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Brasil: Unidades habitacionais contratadas pelo PMCMV, por região geográfica, de

2009 até 2016 (em valores absolutos e em %).

Em resumo, segundo Macedo et al. (2017) desde sua implantação até o ano de 2016, o PMCMV beneficiou cerca de onze milhões de pessoas, por meio da entrega de mais de 3,2 milhões de unidades habitacionais de um total de mais de 4,5 milhões de unidades contratadas, estando presente em 96% dos municípios de todos os estados do Brasil.

Iniciado no Governo Lula e dado sequência nos governos Dilma e Temer, com alterações em seu formato inicial até o presente momento, o PMCMV foi um Programa capaz de responder aos desafios alicerçados pelo déficit habitacional, especificamente para famílias com renda até R$ 9.000,00 (em sua última versão), ou seja, famílias pertencentes à Classe Média, mas também teve um caráter anticrise, em um momento de instabilidade econômica global que ameaçava o crescimento da Economia brasileira.

Portanto, o PMCMV conseguiu atender, em maior ou menor proporção, os interesses de vários agentes envolvidos como os governos federal, estaduais, municipais e distrital, das empresas do setor de construção civil e de parcela da população inserida no quadro do déficit habitacional.

4.9.5 O Programa Minha Casa, Minha Vida e a “Nova Classe Trabalhadora”

Na seção 1 foi realizada a discussão das classes econômicas e identificado, a partir de estudos de vários autores e de dados obtidos pelo IBGE, uma classe econômica que, em relação à variável renda, contempla grande parcela da população brasileira. Essa classe, que se encontra em um estrato econômico intermediário da sociedade brasileira, é composta pelas denominadas aqui como “Classe Média Tradicional” e “Nova Classe Trabalhadora” e, juntos, formam o que consideramos Classe Média.

Analisando os estratos de renda familiares da sociedade brasileira, é possível fazer um paralelo com as faixas de renda contempladas pelo PMCMV, inclusive pelo fato de a implantação desse Programa habitacional surgir não apenas em um momento de necessidade de incentivo ao aquecimento econômico, mas, também, no momento em que a Classe Média brasileira (ou classe C), em sua totalidade (“Classe Média Tradicional” e “Nova Classe Trabalhadora”) se consolidava como parcela considerável da população brasileira, como identificado neste trabalho.

A nova composição e consolidação da Classe Média, ao longo da primeira década de 2000, é o primeiro recorte de tempo aqui realizado neste estudo. A ascensão e o aumento da importância política e econômica dessa classe resultaram na análise de um segundo recorte de tempo, que foi a criação de um Programa habitacional a partir de 2009 que, se não teve por objetivo fundamental atender aos anseios dessa classe na questão habitacional, seus resultados revelaram que essa classe foi a grande beneficiada.

Considerando as várias estratificações encontradas na literatura sobre o tema e a estratificação do IBGE, no ano de 2009 grande parcela da população encontrava-se com a renda entre R$ 1.245,00 e R$ 6.225,0098. No mesmo ano considerado, o PMCMV foi implementado com as faixas de renda até dez s.m. à época (divididas nas Faixas 1, 2 e 3), ou seja, até R$ 4.650,00 e, posteriormente, até R$ 5.000,00 e R$ 6.500,00, nos anos de 2011 e 2015, respectivamente (não mais em s.m.).

Percebe-se que há uma estreita relação entre o nível de renda da Classe Média brasileira e as faixas de renda contempladas no PMCMV. O Programa abrangeu as classes econômicas com menor renda, de até três s.m., mas também grande parte da Classe Média brasileira, na qual está inserida a “Nova Classe Trabalhadora”, o que revela a importância

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dessa parcela da população, contemplada em um Programa habitacional de grande relevância para a sociedade brasileira.

As tabelas 50 e 51 revelam o quanto, no Brasil, a Classe Média foi superiormente contemplada pelo Programa se comparada com as classes econômicas de menor renda. Para tanto, é interessante analisarmos e compararmos os dados referentes ao número de unidades contratadas pelo PMCMV, por faixa de renda, segundo estudo de Macedo et al. (2017), com o déficit habitacional nacional, divulgados pela FJP (2013a).

Tabela 50: Brasil – Unidades habitacionais contratadas por faixa de renda familiar no

PMCMV – 2009 a 2016 (em %)99 .

Faixas de renda Unidades habitacionais contratadas (em %)

1 (até 3 s.m.) 38,8

2 (3 até 6 s.m.) 48,9

3 (6 até 10 s.m.) 12,4

Fonte: MACEDO et al., 2017. Org.: BERNARDO, L. T. 2018.

Conforme exposto na tabela 50, do lançamento do PMCMV, em 2009, até o ano de 2016, a faixa intermediária de renda (Faixa 2) foi a que obteve a maior quantidade de unidades habitacionais contratadas, com 48,9%, seguida da Faixa 1, com 38,8% e, por último, a Faixa 3, que teve 12,4%.

Na tabela 51, os dados se referem ao déficit habitacional no Brasil por faixa de renda, segundo estudo da FJP realizado a partir de informações do Censo/IBGE-2010) e é possível verificar que o déficit habitacional (segundo critérios da FJP) está concentrado na faixa de renda com até três s.m., 69,2%.

Tabela 51: Brasil - Composição do déficit habitacional total por classe de rendimento

domiciliar – 2010 (em %)100 .

Faixas de renda(s.m.) Déficit habitacional (em %)

Até 3* 69,2 3 até 5 13,8 5 até 10 11,9 Acima de 10 5,2 Fonte: FJP, 2013b. Org.: BERNARDO, L. T. 2018.

Nota: *Incluso os domicílios sem rendimento.

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Em 2009, ano de lançamento do PMCMV, o valor do s.m. era de R$ 465,00. Em 2016 o valor do s.m. era de R$880,00.

100

Em 2010, ano de realização do Censo-IBGE (base de dados para o trabalho sobre o déficit habitacional elaborado pela FJP), o valor do s.m. era de R$ 510,00.

Ainda analisando os dados apresentados na tabela 51, a faixa de renda intermediária de três até cinco s.m. possui um déficit habitacional de 13,8%, a faixa de renda de cinco até dez s.m., 11,9% e a classe com rendimento domiciliar acima de dez s.m. 5,2%. Não foi possível localizar fontes que indicassem o déficit habitacional dividido por estratos acima de dez s.m., mas a principal informação é comprovada, ou seja, a classe de menor rendimento domiciliar constitui, sem dúvida, a maior parte do déficit habitacional nacional.

Na comparação entre o déficit habitacional e a abrangência do PMCMV, é possível constatar que, segundo o estudo da FJP (2013b), o maior percentual do déficit habitacional está na classe de rendimento domiciliar até três s.m., com 69,2%, enquanto as classes de rendimento acima de três s.m. possuíam um déficit somado de 30,6%.

Todavia, constatou-se que, 38,8% das unidades habitacionais contratadas pelo PMCMV no período de 2009 a 2016 foram destinadas à faixa de renda de até três s.m., ao passo que as faixas de renda entre três até dez s.m. obtiveram um total de 61,2%, ou seja, as contratações foram, em sua maioria, para uma faixa que não apresentava o maior déficit habitacional constatado pelo Censo/2010.

No estado de Minas Gerais, no mesmo período compreendido, a maior quantidade de unidades habitacionais contratadas também está na Faixa 2 (62,4%), seguida da Faixa 1 (28,8%) e da Faixa 3 (8,8%) (Tabela 52).

Tabela 52: Minas Gerais – Unidades habitacionais contratadas por faixa de renda familiar no

PMCMV – 2009 a 2016 (em %)101 .

Faixas de renda Unidades habitacionais contratadas (em %)

1 (até 3 s.m.) 28,8

2 (3 até 6 s.m.) 62,4

3 (6 até 10 s.m.) 8,8

Fonte: MACEDO et al., 2017. Org.: BERNARDO, L. T. 2018.

Entretanto, assim como no Brasil, o déficit habitacional, de 66,7%, se concentra na faixa de renda de até três s.m., enquanto as demais faixas possuíam, juntas, um déficit de 33,4% (Tabela 53). Essa comparação revela que, tanto na esfera nacional, quanto na estadual, a faixa de renda em que há maior ocorrência do déficit habitacional, não há uma maior destinação da efetivação dos contratos habitacionais.

101

Em 2009, ano de lançamento do PMCMV, o valor do s.m. (s.m.) era de R$ 465,00. Em 2016 o valor do s.m. era de R$ 880,00.

Tabela 53: Minas Gerais – Composição do déficit habitacional total por classe de rendimento

domiciliar – 2010 (em %)102 .

Faixas de renda (s.m.) Déficit habitacional (em %)

Até 3* 66,7 3 até 5 15,8 5 até 10 12,8 Acima de 10 4,7 Fonte: FJP, 2013b. Org.: BERNARDO, L. T. 2018.

Nota: *Incluso os domicílios sem rendimento.

Tal direcionamento do Programa não parece estar de acordo com as necessidades identificadas pelos estudos da FJP sobre o déficit habitacional, mas com a Demanda Habitacional Demográfica (DHDE), citada anteriormente.

Conforme analisado, a DHDE se concentra nas famílias que possuem renda mensal de três a dez s.m., abrangendo mais de 50% do total das famílias brasileiras, segundo Alves e Cavenaghi (2014), o que nos leva a reconhecer que o PMCVC, se não teve por objetivo, contemplou predominantemente o público que representava a maior parte do DHDE.

Seja analisando o déficit habitacional, ou a DHDE, o que se conclui é que o PMCMV, tanto no Brasil, quanto no Estado de Minas Gerais, não atingiu primordialmente as famílias que apresentavam uma menor renda, mas as que se encontravam principalmente na parte intermediária dos estratos de renda familiar e estas famílias são as que representam o que foi denominado aqui de Classe Média, formada pela “Nova Classe Trabalhadora” e pela “Classe Média Tradicional”.

Após serem apresentados os resultados alcançados pelo PMCMV no que tange à contratação e entrega de unidades habitacionais, em âmbito nacional e estadual por classes econômicas, algumas questões levantadas são: Qual a relação entre o município de Uberlândia e o PMCMV? Como o PMCMV contemplou o município de Uberlândia com relação à quantidade de unidades habitacionais contratadas? Onde estão localizadas as unidades contratadas e construídas no município? As respostas a estas questões serão explanadas na próxima seção.

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Em 2010, ano de realização do Censo-IBGE (base de dados para o trabalho sobre o déficit habitacional elaborado pela FJP), o valor do s.m. era de R$ 510,00.