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3. Histórias Naturais

3.3. Brasil, Portugal e um debruçar sobre as ciências naturais

A divulgação das produções científicas por meio dos periódicos e livros no século XVIII cresceu assustadoramente, haja vista aquela que ficaria famosa como a Enciclopédia Iluminista, “L’Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné Des Sciencies, Des Arts et Des Métiers”27, que sob pretextos bem dissimulados, não lograva esconder a base epistemológica de um contínuo ataque às velhas ortodoxias ou velhas cosmologias. Entre os colaboradores estavam as inteligências revolucionárias da época, contribuindo com seus conhecimentos ou especialidades, eram eles: Voltaire e Condorcet (Filosofia), Rousseau (Música), Buffon (Ciências Naturais), D’Alembert (Matemáticas), D’Hobach (Outras Ciências), Quesnay e Turgot (Economia) entre outros. Diderot era responsável pela coordenação geral e verbetes de História da Filosofia.

Detemo-nos, portanto, no século XVIII, século de grandes produções científicas, identificando-o com o próprio conhecimento válido, derivado das faculdades mentais, o que em certo grau estava em oposição ao pensamento que até então fora proposto pela Igreja e pelo Estado. A efervescência das conquistas filosóficas iluministas que percorriam a Europa, também influenciaram as Ciências Naturais Portuguesas, porém , em 1764, sob a administração centralizadora do

27“L’Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné Des Sciencies, Des Arts et Des Métiers”: Enciclopédia

Iluminista: Indexada em 1759, legitimada por um total de 28 volumes, 71.8181 e 2.885 pranchas. Já na página de rosto proclamava a pretensão da obra: “Dicionário Raciocinado das Ciências, das Artes e dos Ofícios”. Com uma trajetória de denuncias a Enciclopédia parecia estar com os dias contados, contudo devido o alto investimento de seus editores que agiam com rapidez, revelou-se um sucesso, tendo suas vendas impelidas justamente por aquilo que fizera o governo confiscá-la. “Ela desafiava

os valores tradicionais e as autoridades constituídas do Antigo Regime” DARNTON, Robert. O Iluminismo como Negócio: História da publicação da Enciclopédia, 1775-1800. São Paulo: Cia das

Marques de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo28 (1751-1777), se projetam algumas reformas na área da educação e da cultura, não sem dificuldades, diga-se de passagem, uma vez que dentro do despotismo esclarecido, algumas decisões poderiam colocar em risco o Estado absolutista – comprovam-no a desarticulação das escolas jesuíticas no Brasil e Portugal. Não obstante, as questões políticas conservadoras, as reformas do ensino primário, secundário e universitário foram levadas a efeito por Pombal. Para a cadeira Universitária de Coimbra indicou um italiano, Domenico Vandelli, um doutor da Universidade de Pádua e correspondente de Linnaeus.

A Administração do Ministro dos Assuntos Exteriores e da Guerra assumido por Sebastião José de Carvalho e Melo, em 1750, no reinado de D. José I, impôs a Portugal uma série de reformas. Emblemática figura, o Marquês de Pombal,

28 Sebastião José de Carvalho e Melo – Marquês de Pombal -, nascido em 1699, com origem de

pequena nobreza e formação em leis, foi o Principal ministro no reinado de D. José (1750-77). Retorna de Londres para Portugal em 1749, - onde exercia a função de delegado do governo português -, no momento que se cogitava uma significativa debilidade da máquina administrativa com uma articulação da Coroa, para ascensão de D. José - uma vez que o rei D. João V encontrava-se enfermo. Quanto a debilidade administrativa, tornou-se a maior preocupação do Marquês, urgia uma reorganização antes que Portugal fosse absorvido por alguma das potências que competiam no cenário europeu. Embora não dispusesse de experiência, inspirou-se no absolutismo francês do reinado de Luís XIV (1715), um período cujo brilho ainda encontrava-se na memória de toda Europa. Com isso o Marquês de Pombal, toma as seguintes iniciativas: a ampliação da base financeira da monarquia com uma política de maior arrecadação fiscal, uma contribuição do mercantilismo seguindo os critérios de expansão do comércio da marinha, além de aumentar a produção agrícola e investir na manufatura, no campo da Ciência, a fundação do Real Colégio dos Nobres (1761). Governou com Mãos de ferro e por ocasião do terremoto que deixou Lisboa sob escombros (1755), revestiu-se da energia e ambição que o acompanhou até a morte do soberano. Com atitudes muitas vezes considerada despótica e insensível, como por exemplo, a execuções em praça pública de famílias conceituadas, sob acusação de conspirar atentado contra D. José I, a competição política da Coroa com a Igreja, resultando numa campanha contra a Companhia de Jesus que culminou com a expulsão dos Jesuítas ou empenhando-se em desfazer as tradições de Portugal com intimidação da alta nobreza, uma postura política que durante muitos anos, com prejuízo, a historiografia analisou sob um prisma maniqueísta. Como pode-se avaliar, Portugal pombalino teve que se sujeitar em grande medida às conjunturas do período. Com a morte de D. José I (1777), sua filha Dona Maria I assume e imediatamente afasta o Marquês de Pombal, que termina seus dias desterrado. (VAINFAS; 2000, p. 377-79).

segundo algumas leituras, de 1750 a 1777, como grande representante do despotismo esclarecido, teria ele efetivamente governado Portugal. Qualquer que seja a interpretação que lhe é dada: despótico, filósofo inexperiente ou tirano maluco, para Maxwell (1996), o Marquês seria um entre tantos defensores do absolutismo na Europa no século XVIII que pretendeu propagar a luz da filosofia da moderna ciência e ao mesmo tempo assegurar o poder centralizado do despotismo, embora em Portugal a prática aparecesse sob o signo do aparato censório.

O descortinar da liberdade com possibilidades de ascender a uma felicidade na terra, acenada pela ética das luzes impulsionou o estudo das ciências. A edificação do paraíso celeste era utopia que podia ser ajustada ao pragmatismo das reformas do nascimento da Ciência Moderna. Não por acaso, a ênfase no renascimento científico para estudos das ciências naturais a partir da segunda metade do século XVIII. Aos homens de ciência ou curiosi foi dada a responsabilidade de construir o paraíso terreal por meio dos inventos, descobertas que proporcionassem o bem estar social.

Em 1783, por exemplo, chegava à Amazônia, a primeira expedição – considerada cientifica –, enviada pela Coroa Portuguesa e que era dirigida pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, este doutorado pela Universidade de Coimbra, na qual fazia parte da primeira turma da Reforma Universitária de Pombal29.

29 Em 1764, sob a administração centralizadora do Marquês de pombal, Sebastião José de Carvalho

e Melo (1751-1777), projetaram-se algumas reformas na área da educação e cultura, não sem dificuldades, diga-se de passagem, uma vez que dentro do despotismo esclarecido, algumas decisões poderiam colocar em risco o Estado absolutista – comprovam-no a desarticulação das escolas jesuíticas no Brasil e Portugal. Não obstante as questões políticas conservadoras, as

Do mesmo período e formação e com as mesmas intenções dadas pela Filosofia Natural científica da Reforma, José Bonifácio de Andrada e Silva, reconhecido quase sempre pela sua atuação de político e geólogo mineralogista, escreveu em 1823, Memória sobre a pesca das Baleias (Silva: 2002) em cuja análise discute o aproveitamento da mesma para a extração do azeite como combustível, seu trabalho assinala a preocupação com a caça predatória que não respeitava os períodos de procriação (Figueirôa: 2000). E não menos científico o autor da Flora Fluminensis (1790), o franciscano Frei José Mariano da Conceição Vellozo, ressaltou a importância do seu trabalho resultante de uma expedição que por oito anos inventariou a flora da serra e litoral da Mata Atlântica do que é hoje o Rio de Janeiro, reunindo mil seiscentos e quarenta espécies, classificando-as a partir do Sistema Naturae de Linnaeus (Vellozo: 1999).

Contudo, a propagação das luzes da filosofia da Moderna Ciência em Portugal ou na Colônia estivera nesse período sob o aparato censório, conforme mencionado inicialmente e, muitos trabalhos produzidos à época, inclusive de alguns dos cientistas citados, não foram levados ao lume da publicação, assim como outros tantos que produzidos desde o início do século XVIII tiveram o mesmo destino. Deve-se ressaltar que, conquanto a política portuguesa fosse de sigilo, a Europa não desconhecia ‘aquelas’ terras. No início do século XVI, Giovanni Battista Ramusio na obra Della Navegattioni e Viaggi (1556), publicou uma carta de Gonzalo Fernandez Oviedo, contando as façanhas de Francisco Orellana através do que chamou o Rio das Amazonas. E o que não dizer das diversas regiões do Brasil colonial? Estas

Reformas dos cursos primário, secundário e universitário foram levados a efeito por Pombal. Para a reforma Universitária de Coimbra foi indicado o italiano Domenico Vandelli, um doutor da

terras de além-mar já vinham sendo percorridas por muitos olhares curiosos. Do século XVI temos: Pero Magalhães Gandavo e o Tratado da Terra do Brasil; Fernão Cardim e Tratados da Terra e Gente do Brasil; André de Thevét e As Singularidades da França Antártica; Jean de Léry e a Viagem a Terra do Brasil. Do século XVII a permanência dos holandeses no Brasil (1636-1661), sob a autoridade intelectual de Johan Maurits von Nassau-Siegen30 [até 1644] e o registro do autor de Diálogos das Grandezas do Brasil, Ambrósio Fernandes Brandão. Do século XVIII o franciscano Frei Antonio de Santa Maria do Jaboatão, os jesuítas André João Antonil e João Daniel e o advogado licenciado José Barbosa de Sá, para citar alguns dos muitos viajantes e cronistas que se debruçaram sobre a História Natural.

Referimo-nos apenas aos mais conhecidos cuja contribuição nas descrições do Brasil até o século XVIII é inegável. Evidentemente muitos trabalhos ou obras foram cercados de sigilo, como é o caso da obra Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas31 que, publicada em 1711, foi recolhida pela censura e os

Universidade de Pádua, Cátedra de História Natural e correspondente do sueco Carl von Líneo [Linnaeus] (Santos:2001).

30 Em 1631 a administração da Companhia das Índias Ocidentais, ordenara o mapeamento da costa

do Rio Grande até o Recife. Sob o comando do Almirante Jan Cornelisz Lichthard os trabalhos tiveram andamento até 1637 para serem concluídos. O levantamento formou o núcleo de uma coletânea de 56 mapas confeccionados por Johannes Vingboons, estes quando enfileirados formavam um mapa de delineamento da costa com mais de oito metros de comprimentos - atualmente se encontram na biblioteca do Vaticano, em Roma. Contudo, Johan Maurits von Nassau- Siegen, estimulou aos cientistas e artistas a irem além dos registros geográficos do território, com entusiasmo que os direcionavam as riquezas que representavam a flora, a fauna e as etnias do Brasil. Desta forma destacaram-se Willem Piso médico de Amsterdã que muito se interessaria pela medicina colonial, e Georg Marcgrav naturalista alemão, de seus relatos resultou a obra Historiae

Naturalis Brasiliae, editada pela primeira vez em 1648, nela as descrições fogem de qualquer

imaginário ou fábula, despindo-se de toda fantasia. Quanto à parte artística, ficou a cargo dos pintores Albert Eckhout e Frans Post, cujo trabalho registrou a rica Natureza dada a conhecer no

Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae (Teixeira: 1995). Registra-se através da permanência dos

holandeses no nordeste do Brasil um legado pré-científico, ocorrida no século XVII.

31 O jesuíta italiano Giovanni Andreoni escreveu a obra Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas

e minas sob o pseudônimo de André João Antonil, publicando-a em 1711, em Lisboa. Embora

devidamente licenciado, logo após sua publicação a Coroa Portuguesa ordenou que se recolhesse a obra e a destruísse. Consideraram-na portadoras de importantes informações sobre as riquezas do

exemplares confiscados e queimados. Tratava-se da velha política de sigilo cultivada e cultuada desde o Infante D. Henrique no século XV. Como nação pequena, Portugal – não sem razão – temia as investidas de outras potências estrangeiras, mesmo porque, até o momento que a obra de Antonil noticia as riquezas da colônia de além-mar, algumas tentativas de se apossarem da Colônia ou parte dela foram intentadas por diversas vezes32. Com a Restauração – fim da União Ibérica – Portugal permaneceu com os mesmos cuidados e preocupação em relação aos registros e/ou conhecimentos da natureza [riquezas] da sua colônia.

Mas, independentemente das medidas administrativas da metrópole em relação à Colônia brasileira, muitas informações cruzaram o Atlântico. E não menos que as informações que da colônia tomaram rumos à Europa, de Portugal, os conhecimentos iluministas de alguma forma tiveram sua influência no pensamento luso-brasileiro. O padre Luís Vieira da Silva33, graduado pelo Colégio Jesuíta em São Paulo, destacou-se entre os conjurados mineiros pela sua instrução e eloqüência, sendo considerado por alguns historiadores “a maior ilustração colonial da época” ou seja, de relevante instrução em fins do século XVIII

Brasil, em especial a descrição dos caminhos das minas recém descobertas que podiam chegar ao conhecimento dos estrangeiros. Não por acaso, o autor já se escondera sob um pseudônimo.

32 O Brasil como colônia portuguesa foi invadido por intenções estrangeiras de exploração em

diversos momentos. No século XVI, os franceses com a tentativa de fundar a França Antártica no Rio de Janeiro e a França Equinocial no Maranhão; no século XVII, Pernambuco – região de riqueza açucareira – foi tomado de assalto pelos holandeses que, permaneceram por 30 anos. E o que não dizer das questões do Prata do Sul que adentraram o século XIX ou ao Norte as demarcações que se sucederam ao fim da União Ibérica com as fortificações e/ou aldeamentos indígenas através das reduções missionárias das Ordens religiosas estabelecendo as ‘fronteiras vivas’ para a formação da unidade geopolítica do que seria o Brasil e de resto a Amazônia com seu emaranhado de vegetação – flora e fauna – inóspita ao visitante, ao retardar o processo das invasões fez sua parte.

33 Luís Vieira da Silva nasceu no arraial da Soledade, capela filial de Congonhas do Campo, a 20 de

fevereiro de 1735. Aos quinze anos entrou para o seminário de Mariana onde permaneceu por dois anos, graduou-se em Filosofia e Teologia Moral, nos Colégio dos Jesuítas em São Paulo. Recebeu todas as Ordens do bispo D. Frei Manuel da Cruz e antes do sacerdócio exercia o magistério no Seminário Episcopal de Mariana regendo a cadeira de Filosofia (Frieiro: 1981; 14).

Eduardo Frieiro (1981), referindo-se aos livros como habitat de “encantadores”, no escrutínio da biblioteca do Cônego da cidade de Mariana, contabiliza duzentas e setenta obras que compõem oitocentos volumes34. A primeira vista pode-se avaliar em dois tipos de leituras: a profana e a sacra com as obras completas dos doutores da Igreja como Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo, São Tomás de Aquino, São Bernardo e São Gregório Magno.

“Lá estavam varias obras da Filosofia Metafísica e Lógica, que não podiam faltar na mesa de trabalho de um antigo lente da filosofia: a Summa Theologica de Santo Tomás, a Philosophia peripatética de Mayr, Elements de Metaphysicae do padre Jesuíta Para du Phanjas, a Lógica de Luiz Antonio Verney, as Disputationes Metaphycae do padre Jesuíta Silvestra Aranha, a Metaphysicae e a Lógica de Antonio Genovesi [Genuense], criador da Economia Política da Itália, filósofo eclético [dos que tentavam conciliar Bacon e Descartes, Locke e Leibniz]. Censurado em Roma por algumas de suas opiniões teológicas; a Philosophia Mentis e Os Elementos Metafísicos de Brescia [Brixia] o Compendium Philosophicum Theoologicum de Manuel Inácio Coutinho (...)” (Frieiro: 1981; 26).

Considera Eduardo Frieiro que o melhor da biblioteca do Cônego “não estava na quantidade, mas na qualidade das obras reunidas” (Frieiro: 1981; 46). Num período em que se disseminava o gosto pela leitura, a biblioteca reunia obras de informação e formação, edificação e deleite, com significativo espaço para àquelas

34 Das duzentas e setenta obras que compunham oitocentos volumes da biblioteca do Cônego Luis

Vieira da Silva, mais de 50 % eram obras em latim, noventa obras em francês, um pouco mais de 30 em português, cinco ou seis em italiano, 24 em inglês [sem autor] e o restante em espanhol, três ou quatro não lhe pertenciam (Frieiro: 1981; 24).

que propunham novas idéias, como por exemplo, L´Enciclopédie de Diderot e D´Alembert, em dois volumes.

Uma variedade que não escusou nem mesmo os tratados de medicina com obras importantes para a época como: Exposition anatomique de Structure du corps Humain (do anatomista francês Winslow), o Traité de Medicine Pratique (do médico escocês Cullen, introdutor de uma classificação metódica da nosologia) e o Traité de maladies vénériennes (Fabri) e obras de Tissot. A escassez de médicos e cirurgiões permitia que os sacerdotes – entre outros – praticassem o receituário médico; como curiosos vendiam boticas e manipulavam as mezinhas, não é de se estranhar que o Cônego tivesse em sua biblioteca as referidas obras.

Conforme já mencionado, o século XVIII foi marcadamente o século da busca de instrução, inclinação para a pesquisa, observação e experiência. O desconhecido descortinava-se como um vasto campo para buscas e, com freqüência, os relatos de viagens eram literaturas que abriam as janelas do mundo desconhecido, da natureza externa. A obra de Banks, Voyages autor du monde,35 em 4 volumes, também

figurava na biblioteca do Cônego.

Nas outras colônias do Novo Mundo (estas pertencentes à Espanha), os europeus encontraram sociedades nativas ricas e organizadas, com sofisticadas hierarquias, religiosa, política/administrativa e economia estruturada, além de uma

35 Banks viajou pelas regiões frias da Terra Nova e Labrador e fez parte da expedição Cook aos

mares do Sul em 1746. Expedição que passou pelo Rio de Janeiro, juntamente com o naturalista Solander (discípulo de Linneo), explorou a flora e pequena fauna dos arredores da cidade do Rio de Janeiro. A expedição foi recebida de forma hostil pelo Governador que não acreditou que alguém pudesse interessar-se tão somente por caçar borboletas e em cuja incursão o único interesse era

significativa população. Portugal na parte que lhe coube na América, contatou sociedades semi-nômades e não era de seu interesse outra relação que não fosse a comercial, prática que era adotada em outras regiões de seu vasto Império – África e Ásia –, cujas finalidades lucrativas estavam a contento. Conforme estudo feito por Sergio Buarque de Holanda (2000), conquanto na conquista e colonização da América Espanhola prevalecesse um enfoque privado em detrimento a ação do Estado Oficial, nem por isso deixaram de erigir o “Império Espanhol das Índias” sob a égide de Castela. Nas colônias portuguesas e no Brasil, em particular, em alguns momentos, como foi o período da criação das capitanias hereditárias, a presença da Coroa pareceu dissipar-se, mas no curso da colonização regular é a Metrópole que sustenta a ocupação litorânea sob seu governo e catalisa sobre si, enquanto possível, todas as atividades de conquista como foram as “entradas e sertões” (Buarque: 2000; 393).

Da apatia que caracteriza algumas leituras historiográficas do período colonial no Brasil, especialmente a segunda metade do século XVIII, Figueirôa (1998) numa nova perspectiva metodológica aponta para a existência de atividades científicas no Brasil ao final do século XVIII, com implantação da institucionalização das Ciências Naturais no Brasil, no início do século XIX36.

herborizar (mais uma vez aparece a velha política administrativa do sigilo). Contudo a expedição percorreu todas as ilhas da baia e recolheram exemplares de plantas e insetos. (ver referencia)

36 “Desde o início assumi uma postura contrária as versões mais amplamente correntes na

historiografia das ciências no Brasil (...). Mesmo assim, encontrei ainda mais atividades geocientíficas do quem esperava a princípio (Figueirôa: 1992; 150).

E Maria Odília da Silva Dias (1968) ao tratar da influência do anti- intelectualismo rousseauniano no Brasil, considera que este não teve a mesma repercussão entre os estudantes brasileiros, pois:

“Ciosos como eram de seus privilégios de aristocratas; sob o ponto de vista humanitário, viam na mecanização um meio de aliviar os sofrimentos dos escravos e de libertá-los de um jugo, condenados pelas leis da natureza. Muito maior, portanto, entre os brasileiros dessa época seria a influência de uma corrente de pensamento diretamente filiada a Voltaire e aos enciclopedistas franceses e que desempenharia papel histórico decisivo no estabelecimento de relação pragmática entre os intelectuais e a sociedade” (Dias: 1968; 106).

Nos estudos da autora surge, na análise das obras dos herdeiros da ilustração do século XVIII, uma maioria que se dedicou às ciências naturais e à medicina. A escolha está no próprio conceito de filosofia para a época. O pragmatismo para aplicação na ciência iluminista estava na medida de sua utilidade.

Em 1772 então são feitas as reformas curriculares da universidade. Aboliu-se da academia a filosofia Escolástica, que deu lugar às Ciências com um novo espírito de modernidade, uma nova valorização dos métodos científicos de observação e experimentação com a instalação de laboratórios, incluindo a dissecação de