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Brüning o «homem de Estado»

4. A ascensão do Partido Nacional-Socialista ao Poder

4.1. Brüning o «homem de Estado»

Quando, a 18 de julho de 1930, o Chanceler Brüning se vê obrigado a dissolver o Parlamento alemão, este estaria longe de imaginar que com a sua decisão acabava de abrir caminho ao avanço fulminante de um partido, até então relativamente insignificante dentro espectro político alemão, como era o caso do partido nacional- socialista. De facto, quando a 14 de setembro de 1930 se faz eleger o novo Reichstag, apesar de ser expectável uma subida eleitoral dos partidos extremistas alemães, poucos seriam os que poderiam ter previsto a amplitude do avanço do partido liderado por Adolf Hitler. Com efeito, logo no início do mês de setembro, o República afirmava que nas eleições alemãs que se avizinhavam não era difícil prever «uma estrondosa vitória dos partidos da esquerda»1. Esta afirmação, quando analisada segundo o atual conhecimento do posicionamento político do partido nacional-socialista, poderia indiciar que o República descartava, desde logo, a possibilidade de um ganho eleitoral significativo por parte do partido nazi. No entanto, essa mesma conclusão seria desmentida pela posterior análise das afirmações produzidas pelo mesmo jornal na véspera das eleições de 14 de setembro de 1930. Na realidade, e pelo que apenas se pode ficar a dever a uma precária informação relativamente ao programa político do partido de Adolf Hitler, este é visto pelo República como o comandante dos «comunistas da extrema-esquerda» que cooperavam «estreitamente com a Rússia». Ou

1

«Política Alemã. Quais os partidos políticos que vão no domingo às urnas – Toda a Alemanha contra os tratados de paz», in República, 2.9.1930, Lisboa, p. 5.

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seja, Hitler era apresentado como o porta-estandarte da «bandeira vermelha» que defendia que as dívidas da Alemanha deveriam ser pagas não «com o dinheiro dos proletários, mas sim com o dos capitalistas»2. Trata-se, evidentemente, de um erro de leitura política que o República viria a corrigir nas suas abordagens posteriores ao momento político da Alemanha. Nesse sentido, aquando da sua análise aos resultados saídos das eleições de 14 de setembro, o República, depois de salientar, pelas palavras de Ribeiro de Carvalho3 – então diretor do jornal - que «o povo alemão não quer ouvir falar mais em monarquia»4 - facto que era interpretado como uma vitória do republicanismo alemão o que, obviamente, não poderia deixar de agradar aos republicanos portugueses -, afirma que os prognósticos que havia avançado não deixavam de «corresponder à verdade», embora logo de seguida reconheça que «o que, apenas, não podíamos prever é que os fascistas alemães, desordeiros, pavorosos» pudessem ter aproveitado as perdas eleitorais dos «moderados do centro e dos monárquicos para obter um triunfo que ultrapassou todas as expectativas». E o

República prossegue sublinhando que «só a audaciosa propaganda dos racistas

conseguiu alterar profundamente o xadrez político do Parlamento anterior» embora «para muito pior» e que, na realidade, o triunfo dos nacional-socialistas «longe de beneficiar a Alemanha, prejudicou-a altamente». Concluindo, o República acredita que na Alemanha se caminhará então para um sistema ditatorial mas que não poderia deixar de ser «uma ditadura das esquerdas!» e que, portanto, «a aventura dos fascistas alemães» na prática «de nada lhes servirá»5. No número seguinte, Ribeiro de Carvalho volta à análise dos resultados eleitorais na Alemanha reconhecendo que «os racistas […] é que deram um passo em frente: de 12 para 107 deputados» mas apenas porque «se declararam republicanos, porque se dizem nacionalistas, e ao mesmo tempo socialistas com um programa avançado em matéria social» o que, segundo Ribeiro de Carvalho, não era senão mais do que uma demonstração do «poder das modernas ideias

2

«Ás Urnas! As eleições realizam-se amanhã em toda a Alemanha prevendo-se uma vitória das esquerdas», in República, 13.9.1930, Lisboa, p. 5.

3

Joaquim Ribeiro de Carvalho (1880-1942): Escritor, poeta e político republicano. Tendo participado na implantação de República em 1910, viria depois a ser deputado do Partido Liberal (1911-1925) durante a vigência da mesma. Com a instauração de Ditadura Militar em 1926, viria a exilar-se para a ilha da Madeira de onde voltaria em 1930 para se ocupar da direcção do jornal República até ao ano da sua morte em 1941.

4

CARVALHO, Ribeiro de, «A formidável lição da Alemanha», in República, 17.9.1930, Lisboa, p. 1.

5

«Após as Eleições Alemãs. A Constituição do Novo Parlamento que reunirá em 13 de Outubro – Os monárquicos nacionalistas perderam 26 lugares, tendo os comunistas ganho 22», in República, 17.9.1930, Lisboa, p. 4.

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democráticas que dominam e agitam o mundo!»6. Esta mesma análise se faz igualmente nas páginas das Novidades que concordam que «o novo Reichstag é muito pior do que o anterior», precisamente pelo «triunfo dos partidos da desordem», que no caso dos nazis havia sido mesmo «colossal», o que agravava «assombrosamente o caos alemão e com ele as dificuldades da política internacional»7.

O resultado eleitoral dos nazis nas eleições de 14 de setembro fez, inevitavelmente, com que não apenas a imprensa portuguesa, mas igualmente a imprensa europeia e mundial, despertassem o seu interesse de análise de todo o fenómeno nacional- socialista. Em Portugal, Rémy Lusol8 é dos primeiros a referirem-se especificamente à ideologia e programa hitleristas, definindo-os, desde logo, como uma «doutrina de manicómio [sic]» que haveria de vir a ser refreada pelo Centro Católico Alemão que, segundo ele, continuava a ser «o grande árbitro» de toda a política alemã. Rémy Lusol não tinha dúvidas que o Zentrum viria a ser «o travão contra a demagogia racista» ainda que admitisse que a Alemanha pudesse vir a «sossobrar na catástrofe» mas que se ela «resistir à forte borrasca de loucuras políticas que sobre ela sopra, ao Centro deverá a sua salvação»9. Pouco depois, de novo nas páginas das Novidades, saúda-se Hitler com um, mais ou menos, sarcástico «Heil!» por este «à força do charlatanismo e de audácia» se ter afirmado como o homem do momento numa Alemanha «culta e doida», numa Europa «doente e inquieta», deixando todo o mundo «pasmado e interrogativo» e, à ideia de um Hitler salvador da Alemanha, afirma-se que os meios de salvação por ele personificados se resumem à «desordem»10. O jornal católico apelida Hitler de «o queridinho dos fascistas [sic]» e acusa os grandes empresários alemães de quererem fazer do chefe nazi «uma espécie de papão que não passaria dum fantasma» mas que este se havia agora tornado num «monstro real com voracidade capaz de engulir tudo e todos» sem escaparem «aqueles mesmos que o subsidiaram»11. As Novidades defendem que o povo alemão tem «medo das ameaças do chefe racista» mas que, ainda assim,

6

CARVALHO, Ribeiro de, «Todo o Mundo neste momento tem os olhos postos na Alemanha», in República, 18.9.1930, Lisboa, p. 1.

7

«O Momento Internacional. As eleições alemãs», in Novidades, 19.9.1930, Lisboa, p. 1.

8

Pseudónimo utilizado por Amadeu Cerqueira de Vasconcelos (1878-1952): padre portuense autor de vários livros contra a Maçonaria e defensor de um catolicismo nacionalista. Viria a ser colaborador do jornal Novidades que aliás chegaria a dirigir.

9

LUSOL, Remy, «Cartas de Paris. As eleições alemãs e a imprensa francesa», in Novidades, 20.9.1930,

Lisboa, p. 6.

10

L., «Crónica. Hitler», in Novidades, 22.9.1930, Lisboa, p. 1. (Itálico no original).

11 «

O Momento Internacional. A fuga dos capitais alemães perante as ameaças de Hitler», in Novidades, 27.9.1930, Lisboa, pp. 1 e 4.

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dado o caos político em que a Alemanha se encontrava por essa altura, os hitleristas se aproximariam cada vez mais do poder pela colaboração com os demais partidos da direita que «assim ficarão presos das imposições dos racistas». Nesse caso, «o partido hitlerista receberá assim a sanção oficial» e o resto da Europa «viverá em permanente desconfiança, senão ansiedade»12. E qual seriam, segundo o diário católico português, essas forças da direita alemã que se aliariam ao partido nacional-socialista? Desde logo «os nacionalistas de Hugenberg e os Capacetes de Aço» que, avisavam as Novidades, seriam tão perigosos como os nazis na exaltação da «pretensa superioridade da raça alemã» e que tinham em comum com os hitleristas o facto de serem exímios «atiçadores do ódio contra os vizinhos»13. O jornal católico via o triunfo de Hitler como sendo o resultado «da sementeira de venenos» que desde há vários anos vinha sendo plantada pelas «gazetas do nacionalismo alemão»14 e era contra esse triunfo que era imperioso que os socialistas se assumissem como «grande baluarte da ordem interna», cabendo- lhes a eles, em união com os católicos alemães, evitar que a Europa caísse numa «catástrofe maior do que a de 1914». Socialistas e católicos seriam, portanto, os únicos capazes de «levantar uma barreira à corrente catastrófica dos nacionalistas e dos racistas»15.

Efetivamente, as Novidades não parecem, durante o período em que Brüning assume o lugar de chanceler, encontrar qualquer inevitabilidade numa possível ditadura nazi. Pelo contrário, antes da ditadura de Hitler, a Alemanha, «veria a ditadura de Brüning» sendo que a primeira só triunfaria «depois duma guerra civil da qual os extremistas da direita saíssem vitoriosos»16. Ou seja, Brüning aparecia, ele sim, como uma espécie de salvador da Alemanha contra a tirania de Hitler e dos seus partidários. Se tivermos em consideração que Brüning era militante católico, esta predileção que o jornal católico português parece ter pelo então chanceler não surgirá como qualquer surpresa. Aliás, as

Novidades apresentam o problema político da Alemanha do período como tratando-se

de uma batalha travada pelo chanceler católico contra os «desordeiros do nacionalismo e do racismo» assim como contra o «seu protector Mussolini» que havia procurado «reforçar essa posição de extremismo desordeiro» na Alemanha. A missão de Brúning

12 «

O Momento Internacional. Maus sintomas da crise alemã», in Novidades, 2.10.1930, Lisboa, p. 6.

13

«O Momento Internacional. A situação alemã», in Novidades, 12.10.1930, Lisboa, pp. 1 e 6.

14 «

O Momento Internacional. A abertura do Reichstag», in Novidades, 19.10.1930, Lisboa, p. 1.

15

«O Momento Internacional. A situação alemã», in Novidades, 21.10.1930, Lisboa, p. 6.

16 «

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nesse momento, enquanto «homem de princípios», seria exatamente a de «reparar os desastres causados por Hitler e pelo seu protector italiano»17.

Essa missão de Brúning, enquanto barreira ao avanço nazi sobre o poder alemão, tornava-se, no entanto, cada vez mais difícil. Na evidência dos sucessos eleitorais que o nacional-socialismo ia alcançando, as Novidades reconhecem que «a Alemanha se hitleriza a passos rápidos» e com isso «o perigo e a ameaça crescem»18. O diário católico não tem dúvidas ao afirmar que «o hitlerismo continuará a avançar na Alemanha» e que, no caso de se realizarem novas eleições, os resultados dariam «um maior triunfo dos racistas» que, em vez de seis milhões de votos, conseguiriam «nove ou dez milhões» e «Hitler seria o chefe de 150 deputados». Estas perspetivas são, para as Novidades, «bem alarmantes» já que «o racismo avança» e aproxima-se da «ditadura com que sonha»19. Para evitar esse destino, que cada vez mais parecia óbvio para os católicos portugueses, Brüning teria de «recorrer à força» implantando «uma ditadura pessoal destruidora do perigo racista»20.

O República não acompanhava as Novidades nesta visão do momento político alemão. O diário republicano defende que o triunfo de Hitler teria sido apenas «um triunfo relativo» já que os votos ganhos pelos nazis teriam vindo dos restantes partidos das direitas alemãs, sem que «a opinião socialista e republicana tivesse sacrificado a posição da Democracia alemã». Assim sendo, sublinha o República, na Alemanha eram ainda os «partidos republicanos do centro» que «apoiados pelos socialistas» continuavam «detendo o Poder», sendo, aliás, «tão formidável […] a sua força» que ia ainda permitindo que Brüning prosseguisse «na sua política de ressurgimento económico da Alemanha, de pacifismo e de liberalismo», deixando assim os nazis «em minoria». E conclui o articulista que «cada vez mais, na Alemanha, a marcha é para a esquerda», sugerindo que se deixe Hitler e os seus partidários «entregue aos cuidados da polícia»21.

As Novidades só voltam a dar atenção à evolução política da Alemanha durante o mês de fevereiro de 1931, e fazem-no para congratular a ação do católico Brüning que,

17

«O Momento Internacional. Importantes declarações do chanceler Brüning», in Novidades, 7.11.1930, Lisboa, pp. 1 e 2.

18

«O Momento Internacional. As eleições senatoriais polacas – Progressos do racismo alemão», in Novidades, 3.12.1930, Lisboa, p. 4.

19

«O Momento Internacional. A Alemanha em semi-ditadura», in Novidades, 7.12.1930, Lisboa, p. 1.

20

«O Momento Internacional. O ministério Brüning perante o Reichstag», in Novidades, 14.12.1930, Lisboa, p. 3.

21

R. «O que é preciso dizer. A democracia alemã e as últimas eleições - Quanto Hitler ganhou foi quanto perderam os outros partidos das direitas», In República, 22.12.1930, Lisboa, p. 5.

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indo de encontro àquilo que o jornal católico português tinha considerado como necessário para afastar o perigo racista, tinha, finalmente, adotado uma «linguagem energética dum verdadeiro homem de Estado» que parecia agora «definitivamente resolvido a fazer frente aos excessos de verdadeiros energúmenos e a defender a nação das dificuldades catastróficas para as quais a impelem os comunistas, os racistas de Hitler e os nacionalistas de Hugenberg». E seria já mais do que tempo «de enveredar por esse caminho de luta» já que «de audácia em audácia a demagogia comunista e hitlerista multiplicava[m] as suas exigências e os seus excessos»22. Com esta nova atitude Brüning mostrava-se, para os católicos das Novidades, como «o homem que era necessário à Alemanha, para sair do caos político» tendo ele assumido definitivamente a «pesada responsabilidade de salvar a Alemanha», «missão patriótica» na qual, crê o diário católico português, Brüning «não desfalecerá». A próxima etapa para o chanceler alemão seria agora a de «sanear a rua» uma vez que a violência se havia tornado «endémica na Alemanha» graças aos comunistas e «racistas» mas «muito especialmente por estes últimos». Era, portanto, a ação violenta desses «energúmenos de Hitler» que devia tornar «o saneamento político da rua»23 numa prioridade para o gabinete de Brüning.

O Diário da Manhã entra na discussão sobre o momento político que se ia vivendo na Alemanha relembrando que Brüning, aquando da sua subida à chancelaria, era «totalmente ignorado do grande público, conhecido de poucos e apreciado por um escasso número» mas que, à medida que foi «enfrentando com a mesma decisão Capacetes de Aço e nazis, por um lado, e os comunistas, por outro», tendo adotado «drásticas medidas de ordem financeira e económica» medidas com as quais conseguiu «estabelecer a ordem nas caóticas finanças alemãs», o quase anónimo católico do

Zentrum tinha conseguido em um ano de governo tornar-se na «figura dominante do

Reich» e numa «das figuras dominantes da política europeia». Aliás, segundo o órgão da União Nacional, Brüning parecia abrir «horizontes mais prometedores ao povo alemão» e, facto mais notável ainda, «fora de todos os extremismos, quer das esquerdas, quer das direitas». Fora de extremismos mas «governando praticamente em ditadura» Brüning teria «bastas condições de êxito» para «salvar a Alemanha de dois gravíssimos escolhos» como eram os hitleristas e os comunistas, «ambos eles mortais para a

22

«O Momento Internacional. Notável discurso do chanceler Brüning», in Novidades, 11.2.1931, Lisboa, p. 1.

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Alemanha em reconstrução». Mas a «perspicácia em política interna» que, para o Diário

da Manhã, caracterizava o chanceler nem sempre o acompanhava «nas manobras

externas» tendo sido essa lacuna que o levava a não compreender o «espírito francês» e a apresentar o «projecto de acordo aduaneiro austro-alemão» que tanto havia prejudicado o «difícil equilíbrio europeu»24. Quanto ao avanço dos nazis, o Diário da

Manhã acredita que «o triunfo provinciano e fácil das eleições no Oldenburgo» os

deixaria «entretidos» na «exploração política da sua vitória» deixando assim o caminho livre para que o chanceler trabalhasse no sentido de «auxiliar o ressurgimento alemão dentro de um plano de colaboração e paz europeias»25.

No fundo, o DM partilhava da opinião das Novidades vendo Brüning como um verdadeiro «homem de Estado» de «visão» e «coragem» que ia adotando uma política «cujo alcance o povo nem sequer consegue compreender», por «comodismo» e «falta de espírito cívico» que os «”meneurs” extremistas»26 iam explorando. E, o DM, continua sublinhando o apelo do governo «para o patriotismo do povo alemão» o que não consegue evitar que «os elementos extremistas vão colhendo triunfos fáceis» graças ao «desânimo que invade o povo»27. Enquanto o República reforça essa mesma ideia afirmando que as medidas que Brüning ia adotando para cobrir o deficit iam, simultaneamente, lançando «cada vez mais gente para os extremismos da esquerda e da direita» deixando a Alemanha «às portas da revolução»28. Nestas condições, os hitleristas animados de «um extraordinário poder de proselitismo» iam «excitando paixões e prometendo à consciência infantil do povo maravilhas de conto de fadas» enquanto o chanceler ia proferindo «palavras honestas» e prometendo «ao povo alemão melhores dias» mas à custa de «pesados sacrifícios». Assim sendo, para o DM, é natural que Hitler «venha a ver melhorada a sua posição parlamentar» embora este, se chegar ao poder, não possa adotar uma política «muito diferente da política de Brüning». Aliás, Hitler ia até já demonstrando que bem longe ia o «seu primitivo espírito de intransigência» o que levava o DM a prever que o líder nazi «bem longe deve estar do poder» mas «se lá chegar ou mudará de processos» ou não se aguentará «no poder mais

24 F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 30.4.1931, Lisboa, p. 6. 25

F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 24.5.1931, Lisboa, p. 6.

26

F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 4.6.1931, Lisboa, p. 6.

27

F. A. C., «A crise europeia. As conversas de Chequers e a situação interna da Alemanha», in Diário da

Manhã, 8.6.1931, Lisboa, p. 1.

28

«Restos da Guerra. A Alemanha diz que não pode pagar as reparações avistando-se hoje os seus ministros com o sr. Macdonald», in República, 6.6.1931, Lisboa, p. 8.

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de oito dias»29. Apesar de para o DM um possível governo de Hitler não vir a ser, na prática, substancialmente diferente daquele que Brüning por essa altura liderava, o jornal português afirma convictamente que lhe parece ser o atual «o governo ideal para o momento presente da história da Alemanha»30 devendo a sua sobrevivência «mais do que a nenhum outro partido» ao partido social-democrata que com esse apoio, embora prestando um «grande serviço à Alemanha», verá ocorrerem «numerosas deserções nas suas fileiras»31 em favor dos comunistas. No caso de o governo de Brüning falhar, a Alemanha teria de escolher entre uma de duas alternativas: «bolchevismo» ou «nacionalismo temerário» e se a primeira era, desde logo, vista como «uma ameaça tremenda para o resto da Europa», a segunda representava, para o DM, «quando muito, um enigma»32.

A menos de um ano antes de cair, as dificuldades por que passava o governo de Brüning eram, de facto, por demais evidentes e noticiadas pelos periódicos portugueses. As Novidades, por exemplo, afirmam que «raras vezes se terá visto um homem de Estado a braços com as dificuldades que ele [Brüning] tem de vencer» e que ele, antes visto como «salvador da pátria em perigo», se via por essa altura obrigado a agarrar-se «a todas as boias de salvação»33. O DM descreve a situação política da Alemanha como sendo «extremamente delicada» uma vez que «nazis e comunistas espreitam […] o momento oportuno para se lançarem em desenfreado combate ao governo que, presentemente, ocupa o poder» e adverte que «os tempos não correm propícios a experiências de êxito problemático»34. Por sua vez, o República afirma que o povo alemão «é empurrado para a revolução» defendendo que «racista ou comunista, para o caso pouco importa»35. Nestas condições, o República levanta a questão: «quando é que os extremistas da direita da Alemanha, reaccionários bolchevizantes, hão-de abandonar as suas loucas ambições, ou quando é que o resto do povo alemão os mete na ordem?»36.

29

F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 14.6.1931, Lisboa, p. 7.

30

F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 18.6.1931, Lisboa, p. 6.

31 F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 20.6.1931, Lisboa, p. 6. 32 F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 22.6.1931, Lisboa, p. 7. 33

«O Momento Internacional. A trágica situação da Alemanha», in Novidades, 23.6.1931, Lisboa, p. 1.

34

F. A. C., «Diário Internacional», in Diário da Manhã, 24.6.1931, Lisboa, p. 6.