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6.1 Pró-Letramento Matemática: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Matemática

A produção deste texto que apresenta a reconfiguração do programa Pró-Letramento Matemática está baseada em documentos oficiais do Ministério da Educação. Procura evidenciar a estrutura bem como os objetivos do programa, destacando o modo como foi pensado e elaborado, sua organização e o caminho percorrido até que se tornasse uma política de formação do Ministério da Educação do governo brasileiro.

O Programa Pró-Letramento, direcionado a todos os professores que estão em exercício, nos anos iniciais (1.º ao 5.º ano) do Ensino Fundamental das escolas públicas, foi criado em 2005 pelo Ministério da Educação (MEC) como mais uma ação que se integra ao Programa de Ações Articuladas (PAR) do governo federal, tendo como meta a melhoria da qualidade de ensino. Surgiu como um programa de formação continuada de professores cuja intenção principal era dar suporte aos docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas áreas de Língua Portuguesa (Alfabetização/Linguagem) e Matemática e, embora tenha dado prioridade, de início, à formação de professores em estados e regiões cujos indicadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)50 estavam abaixo do considerado adequado. Atualmente, já foi implementado na maior parte dos estados brasileiros, atingindo boa parte dos professores que atuam nessa etapa escolar.

6.1.1 Objetivos e estrutura do programa

Desenvolvido pelo MEC em parceria com as universidades que integram a Rede Nacional de Formação Continuada, o Pró-Letramento conta ainda com o apoio e adesão das secretarias de educação dos estados e municípios que disponibilizam profissionais de seus quadros para as funções de coordenador e tutor, além organizar e acompanhar o seu desenvolvimento.

50 O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), coordenado pelo Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), foi implantado em 1990 e reformulado em 1995, e seu objetivo é de produzir informações sobre o desempenho da educação básica em todo o país. É aplicado de dois em dois anos e por meio de uma amostra probabilística, busca avaliar alunos matriculados nos anos finais dos Ensino Fundamental I e II e do Ensino Médio de escolas públicas e particulares, rurais e urbanas.

Diante do exposto, temos que a estrutura organizacional geral do programa, a qual procura funcionar de maneira integrada, se configura do seguinte modo:

• o Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Básica (SEB) e da Secretaria de Educação a Distância (SEED), é o órgão que elabora as diretrizes, define os critérios para organização dos cursos e a proposta de implementação, é dele também a responsabilidade de garantir os recursos financeiros para a elaboração e a reprodução dos materiais e a formação dos orientadores/tutores;

• as Universidades, por meio dos Centros de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação, são responsáveis pelo desenvolvimento e produção dos materiais para os cursos, pela formação e orientação do professor orientador/tutor, pela coordenação dos seminários previstos e pela certificação dos professores cursistas;

• e os Sistemas de Ensino, por meio de adesão das Secretarias de Educação, têm a função de coordenar, acompanhar e executar as atividades do programa.

De acordo com informações disponíveis na página do MEC, para fazer a adesão, o dirigente municipal de educação deve ter acesso ao Plano de Ações Articuladas (PAR) do município no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec)51. Municípios que já participaram do programa e que pretendem atender mais professores, também podem fazer sua adesão.

Contando com esse comprometimento dos estados e municípios, o governo federal, mediante esse programa de formação, prevê a formação de cem mil docentes a cada semestre e tem por objetivo, fornecer formação contínua a todos os professores do Ensino Fundamental I (anos iniciais). Isso tendo em vista as sete medidas a serem tomadas pelo Brasil até 2022 vislumbrando o país, em termos educacionais, no mesmo nível de países desenvolvidos.

Trata-se de um curso semipresencial, cuja duração é de, aproximadamente, 8 (oito) meses [cada um dos cursos, Alfabetização/Linguagem e Matemática], a carga horária é de 120 horas, sendo 84 horas de atividades presenciais e 36 horas de atividades a serem desenvolvidas na modalidade a distância. As secretarias de educação têm autonomia para organizá-lo do modo que considerar mais adequado e embora algumas realizem o

51 Mais informações nesse sentido podem ser obtidas em http://simec.mec.gov.br/ especificamente no

link Sistema PAR – Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação, o qual permite a captação do diagnóstico e definição do plano de ações articuladas de cada estado, on-line.

planejamento do calendário letivo prevendo a saída desses docentes para a formação, geralmente, o curso é desenvolvido fora do horário de trabalho dos professores.

Segundo alguns coordenadores que participaram da formação do Programa, a recomendação do MEC era a de que os professores fossem retirados das turmas para realizarem os cursos, como relatam os gestores que coordenaram o programa no município de Duque de Caxias – RJ.

Há uma série de municípios que, como o nosso, considerou que seria benéfico se fosse estabelecida alguma bolsa aos cursistas, uma vez que a recomendação do MEC era que os professores fossem retirados das turmas para realizarem os cursos, mas não houve como fazer, não havia estratégias para solucionar a questão52.

De acordo com a coordenação do programa e conforme é apresentado no guia do curso, o Pró-Letramento tem por objetivo:

• oferecer suporte à ação pedagógica dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, contribuindo para elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática;

• propor situações que incentivem a reflexão e a construção do conhecimento como processo contínuo de formação docente;

• desenvolver conhecimentos que possibilitem a compreensão da matemática e da linguagem e seus processos de ensino e aprendizagem;

• contribuir para que se desenvolva nas escolas uma cultura de formação continuada; • desencadear ações de formação continuada em rede, envolvendo Universidades, Secretarias de Educação e Escolas Públicas dos Sistemas de Ensino.

Como o foco da pesquisa está centrado na formação contínua em matemática, passamos agora a analisar o programa Pró-Letramento especificamente no que diz respeito à esta área do conhecimento, embora seja relevante destacar que não é permitido a participação do município em apenas uma área de formação, ou seja, ao se inscrever, o professor deverá participar dos dois cursos: Alfabetização/Linguagem e Matemática.

O programa Pró-Letramento Matemática, foi coordenado por 5 (cinco) Centros de Formação Continuada em Educação Matemática e Científica da Rede Nacional de Formação

52 Relato obtido e publicado por SANTOS, S. R. M. (2008), no artigo “A Rede Nacional de Formação

Continuada de Professores, o Pró-letramento e os modos de “formar” os professores”. Práxis Educativa, v. 3, p. 146, em entrevista concedida pelos coordenadores do programa no município de Duque de Caxias – RJ.

Continuada, todos eles vinculados a uma universidade. São elas: Universidade do Rio dos Sinos (UNISINOS), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ). Foram também esses cinco centros de formação que produziram o material utilizado no programa e promoveram a formação dos tutores.

O material utilizado é único para todo o território nacional. Composto por impressos e vídeos, está organizado em 8 (oito) fascículos. A saber:

Fascículo 1 – Números Naturais. Produzido pelo centro da Universidade Federal do Rio de Janeiro;

Fascículo 2 – Operações com Números Naturais. Produzido pelo centro da Universidade Federal do Rio de Janeiro;

Fascículo 3 – Espaço e Forma. Elaborado pelo centro da Universidade do Vale do Rio dos Sinos;

Fascículo 4 – Frações. Produzido pelo centro da Universidade Estadual Paulista; Fascículo 5 – Grandezas e Medidas. Produzido pelo centro da Universidade Estadual Paulista;

Fascículo 6 – Tratamento da Informação. Produzido pela Universidade Federal do Espírito Santo;

Fascículo 7 – Resolver problemas: o lado lúdico do ensino da Matemática. Produzido pela Universidade Federal do Pará; e

Fascículo 8 – Avaliação da aprendizagem em Matemática nos anos Iniciais. Produzido pela Universidade do Rio dos Sinos.

O material do programa foi distribuído para todas as escolas do Brasil no ano de 2007 e para todas as Secretarias de Educação no ano de 2008.

Os atores fundamentais, segundo o guia do Pró-letramento, que desencadeiam e executam as ações do programa são:

- Coordenador Geral do Programa: deve ser, de preferência, um profissional da

Secretaria de Educação, responsável pela organização do Programa no município e pela articulação entre o tutor e a Secretaria de Educação;

- Professor Orientador de Estudos/Tutor: deve ser professor efetivo do município, que

recebe a formação das Universidades e trabalha com, no máximo, duas turmas. Sua indicação é feita pela Secretaria de Educação e deverá ser pautada em sua experiência profissional e formação acadêmica. Este ator é peça-chave no projeto, pois ele será o articulador entre as Universidades e os cursistas.

- Professor Cursista: deve ser professor dos anos iniciais do ensino fundamental (1ª a

4ª série ou 1.º ao 5.º ano), que esteja atuando em sala de aula e que tenha se inscrito no curso.

- Formador de Professor Tutor: é vinculado à universidade parceira, responsável pela

formação. (BRASIL, 2010, p. 2)

Merece destaque a figura do tutor, que de acordo com as normas do programa deve ser um professor ou coordenador pedagógico concursado da rede pública de ensino com formação em nível superior (pedagogia, letras ou matemática) ou com curso normal (magistério, nível médio). Sua formação para atuar como tutor tem carga horária inicial de 40 horas e se dá por meio de seminários realizados em cinco dias de encontro por professores formadores do Centro de Formação Continuada responsável pelo programa na respectiva região. De acordo com o documento em apreço, “os tutores têm participação obrigatória. A partir destes seminários o tutor estará apto a iniciar a formação de cursistas em seu município” (Brasil, 2010, p. 3). E prossegue:

Durante o trabalho, em um período que dura de seis a oito meses, serão realizados dois seminários de acompanhamento junto com as Universidades Formadoras. Esses encontros têm por finalidade o acompanhamento do trabalho realizado pelos tutores, pelas universidades, esclarecimentos de dúvidas dos tutores quanto aos cursos ministrados e continuação da formação iniciada nos encontros anteriores. (Brasil, 2010, p. 3)

Os seminários de acompanhamento, têm duração de 28 horas e são realizados em três dias e meio de encontro. Ainda com relação aos tutores, a parte final de sua formação constitui-se de um Seminário de Avaliação Final do Programa. Neste seminário os tutores apresentam os trabalhos realizados e fazem a entrega dos relatórios finais. É realizado em 3 dias de encontro e tem carga horária total de 24 horas/aula.

6.1.2 A dinâmica das ações desenvolvidas no âmbito do programa

As turmas de professores cursistas são compostas por, no máximo, 25 docentes e cada tutor pode trabalhar com até duas turmas.

A sugestão do MEC é que as atividades dos cursos sejam desenvolvidas da seguinte forma: 4 horas semanais totalizando 21 encontros, ou 8 horas quinzenais totalizando 10 encontros, mais um encontro de 4 horas.

Após a realização do curso em Matemática ou Língua Portuguesa, há um revezamento de áreas entre os professores cursistas. A partir da estrutura montada, os professores cursistas

que fizeram o curso de Matemática poderão fazer também o de Alfabetização e Linguagem e vice-versa. Ainda com esse enfoque, o guia destaca que “caso tenha interesse e disponibilidade para desenvolver as tarefas solicitadas, o professor tutor de Matemática poderá participar como cursista no curso de Alfabetização e Linguagem e vice-versa, na fase do revezamento” (Brasil, 2010, p. 4). Embora estejamos interessados no programa quanto às suas especificidades no que diz respeito à disciplina de matemática nos parece relevante tais informações, pois aqui nos permite fazer inferências interessantes acerca do tutor.

Com relação ao desenvolvimento das atividades o guia de orientações da disciplina de matemática, prevê discussões desenvolvidas a partir de pequenos grupos, enfatizando principalmente, “o saber pedagógico dos professores cursistas e, sempre que se fizer necessário, utilizar de literatura específica para avançar nos conhecimentos da disciplina e da metodologia” (Brasil, 2007a, p. 9). É destacado, ainda, que é necessário que o cursista “expresse oralmente e por escrito as inquietações e os sucessos de sua prática pedagógica”, constituindo uma “comunidade de aprendizagem em rede, sob os princípios da cooperação, do respeito e da autonomia, que constituem os princípios de um grupo de estudos” (p. 9).

De modo geral, as atividades desenvolvidas no curso se subdividem em duas seções: uma na qual é realizada presencialmente com o grupo de professores e outra que é realizada a distância. Esta última pode ou não incluir o planejamento e aplicação de propostas didáticas pelo professor e envolve a realização de tarefas.

A realização dessas tarefas, devem ser registradas pelo cursista e apresentada no próximo encontro presencial, para que possa ser discutida com os demais colegas, sob a orientação do tutor.

É pretendido que cada fascículo seja estudado, quinzenalmente, nos encontros de oito horas, no mesmo dia, ou dois encontros de quatro horas em dias seguidos da semana (Brasil, 2010). Esses encontros presenciais privilegiam, além do estudo dos fascículos, discussões acerca de questões colocadas em pauta pelos próprios cursistas, que procuram socializar as atividades desenvolvidas em sala de aula com seus alunos sobre os conteúdos e conceitos trabalhados a partir do material do curso.

De acordo com o manual do tutor, nesses encontros presenciais, é desejável que haja também uma reflexão do modo como essas atividades foram colocadas em prática e quais resultados foram obtidos, buscando soluções compartilhadas para os problemas apresentados, para isso, o cursista deve fazer registros durante suas aulas, que devem ser levados para o encontro presencial. Segundo as orientações do programa, disponível no guia do curso, isso

configura-se como a construção do percurso de estudos. Por fim, busca-se, a partir dessa reflexão, planejar futuras ações.

A avaliação dos cursistas bem como dos tutores, são realizadas a partir dos seguintes critérios:

 frequência aos encontros presenciais;

 realização satisfatória das tarefas previstas em cada fascículo;

 autoavaliação do professor, considerando o percurso durante o Pró-Letramento, as contribuições do curso e as mudanças em sua prática pedagógica.

Por fim, o certificado é emitido pelas Universidades Formadoras tanto para os professores orientadores de estudos (tutores) quanto para os professores cursistas.

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