• Nenhum resultado encontrado

De viagem a peregrinação: alguns apontamentos sobre as monções e o cotidiano

Os europeus acostumados à navegação de seus mesquinhos rios não podem fazer a mínima idéia do que é esta gigantesca jornada.

Auguste de Saint-Hillaire, botânico e viajante francês, 1820

Neste capítulo tentarei elencar alguns episódios descritos por viajantes e autoridades coloniais acerca das dificuldades que cercavam não somente a viagem até a Cuiabá do século XVIII, mas também a permanência dos mesmos no recém fundado arraial. Pretendo desse modo trazer à baila alguns constituintes do cotidiano de José Barbosa de Sá, para assim podermos vislumbrar (ainda que parcialmente) sob que circunstâncias e dificuldades este homem formou sua biblioteca, redigiu seus Diálogos Geográficos, exerceu a magistratura, enfim o quão adverso poderia ser o ambiente para um letrado2 no recém ‘conquistado’ oeste brasileiro do século XVIII. Afinal, enfrentar as Monções fazia tanto parte do cotidiano do morador das vilas e arraiais do Mato-Grosso tanto quanto minerar ou pescar nas águas do rio Paraguai ou Cuiabá.

2 Por ser um termo de difícil defininção no século XVIII, ainda mais quando estamos ‘lidando’ com

homens de diferentes formações que tem os mesmos objetos de estudo – ou paixões – optamos aqui por definir como ‘letrado’ todo aquele que se dedicou em alguma instância ao estudo dos constituintes da natureza (fossem eles ambientes, plantas, animais e minerais), independentemente da formação desses homens o do quanto poderiam estar familiarizados com as novas teorias e concepções que eram trazidas à baila pelos centros de estudo e pesquisa europeus. Obviamente com isso não pretendemos nivelar nomes como Conde de Buffon, Alexandre Rodrigues Ferreira e José Barbosa de Sá, mas sim observarmos a riqueza que representam as diferentes visões que estes homens faziam de uma mesma paixão.

Foi no final do século XVI, com o Tratado de Tordesilhas, mais precisamente 1494, que aquela imensa planície inundável situada no interior da América do Sul torna-se pertencente à coroa espanhola. Logicamente como todas as terras do continente americano, antes da chegada do europeu no século XVI, o Pantanal já possuía donos, eram diversas as nações e povos indígenas que habitavam a planície alagável; dentre outras eram encontrados os Payaguá, Xarayes, Guaxarapos e Guarani. No século XVI, as notícias seriam o meio pela qual os primeiros navegadores e aventureiros, como Sebastian Caboto e Juan de Solís, iriam relatar suas experiências e impressões sobre o Pantanal.

A possibilidade de encontrar tesouros e riquezas minerais era o maior motivador de tais incursões. Nas notícias de Caboto e Solís encontraremos informações sobre a existência da Serra da Prata e de um Rei Branco, que segundo José Barbosa de Sá em seus Dialogos Geographicos, foi por muitos, à época, interpretado como sendo a região de Ofir e o Rei Branco, o fornecedor americano de toda a espécie de gemas, pedras e metais preciosos para o Rei Salomão. (SAA, 1769: folio 86 recto)

A partir dos relatos desses navegadores quinhentistas podemos imaginar como se concebia o Pantanal, bem como o tipo de motivação que levou aventureiros e nobres a encherem suas cangalhas com mosquetes e bateias, encharcando suas roupas e bornais ao enfrentarem lagos, lagoas, rios, mosquitos em número infinito e “gentios” extremamente ambientados a um tipo de topografia e clima no qual o europeu ainda estava para se adaptar.

Porém, apesar das notícias quinhentistas espanholas, as primeiras incursões de vassalos de Portugal em terras do pantanal tinham como intenção primeira a captura de indígenas para a venda como mão de obra escrava nas Capitanias. O primeiro descendente de europeus a percorrer o próprio rio Cuiabá, Antonio Pires de Campos, por lá andou não em busca de ouro, mas sim a captura do “gentio” Coxiponé, que vivia nas margens deste rio. O segundo foi Pascoal Moreira Cabral, que na barra do rio Coxipó-Mirim encontrou, em 1718, pequenos grânulos de ouro cravados nos barrancos. A partir dali, subiu o rio até o lugar que depois receberia o nome de Forquilha, onde teria ele capturado “gentios” com detalhes de ouro nos botoques e adornos. (SÁ, 1908: pp. 5-58)

As incursões pelas planícies alagadas do Pantanal com destino as minas do Cuiabá seriam então chamadas Monções. Ao que parece a palavra monção, segundo Sérgio Buarque de Holanda, teria sua origem em algum dialeto árabe (Holanda, 1957: p. 162), tendo a mesma se generalizado entre os marujos portugueses durante as grandes navegações que, pela primeira vez se dirigiam ao Oriente. Entre os marinheiros lusitanos a monção era usada para designar os ventos alternados que determinavam qual a melhor época para se navegar no oceano Índico. Ao que tudo indica, este não era o significado que a palavra monção viria a receber na Capitania de São Paulo. Porém, façamos uma ressalva, a de que mesmo em Portugal, com o tempo, monção viria a designar tão somente as estações adequadas às viagens, ou os períodos do ano em que sopravam os bons ventos à navegação. Apesar da vela jamais ter sido usada nas navegações pelos paulistas, estes adotaram a monção como designativo dos meses mais propícios durante o ano para se navegar os rios que levavam até o Pantanal.

No Novo Dicionário Aurélio, no fim do verbete “monção” encontramos o seguinte: “(...) Qualquer das expedições que desciam ou subiam rios da Capitania de São Paulo e Mato Grosso nos Séculos XVIII e XIX, pondo-as em comunicação.” (HOLANDA, 1998, p. 983) Havia ainda um outro fator que fazia com que a palavra monção exprimisse tão bem as expedições paulistas ao interior do Pantanal, este relativo ao tempo que as mesmas poderiam durar. Uma expedição destas quando saía de São Paulo, ou melhor de Porto Feliz, para chegar até a região de Cuiabá, levava o mesmo tempoempregado para ir de Lisboa à Índia, ou se ainda quisermos, da baía de Guanabara à desembocadura do rio Tejo, nada menos que cinco meses de viagem.

A notícia da descoberta do ouro produziu em homens acostumados a passarem meses em campana, dormindo em meio a insetos, animais selvagens e peçonhentos, comendo algum toucinho salgado com um pouco de feijão e farinha de milho – mais tarde conhecido como o típico e rústico virado à paulista – uma grande expectativa de lucro fácil. Afinal, para quem já estava no sertão, mais lucro na captura de pepitas do que de “gentios”. Assim, muitos foram os bandeirantes que enfrentaram as monções em busca do ouro, que de longe podia ser visto reluzindo na região de Cuiabá. A propósito desta ânsia, o advogado licenciado em Cuiabá, José Barbosa de Sá em 1775 nos descreve que

(...) foi tal o movimento que causou nos ânimos que das Minas Gerais, Rio de Janeiro e de toda a Capitania de São Paulo, se abalaram muitas gentes dexando casas, fazendas, mulheres e filhos, botando-se para estes sertões como se fora a terra da promissão ou o paraíso (...). (SAA, 1775, p. 9).

As notícias que corriam na Capitania era a de que, como a região do Cuiabá era muito afastada, era mais fácil ter-se ouro a mão do que chumbo, por exemplo, o que justificava o fato de os caçadores naquelas paragens se utilizarem de granitos de ouro em suas espingardas à falta do chumbo. Sem mencionar as pedras em que se apoiavam as panelas onde se cozinhava; geralmente para se escorar tal utensílio doméstico o sertanejo se valia da casa de térmitas (vulgo cupinzeiros), mas no Cuiabá, segundo se dizia, eram de ouro as pedras onde se colocavam as panelas nos fogões (SAA: 1775, p. 12). Apesar de termos aqui de considerar como a notícia da descoberta de um metal como ouro chegava até as margens do Tietê, ou seja, de que os mitos da “fartura” certamente acompanhavam as informações da descoberta de ouro.

Além da busca pelo ouro, essas expedições fluviais tinham também como objetivo o transporte de provisões para os mineradores que lá se encontravam. A partida das monções3 se dava geralmente entre os meses de março e abril, as margens do rio Tietê, tributário do rio Paraná, pois o melhor era achar-se a monção nas águas do rio Paraná já no dia de Santo Antonio, o que seria 13 de junho. Não respeitar tais preceitos meteorológicos poderia significar um e até dois meses a mais perfazendo o percurso. O rio Tietê, por exemplo, só apresentava dois obstáculos mais perigosos: os saltos de Avanhandava e Itapura. Porém, no período da estiagem os perigos multiplicavam-se por cem, pois chegavam a duzentas as corredeiras e cachoeiras. Por fim, com a enchente descia-se o rio Tietê em quinze

3 Cabe aqui um último esclarecimento acerca da palavra monção e o que ela designava

principalmente durante o século XVIII: a monção apesar de, em um primeiro momento, significar a melhor época a se navegar os rios da Capitania de São Paulo, será, empregada como designativo de cada expedição que parte para o Pantanal mato-grossense.

dias; em médio nível de água levava-se um mês, e no auge do período de seca cerca de quarenta e cinco dias.

Assistiremos então a um esvaziamento da Capitania paulista. Com o estranho dom que nenhum outro metal parece ter, o ouro irá, mesmo antes de ser minerado causar

(...) as misérias de muitas das esquadrilhas, organizadas às pressas e a esmo para vencer o deserto asperíssimo nelas embarcando gente de todas as categorias: aventureiros e burgueses bem afortunados e colocados, civis, militares e eclesiásticos (...) (Taques apud TAUNAY: 1981, p. 14).

A fim de facilitar a navegação, zarpavam de Porto Feliz às margens do rio Tietê, aproveitando então as cheias. Embora o roteiro pudesse variar um pouco, o início da viagem sempre se dava pelo Tietê até o rio Paraná, onde se procurava um de seus afluentes da margem esquerda até se chegar a uma das vertentes mais próximas de alguns dos rios que seguiam em direção ao Rio Paraguai. Quando os monçoeiros optavam pelo rio Pardo, chegava-se à região de Camapuã, em uma das partes mais estreitas do divisor de águas dos rios Paraná e Paraguai. Camapuã era o nome dado à fazenda que já existia neste vazadouro desde 1725, onde então os viajantes reabasteciam sua expedição com víveres e informações deixadas por outros monçoeiros sobre a situação dos rios que ainda seguiriam até a região de Cuiabá. As embarcações utilizadas eram canoas feitas de um só tronco de árvore, com um comprimento que variava de 12 a 15 metros. Eram escavadas pelo fogo e machado, seguindo as técnicas indígenas.

Como bem nos relatou Pedro Taques, a imprudência aliada a um desconhecimento da topografia que permeava a viagem custou a vida de muitos

aventureiros. Febre, fome, naufrágios e “gentios”, dizimaram expedições inteiras. Houve comboio que, partindo em 1720 de Araritaguaba – futuramente Porto Feliz – nunca chegou a seu destino. Os que vieram mais tarde encontraram pelo caminho canoas com os viveres podres, e pelos barrancos dos rios os cadáveres dos viajantes. Passou-se todo o ano de 1720 sem que nenhuma embarcação chegasse ao Arraial do Coxipó, na região de Cuiabá.

Dos poucos que conseguiram chegar em 1721, muitos tinham perdido amigos, parentes e escravos, entre outros bens. Relata-se ainda o infortúnio de um certo Capitão José Pires de Almeida, que durante o percurso havia perdido todos os seus escravos, além dos víveres e bagagem, só lhe restando a companhia de um mulatinho que tinha em conta de filho. Este último, o Capitão, apesar do apego, o deu em troca de um peixe pacu para aplacar a própria fome (HOLANDA: 2000, p. 46).

As dívidas contraídas na Capitania para se poder financiar uma viagem deste grau de periculosidade podiam se converter em negócios de alto risco, principalmente para os financiados, ou seja, aqueles aplicavam tudo o que tinham na empreitada que levaria até Cuiabá, é o caso, por exemplo do Capitão João Antonio Cabral Camello que, em 1727, para as Minas do Cuiabá se dirigiu

“Eu saí de Sorocaba com quatorze negros e três canoas minhas; perdi duas no caminho e cheguei com uma e com setecentas oitavas de empréstimo e gastos de mantimento que comprei pelo caminho. Dos negros, vendi seis meus, que tinha comprado fiado em Sorocaba, quatro de uns oito que tinha dado meu tio, e todos dez para pagamento de dívidas. Dos mais que me ficaram, morreram três e só me ficou um único e o mesmo sucedeu a todos os que foram ao Cuiabá. Enfim, de vinte e três canoas que saímos de

Sorocaba, chegamos só quatorze ao Cuiabá; as nove perderam-se e o mesmo sucedeu às mais tropas e sucede cada ano nesta viagem” (CAMELLO: 1727, p. 500).

As distancias fluviais percorridas pelos monçoeiros chegavam a 531 léguas4, o que equivale a 3.504 km e 600 m. Contava-se então 152 no rio Tietê, 29 no rio Paraná, 75 no Pardo, 17 no Camapuan, 40 no Coxim, 90 no Taquari, 39 no Paraguai, 25 no Porrudos e 64 no Cuiabá. Somado a isto, devemos também computar os 14 quilômetros que se contavam de São Paulo a Araraitaguaba. Assim, o total a ser percorrido de São Paulo a Cuiabá era de 3.664 quilômetros (TAUNAY: 1981, p. 55).

Com o passar dos anos, os monçoeiros optavam por realizar tal percurso em grandes comboios, de preferência aqueles em que autoridades coloniais, em barcos oficiais, fortemente protegidos, tivessem o mesmo destino, o que melhorava um pouco a segurança no percurso. Enfrentar a mineração nesta isolada planície inundável não era o único empecilho para se cumprir uma peregrinação, que prometia de uma “bateiada”5 só uma vida regada a ouro em pepitas e pó; tão

4 A légua era uma medida itinerária, pois sabemos hoje da existência de vários “tipos” de légua:

Légua quilométrica: cerca de 4 quilômetros. Légua marítima: equivalia a vigésima parte do grau

contada num circulo máximo da terra, o que vale três milhas, ou cerca de 5,556 quilômetros. Légua

terrestre ou Légua comum: légua de 25 ao grau, isto é, de 4,445 quilômetros. Légua geométrica:

equivalente a cerca de 6 a 6,6 quilômetros, sendo ao que parece, pela distância – via fluvial – hoje conhecida entre São Paulo e Cuiabá, ser esta a légua adotada pelos monçoeiros.

5 A “bateiada” refere-se aqui ao uso da bateia, que era o instrumento utilizado pelos antigos

mineradores de veios auríferos e diamantíferos encontrados em riachos ou córregos, a bateia consiste em uma espécie de gamela de madeira em forma de alguidar, ou seja, um vaso, um grande prato raso em forma de cone truncado e invertido. Seu uso consiste do seguinte método, o minerador enfia a bateia no fundo do riacho, e na água do mesmo começa a fazer movimentos circulares, com isto o cascalho que é mais leve sai pela borda da bateia, somente ficando ao fundo da mesma as pepitas de ouro ou o diamante bruto.

inóspito quanto o Pantanal era o caminho que levava até este pretendido enriquecimento que, se não era fácil, ao menos prometia ser mais rápido do que a lida com a enxada nas sesmarias.

A morte quase sempre ronda os relatos monçoeiros, e em alguns deles a viagem por vezes se transforma em um macabro itinerário. Na relação verdadeira da derrota e viagem, que fez da cidade de São Paulo para as minas do Cuiabá feita pelo Governador e Capitão General da Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Meneses, em 1726, não serão somente as baixas ocorridas entre os membros da expedição que lembrarão quão sombrio poderia se revelar o roteiro para o “eldorado” cuiabano. Por vezes, os corpos encontrados pelo caminho parecem indicar duas coisas: que se está indo pelo caminho certo, e que pode não se chegar até o fim do caminho certo.

A monção parte em 7 de julho, um Domingo pela manhã, logo após ouvirem a missa no convento de São Francisco. Já na quarta-feira, dia 10, o calor abafado e úmido, típico da região, começa a fazer suas primeiras vítimas; são obrigados a fazerem uma escalada na Vila de Itu, onde ficam até o dia 14 para se recuperarem. Em 18 de julho, o rio Tietê reivindica sua primeira vítima, pois “(...) Nesse dia afogou- se nesta passagem um homem branco, piloto do escrivão do R. Vigo da Vara, que depois foi achado com a cabeça partida (...).” (MENEZES: 1726, p.104).

Várias são as cachoeiras Tietê abaixo, e as águas brancas das corredeiras trazem a memória do Capitão General que transpor as mesmas pode ser um verdadeiro exercício de sobrevivência, posto que, segundo ele, há mais de cem anos não tem havido uma tropa, em todo tempo que, navegando aquela parte do rio,

não perdesse canoas e tivesse baixas em afogamentos. Lembra ele ainda dos que naquele ano já haviam por ali deixado parte de seus tripulantes, pois

“(...) neste ano pereceram das tropas que passaram o Cuiabá em Pirapora o piloto, de que já fiz menção, e na outra cachoeira que lhe segue, uma, mulher do reino, na do Pau Santo três negros e uma negra do alferes Duarte Pr.a

Itapanema Antonio de Barros Paiva, e no fim deste reino um moço, que vinha com Luiz Ribeiro de Faria.” (MENEZES: 1726, p. 104).

Em 10 e 11 de agosto é recomendado a todos os membros da expedição que tomem uma dose de triaga de venia6, com medidas a prevenir as malignas doenças

6 A triaga era uma espécie de panacéia jesuíta para quase todos os maus que poderiam ser

contraídos no Brasil Colonial, segundo os irmãos jesuítas do Collegio de Jesus da Bahia no século XVIII “A Triaga Brasilica hé um Antídoto ou Panacea composta, à imitação de Triaga de Roma e de

Veneza, de varias plantas, raizes e ervas e drogas do Brasil, que a natureza dotou de tão excellentes virtudes, que cada huma por si só pode servir em lugar da Triaga de Europa; pois com algumas das raizes, de que se compoem este Antidoto, se curão nos Brazis de qualquer peçonha e mordedura de animais venenosos, como também de outras varias enfermidades, só como mastigá-llas.

Notícia breve dos lugares onde se achão alguns simpleces que compoem a Triaga sobredita Cascas de angelica: na Tujupeba, Pernambuco ou sertão.

Cascas de Ibiraé: no Camamu e sertoens da Bahia. Erva caacicá: no Collegio da Bahia.

Erva do sangue: no Collegio da Bahia.

Jararacas: no Camamu, Tujupeba, sertão e na quinta do Collegio da Bahia.

Mel de Abelhas ou de pao: na Tujupeba, Porto Seguro, Capivaras, Camamu e sertão. Raiz de abutua: em Pernambuco, Camamu, Aldeya do Spirito Santo e no sertão. Raiz de acoro: de Portugal.

Raiz de aipo: na Bahia e Portugal.

Raiz de angericó: em Pernambuco, Tujupeba e jaboatam. Raiz de aristoloquia redonda: em Portugal.

Raiz de batata do campo ou batatinha: no Rio de Janeiro e no sertão. Raiz de capeba: no Collegio da Bahia e Pernambuco.

Raiz de contra-erva, ou caapia, ou pica de macaco: na Tujupeba e Pernambuco. Raiz de jaborandi: na quinta do Collegio da Bahia, Pernambuco e sertão.

Raiz de junça: de Portugal.

Raiz de limoeiro: em qualquer parte. Raiz de malvaisco: de Portugal.

Raiz de mil-homens: em Pernambuco, Camamu, Aldeya do Spiritu Santo e no sertão. Raiz de orelha de onça: na Tujupeba, Canabrava, Sacco dos Morcegos e no sertão. Raiz de pagimirioba: na quinta do Collegio da Bahia e Pernambuco.

Raiz de pecoacoanha branca ou sipó: no Jaboatão, Pernambuco e sertão. Raiz de pecoacoanha negra ou sipó: no Jaboatão, Pernambuco e sertão. Raiz de jerobeba: na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Semente de neambus: no Collegio da Bahia e sertão.

Semente de pindaiba: na Aldeya do Sspirito Santo, Capivaras e sertão. Sipó de cobras: na quinta do Collegio da Bahia e no sertão.”

que, por vezes, são contraídas por todos os que naveguem as ‘putrefactas’ águas do rio Paraná. Notemos o quanto era disseminado entre os monçoeiros o conceito dos miasmas, ou seja a opinião de que as águas do rio Paraná são infectadas e pútridas por estarem cheias de animais, insetos e paus em estado de decomposição. As recomendações eram que jamais se permitisse beber de suas águas.

Vencido o rio Paraná, ou Grande Rio, seguiram. A 13 de setembro desembarcam os carregamentos das canoas e prosseguem um trecho a pé, com as cargas nas costas dos negros, como sempre é lembrado. Quando então adentram o primeiro Capão grande se deparam com a cena: embaraçado em meio aos cipós, como se fora um bizarro fantoche apoiado pelas cordas, o cadáver de um homem.