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3. PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA MÍNIMA NO BRASIL

3.1 Bolsa Escola

O Programa Bolsa Escola, implementado em 1995, em Brasília, pelo então Governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, configurou-se na primeira experiência brasileira em matéria de programa de renda mínima. Sob a forma de política educacional, buscava além de garantir uma renda mínima às famílias consideradas excluídas, também, garantir o acesso e permanência das crianças e dos adolescentes nas escolas públicas.

O programa contou com o apoio e a atenção das imprensas nacional e internacional. Nesse sentido, o destaque que lhe foi dado pela Revista Time, em novembro de 1995, dedicando-lhe uma matéria de capa. Em 1996, o Programa recebeu o prêmio “criança e paz”, instituído pelo Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF), em homenagem às instituições e às personalidades que se destacaram na defesa dos direitos da criança e do adolescente.169

Compensando-se financeiramente as famílias pobres e, em contrapartida,

168 CASTEL, Robert. op. cit., p. 578.

169AGUIAR, Marcelo; ARAÚJO, Carlos Henrique. Bolsa Escola. Educação para enfrentar a

pobreza. Brasília UNESCO, 2002. Disponível em

exigindo-lhes a ida de seus filhos à escola, estar-se-ia abrindo possibilidades de romper-se o ciclo de pobreza do qual fazem parte. Nesses termos, tinha-se a família como unidade beneficiária dos Programas de Transferência de Renda e articulava- se essa transferência monetária a uma política de educação. Estava-se diante de uma associação de política compensatória com uma política estruturante, educação.

Nos anos de 1995 a 1999, diversos estados e municípios brasileiros implementaram o Bolsa Escola, tais como, Amapá, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Acre, Recife e João Pessoa. Em cada lugar, o programa foi adquirindo suas próprias características, enquanto acentuavam suas diferenças com relação ao programa original. Mas, em todos os lugares o programa guardava o eixo central do Bolsa-Escola, qual seja, o acesso à educação fundamental, como estratégia do plano maior de combate à evasão escolar e à exclusão social.

O Programa de Renda Mínima vinculada à educação - Bolsa Escola já estava difundido no país, contudo o mesmo ainda não estivesse consolidado nacionalmente. O Bolsa Escola foi implementado como política nacional apenas em março de 2001, por meio da lei n. 10.219, de 11 de abril, com a gerência do Ministério da Educação e Cultura – MEC – com o nobre objetivo de criar oportunidades para as camadas mais pobres da população saírem do círculo vicioso de pobreza em que viviam, rompendo-o em definitivo. A iniciativa foi resultado de experiências bem sucedidas em diferentes municípios do país e trazia a transferência de renda como meio de incentivar a cultura da educação no país, com o incentivo da matrícula e permanência das crianças na escola.

No contexto atual de investimentos para o desenvolvimento dos países com altas taxas de desigualdade social, os programas de transferência de renda assumem papel de destaque e, nessa ordem, o Estado passa a desempenhar papel chave, com o apoio dos organismos internacionais.

A implementação do programa em questão foi resultado de parcerias com alguns órgãos internacionais, a saber, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano para Reconstrução Desenvolvimento (BIRD), bem como com alguns organismos vinculados ao poder público e à sociedade civil.

do Conselho de Controle Social, criado para esse fim, com a exigência de que, pelo menos 50% dos seus integrantes fossem representantes da sociedade não vinculados à administração municipal.

O alvo do programa eram as crianças de famílias pobres que, tendo abandonado as salas de aula perpetuariam a mesma escolaridade (baixa) dos seus pais e, por isso mesmo, o futuro lhes reservaria, no máximo, as mesmas condições de mercado disponíveis as suas famílias. Diante dessa realidade, a idéia era elevar- se o grau de escolaridade dessas crianças no intuito de proporcionar-lhes mais oportunidades. O programa Bolsa- Escola propunha-se a repassar um recurso mensal para essas famílias, desde que os seus filhos, em idade escolar, estivessem frequentando, ao menos, 90% dos dias letivos.170

A partir desse programa, a questão do combate à exclusão tomou outro rumo, sobretudo, ao pensar-se que rompia com a histórica tradição do paternalismo e do populismo característicos das políticas públicas no Brasil.171

A educação, sem dúvida, é um dos fatores que contribuem, e muito, para a progressão social do homem. A partir dessa concepção, ela é vista, cada vez mais, como solução para os diferentes males que atingem a população brasileira. Essa compreensão é percebida, inclusive, nos planos estratégicos do desenvolvimento social do governo.

A educação é capaz de instrumentalizar o indivíduo para que ele possa, por si próprio ou por intermédio do Estado, viabilizar uma vida com qualidade e dignidade. Por meio da educação, o cidadão pode tornar-se mais consciente de seus direitos, e, por conseguinte, saber como exigi-los do Estado, ou como alcançá- los por seus próprios meios. Estar na escola significa, de forma imediata, acesso a um direito social da educação e pode significar, em médio e longo prazo, ganhos nos direitos políticos e civis.

Percebe-se a preemente necessidade de melhoria das escolas, tornando- as capazes para o trato com as crianças que integram as mais diversas famílias, considerando assim, a sua possível origem de territórios de exclusão. Em paralelo, a sociedade clama por garantias de uma vida digna e as políticas públicas de trabalho e de renda são convocadas para o atingimento desse intento. Afinal, sabe-se que o

170AGUIAR, Marcelo; ARAÚJO, Carlos Henrique. Bolsa Escola. Educação para enfrentar a

pobreza. Brasília UNESCO, 2002. Disponível em

<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001297/129723m.pdf.>. Acesso em 11mar. 2011, p. 35.

problema de uma infância de exclusão não será solucionado, tão somente, colocando-se a criança em sala de aula, ou, em outros casos, abrigos.

Certamente, retirar as crianças das ruas e erradicar o trabalho infantil são passos sobremaneira importantes. Mas, pouco resolverá inseri-las em programas sociais e educacionais sem estruturas de qualidade, pensadas numa conjuntura de desenvolvimento social. Fato é a necessidade de mobilização com foco no desenvolvimento de qualidade educacional.