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Crescimento econômico e reversão da pobreza, a partir do Programa

4. BOLSA FAMÍLIA – ANÁLISE DOS NÚMEROS

4.3 Crescimento econômico e reversão da pobreza, a partir do Programa

Antes de alcançar o caminho do crescimento, do desenvolvimento e da recente redução da situação de pobreza e de extrema pobreza, no qual o país encontra-se hoje, desde a década de 70, passou-se por sucessivas crises políticas e financeiras, com elevadas taxas de inflação, alta incidência de desemprego, economia nacional decrescente ou com crescimento insignificante.

No governo Collor de Melo (1990-1992), medidas de liberalização comercial foram implantadas. Iniciou-se a política neoliberal que prossegue no governo Itamar Franco (1992-1993) e radicaliza-se no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Aquela realidade de crises políticas começou a ser superada a partir do Plano Real, no Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), quando se passou a obter resultados positivos, principalmente na economia, com estabilidade da moeda nacional, e política cambial, além das renegociações da dívida externa, ficando marcado também como o início das privatizações das empresas estatais e com alguns reflexos na área social relacionados às metas de reformas sociais voltadas à melhoria da eficiência das políticas públicas.

A abertura comercial, a desregulamentação financeira e privatizações dos monopólios estatais fazem parte da agenda neoliberal como as políticas ideais para

as economias conseguirem o crescimento econômico sustentável. Em outras palavras, a panacéia do desenvolvimento. Contudo, há que se considerar o outro lado da moeda, as suas consequências negativas, tais como o aumento do desemprego, a queda dos salários, o crescimento da pobreza e da concentração de renda, surgimento e agravamento de conflitos sociais.333

Oliveira remonta à norte-americana Ellen Wood para firmar entendimento no sentido de que “os Estados nacionais continuam interferindo na economia, ganhando força com a globalização, porque são eles que garantem a implementação de medidas que favorecem o capital”.334

No universo das políticas econômicas, constata-se que o Presidente Lula apenas aperfeiçoou o ajuste do modelo econômico neoliberal iniciado no Governo anterior. Enquanto isso, as políticas públicas de cunho social foram priorizadas na Era Lula, com grandes impactos na sociedade, a exemplo do Programa de transferência de renda Bolsa Família.

Todo esse universo macroeconômico de políticas públicas, financeiras e cambiais com as quais se convive nas últimas décadas, algumas com resultados mais positivos que outras, tem gerado reconhecido impacto positivo em na economia, com consequências como a redução da desigualdade social e o aumento dos compromissos da Previdência Social, decorrentes do aumento do salário mínimo, por exemplo.335

Dado o ingrediente ideológico336 de que, quanto maior for o bolo, maior será o pedaço de cada um, o que é verdade desde que as diferenças entre os pedaços sejam proporcionalmente as mesmas, pode-se crer que, quanto maior for o crescimento econômico brasileiro, menor será o número de famílias em condições de pobreza e extrema pobreza, desde que se continue com redução anual, ainda que pequena, do índice de desigualdade entre os mais ricos e mais pobres. E nesse ponto, o PBF possui papel fundamental.

Por exemplo: em estudo de projeção financeira (abaixo), realizado por Barros e Mendonça, em 1997,337 verificou-se que, preservando-se o mesmo nível de

333 VIEIRA, Liszt. op. cit., p. 84.

334 OLIVEIRA, Marcos Alcyr Brito de. Cidadania plena: a cidadania modelando o Estado. São

Paulo: Alfa Omega de Cultura Universal, 2005, p.132.

335 WEISSHEIMER, Marco Aurélio. op. cit., p. 24. 336 SANTOS, Guilherme Wanderley. op. cit., p.104.

337 BARROS, R. P. de; MENDONÇA, R. O impacto do crescimento econômico e de reduções no

desigualdade entre as pessoas, quanto maior o crescimento econômico do País, menor será o número de famílias em situação de pobreza.

Fonte: Barros e Mendonça, 1997 Elaboração Própria

Infelizmente, não há como garantir a saída da linha de pobreza das famílias brasileiras, apenas com o crescimento econômico porque o alto nível de desigualdade econômica, entre as classes sociais no País, que apresenta Índices de Gini entre 0,7 e 0,8 por estado, faz com que as riquezas conquistadas acabem indo mais para as mãos dos 10% mais ricos do que para os 40% mais pobres.

Constata-se que, mesmo em conjunturas econômicas mais favoráveis de acumulação de riquezas, o Brasil manteve-se no mesmo patamar de anos anteriores. Esse dado confirma que o crescimento econômico, sem justiça social e sem distribuição de renda, não reduz os índices de pobreza e de desigualdade social. O crescimento econômico é muito importante, mas a distribuição justa das riquezas é fundamental.

Os autores Aguiar e Araújo entendem que a exclusão social e a desigualdade em países pobres são decorrências não apenas do desemprego estrutural, mas se relacionam também com os acessos aos direitos civis, sociais e políticos, bem como às redes básicas de serviço.338

Ditos autores acreditam que países como o Brasil, tidos como periféricos, ainda tem longo caminho a percorrer sob a perspectiva econômica e tem muito que crescer, em especial, no tocante aos setores empregadores de mão-de-obra, e claro, à questão do aumento da mão-de-obra qualificada. Contudo, faz-se mister um crescimento direcionado as suas grandes questões, quais sejam, o combate à pobreza, às desigualdades sociais e à exclusão social. Acredita-se que apenas o crescimento econômico conseguirá corrigir esses desvios, sendo imprescindível a atuação estatal positiva por meios das políticas sociais.339

338 AGUIAR, Marcelo; ARAÚJO, Carlos Henrique. Bolsa Escola. op. cit., p. 29. 339 Ibid., p .29. Crescimento Econômico Anual Percentual de Redução da Pobreza 2% 5% 3% 8% 5% 13%

Políticas Públicas de distribuição de renda e a criação de empregos, decorrentes do desenvolvimento de cada região vem colaborando para um importante aumento da renda per capita do brasileiro mais pobre em detrimento dos mais ricos. Esta constatação pode ser verificada em estudo, apresentado abaixo, realizado por Barros et. al., que aferiu a variação da renda per capita dos brasileiros mais pobres e mais ricos340.

10% mais Pobres 20% mais pobres 10% mais Ricos 20% mais Ricos Variação de Renda Per Capita

a partir do Bolsa Família + 8% + 6% - 0,3% - o,1%

Fonte: Barros et. al. Elaboração Própria

A tabela acima corrobora estudo feito por Soares et. al. (2006),341 no qual ele mostra que Programas de transferência de renda, como o Fome Zero, o Benefício de Prestação Continuada e o Bolsa Família, entre outros, costumam ser muito bem direcionados às famílias mais carentes.

Outro fator importante de determinação do perfil de Renda do brasileiro e, consequentemente, do nível de pobreza da população, é o fator demográfico. O número de membros da família, assim como as idades dos filhos, por exemplo, tem relação direta com o valor da Renda que se recebe de Programas de Transferência do Governo. Nas últimas décadas, o número médio de filhos menores nas famílias, passou de 6 para 2,5, o que acarreta redução nos valores transferidos pelo Governo às famílias, mas por outro lado, reduz consideravelmente as despesas e o grau de dependência daquelas famílias. O resultado final dessa conta é um aumento de 21% na Renda Per Capita. É o que revela Barros et. al..342

Outro impacto importante das mudanças demográficas, em especial, a diminuição do número de membros das famílias, é um gradual aumento nos níveis

340

BARROS et al. Determinantes Imediatos da Queda da Desigualdade Brasileira. Rio de Janeiro: IPEA, jan. 2007. (Texto para Discussão, N° 1253), p. 14.

341 SOARES, Fábio Veras; SOARES, Sergei; MEDEIROS, Marcelo; OSÓRIO, Rafael Guerreiro.

Programas de transferência de renda no Brasil: impactos sobre a desigualdade. Texto para

discussão n. 1228. Brasília, IPEA, 2006, 33.

salariais oferecidos pelo mercado de trabalho, embora se trate de um efeito indireto, também, de acordo com Barros et. al.. 343

Depositar todas as expectativas de reversão dos históricos problemas do país em um único programa de transferência de renda, nesse caso, o bolsa família, certamente, não é a saída, mas se aponta para a sua articulação com outras políticas, tais como de saúde, de educação, de geração de emprego, dentre outras, como caminho para a redução da pobreza.

Como mencionado anteriormente, a diminuição da desigualdade, tão fundamental para o desenvolvimento das classes mais pobres do País, é motivada tanto pela priorização e intensificação das transferências diretas e indiretas de renda a populações pobres e extremamente pobres, quanto pelo desenvolvimento dos mercados de trabalho no Brasil, o que ocorre tanto por políticas de Governo, quanto pelo próprio desenvolvimento da Nação.

343 BARROS, R.P.; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. Texto para discussão n. 800. A estabilidade