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2.1 Definição de classe social

Muito tem se falado a respeito das mudanças ocorridas na sociedade brasileira quanto à composição das classes econômicas, desde o meio acadêmico até os noticiários. E, nesse debate, a discussão gira em torno do crescimento da comumente denominada Classe Média, ou mesmo Nova Classe Média1. Alguns estudos2, usualmente, dividem as classes econômicas brasileiras em Classe Alta, Classe Média e Classe Baixa. Com relação ao que se denomina Classe Média, encontra-se, ainda, dividida em Classe Média Alta, Média Classe Média e Classe Média Baixa, além de outras denominações, conforme será abordado posteriormente.

Diversas designações das classes econômicas são encontradas, tais como Classes A, B, C, D e E; enfim, uma série de denominações que consideram, por vezes, aspectos econômicos como renda, consumo, ou mesmo comportamento, entre outras inúmeras variáveis utilizadas como critérios de classificação de um grupo de pessoas.

O que se pode observar com essa grande variedade de classificações e de denominações é que muito se fala e se conclui sobre as classes econômicas, mas sua análise exige, a priori, um estudo das classes sociais, pelo fato de ser um tema mais complexo e abrangente, inclusive, do que as questões relacionadas às classes econômicas:

A nova classe média recebe, desde a década de 2000, muita atenção por parte da mídia e dos pesquisadores. Essa nova onda de estudos abandona definitivamente o conceito marxista de classe social, ficando metodologicamente restrita a uma análise funcional de classes como estratos de renda com certo poder de consumo e capacidade de mobilidade social. (ABDALA, 2012, p. 246).

A definição das classes sociais é muito controversa, ainda que o termo seja amplamente utilizado em estudos socioeconômicos. Apesar de não serem as únicas, as variáveis econômicas renda familiar (total e per capita) e consumo (de bens e serviços) estão estreitamente relacionadas com a definição de uma determinada classe social, mas não são as

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Ainda nesta seção, são expostas outras denominações para o conjunto da população que compõe a parte intermediária das classes econômicas brasileiras.

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Como encontrado em Neri (2010; 2011; 2012), Souza e Lamounier (2010), FECOMERCIOSP (2012), SAE (2014) e Quadros (2014).

únicas. Outras variáveis devem ser relacionadas na definição como comportamento, ocupação profissional, hábitos, entre outras.

Rodrigues (2014, p. 212, grifo do autor) considera que “[...] os termos correntes se referem às classes alta, média e baixa, utilizando como base o „salário mínimo‟, sem referências ao trabalho e ao trabalhador”.

Para Xavier Sobrinho (2011), a estratificação calcada apenas no critério técnico de renda empobrece a compreensão de importantes dimensões analíticas associadas à classe social, muitas das quais se expressam no recorte ocupacional.

Sobre o tema classes sociais, na Sociologia, encontramos duas principais correntes formadas por Karl Marx (e Friedrich Engels) e por Max Weber; ambos tinham uma concepção basicamente econômica na definição de classe social.

Marx considerava que a sociedade seria dividida em duas classes opostas, a dos capitalistas (burgueses) e a dos proletários:

A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado. (MARX; ENGELS, 1997, p. 30).

Cada grupo citado por Marx era bem delimitado, com comportamento, estilo de vida e demandas na sociedade semelhantes entre si, mas radicalmente distinto do outro grupo. Possuíam uma “consciência de classe” única, cada grupo com seus objetivos e projetos de sociedade.

Partindo de uma concepção econômica, para Marx, os fatores que definiam as classes sociais eram a propriedade, a renda, o tipo de renda e a ocupação profissional. Marx considerava que um conjunto de pessoas que possuíam as mesmas características, como as citadas, desenvolvia interesses, hábitos e comportamentos em comum. Renda, propriedade e profissão eram os definidores da posição de uma classe na sociedade.

Para Pereira (1974), Marx fez a divisão da sociedade em apenas duas grandes classes, para facilitar a análise da dinâmica social à época. Todavia, para o autor, “[...] se quisermos obter uma análise mais completa da estrutura social das sociedades capitalistas modernas, devemos dividir a sociedade em um maior número de classes”. (PEREIRA, 1974, p. 108).

Segundo Souza e Lamounier (2010), essa divisão da sociedade em apenas duas grandes classes, como a realizada por Marx, não era apenas um fato raro, mas um caso limite, ou extremo, em uma situação com somente dois grupos sociais homogêneos. Na sociedade

atual, essa classificação marxista não se enquadraria em termos de estratificação social, pois dificilmente poderíamos encontrar somente duas classes homogêneas e com as mesmas caraterísticas comportamentais, de estilo e outras.

Pereira (1974) considera que, no século XIX, ocorria um processo de diminuição da pequena burguesia industrial-comerciante pela introdução das grandes empresas, o que possibilitava a Marx até fazer essa divisão em duas classes. Contudo, em substituição aos pequenos burgueses-industriais-comerciantes3, surgiu uma classe composta por burocratas, funcionários e administradores das grandes corporações, além dos serviços que rodeavam essas corporações, o que se poderia configurar como uma “nova Classe Média” que se formou, na visão do autor.

Weber (1974), assim como Marx, também considerava o componente econômico na definição de classe social. Acreditava esse autor na importância das variáveis “propriedade” e “profissão” de um determinado grupo de pessoas.

Para Weber (1974), a formação de uma classe social se constituía quando um determinado grupo de pessoas possuía um componente causal específico em comum e esse componente era representado por interesses econômicos na posse de bens e de oportunidades de rendimentos. Para o autor, “O termo „classe‟, refere-se a qualquer grupo de pessoas que se encontra na mesma „situação de classe‟.” (WEBER, 1974, p. 63, grifo do autor).

Ainda segundo Weber (1974), por situação de classe, podia-se entender como a oportunidade típica de um suprimento de bens, condições exteriores de vida e experiências pessoais, à medida que essa oportunidade era determinada pelo volume e pelo tipo de poder, ou por sua ausência, de dispor de bens ou habilidades em benefício de rendimentos em uma dada ordem econômica.

Na visão de Oliveira (2015), Weber definia classe social como um número de pessoas que comungavam, em suas oportunidades de vida, um mesmo componente causal específico. Esse componente era exclusivamente representado por interesses de cunho econômico da posse de bens, das oportunidades de renda, das condições do mercado de produtos e do mercado de trabalho.

Percebe-se que Marx e Weber tinham uma concepção basicamente econômica na definição de classe social. Contudo, a principal diferença entre eles é que, enquanto Marx valorizava as relações de produção, Weber o mercado, ou seja, a diferença entre os autores não está na conceituação da classe social, mas no comportamento político delas.

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Pereira (1974) ressalta que a pequena burguesia-industrial-comerciante teve uma grande diminuição de sua importância econômica, mas não foi extinta.

Em suas análises sobre as classes sociais, ambos os autores fazem parte da denominada sociologia do conflito. Segundo essa corrente do pensamento,

[...] a sociedade não é um todo harmônico, funcional e estável, mas uma estrutura dinâmica, marcada pela escassez, a dominação e o conflito. Dentro dessa concepção, o conceito de classes sociais e o de luta de classes é essencial. (PEREIRA, 1974, p. 96)4.

Outros autores apresentam proposições sobre a definição de classe social, a exemplo de Ehrenreich (1994), segundo o qual algumas características em comum que definem uma classe social são: ocupação, experiências (ocupações profissionais, tempo de estudo etc.), renda, estilo de vida e gostos.

Reforçando a visão de Ehrenreich (1994), para Pereira (1974), a propriedade, a renda, o tipo de renda e a ocupação são os fatores econômicos fundamentais que definem classes sociais. Pessoas e famílias com posições similares, no que diz respeito a essas variáveis, desenvolvem interesses comuns, adquirem hábitos de consumo semelhantes e constroem um sistema de valores e de crenças que serve de base para sua posição social.

Ainda de acordo com Pereira (1974), classe se define a partir das relações econômicas. Com base nessas relações se estabelecem relações sociais, políticas e ideológicas, as quais, em conjunto, definem a classe social: não teria sentido falar em classe social sem que houvesse uma consciência de classe, um intercurso social e uma partilha de valores e crenças.

Segundo Sorokin (1974), outro autor dessa linha de pensamento, o conjunto de pessoas que compõem uma classe social deve estar completamente organizado, ou quase organizado. Quando se verifica essa organização, surge a consciência de classe entre os membros do grupo, composta pelos seus significados, valores e normas, que cresce na proporção do desenvolvimento da própria classe.

Para Sorokin (1974),

A característica específica da classe social é a coalescência dos liames ocupacionais e econômicos além do vínculo constituído pelo fato de pertencer ao mesmo estrato básico, cujas propriedades são definidas pela totalidade de seus direitos e deveres essenciais, ou pela existência ou não de privilégios, comparados com os das outras classes. (SOROKIN, 1974, p. 86).

Sobre a composição da classe social, Sorokin (1974, p. 86) considera ainda que “[...] pessoas que têm ocupações, posições econômicas e direitos e deveres essencialmente

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Contraditoriamente à Sociologia do Conflito, a Sociologia Funcionalista considera a sociedade como um todo harmônico, em que cada indivíduo e grupo social executa sua função necessária na sociedade dentro de uma hierarquia específica. Sobre a Sociologia Funcionalista, ver mais a respeito em Pereira (1974).

análogos se tornam semelhantes de várias outras maneiras, tanto no comportamento quanto física, mental e moralmente”.

Quanto à participação de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em determinada classe social, para Gurvitch (1974), ela não ocorre de maneira imposta ou mesmo voluntária. As classes sociais são grupamentos que se formam independentemente da vontade de seus membros ou de qualquer vontade superior, pois classes sociais “[...] constituem grupamentos de fato, que tendem a uma estruturação crescente e, por isso mesmo, para a „tomada de consciência de classe‟”. (GURVITCH, 1974, p. 97, grifo do autor).

O autor também considera que existe uma incompatibilidade radical entre as classes, sendo impossível participar de duas ou mais classes sociais simultaneamente. Esse conceito vai de acordo com a oposição, proposta por Marx, entre burguesia e proletários.

Partindo da conceituação colocada até o momento de que classe social é a composição de um conjunto de pessoas com características comuns no âmbito econômico, educacional, ocupacional e mesmo de comportamento no conjunto das relações sociais de produção, deve-se salientar que, muitas vezes, o erro na definição está quando se agregam, em uma mesma classe social, indivíduos com características distintas. A falha se forma a partir de quando se tenta coletivizar os indivíduos, por vezes, indivíduos com comportamentos distintos.

Segundo Saes (1975, p. 16), nas definições encontradas de classe social, “[...] a maior inconsistência aparece na atribuição, a grupos tão diferentes como o operariado e a Classe Média tradicional (profissionais liberais, burocratas), de um mesmo padrão de vida”.

Como exemplo, Saes (1975) cita o próprio termo Classe Média. Para o autor, esse leva a uma incoerência lógica considerando que “classe” é definida em nível das relações sociais de produção e “média” sugere a posição num sistema de estratificação social e que, muitas vezes, indivíduos em estratos sociais distintos são colocados em uma mesma classificação denominada “média”.

Ehrenreich (1994), como Saes (1975), também considera que a Classe Média não deveria ser tratada como um grupo cabal nem homogêneo. Desse modo, atribuir a expressão Classe Média a um grande número de indivíduos que não façam parte de uma parcela “rica” da população e nem de uma parcela “pobre”, seria considerar, de maneira homogênea, pessoas diferentes em suas rendas, ocupações, comportamentos, ambições de projetos de sociedade etc.

Na mesma linha de pensamento de Ehrenreich (1994), Saes (1975) e Santos (2008) também consideram que a definição de uma Classe Média se dá pela eliminação, ou seja, essa classe ficaria:

[...] numa situação intermediária entre as classes pobres ou inferiores e as classes abastadas ou superiores. Seriam formadas de assalariados de todo tipo que se situam acima do nível de subsistência, mais os proprietários e empresários cujos ganhos são insuficientes para que passem para as classes superiores. (SANTOS, 2008, p.51).

Ao realizar uma análise da sociedade brasileira, Saes (1984, p. 3) considera que “[...] o conceito „Classe Média‟ recobre um leque de grupos profissionais e sociais bastante diversos cuja unidade ideológica e política seria, no mínimo, problemática”.

Partindo desse pensamento, para a análise da parte intermediária da pirâmide social brasileira, surge a necessidade da formulação de um sistema de estratificação social, sendo esse uma coletividade de pessoas que ocupam posições do mesmo padrão ou de um padrão similar. (PEREIRA, 1974).

Desse modo, é possível hierarquizar camadas ou estratos de indivíduos em uma pirâmide social, diferentemente da classificação da estrutura de classes, mas sem desconsiderar o conceito de classe social, até mesmo porque os conceitos de classes sociais e estratos ou camadas não se excluem mutuamente. (SAES, 1975).

Sobre a relação entre classe social e estratificação social, Pereira (1974) entende que o estudo das classes sociais se inclui no tema mais amplo dos sistemas de estratificação social. Um sistema é constituído de uma hierarquia de estratos sociais, dispostos verticalmente uns sobre os outros. Cada estrato é um conglomerado horizontal de famílias ou de pessoas que desempenham funções similares ou de mais ou menos a mesma importância em uma sociedade, e desfrutam, aproximadamente, da mesma quantidade de poder, de prestígio e de privilégio.

Para o autor, os estratos sociais são coletividades de pessoas que ocupam posições do mesmo padrão ou de um padrão similar. Marx não fez claramente essa definição entre estratos e classes de forma que, muitas vezes, usa o termo “classe” quando vários autores usariam o termo “estrato”. (PEREIRA, 1974).

Considerando a estratificação social, em seu estudo sobre a formação da Classe Média e sua relação com o sistema político no Brasil, Saes (1975) substituiu o conceito de Classe Média pelo de camadas médias urbanas, inclusive ressaltando o plural, pois, para esse autor,

Se mantemos a expressão camadas médias urbanas no plural, é porque tais grupos, a despeito de uma posição similar na estrutura ocupacional, são bastante heterogêneos dos pontos de vista social, cultural e ideológico; daí a necessidade de uma expressão que, sugerindo a existência de um denominador comum a todos os membros, não oculte, por outro lado, uma variedade com possíveis repercussões políticas. (SAES, 1975, p. 26).

Discorrendo sobre a heterogeneidade da Classe Média, Pereira (1975) considera mais apropriado denominá-la por “camada social”. Para o autor, o desenvolvimento extraordinário de uma sociedade emergente, uma “nova Classe Média”, estabeleceu uma gama de posições intermediárias entre a classe capitalista dos grandes proprietários dos meios de produção e a classe proletária, daí a necessidade de utilização do termo “camada social”.

Empregando a expressão camadas médias em sua análise de formação da Classe Média no Brasil, Saes (1975) faz a observação de que as referidas expressões “Classe Média” e “estratificação social” foram criadas pela classe dominante e pela classe capitalista, para que se tornasse mais “funcional” em uma sociedade nascida sob o signo do antagonismo e do conflito, exercendo um papel negativo com relação às transformações sociais:

A estratificação social desempenha um papel conservador na sociedade, pois oculta uma situação de conflito entre as classes e, mesmo, oculta a dominação de uma classe por outra. Nessa perspectiva, a estratificação social desempenha um papel negativo no que diz respeito à transformação das sociedades globais. (SAES, 1975, p. 24).

Na mesma linha crítica de raciocínio de Saes (1975), Souza (2012) afirma que o liberalismo econômico utiliza a incoerência teórica de Classe Média5 para dizer que existem classes, mas, ao mesmo tempo, negar a sua existência ao vincular classe apenas à variável renda, dividindo a sociedade em estratos com diferentes poderes de consumo.

Souza (2012) considera que não se deve determinar classes sociais pela renda (como o fazem os liberais), nem pelo lugar na produção (como os marxistas clássicos), mas por outros aspectos de comportamento e de atitudes:

Associar classe à renda é “falar” de classes, esquecendo-se de todo o processo de transmissão afetiva e emocional de valores, processo invisível, visto que se dá na socialização familiar, que constrói indivíduos com capacidades muito distintas, como vimos mais acima. Mas é por conta desse tipo de pseudociência que associa classe a renda, uma associação que mais encobre do que explica, que é possível falar-se de “nova Classe Média” sem a cerimônia que se fala no Brasil. (SOUZA, 2012, p. 47, grifo do autor).

5 Como dito anteriormente, incoerência do termo “classe” no sentido social (antagonismo de classes) e “média”

Entender o conceito de Classe Social é de fundamental importância para se analisar o conjunto da sociedade e sua distribuição no corpo de uma estrutura de classes e o antagonismo de classes sugere uma homogeneização delas, o que, de fato, não ocorre na nossa sociedade.

A formação de vários grupos heterogêneos na sociedade, devido às diferenças econômicas, educacionais, ocupacionais, de consumo, culturais e comportamentais existentes revela a necessidade de uma análise da sociedade, não a partir da consideração da oposição entre duas classes sociais, mas de estratos, ou camadas da sociedade, entretanto sem desconsiderar que ainda existam conflitos políticos e ideológicos entre elas.

2.2 Origem e evolução da Classe Média no Brasil6

Para se analisar como se deu a formação da denominada Classe Média no Brasil, deve-se levar em consideração a história política e a evolução econômica do País desde sua época colonial, na transformação de uma Economia essencialmente agrário-exportadora para uma Economia industrial, da mudança de um país rural para um país urbano.

Pode-se dizer que a Classe Média no Brasil já existia desde a época colonial7. Segundo Saes (1985), mesmo sendo um país escravocrata, com um mínimo de aparelho burocrático, incipiente indústria manufatureira e um corpo militar restrito, existia, no Brasil, uma pequena parcela da população que poderia enquadrar-se como Classe Média: “Uma pequena burguesia tradicional de comerciantes e artesãos existiu antes e depois da ruptura do estatuto colonial.” (SAES, 1985, p. 27).

Com a independência do País, em 1822, algumas modificações passaram a ocorrer na sociedade brasileira, composta, à época, basicamente, por proprietários de terras, exportadores e comerciantes e, em uma parte extrema, por escravos:

Na sociedade colonial, voltada para uma Economia agrária e monocultora e, secundariamente, para atividades de comércio e administração, num extremo social, ficava o senhor da terra, representantes da Coroa, o comerciante atacadista e o exportador e, no outro, o escravo. (MATTOSO, 2004, p. 127).

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Para fins conceituais, neste tópico, a parte intermediária que compõe a sociedade brasileira será tratada por Classe Média.

7 Entretanto, para autores como Guerra et al. (2006, p. 27), “Não seria um exagero afirmar que a classe média foi

A partir da Independência, intensificou-se a necessidade de um corpo burocrático estatal e privado que pudesse assegurar a dinâmica administrativa, tanto da esfera pública, quanto da privada como, por exemplo, os órgãos públicos e as empresas particulares que já existiam na época e que começavam a aumentar em importância e número:

A consolidação do Estado nacional até 1850 e a integração, na mesma época, da Economia cafeeira ao mercado mundial criaram, na região Centro-Sul, um novo aparelho urbano burocrático e de serviços, composto pelos agentes do Estado, os bancos, as empresas exportadoras e importadoras e os organismos de financiamento. (SAES, 1985, p. 4).

Aquela pequena parcela da população composta por comerciantes e por artesãos, intermediária entre os aristocratas e escravos, começou a aumentar. Paralelamente à formação de um Estado Nacional a partir da independência, a Economia cafeeira iniciou um processo de fortalecimento. Cabem aqui duas considerações distintas, mas que se relacionam entre si.

Primeiro, a formação e a consolidação do Estado Nacional exigiram a instalação de um corpo burocrático civil (público e privado) e militar; e, segundo, o desenvolvimento da Economia cafeeira exportadora desdobrou na necessidade de um “leque de opções” de serviços relacionados a ela.

Para Saes (1985), está aí o nascimento da Classe Média brasileira, denominada pelo autor de “camada média”:

O nascimento das camadas médias urbanas situa-se em um duplo contexto histórico: de um lado, consolidação do Estado nacional até 1850; de outro, expansão da Economia cafeeira de São Paulo desde 1870. Se o primeiro fenômeno redundou na formação de um vasto corpo burocrático civil e militar, o segundo impôs a criação de um aparelho urbano de serviços anexo ao setor agrário-exportador. (SAES, 1985, p. 42).

Não mais escravocrata, e sendo uma República, no final do século XIX, a partir da Economia cafeeira exportadora cada vez mais fortalecida, o crescimento econômico se intensificou e ocorreu a formação de centros urbanos, que passaram a concentrar um setor de