CAPÍTULO III – RELEVÂNCIA INFORMATIVA DE VARIÁVEIS NO PREÇO DE
3.3. Estudos empíricos que versam sobre mercados internacionais
3.3.2. Espanha
O mercado de capitais espanhol é objeto de vários estudos empíricos com objetivos
similares ao do presente trabalho, como o de Rubio (1988) que analisou as empresas cotadas no
mercado bolsista espanhol no período de 1963 a 1982 e concluiu que as empresas de pequena
dimensão apresentavam uma diferença na taxa média de rentabilidade de cerca de 7% face às
empresas de grande dimensão, ou seja, a variável dimensão explica de forma relevante o
comportamento da rentabilidade das ações.
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A análise da correlação entre os resultados da empresa e a cotação das suas ações foi o
propósito do estudo desenvolvido por Domínguez (1991). Os dados trimestrais relativos a uma
amostra de dezoito empresas cotadas na bolsa de Madrid no período de janeiro de 1985 a junho
de 1990, permitiram concluir que existe uma relação de causalidade entre a cotação das ações e
o resultado financeiro, rentabilidade económica e financeira e estrutura de endividamento das
empresas.
O efeito que o pagamento de dividendos tem sobre o preço das ações no mercado de
capitais espanhol, através da análise das rentabilidades residuais ou anormais
8em torno da data
ex-dividendos
9, durante o período de 1980 a 1992, foi o objeto do estudo de Cabestre e Escuer
(1996). Das ações que compunham o índice geral da Bolsa de Madrid, selecionaram aquelas que
representavam um peso significativo nesse índice. Concluíram que, no mercado de capitais
espanhol, o pagamento de dividendos afeta, em média, de forma positiva o comportamento dos
preços das ações, observando-se um enorme contraste sobre a rentabilidade residual entre as 15
sessões anteriores e as 15 sessões posteriores ao pagamento de dividendos – antes do pagamento
de dividendos, verifica-se que a rentabilidade residual média é sistematicamente positiva,
atingindo o seu pico na data ex-dividendos, e, a partir dessa data, assume valores negativos,
denotando a falta de interesse que os investidores espanhóis têm por ações que já pagaram
dividendos.
A análise do papel de certos rácios financeiros na determinação dos preços no mercado
de ações foi o propósito do estudo de Gisbert e Inchausti (1997). Os investigadores analisaram
o efeito que um conjunto de variáveis tinha na rentabilidade semestral das ações de 73 empresas
cotadas na Bolsa de Madrid no período compreendido entre o segundo semestre de 1991 e o
primeiro semestre de 1994. Através de um primeiro modelo econométrico, que não incluía
variáveis de natureza macroeconómica, concluíram que o rácio de endividamento a longo prazo,
os rácios existências/ativo circulante, a rotação da tesouraria, ativo/capital próprio, fluxo de
caixa operacional/ativo médio total, vendas/capitais permanentes e resultado
operacional/capitais próprios são estatisticamente significativas na explicação da rentabilidade
semestral das ações. Com a inclusão de duas variáveis de natureza macroeconómica no modelo,
a qualidade de ajustamento do modelo melhora consideravelmente, uma vez que as variáveis
que têm em consideração o câmbio e a inflação também são estatisticamente significativas, com
efeito negativo e positivo, respetivamente, na explicação da rentabilidade semestral das ações
das empresas.
8 A rentabilidade residual define-se como a diferença entre a rentabilidade real e a rentabilidade esperada.
9 A data ex-dividendos corresponde à data a partir da qual uma ação perde o direito a dividendos, ou seja, os detentores de ações da empresa à entrada desse dia passam a ter direito a receber o dividendo declarado pela empresa.
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Com o objetivo de analisar a relevância de variáveis contabilísticas da empresa na
rentabilidade das suas ações e se a inclusão destas num modelo que previa apenas a medida de
risco beta como variável independente leva a uma melhoria na qualidade do ajustamento,
Requejo (2000) realizou um estudo cuja base de dados foi um painel de empresas cotadas no
mercado de capitais espanhol no período de 1993 a 1998. Da sua análise, concluiu que as
variáveis beta, tamanho da empresa, dada por uma variável dummy que identifica a que quartil
pertence a empresa segundo o seu volume de atividade, e o rácio book-to-market são
estatisticamente significativos na explicação da rentabilidade anual das ações das empresas,
apresentando todas estas variáveis coeficientes de correlação com sinal positivo. A análise
econométrica também permitiu concluir que o modelo melhora a sua capacidade explicativa
quando se consideram, para além do beta dos títulos, outras variáveis contabilísticas específicas
da empresa.
Garcia e Rueda (2002) desenvolveram um estudo empírico cuja amostra incidia sobre
177 empresas não financeiras cotadas na Bolsa de Valores de Madrid no período de 1985 a 2000.
Através do seu estudo, concluíram que, para a amostra de empresas estudada, existia uma relação
positiva entre os indicadores Price to Book Value e rentabilidade financeira das empresas e uma
relação negativa entre a rentabilidade financeira e o risco de mercado, medido pelo coeficiente
beta.
Com o objetivo de obter conclusões acerca da existência ou não de uma relação entre
os resultados de uma empresa, medidos através de rácios de tipo económico-financeiros ou de
mercado e o preço de mercado das ações das empresas cotadas no IBEX 35
10a 31 de Dezembro
de 2010 – a variável dependente é o preço de fecho das ações das empresas nesse dia – Villar et
al. (2010) desenvolveram uma investigação que lhes permitiu concluir que a variável de natureza
económico-financeira rentabilidade económica é estatisticamente significativa na explicação do
preço de mercado das ações das empresas do IBEX 35, tendo um efeito positivo sobre o
mesmo. De igual modo, as variáveis de mercado valor contabilístico da ação e o rácio PER
explicam o comportamento do preço de mercado das ações, apresentando o seu coeficiente de
correlação um sinal positivo.
Na Tabela 3, apresentamos uma síntese das conclusões dos estudos empíricos revistos
que versam sobre o mercado de capitais espanhol.
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Tabela 3 – Determinantes do preço de mercado das ações – resumo da evidência empírica no mercado espanhol
Autores Ano Conclusões
Rubio
Domínguez
1988
1991
Variável dimensão explica de forma relevante o comportamento da
rentabilidade das ações.
Relação de causalidade entre a cotação das ações e o resultado
financeiro, rentabilidade económica e financeira e estrutura de
endividamento das empresas.
Cabestre e
Escuer
Gisbert
e Inchausti
Requejo
Garcia
e Rueda
Villar et al.
1996
1997
2000
2002
2010
Pagamento de dividendos afeta, em média, de forma positiva, o
comportamento dos preços das ações.
Rácios de endividamento a longo prazo, existências/ativo
circulante, rotação da tesouraria, ativo/capital próprio, fluxo de
caixa operacional/ativo médio total, vendas/capitais permanentes
e resultado operacional/capitais próprios, câmbio e inflação são
estatisticamente significativas na explicação da rentabilidade
semestral das ações das empresas.
Variáveis beta, tamanho da empresa, dada por uma variável dummy
que identifica a que quartil pertence a empresa segundo o seu
volume de atividade, e o book-to-market são estatisticamente e
positivamente significativos na explicação da rentabilidade anual
das ações das empresas.
Evidência de relação positiva entre os indicadores Price to Book
Value e rentabilidade financeira das empresas e uma relação
negativa entre a rentabilidade financeira e o risco de mercado,
medido pelo coeficiente beta.
Variável rentabilidade económica é estatisticamente significativa na
explicação do preço de mercado das ações das empresas do IBEX
35, tendo um efeito positivo sobre o mesmo. De igual modo, as
variáveis valor contabilístico da ação e o rácio PER explicam o
comportamento do preço de mercado das ações, apresentando o
seu coeficiente de correlação um sinal positivo.
Fonte: Elaboração própria
No documento
DETERMINANTES DO PREÇO DE MERCADO DAS AÇÕES DAS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS COTADAS NO MERCADO DE CAPITAIS PORTUGUÊS
(páginas 34-37)