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2.   REVISÃO DE LITERATURA 12

2.4. Integração energética: relação BRASIL E BOLÍVIA 77

2.4.1. Bolívia: uma história de exploração e de conflitos

O objetivo da presente subseção é descrever os ciclos políticos da Bolívia em função das disputas pelo controle dos recursos naturais do país, considerando sua história e fatores que contribuíram para o cenário atual. Zanella (2007) explica que toda sociedade vive na sombra de seu passado, ressaltando que no caso da Bolívia sua história influi veementemente nas políticas adotadas pelos governos em decorrência da exploração e subordinação em que o país foi submetido:

no cabe duda que Bolivia es un país de grandes riquezas: diversidad cultural, biodiversidad, recursos energéticos, recursos forestales, minería, tierras fértiles, etc., pero lamentablemente sufre un mal que socava los cimientos desde su nacimiento como nación: la mala distribución de la riqueza, donde el rico es cada vez más rico y el pobre es cada vez más pobre. (CEDIB,2005)

Abadie-Aicardi (1966) explica que a Bolívia possui uma série de fatores negativos que tendem a fortalecer o mito da inviabilidade do desenvolvimento social, econômico e político, bem como inibir o crescimento do país, dentre eles a localidade territorial do país que interfere diretamente no fortalecimento do Estado e prevalência de uma econômica equilibrada. Completa Hofmeister (2004) que a Bolívia é um dos países mais pobre da América do sul e politicamente instável.

Os aspectos negativos referidos por Abadie-Aicardi (1966) advêm de fatores interligados à forma de colonização, exploração do país e dos conflitos ocorridos com os países vizinhos. A colonização ocorreu no século XVI pelos espanhóis com a escravidão do povo, contudo, no século XVII a revolta da população em decorrência da exploração que se estendia fez com que iniciasse a mobilização popular em 1809 no Alto do Peru29. Em 1825 Simón Bolívar30 liderou o movimento de independência

do país, sendo o primeiro presidente da Bolívia, homenageado com o seu nome atribuído ao país.

29 Tupac Amaru II no século XVIII liderou uma movimentação social contra a escravidão a qual o seu

povo estava submetido. A revolução ocorreu inicialmente no Alto do Peru em 1809.

30 O Presidente Simón Bolívar liderou as primeiras rebeliões contra os espanhóis, nasceu em

García (2003, p.173) afirma que apesar da independência, houve a perpetuação das estruturas excludentes e de espoliação mantidas pela Coroa espanhola, “que consagravam prestígio, propriedade e poder em função da cor da pele, do sobrenome, do idioma e da linhagem.” As populações indígenas constituem mais da metade da população da Bolívia. Essas populações foram forçadas a trabalhar em condições primitivas e quase feudais. A elas foram negados o acesso à educação, a oportunidades econômicas e à participação política.

Lorini (1994) ao abordar os movimentos socialistas embrionários na Bolívia, realizando uma análise das novas idéias e os desafios da sociedade tradicional, explica que a cultura da sindicalização na Bolívia possui raízes no seu contexto de exploração e colonização. O movimento social apresenta-se em grupos com interesses diferentes, a partir da emancipação dos artesãos, que se libertaram dos cercos assistencialistas das associações mútuas. Nesse momento, surge a tradição de luta por meio dos sindicatos, organizações que passaram a reivindicar e participar das questões políticas do país e influenciaram diretamente nas decisões adotadas pelos governos bolivianos.

Após a independência do país, eclodiram conflitos em decorrência da necessidade de controle dos recursos naturais, contendas sobre fronteiras. Uma das principais contendas foi a Guerra do Pacífico (1879 – 1883) que culminou na perda do acesso ao oceano Pacífico para o Chile. Nesse contexto, com uma geografia acidentada sem passagem para o mar, decorrem as dificuldades de desenvolvimento do comércio marítimo e necessidade de restringir as políticas de desenvolvimento do país.

Assim, Câmara (2006, p. 74) assevera que a “questão da exploração de recursos naturais não apenas legou a espoliação destes recursos, como, em alguns casos, legou também a espoliação do próprio território”. A Bolívia participou de diversos conflitos territoriais com países fronteiriços, sendo relacionados à exploração dos recursos naturais do país que direcionaram para disputa em confrontos bélicos.

Nesse contexto, no início do século XX o território do Acre, atualmente estado brasileiro, pertencia à Bolívia. A Comissão Demarcadora de Limites, instalada após as independências da América Latina, reconheceu que o território pertencia à Bolívia. Contudo, os seringueiros brasileiros ocuparam a área no intuito de aproveitar a expansão da economia de extração da borracha. Os conflitos eclodiram

e as negociações entre os países iniciaram para dirimir a contenda instalada.

Em 17 de novembro de 1903 foi assinado o Tratado de Petrópolis que estipulava: 1. indenização à Bolívia pelo território do Acre; 2. cessão de pequenos territórios próximos ao rio Abunã e na bacia do rio Paraguai; 3. construção de uma ferrovia para escoar a produção boliviana pelo rio Amazonas; 4. assinatura de tratado de Comércio e Navegação que permitisse à Bolívia usar os rios brasileiros para alcançar o Oceano Atlântico; 5. estabelecimento de aduanas nas fronteiras tanto pelo Brasil como pela Bolívia. Dessa forma encerram-se os conflitos com os seringueiros brasileiros.

Ainda no século XX, segundo Ayerbe (2002, p. 96), a Bolívia consolida sua posição como se segundo produtor mundial de estanho e que as pretensões de expansão da produção motivou a Bolívia ter acesso ao rio Paraguai por meio do Chaco (área de planície limítrofe com o Paraguai). Câmara (2006) completa que a descoberta de petróleo no sudeste do país ocasionou a Guerra do Chaco (1932 a 1935), quando ela perdeu território para o Paraguai.

A derrota da Bolívia para Paraguai na Guerra do Chaco foi um ponto fundamental para a mobilização da população e as manifestações ocorridas na Bolívia. Tapia (2002, p. 46) utiliza expressão “a Nação que se encontrou no Chaco” para definir a importância desse momento na construção do nacionalismo boliviano, bem como “o encontro e a tomada de consciência referente à desarticulação e o desgoverno do país”.

O Exército domina o cenário boliviano com a formação de grupos militares nacionalistas, que passam a se alternar no poder com os militares ligados à antiga oligarquia, em sucessivos golpes de Estado. Os governos passaram a adotar políticas estatizantes com projetos de nacionalização das reservas minerais. Segundo Cedib (2005), em 1936 é criada a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia - YPFB, com a intenção de abastecer a demanda interna. Em 1939, no governo do general Busch, com a companhia Standard Oil é condenada por traição ao país, e seus bens são nacionalizados.

Em 1941 surge das mobilizações populares, o Movimento Nacional Revolucionário - MNR, como um partido de ampla base. Ayerbe (2002) explica que o MNR formara-se com base no apoio dos setores nacionalistas do Exército e de jovens intelectualidades das classes médias urbanas. Ribeiro (1979, p.181) esclarece que esses foram os incentivadores da Revolução de 1952 que teve as

seguintes causas: 1. a revolta popular contra a miséria; 2. a capacidade de ação revolucionária autônoma do operariado mineiro; 3. a vontade de afirmação nacional de uma intelectualidade militante; 4. a incapacidade de reordenação social da estrutura política anterior, extremamente rígida. Coube ao MNR libertar o povo boliviano dos projetos gerados desde o estrangeiro.

García (2005) afirma que a Revolução de 1952 impulsionou as disputas ideológicas e as demandas de novos grupos que convulsionaram a política boliviana. No período da revolução de 1952, o MNR obteve êxito e assumiu a Presidência de Víctor Paz Estenssoro (1951) que introduziu o sufrágio universal, promoveu um reforma agrária e nacionalizou grandes minas de estanho, contudo, foi acusado de realizar diversas violações de direitos humanos.

A Bolívia enfrentou problemas sociais e sofreu ao longo dos anos varias revoluções e golpes militares. Com o surgimento do MNR houve a reunião numa confederação sindical única, a Central Obrera Boliviana - COB, com a tônica do governo revolucionário. Segundo o referido Garcia (2005, p. 38), “desde então a COB envolve-se em movimentos sociais que estruturalmente é a articulação de vários movimentos sociais, em torno da condução e hegemonia operária”.

Apesar das referidas iniciativas, o entrave iniciou segundo Câmara (2006, p. 85) “aquilo que deveria se propor com alternativa para a construção de soberania, em um processo independente, logo teve de (re)acomodar-se às exigências externas”. Os limites de investimento no país não permitiu o desenvolvimento das ações de crescimento programadas, exigiu o acesso a empréstimos do estrangeiro e necessitou de implantações de políticas públicas para implementação das propostas.

Uma das medidas adotadas foi o Código do Petróleo ou Código Davenport31

que abriu a possibilidade de investimento de capitais privados externos na YPFB. Para sua elaboração a Bolívia realizou um empréstimo em 1956 com os Estados Unidos. Santos (1991, p.73) explica que em 1955 o Congresso boliviano aprovou referido Código de Petróleo da Bolívia permitindo acesso de empresas estrangeiras privadas às reservas bolivianas. Com a legislação em vigor, encerrava o monopólio da petrolífera estatal Yacimientos Petroliferio Fiscales Bolivianos (YPFB) em vigor desde 1937.

31 Segundo Galeno (1978) a denominação Código Davenport foi em homenagem ao advogado que o

Cepik e Carra (2006) explicam que de 1964, uma junta militar depôs o Presidente Paz Estenssoro no seu terceiro mandato. Após os mandatos do ex- presidente, surge de 1964 a 1982 uma seqüência de ditaduras militares conforme apresentada a seguir

Tabela 01 – Seqüência de ditaduras militares

Governos Duração Política Marco para o petróleo

René Barrientos 1964 - 1969 Formação do Pacto Militar

Camponês Abertura ao capital externo. Alfredo Ovando / Juan Torres 1969 - 1971 Início do Movimento Katarista Marcelo Quiroga Santa Cruz

assume o Ministério dos Hidrocarbonetos e nacionalização das propriedades da Gulf Oil Hugo Banzer 1971 - 1978 Repressão e massacres. Colapso

do Pacto Militar-Camponês Outorgou a Nova lei dos hidrocarbonetos em 1972Flexibilização do monopólio da YPFB. Capital privado na exploração/produção do petróleo Pereda, Padilla, Guevara,

Gueiler 1978 - 1980 presidentes civis. Instabilidade do período que incluiu Luis García Meza Tejada 1980 - 1982 Repressão. Violento golpe, abusos dos direitos humanos, narcotráfico e problemas econômicos,

Assassinato do ex-ministro Marcelo Quiroga.

Nas eleições dos anos de 1978, 1979 e 1980 foram verificadas fraudes no processo eleitoral da Bolívia o que impossibilitou a correta verificação da opinião do povo boliviano o que gerou celeuma e tornaram-se inconclusivos os resultados. No referido período ocorreram golpes, contragolpes e tomadas do poder. Em 1980 o General Luis Garcá Meza conduziu um violento e impiedoso golpe. Seu governo foi caracterizado por abuso dos direitos humanos, narcotráfico e problemas econômicos. Em outubro de 1982, Hernán Siles Suazo tornou-se Presidente. Entretanto, tensões sociais, problemas econômicos e sua fraca liderança forçaram- no a renunciar, um ano antes do fim do seu mandato.

Rocha (2006, p. 28) afirma que entre as décadas de 1980 e 1990 “tiveram impacto ambíguo sobre a sociedade boliviana”. A política de redemocratização, do aumento das liberdades civis e políticas e de reformas neoliberais apresentou como conseqüência uma decréscimo das condições da população. O gás natural tornou- se o motor da economia nacional e surgiram novos movimentos sociais, com destaque para o sindicalismo dos produtores de coca.

No tocante ao novo período da política do país, com práticas neoliberais Yaksic e Tapia (1997) esclarecem que ocorreu uma grave crise econômica que durou entre 1982 a 1985. Nesse contexto o Partido da Ação Democrática Nacionalista - ADN do General Hugo Bánzer venceu as eleições de 1985, seguido pelo ex-Presidente Paz Estenssoro do MNR e pelo Vice-Presidente Jaime Paz

Zamora do Movimento de Esquerda Revolucionário - MIR. No entanto, na escolha pelo Congresso, o MIR aliou-se com o MNR e Paz Estenssoro foi escolhido Presidente pela quarta vez.

Para estabilizar a crise econômica, o presidente Paz Estenssoro um conjunto de medidas de caráter estrutural que estabeleceu a Nova Política Economia da Bolívia. Conforme Sachs (2005) a Bolívia conseguiu a estabilidade econômica e social com política de privatização da Comibol considerada como uma forte estatal mineira, da YPFB que teve seus ativos divididos e os campos de petróleo e gás e as refinarias passaram a ser administrados por empresas estrangeiras, como Petrobras, Repsol-YPF e BP.

Nas eleições de 1989, Gonzalo Sánchez de Lozada do MNR terminou em primeiro lugar, o General Banzer da Ação Democrática Nacionalista - ADN em segundo e Jaime Paz Zamora, do MIR, em terceiro. Contudo, nenhum dos candidatos recebeu a maioria dos votos. Assim, de acordo com a Constituição, o Congresso deve determinar o novo Presidente. Indicado pelo Congresso, Paz Zamora assumiu a Presidência.

Nas eleições de 1993 Sánchez de Lozada foi eleito Presidente que desenvolveu uma política neoliberal principalmente com a promulgação da Lei de Capitalização n.º 1544 de 1994. A Lei de Capitalização autorizou investimentos de capital privado nas empresas estatais, com investidores assumindo 50% do controle acionário de empresas públicas no setor de petróleo, telecomunicações, energia elétrica, entre outras.

Com a Lei de Capitalização, a YPFB, empresa estatal petrolífera criada em 1936 e que exercia o monopólio das atividades de exploração, produção e refino de hidrocarbonetos na Bolívia, passou a ser administradora de contratos. Ademais, para implementar a política neoliberal foi promulgada a Lei de Hidrocarbonetos n.º 1689 de 1996.

Com o processo de capitalização e a aprovação da Lei nº 1689 de 1996, a prioridade passou a ser remover a YPFB da cadeia produtiva e promover a exportação de gás natural para as regiões Sudeste e Sul do Brasil. O gasoduto Brasil-Bolívia, que entrou em operação em 1999, viabilizou essa intenção e os investimentos privados no setor de hidrocarbonetos.

A partir da Lei nº 1689, celebrou contratos de exploração de campos de gás e petróleo com 26 companhias estrangeiras, entre elas a Petrobras Bolivia, sem

submetê-los ao Congresso, como exige a Constituição. Esses contratos foram considerados muito generosos por grande parte da população.

No tocante ao arcabouço legal do setor da energia elétrica, outros dispositivos jurídicos foram adotados para implementação dos objetivos propostos. Segue abaixo quadro demonstrativo dos principais instrumentos para regulação do setor:

Tabela 02 - Arcabouço Legal do setor elétrico da Bolívia Legislação Conteúdo

Lei n.º 1544 de 1994 Lei de capitalização - Permitiu investimentos privados nas empresas estatais

Lei n.º 1600 de 1994 Lei do Sistema de Regulação Setorial - Cria superintendências independentes de regulação Lei n.º 1694 de 1994 Dispõe acerca do funcionamento do setor elétrico

Lei n.º 2341 de 2001 Define os procedimentos administrativos para entidades descentralizadas

Lei n.º 3351 de 2006 Lei de Organização do Poder Executivo - Cria o Ministério de Hidrocarbonetos e Energia

No período compreendido entre 1997 e 2002 ocorreram diversas sucessões presidenciais. Em 1997 o General Hugo Bánzer líder da ADN foi indicado presidente pelo Congresso, renunciando em 2001, em virtude de problemas de saúde e foi sucedido pelo seu vice-presidente Jorge Quiroga. Nas eleições de 2002, Sánchez de Lozada venceu por estreita margem o candidato Manfred Reyes Villa da Nova Força Republicana - NFR e o líder indígena Evo Morales do Movimento ao Socialismo - MAS.

Em 2003 eclodiu a “Guerra do Gás” como mecanismo de manifestação popular contra a exploração das reservas bolivianas de gás natural. Após a “Guerra do Gás”, Sánchez de Lozada, sob imensa pressão, renunciou. Seu Vice-Presidente, Carlos Mesa, assumiu o governo, ainda em 2003, com a promessa de atender às demandas sociais.

Em julho de 2004 a questão do gás e dos hidrocarbonetos foi o tema de um plebiscito em que os bolivianos apoiaram maciçamente um bloco de perguntas que apontavam para uma maior taxação e um maior controle estatal desses recursos, bem como para sua industrialização no país. Nesse plebiscito foram feitas cinco perguntas acerca da política de gás que devia ser implementada no país. Essas perguntas e o resultado do plebiscito são mostradas abaixo:

1. Você está de acordo com a abrogação da Lei de Hidrocarbonetos nº 1689, promulgada por Gonzalo Sánchez de Lozada? Sim 87%

2. Você está de acordo com a recuperação da propriedade de todos os hidrocarbonetos na boca do poço para o Estado Boliviano? Sim 92%

3. Você está de acordo em refundar a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos, recuperando a propriedade estatal das ações das bolivianas e

bolivianos nas empresas petrolíferas capitalizadas, de maneira que ela possa participar em toda a cadeia produtiva dos hidrocarbonetos? Sim 87% 4. Você está de acordo com a política do Presidente Carlos Mesa de utilizar o gás como um recurso estratégico para lograr uma saída útil e soberana para o oceano Pacífico? Sim 55%

5. Você concorda que a Bolívia exporte gás no marco de uma política nacional que cubra o consumo de gás das bolivianas e bolivianos; fomente a industrialização do gás em território nacional; cobre impostos e/ou royalties das empresas petrolíferas, chegando a 50 por cento do valor da produção gás e petróleo em favor do país; destine os recursos da exportação e industrialização do gás, principalmente para educação, saúde, estradas e empregos? Sim 62%

O plebiscito resultou no projeto de uma Nova Lei de Hidrocarbonetos n.º 3.058 de 2005 em que se propunha a criação de um novo tributo sobre a produção de petróleo e gás. Esse tributo aumentaria a arrecadação do Estado, mas os recursos ainda ficariam nas mãos das empresas multinacionais. Essa proposta levou a uma onda de protestos durante o mês de março de 2005. Carlos Mesa renunciou e o Presidente do Tribunal Constitucional, Eduardo Rodríguez Veltzé, assumiu a Presidência da Bolívia.

Acordos políticos permitiram uma modificação na Constituição e uma renovação total do Parlamento, simultaneamente com eleição presidencial em dezembro de 2005. A deterioração do sistema político levou as forças políticas tradicionais ao fracasso, inclusive os partidos ADN e MNR. Isso fez com que o MAS atingisse 54% dos votos e elegesse Evo Morales, o primeiro Presidente de origem indígena.

No dia 1º de maio de 2006, Evo Morales assinou o Decreto nº 28.701, que nacionalizou os hidrocarbonetos, ação demandada pelos indígenas bolivianos por muitos anos. Tropas federais foram mandadas para os campos de gás e para as empresas estrangeiras que tiveram origem no programa de capitalização e privatização de Sánchez de Lozada e Hugo Bánzer.

Assim, a Bolívia realizou três nacionalizações e, segundo Cepik e Carra (2006, p. 2-3) nenhuma das referidas nacionalizações resolveu os problemas da Bolívia, pois ela

continuou tão pobre quanto era antes e a YPFB revelou-se incapaz de assumir os elevados encargos necessários para conduzir a indústria petrolífera. Em ambos os casos, faltaram capitais para investir em pesquisa, exploração e modernização. Faltava também mão-de-obra qualificada para tocar o setor.

A terceira nacionalização decretada em 2006 pelo presidente Evo Morales afetou diretamente o Brasil e as relações com a Bolívia, visto que os dois países

participam do MERCOSUL e possuem objetivos comuns, principalmente no tocante à integração energética. Assim, no tópico abaixo serão abordados os aspectos relativos à relação Brasil e Bolívia considerando os aspectos pertinentes aos hidrocarbonetos da Bolívia.

Cumpre destacar que a tradição do movimento social no comportamento da sociedade boliviana, conforme assevera Crabtree (2005) deve-se ao fato de que a Bolívia, apesar de ser considerado um Estado relativamente dependente dos recursos naturais, com uma economia subdesenvolvida, dependente da ajuda externa, possui uma sociedade civil forte, cujas raízes encontram-se nas tradições comunitárias da sociedade camponesa andina. Ressalta, ainda que sua história contextualiza a resistência à invasão dos valores ocidentais e da continuidade da exploração pelos estrangeiros.