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Dependência do Brasil no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 116

4.2. Dependência do Brasil no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia

Com a elaboração das questões relativas à dependência do Brasil no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia, buscou-se verificar: 1. O Brasil possui outras formas de suprir a necessidade de hidrocarbonetos do País em caso de interrupção do contrato com a Bolívia?; 2. A dependência energética do Brasil com relação à Bolívia é menor do que o publicado?; e, 3. O investimento brasileiro em pesquisa e exploração do Petróleo é adequado considerando as necessidades do país?

Os gráficos apresentam as médias gerais que podem variar de 1 (discordo totalmente) à 5 (concordo totalmente) de acordo com a escala de concordância adotada (conforme Figura n.º 03 especificada no capítulo do método).

Figura 06 – Dependência dos Hidrocarbonetos

Observa-se nesse fator que os advogados assumem uma postura mais divergente, tendendo à discordância, nos itens 2 e 3 (média 2,4 e 2.7 respectivamente). Esse dado contrasta com as posições dos magistrados cujas opiniões alcançaram as maiores médias em todos os itens (4,1; 3,7 e 3,6).

Sobre o questionamento relativo às outras formas de suprir a necessidade de hidrocarbonetos do Brasil em caso de interrupção do contrato com a Bolívia, observou-se que todos representantes das áreas de conhecimentos tendência (principalmente magistrados e sociólogos) a concordar que o Brasil possui outros

mecanismos para minimizar os efeitos advindos da ruptura das relações com a Bolívia no tocante aos hidrocarbonetos.

Segundo explica Wanderley (1998, p. 160) as estratégias utilizadas para a realização de uma negociação deve ser fundamentada em três elementos: informação, tempo e poder. Nesse contexto, o Brasil possuía informações imprescindíveis acerca do potencial energético do País e apresentou seu o plano de expansão de gás nas bacias brasileiras que permitiriam a auto-suficiência de produção a partir do ano de 2008 como mecanismo de negociação.

O referido documento objetivou demonstrar ao governo boliviano o planejamento do Brasil e servir de instrumento de negociação no processo de solução do conflito estabelecido. Contudo, é possível admitir que o referido documento deveria ter sido apresentado antes da nacionalização, visto que o processo, após a deflagração tornou-se irreversível em virtude dos impactos e clamores sociais.

A iniciativa brasileira de apresentar o plano de expansão foi analisada por um dos participantes da pesquisa que ressalta como aspecto positivo do conflito estabelecido em torno dos hidrocarbonetos da Bolívia o anúncio da Petrobrás sobre o plano de contingenciamento que relata termos condições de suportar eventuais cortes de fornecimento de gás. Nessa perspectiva, seria um mecanismo para apresentar à Bolívia que o Brasil buscará mecanismos para tornar-se independente das políticas adotadas internacionalmente e que enfrentará problemas no tocante à sua economia, conforme citação registrada por um participante: “a Bolívia enfrentará incertezas e reflexos na economia se perder um dos seus maiores compradores, o Brasil”.

Apesar dos dados acima demonstrarem que a percepção dos participantes é a de que existem outros meios para reduzir os impactos da rescisão do contrato com a Bolívia, houve dissonância dos participantes no tocante à dependência energética do Brasil com relação à Bolívia. A partir da análise dos resultados, os advogados (média=2,4) tendem a compreender que a dependência do Brasil é maior do que a publicada pelos órgãos de controle, fiscalização e regulamentação. Os demais participantes (média variando de 3,22 a 3,7) compreendem que o publicado representa a veracidade dos fatos.

No tocante aos dados obtidos com a resposta dos participantes, Figueiredo (2006) explica que atualmente, o gás boliviano corresponde a 50% do consumo

brasileiro. A autora citada explica, ainda, que o crescimento das importações na Bolívia foi bastante expressivo nos últimos anos e queo Brasil se tornou dependente em uma escala elevada de um único fornecedor externo. Os dados analisados apresentam a necessidade do mercado brasileiro no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia, conforme explica um dos participantes da pesquisa: “a necessidade de gás no Brasil é real”. Assim, a doutrina corrobora a assertiva do participante acima em virtude da necessidade crescente de meios para garantir a continuidade do consumo de energia, ter investido na integração com a Bolívia

Da mesma forma, nas questões abertas, um dos participantes explica que o Brasil se viu forçado, desde a crise energética de 2001, a implantar usinas termelétricas movidas a gás natural, de rápida construção, montagem e entrada em operação. Pela falta de gás natural nacional suficiente, o Brasil se viu obrigado a importá-lo da Bolívia, alternativa esta a mais interessante do ponto de vista econômico.

Ademais, ao analisar a “dependência do Brasil no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia”, os participantes da pesquisa compreendem e registram nas questões abertas que as descobertas de gás natural na bacia de campos, pela Petrobrás, são recentes e ainda levará anos para que este gás esteja disponível para o consumo dos brasileiros. Contudo, as quebras dos contratos celebrados entre a Petrobrás e o governo boliviano e aumento substancial do preço do gás, fizeram com que a equação anteriormente encontrada pelo governo brasileiro tivesse que ser revista recentemente em virtude da Argentina apresentar um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de energia elétrica e buscou, rapidamente, sanar tal demanda junto ao governo boliviano, em detrimento de uma parcela do gás hoje fornecido ao Brasil.

Observa-se, da mesma forma, nas respostas das questões abertas, um dos participantes manifesta-se no sentido de que a dependência do Brasil pode ser observada até mesmo com as negociações acima mencionadas entre os 3 países que culminaram em um acordo em que o Brasil irá apoiar a Argentina na construção de hidrelétricas naquele país, na condição de que os volumes de gás fornecido pela Bolívia ao Brasil sejam mantidos. Apesar da dependência dos hidrocarbonetos bolivianos as decisões adotadas favorecem o cenário da cooperação que se torna benéfico ao Brasil em decorrência da necessidade energética do país.

Os participantes responderam que existe uma dependência do Brasil no tocante aos hidrocarbonetos da Bolívia. Cabe registrar, a título de exemplificação, o entendimento registrado por um dos participantes nas questões abertas que apresenta a falta de auto-suficiência energética do Brasil como “fator primordial para a submissão às políticas dos países que atendem às necessidades do país, mesmo que considerados politicamente desorganizado”. Em contrapartida, conforme assevera outro participante da pesquisa:

na América do Sul, é o único país que realmente possui uma estrutura econômica capaz de exportar capitais para desenvolver as riquezas naturais de países como a Bolívia, assim, a dependência entre os países pode ser considerada como mútua.

Diante da dependência do Brasil alardeada pela imprensa e analisando os meios alternativos para reduzir os problemas que poderiam ocorrer pela ruptura do contrato de abastecimento com a Bolívia, tornou-se premente investigar se o investimento brasileiro em pesquisa e exploração do Petróleo é adequado considerando as necessidades do país. Neste aspecto, excetuando os advogados (média=2,7), as médias dos outros profissionais no que concerne ao “investimento em pesquisa e exploração do petróleo” variaram de 3,1 a 3,6. Isso denota uma tendência para afirmar a necessidade de maiores investimentos na área.

Os participantes consultados, nas questões subjetivas, registram que o Brasil precisa investir em novas pesquisas visando sua independência quanto ao uso dos recursos naturais da Bolívia, buscando alternativas para atender suas necessidades, como também de diversificar as fontes conforme explica um dos participantes no campo de comentários gerais:

Enquanto não houver incentivo para a pesquisa na área petrolífera a dependência energética do país restará patente. O Brasil precisa realizar um planejamento efetivo para conseguir ser auto-suficiente na produção de petróleo, não basta, dessa forma, encontrar novas áreas para exploração, mas realizar um estudo de viabilidade e posicionar-se estrategicamente junto ao mercado para desvincular-se da dependência da Bolívia para suprir as necessidades internas do país.

Finalmente, cumpre registrar que a Petrobrás em seu planejamento estratégico previa um investimento para que a produção de gás crescesse em média 5,9% ao ano até 2010, atingindo a auto suficiência em 2006, o que de fato não ocorreu41. Demonstrando, conforme registrado pelo participante que os objetivos propostos no planejamento estratégico precisa ser efetivo para corresponder às

necessidades do país. Corrobora as assertivas o entendimento abaixo aduzido de um dos participantes da pesquisa:

a Petrobras deve observar para define o planejamento de seus negócios as evoluções previstas para os mercados de energia nos contextos internacional e nacional, não basta deixar apenas no papel, mas investir em pesquisa para atingir o planejado.

Diante dos dados acima, observa-se que uma das estratégias adotadas pelo Brasil para realização da negociação com a Bolívia foi a apresentação de documentos nacionais que demonstravam a possibilidade do Brasil não depender energeticamente dos recursos naturais da Bolívia. Contudo, a referida medida, apesar de contribuir para o processo de negociação com a Bolívia, não repercutiu internamente em ações efetivas para a concretização dos objetivos previstos no plano de expansão divulgado.

Por fim, os resultados apresentados no presente tópico contribuem para alcançar um dos objetivos traçados para a pesquisa proposta: identificar as decisões adotadas pelo Brasil no caso em que a Bolívia estabeleceu a nacionalização dos recursos de hidrocarbonetos do país, considerando os mecanismos de solução de controvérsias internacionais. Observa-se que o mecanismo adotado pelo Brasil foi a negociação direta e que um dos fatores que interferiu para a decisão foi a dependência energética do País, contudo, conforme demonstra o plano de expansão energética apresentado.

Ademais, os dados apresentados contribuem para a verificação do problema formulado uma vez que os participantes responderam “que apesar da dependência energética do Brasil, existem outros meios para redução dos impactos da rescisão do contrato com a Bolívia, não precisando, dessa forma, de resolver por meio da negociação direta, inclusive com mais investimentos na área de pesquisa e exploração do petróleo”.

4.3. Implicações para o Brasil após a nacionalização dos hidrocarbonetos da