos e parceiros de formação.

• Desenvolver a capacidade de compreensão da inovação e mudança organizacional.

Š A prática ser acompanhada de autonomia, responsabilidade e ética.

• Desenvolver a capacidade de reflexão/avaliação institucional.

Š Colocar em primeiro lugar os destinatários do serviço prestado.”

• Criar dispositivos e dinâmicas formativas que facilitem a transformação das experiências vividas no quotidiano profissional em aprendizagens significativas.”

Construído a partir de Curado (2001)

Falando em profissionalismo, estamos igualmente a falar de desempenho. É, assim, que Pacheco (1996), afirmava que “avaliação do desempenho privilegia a natureza extrínseca da acção do professor, recaindo a recolha de dados e a emissão do juízo de valor na administração, preocupada basicamente com o cumprimento dos mínimos burocráticos. Trata-se de uma avaliação que tem as suas raízes numa cultura burocrática e que é legitimada por argumentos como a divisão do trabalho escolar, a concepção do professor como gestor e a avaliação docente pelos resultados dos alunos” (p. 47).

Mais adiante escrevia: “uma questão que se pode colocar é a de saber se as escolas estão preparadas para assumir a avaliação dos professores. Dito de outra forma:

será que as escolas têm neste momento a maturidade para se tornarem elementos críticos do seu próprio desenvolvimento institucional?”

O homem como responsável pelo avanço da sociedade, por força do seu contributo com a sua energia do trabalho, terá que se consciencializar que só poderá acompanhar o avanço, competir, estar preparado para o crescimento e para novos desafios, se for ele mesmo objecto de qualificações. Ser flexível para a mudança numa época em que a sociedade e as organizações estão em constante mutação, só é possível com pessoas com altos desempenhos de cidadania.

Será pois a necessidade colectiva e sobretudo individual de desempenho de cidadania docente que permitirá o desenvolvimento numa primeira abordagem do indivíduo enquanto ser social e profissional, e numa segunda perspectiva como recurso altamente qualificado, exercendo as suas funções cada vez melhor, contribuindo para o aumento da eficácia do(no) ensino-aprendizagem, para o bem estar da sua instituição escolar, dos colegas e da sociedade em geral.

Porque o mundo é dinâmico, as circunstâncias alteram-se de instante para instante e o ensino evolui, só com a interacção participativa de toda a comunidade educativa se conseguirá alcançar por via de um grande esforço sinergético os objectivos propostos.