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CAPÍTULO III – RELEVÂNCIA INFORMATIVA DE VARIÁVEIS NO PREÇO DE

3.3. Estudos empíricos que versam sobre mercados internacionais

3.3.3. Brasil

No mercado de capitais brasileiro, são igualmente vários os estudos empíricos realizados

com o objetivo de averiguar os determinantes do preço de mercado das ações das empresas

como o de Bruni e Famá (1998) que desenvolveram um estudo pioneiro cujo objetivo era avaliar

qual a relação existente entre a liquidez de uma ação e a sua rentabilidade, tendo como amostra

todas as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) no período de 1988 a

1996. As evidências permitiram-lhes concluir que existe uma relação negativa entre a

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rentabilidade de uma ação e a sua liquidez, medida pelo número de vezes que, em média, a ação

é negociada.

Costa e Neves (2000) estudaram a influência de algumas variáveis na rentabilidade das

ações: índice preço/ lucro, valor de mercado, valor patrimonial da ação/preço. A amostra foi

composta por empresas que negociaram na BOVESPA no período de 1987 a 1996. Concluíram

que existe uma relação negativa entre a rentabilidade das ações e o índice preço/lucro e o valor

de mercado e uma relação positiva entre a rentabilidade e o índice valor patrimonial da

ação/preço.

Com o intuito de verificar a existência de uma relação única entre risco e retorno, ou se

o retorno de uma ação é função de outras variáveis para além da variável beta, Nagano et al.

(2003) desenvolveram um estudo sobre o mercado bolsista brasileiro. Através de técnicas de

regressão linear, desenvolveram modelos de pesquisa cujas variáveis independentes, suscetíveis

de influenciar o retorno de ações, eram o beta, o valor de mercado da empresa, valor

patrimonial/preço, lucro/preço, fluxo de caixa/preço, liquidez, dividendos/preço, índices

representativos do endividamento da empresa e vendas/preço. A amostra incidiu sobre todas

as ações de empresas não financeiras que compunham a carteira do IBOVESPA no período de

maio de 1995 até maio de 2000. Através desta investigação, concluíram que existem outras

variáveis capazes de explicar as variações nas rentabilidades das ações, para além do beta, o que

contradiz o modelo CAPM; as variáveis lucro/preço, valor de mercado, valor

patrimonial/preço, liquidez, beta e vendas/preço são estatisticamente significativas na

explicação da rentabilidade das ações, segundo as hipóteses estatísticas testadas.

O estudo do impacto das demonstrações financeiras nos preços das ações, ordinárias ou

preferenciais, negociadas no mercado brasileiro foi desenvolvido por Neto et al. (2005), a partir

de informações das empresas cotadas na BOVESPA, no período de 1990 a 2002. Através da

metodologia de um estudo de evento, constataram que, no caso de ações ordinárias, a

informação contabilística é importante somente nos casos em que se observam lucros anormais

negativos; para o acionista preferencial, o resultado contabilístico é relevante – os retornos

anormais negativos antecipam os resultados a serem divulgados e os retornos anormais positivos

variam no momento da divulgação do resultado.

A análise da relação existente entre a variação de quatro indicadores de desempenho e a

variação da cotação das ações de dez empresas brasileiras cotadas na BOVESPA, no período de

janeiro 1994 a dezembro 2004 foi o objeto do estudo de Schumaher et al. (2008). As variáveis

explicativas selecionadas foram as vendas/ação, o lucro/ação (LPA), a rentabilidade dos capitais

próprios (ROE) e a evolução dos ativos (medida pela razão entre o ativo total num determinado

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trimestre e o ativo total do trimestre anterior); a variável explicada foi o valor de fecho das ações

no último dia útil de cada trimestre. Através da análise dos gráficos de dispersão, comprovaram

que todas as variáveis independentes apresentavam uma correlação positiva com a variável

dependente e, através da utilização do método de regressão linear múltipla, concluíram que os

indicadores utilizados explicam de forma significativa o comportamento da cotação das ações,

ou seja, os investidores têm em conta a análise fundamental na sua tomada de decisão.

A reação do mercado de capitais face a anúncios de prejuízos apresentados pelas

empresas de capital aberto

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foi o objetivo do estudo de Takamatsu et al. (2008) que, através da

metodologia de estudo de eventos, analisaram as ações de empresas cotadas na IBOVESPA no

primeiro semestre de 2005 e que apresentaram prejuízos entre 2000 e 2004. Os resultados

permitiram identificar uma reação média negativa do mercado face ao anúncio de prejuízos. A

amostra total, se analisada de forma agregada, apresenta uma queda expressiva dos preços e

retornos das ações nos dois dias subsequentes à divulgação dos prejuízos das empresas; todavia,

se estendermos a janela aos cinco dias subsequentes, os retornos regressam à normalidade do

mercado no período.

Rostagno et al. (2008) desenvolveram um estudo cujo objetivo foi traçar o perfil de

carteiras com diferentes desempenhos, para ações negociadas na BOVESPA no período de

janeiro de 1995 a dezembro de 2002. De forma genérica, as carteiras perdedoras foram

caracterizadas por possuir um risco total de mercado elevado (volatilidade), baixo risco interno

(endividamento), menor tamanho, baixo preço de mercado e foram negociadas no mercado a

preços elevados relativamente às variáveis lucro, dividendos e aos lucros antes de juros,

impostos, gastos de depreciação e amortização. Apresentam também um histórico de preços

baixos nos últimos seis meses, uma projeção de queda do índice património líquido/preço e de

um aumento do rácio dividendos/preço.

Já num passado mais recente, Hungarato e Teixeira (2012) estudaram a existência de

uma possível relação entre os gastos em I&D e a rentabilidade das ações de empresas cotadas

na BOVESPA no período de 1996 a 2006 e concluíram que esta variável não é estatisticamente

significativa na explicação da rentabilidade das ações.

Na tabela 4, é apresentada uma síntese dos estudos aqui apresentados, que recaem sobre

o mercado de capitais brasileiro.

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Tabela 4 – Determinantes do preço de mercado das ações – resumo da evidência empírica no mercado brasileiro

Autores Ano Conclusões

Bruni e

Famá

1998 Evidência de relação negativa entre a rentabilidade de uma ação e

a sua liquidez, medida pelo número de vezes que, em média, a ação

é negociada.

Costa e

Neves

2000 Evidência de relação negativa entre a rentabilidade das ações e as

variáveis índice preço/lucro e valor de mercado e uma relação

positiva entre a rentabilidade e o índice valor patrimonial da

ação/preço.

Nagano et al.

Neto et al.

Schumaher et

al.

Takamatsu et

al.

Rostagno et

al.

2003

2005

2008

2008

2008

Variáveis lucro/preço, valor de mercado, valor patrimonial/preço,

liquidez, beta e vendas/preço estatisticamente significativas na

explicação da rentabilidade das ações.

No caso de ações ordinárias, a informação contabilística é

importante somente nos casos em que se observam lucros

anormais negativos; para o acionista preferencial, o resultado

contabilístico é relevante quer estejamos perante lucros anormais

negativos ou positivos.

Vendas/ação, lucro/ação (LPA), rentabilidade dos capitais

próprios (ROE) e a evolução dos ativos (medida pela razão entre o

ativo total num determinado trimestre e o ativo total do trimestre

anterior) explicam de forma significativa a variação das cotações de

ações de dez empresas brasileiras.

Identificação de uma reação média negativa do mercado face ao

anúncio dos prejuízos das empresas.

Carteiras perdedoras têm um risco total de mercado elevado

(volatilidade), baixo risco interno (endividamento), menor

tamanho, baixo preço de mercado e foram negociadas no mercado

a preços elevados relativamente às variáveis lucro, dividendos e aos

lucros antes de juros, impostos, gastos de depreciação e

amortização. Apresentam também um histórico de preços baixos

nos últimos seis meses, uma projeção de queda do índice

património líquido/preço e de um aumento do rácio

dividendos/preço.

Hungarato e

Teixeira

2012 Inexistência de relação entre gastos de I&D e rentabilidade das

ações.

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