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BRASIL Nº DE PESSOAS EM MANIFESTAÇÕES X Nº DE FAMÍLIAS ASSENTADAS 2000

movimentos territoriais e manifestações como categorias de análise.

GRAFICO 13- BRASIL Nº DE PESSOAS EM MANIFESTAÇÕES X Nº DE FAMÍLIAS ASSENTADAS 2000

Nº de pessoas em manifestações N° de famílias assentadas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Ano 200000 250000 300000 350000 400000 450000 500000 550000 600000 650000 N º de pe ss oa s em m a ni fe st aç õe s 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 N ° de f am íl ias as se nt ad as

Pelo Gráfico 13, observa-se que, em muitos momentos, não existe uma sincronia entre o número de pessoas em manifestações e o número de famílias assentadas, principalmente no ano de 2007 e no período de 2011 a 2013, quando o número de manifestações foi proporcionalmente bem superior ao número de famílias assentadas.

Tabela 10 - Correlação entre o número de pessoas em manifestações com o número de famílias assentadas no Brasil entre 2000 e 2013.

Relações Valor de r Tipo de correlação Valor do teste t Valor da probabilida de Número de pessoas em manifestações x Número de famílias assentadas 0,252310 Positiva 0,903249 0,384167 *

Analisando os resultados apresentados na Tabela 10, observa-se que, para o período avaliado, existe uma correlação positiva fraca (valor de r próximo a zero) entre o número de pessoas em manifestações e o número de famílias assentadas, comprovada pelo valor de t (valor não significativo para t), o que permite concluir que existe uma relação numérica fraca entre as duas variáveis, ou seja, quando aumenta o número de pessoas em manifestações, nem sempre de um modo geral aumenta o número de famílias assentadas. Nos anos de 2004, 2007 e 2011 fica muito claro essa constatação (Gráfico 13). Um dos prováveis motivos é que muitas manifestações são levantadas pelos próprios assentados, como as manifestações por créditos, infraestrutura, entre outras.

Após 2007, ocorreu certo equilíbrio no número de manifestações até 2010, que de certa forma é explicado pelo equilíbrio político econômico no Governo Lula até 2010. A partir de 2011, ocorreu certa inércia no governo Dilma em relação ao cumprimento de uma agenda de resolução dos problemas dos camponeses. Assim, observa-se um crescimento rápido das manifestações, atingindo em 2014 o número recorde de mais de 1.000 manifestações.

Porto-Gonçalves e Cuin (2015), analisando uma série de dados sobre manifestações do campo, afirmam que há uma questão (da reforma) agrária abertamente colocada no Brasil e que, mais que um slogan político-ideológico, a questão (da reforma) agrária grita no campo e está sendo reconfigurada, mas mantém a essência da questão agrária que é seu fundo territorial, isto é, a questão fundiária.

Assim, a luta pela terra continua viva, e o crescimento das manifestações nos últimos anos denuncia que as estratégias estão sendo reconfiguradas. Ainda que os números mostrem que o número de manifestações não leva ao assentamento de mais famílias, estas são essenciais para outras conquistas. A criação de assentamentos não é mais a única bandeira dos camponeses, assim como as ocupações também não são mais a sua única forma de pressionar o Estado - por isso a diversidade das manifestações. Na luta pela terra, a criação de assentamentos, ao invés de ser a solução dos problemas, passou a ser mais um problema em alguns casos.

Girardi e Fernandes (2008) comentam que os assentamentos significam uma nova etapa da luta: o processo pela conquista da terra. Complementam ainda que é necessário conquistar condições de vida e produção na terra; resistir na terra e lutar por outro tipo de desenvolvimento que permita o estabelecimento estável da agricultura

camponesa. Gonçalves (2014) também comenta sobre a necessidade de a luta continuar após a conquista do assentamento:

A luta pela terra e a conquista de um assentamento por um movimento social é uma dimensão da luta pela terra, mas não é a territorialização, pois o movimento social desaparece e se não existe o agente territorializador, não existe territorialização, que só é conseguida quando, na luta na terra, o movimento social continua atuante, gerando dinâmicas de organização da produção, como associações e cooperativas, organizando os camponeses rumo a uma autonomia e resistência às dinâmicas do mercado, na luta contra o capital agrocomercial e agroindustrial (GONÇALVES, 2014 p.10).

A criação de um assentamento não encerra totalmente a luta pela terra. Ao entrar na terra, surge uma série de novas demandas, e estas, às vezes, tornam-se mais difíceis de serem solucionadas que a própria conquista da terra, visto que em muitos casos ocorre uma retração na ação dos movimentos após a conquista da terra.

Fernandes (2014) denuncia que a luta não é mais somente pela terra, mas pelo território. A luta contra o capitalismo tem que ser por dentro do capitalismo, com construções de políticas efetivas para poder avançar, construindo experiências que permitam superar a relação capitalista. A luta hoje é anticapitalista, e quem luta contra o capitalismo não tem ainda elementos que permitam chegar em uma condição de superação. O mesmo autor cita que temos história e experiências que nos permitem pensar e construir essa condição. Então, da parte da produção, na parte da tecnologia, na parte da educação, há um conjunto de possibilidades que pode ser desenvolvido (FERNANDES, 2014).

Diante da conjuntura socioeconômica e política atual, é necessário lutar, mas não só pela terra, contra o capitalismo, que se territorializa em várias direções, por isso que a CPT (2013) hoje vai muito além do que a reforma agrária como campo de ação:

Anunciamos a reforma agrária, o reconhecimento dos territórios tradicionais, a soberania alimentar, hídrica e energética e a importância da educação do campo como solução sustentável e definitiva ao ameaçador negócio da água, da terra e da energia. Defendemos a soberania alimentar, hídrica e energética como direito dos povos e comunidades em definir autonomamente suas próprias políticas, estratégias e práticas sustentáveis de acesso e usos da terra, água e da energia, em condições suficientes à produção e reprodução e melhoria da vida, de acordo com suas formas e tradições (CPT, 2013).

Conclui-se, assim, que a luta pela terra é protagonizada pelos movimentos sociais, variando de intensidade em virtude da conjuntura socioeconômica e política do momento. As ocupações, enquanto estratégia de luta pela terra, mostraram-se mais eficientes que as manifestações quando correlacionadas ao número de famílias assentadas. Evidentemente devido as manifestações congregarem um público já assentado, manifestando por demandas para além da luta pela terra, da luta pela desapropriação de latifúndios improdutivos.

As manifestações têm aumentado consideravelmente entre 2001 e 2013 e são bem diversificadas, isso reflete um novo caráter para a luta pela terra. Existe uma ampliação dos objetivos: a luta hoje não é só pela terra, mas por uma conquista mais ampla do território, incluindo aí mais autonomia e menos subalternidade aos governos e seus aliados. O adversário nessa luta hoje é mais claro: o capitalismo, tendo no agronegócio a sua mais intensiva atuação no campo. Como o adversário ataca em várias frentes, a defesa também exige várias estratégias, por isso a diversificação das estratégias de luta pela terra.

Nossa estrutura fundiária evidencia que cabe um ―pedaço de terra‖ para todos que necessitam, mas o agronegócio e o Estado insistem em não democratizar o acesso à terra.

Os resultados da pesquisa indicam que um maior número de movimentos em atuação não implica necessariamente em mais conquistas (maior número de famílias assentadas): a atuação do movimento é quem qualifica os resultados. Nesse sentido, o MST continua como protagonista principal na luta pela terra; sua forma de atuar e sua espacialização o credenciam a esse posto.

Como no campo quase toda reação provoca uma ação, percebe-se que o Movimento dos Indígenas vem assumindo papel de destaque nos últimos anos. É uma resposta à investida dos latifundiários nas reservas indígenas. Diversos outros movimentos também têm lutado por suas bandeiras.

A luta pela terra na Bahia não se apresenta tão diferente da luta pela terra no Brasil. Ela apresenta a sua nova face: uma luta feita por movimentos variados, em conjunto ou isolados, e com estratégias variadas. Ainda que muitos não queiram enxergar, a luta continua e está viva.

1.2 A LUTA PELA TERRA EM ESPLANADA: um frei e a criação dos assentamentos rurais.

O município de Esplanada está localizado no Território Litoral Norte e Agreste Baiano (Mapa 8). Segundo dados do IBGE (2014), apresentou em 2014 uma população estimada em 36.369 habitantes, com uma área de unidade territorial de 1.297,978 km2 e densidade demográfica de 25,27 habitantes/km2.

Mapa 8 - Bahia, com destaque para o município