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Planta de localização do assentamento Fazenda Reunidas Boa Vista e outras dentro do município.

movimentos territoriais e manifestações como categorias de análise.

Mapa 16 Planta de localização do assentamento Fazenda Reunidas Boa Vista e outras dentro do município.

Esplanada-BA. 2015.

Fonte: INCRA, 2015.

Além do cultivo de produtos para o próprio consumo, exploram também a fruticultura com o maracujá e a laranja. É o único assentamento de Esplanada que não possui energia elétrica. Uma empresa de plantação de eucalipto não permitiu a passagem dos cabos de energia por uma de suas propriedades e isso tem dificultado a

chegada da energia ao assentamento. Nesse assentamento ainda não foi feito o parcelamento.

Mapa 17 - Planta do assentamento Fazenda Reunidas Boa Vista e outras. Esplanada-BA. 2015.

Fonte: INCRA, 2015.

Todos os assentamentos possuem escola de ensino fundamental e não apresentam problemas maiores com água, tendo em vista que o município é riquíssimo em córregos e rios. Todos os assentamentos não apresentam Plano de

Desenvolvimento do Assentamento (PDA), ainda assim, o Reunidas Palame e o São

Entende-se que a luta agora são por melhores condições dentro dos assentamentos. Ouvimos dos assentados muitas reclamações sobre o papel dos governos do município, do estado e principalmente do Governo Federal através do INCRA7. Em uma de nossas entrevistas, o assentado responde o que sente em relação ao papel do INCRA no assentamento:

Rapaz, é devagar. O INCRA é devagar. Falar a verdade, porque eu já andei muito ali pra aquele INCRA pedindo as coisas pros assentamentos e é devagar demais. É lento demais. A questão deles é que tem muitos assentamentos e não pode dar a todo mundo. E as coisa vão se agravando nos assentamentos. (ASSENTADO Nº 20, São Francisco, 2014).

Nota-se, de um modo geral, que a luta pela terra foi de certa forma mais tranquila do que a que normalmente ocorre em outros locais.

A CPT e principalmente o Frei Chico à frente da luta tornou esse processo pacífico. Hoje, sem o Frei à frente, percebe-se um enfraquecimento da luta pela terra e na terra. Os assentados ainda não conseguiram construir uma nova liderança. Eles até têm conhecimento dos seus adversários, pois em muitos momentos eles se referiam ao agronegócio como ameaça, porém sentem-se um tanto quanto fragilizados para o enfrentamento.

Procuramos a Igreja em Alagoinhas para colhermos informações sobre a participação da CPT em Esplanada após o afastamento do Frei Chico. Fomos informados que a Pastoral da Terra em Alagoinhas foi desativada e que o município de Esplanada seria agora assistido pela Pastoral localizada na cidade de Paulo Afonso, a mais de 300 km de distância.

De fato detectamos em nossas visitas que a CPT de Paulo Afonso tem prestado alguma assistência aos assentados, mas observamos também que o papel atual da CPT está muito distante do que era exercido pelo Frei Chico, inclusive alguns assentados mostraram-se insatisfeitos com a assistência nova da CPT. Uma das principais queixas foi que a CPT tem tratado as causas em conjunto com outros assentamentos de outros municípios, bem diferente do tratamento dado pelo Frei Chico, que tratava das causas de forma mais específica. Procuramos também lideranças do MST na região para saber sobre as mediações em Esplanada, e fomos informados que a situação de Esplanada

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ainda encontra-se indefinida. Desamparados, os camponeses de Esplanadas estão enfraquecidos na luta pela terra e na terra.

A CPT denuncia a existência de uma série de ameaças aos camponeses:

Denunciamos a expansão do agronegócio através das monocultoras do eucalipto, fruticultura irrigada, cana-de-açúcar etc., e hidronegócio, através da carcinicultura, e da atividade mineral, bem como a transformação da água, bem essencial e direito humano fundamental, em recurso econômico e privado. Esses empreendimentos são fomentados por investimentos públicos que têm intensificado a concentração fundiária, a superexploração dos trabalhadores e dos recursos naturais (água, terra, ar, minérios, florestas etc.), bem como a sua degradação, a violência física e simbólica promovida contra camponeses e camponesas, e, sobretudo, o comprometimento da soberania alimentar da população brasileira (CPT, 2013).

Figura 2 - Camponeses do assentamento Nova Esplanada, com o quadro de Frei Chico em mãos. 2014.

O município de Esplanada encontra-se em uma região altamente vulnerável, a sofrer boa parte dessas ameaças denunciadas pela CPT. Entende-se que os camponeses de Esplanada, sejam eles com terra ou sem terra, precisam se unir e se fortalecer para a continuidade da luta, seja ela pela terra e/ou na terra. A ausência do Frei Chico abre espaço para que outros protagonistas assumam o papel de mediador e liderança, e isso tem que ser rápido, pois o agronegócio não espera, tem pressa e se o caminho estiver livre ele se territorializa rapidamente.

Como veremos no próximo capítulo, a estrutura fundiária de Esplanada continua altamente concentrada e só não piorou devido à presença dos assentamentos, mas sejamos vigilantes, pois ainda cabe mais concentração.

A luta precisa continuar para que possamos ter uma sociedade mais igual, como deseja o Frei Chico. Esse desejo do Frei é muito bem explicitado pelo seminarista Gonçalves, quando perguntado se já havia participado da manifestação ―Grito dos Excluídos‖ com Frei Chico à frente:

Por três vezes! Sentia ali uma energia tão grande, uma espécie de marcha para libertação das amarras da opressão da pobreza, da Páscoa do povo de Deus para um único objetivo: denunciar a opressão, a injustiça social, a discriminação e exclusão do pobre, dos seus direitos. Era uma espécie de manifestação que alimentava as forças daquele povo humilde e sofrido e a figura emblemática franzina do Frei Chico, no meio da multidão, com o megafone, cantando (…Irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra e um novo mar, e nesse dia os oprimidos uma só voz a liberdade irão cantar, na nova terra o negro não vai ter corrente, e o nosso índio vai ser visto como gente, na nova terra o negro o índio e o mulato, o branco e todos vão comer no mesmo prato...) e citando palavras de ordem e passagens do Evangelho contra todo tipo de discriminação e opressão.

CAPÍTULO 2

A CONCENTRAÇÃO DE TERRAS NO