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O questionamento que este estudo se propôs a esclarecer é quais modificações ocorridas na Classe Média brasileira, na década de 2000, em termos do número de pessoas que a compunham e de que maneira estas alterações influenciaram e beneficiaram essa classe na oferta do seu principal desejo de aquisição, a casa própria, tanto em âmbito nacional, quanto na área de estudo, por meio de um Programa habitacional, com destaque para o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV).

A relevância do problema proposto foi além de uma análise do consumo por uma classe econômica. Temas como déficit e política habitacional, direito à cidade, segregação urbana e o surgimento de uma nova classe econômica integram a análise do problema, o que veio a enriquecer este estudo na busca pelas questões levantadas inicialmente.

Como justificativa do estudo, o problema proposto, antes de ser algo cuja análise foi empreendida teoricamente, é um problema real. Muito se tem falado sobre as alterações nas classes econômicas no Brasil e seus impactos no consumo e o que este estudo buscou foi analisar a problemática proposta sob um novo prisma, baseado em uma hipótese.

A hipótese levantada é de que há uma estreita relação entre o nível de renda da Classe Média brasileira e as faixas de renda contempladas no PMCMV e considerou-se que o Programa beneficiou as classes econômicas com menor renda, mas também grande parte da Classe Média brasileira, o que revela a importância dessa parcela da população, contemplada em um Programa habitacional de grande relevância para a sociedade brasileira.

Apoiado na hipótese da pesquisa e diante do objetivo principal, que é analisar as alterações ocorridas na Classe Média brasileira na primeira década deste século e seus efeitos na oferta do seu principal desejo de aquisição, a casa própria, os objetivos específicos foram definidos e desenvolvidos ao longo da tese, quais sejam: (a) analisar a formação da Classe Média no Brasil; (b) verificar a distribuição das despesas familiares no Brasil e em Uberlândia entre os anos 2000 e 2010; (c) descrever a evolução da aplicação das políticas habitacionais a partir da segunda metade do século XX e caracterizar o déficit habitacional brasileiro e de Uberlândia na primeira década deste século; (d) analisar a implantação do Programa habitacional denominado Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) no Brasil e em Uberlândia.

Como pesquisa científica, este trabalho teve por objetivo alcançar a veracidade das respostas dadas aos questionamentos propostos, com o intuito da contribuição ao conhecimento científico, tal como delineado em Gil (2008, p. 8): “O que torna, porém, o conhecimento científico distinto dos demais é que tem como característica fundamental a sua verificabilidade.”

Para tanto, foram adotados métodos científicos para que o conhecimento, particularmente no campo de uma realidade social, fosse alcançado por meio de uma pesquisa embasada em um processo formal e sistemático (GIL, 2008), como passamos a descrever, a seguir. A partir da observação sistemática da realidade e dos fatos levantados, buscou-se a comprovação científica dos resultados obtidos na pesquisa.

Neste estudo, foi utilizado o método qualitativo de pesquisa no intuito de realizar uma análise abrangente da temática proposta e que possibilitasse melhor compreender a realidade encontrada, sendo empreendida a pesquisa teórica e documental. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica com obras de referência, teses, dissertações e artigos científicos, visando ao aprofundamento conceitual da temática bem como dos termos utilizados na pesquisa. A conceituação e a diferenciação entre classe social e econômica foi feita a partir de duas correntes, a marxista e a weberiana, auxiliada por diversos estudiosos sobre o assunto. A pesquisa bibliográfica também foi fundamental para o levantamento histórico da formação e composição da Classe Média no Brasil até a primeira década do atual século.

Além da bibliográfica, foi efetuada a pesquisa documental sobre dados estatísticos suscetíveis de um aprofundamento analítico e de uma distinta verificação desses dados voltados à abordagem temática do estudo. Leis, leis complementares, projetos de lei, decretos, medidas provisórias etc., das esferas federal e municipal, foram pesquisadas e utilizadas no desenvolvimento da pesquisa, com vistas ao entendimento da regulamentação de temas relacionados aos planos habitacionais e urbanos.

O levantamento de dados estatísticos secundários, oriundos principalmente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação João Pinheiro (FJP), foram fundamentais para a análise das classes econômicas, do déficit habitacional e das despesas de consumo da sociedade brasileira. Todavia, outras fontes foram essenciais para a análise, principalmente sobre os resultados do Programa Minha Casa, Minha Vida nos âmbitos nacional, estadual e municipal.

Sobre o consumo em Uberlândia, os dados utilizados foram advindos de um banco de dados secundários denominado IPC Maps, elaborado pela empresa especializada em índices de potencial de consumo denominada IPC Marketing Editora Ltda. e que contém informações demográficas e de potencial de consumo da totalidade dos municípios brasileiros.

Especificamente com relação aos resultados e impactos do PMCMV em Uberlândia desde sua implantação, as fontes formais utilizadas foram a Caixa Econômica Federal (CEF),

teses, dissertações e artigos científicos. No entanto, também dados informais foram obtidos junto à Prefeitura Municipal de Uberlândia (PMU), a construtoras, pesquisadores e profissionais do setor habitacional e esta foi a parte de maior dificuldade de obtenção, principalmente para a definição do local onde foram construídos os empreendimentos relacionados às faixas de renda que se enquadravam acima da Faixa 1 do PMCMV (acima de três salários mínimos ou de R$ 1.800,00 na última versão do Programa).

Neste intuito, primeiramente foi obtida junto à PMU uma relação de todas as obras que tiveram financiamento da CEF em Uberlândia desde o ano de 1990. Nesse caso, foram numeradas 1.240 obras, totalizando mais de 126.687 unidades habitacionais construídas nos mais diversos valores e localizações. Uma planilha indicava o número da operação, o nome do empreendimento, o nome da construtora, a data de recebimento do projeto na CEF, a data da contratação do financiamento, a quantidade de unidades habitacionais envolvidas na obra e o valor do investimento.

Diante dessa relação com a enormidade disponível de dados, o pesquisador excluiu todas as obras realizadas no período anterior a 2009. Essa exclusão se deu devido ao fato de o PMCMV ser implantado nesse ano, portanto, anteriormente não poderia haver contratos realizados envolvendo o Programa. O referido procedimento fez com que a quantidade de obras a ser analisada diminuísse para 90.354 unidades. Em seguida, optou-se pela exclusão das unidades habitacionais voltadas à Faixa 1 de renda. No site da CEF encontram-se disponíveis todos os contratos do PMCMV Faixa 1 em Uberlândia, como o nome do empreendimento, nome do mutuário, o Cadastro de Pessoa Física (CPF) do mutuário, a data de assinatura do contrato, a renda do mutuário (ou da família) e demais informações. De posse desses dados sobre os contratos da Faixa 1 em Uberlândia foram excluídas 11.641 unidades habitacionais das 90.354 que havia, restando 78.713 unidades, de um total de 776 obras realizadas.

Apoiado nesta relação levantada, com os nomes dos empreendimentos, contando com o conhecimento do pesquisador sobre os conjuntos habitacionais implantados em Uberlândia, em conversas com profissionais da área, em contatos com construtoras (por e-

mail e por telefone) e visitas in loco nos conjuntos acompanhado de outros pesquisadores e de

um ex-Secretário da Habitação da PMU, foram identificados e demarcados vários empreendimentos de todas as faixas de renda do PMCMV, mas não de todas as obras devido à elevada quantidade.

De posse dos dados levantados, foi possível desenvolver uma análise quanti- qualitativa, fazendo o cruzamento de conclusões formadas a partir da quantificação de dados e

da qualificação dos resultados observados, o que tornou exequível o cumprimento dos objetivos propostos e a resposta à problemática definida inicialmente, numa abordagem em âmbito nacional e especificamente da área de estudo, o município de Uberlândia-MG.

Para a elaboração do trabalho proposto, além desta parte introdutória, a temática foi desenvolvida em quatro seções, finalizando com as considerações finais.

A segunda seção faz uma abordagem conceitual de classes sociais, realizando a diferenciação entre classe social e classe econômica. Também faz um resgate histórico da formação da Classe Média no Brasil, traz a conhecimento do leitor algumas das denominações encontradas na literatura relativa ao tema, mostra as alterações ocorridas na composição dessa classe na primeira década de 2000 e explicita a classe econômica objeto deste estudo, a Classe Média, constituída por uma “Classe Média Tradicional” e pela “Nova Classe Trabalhadora”.

Na terceira seção, são apresentadas, em um primeiro momento, as alterações no consumo advindas das mudanças nas classes econômicas ocorridas na primeira década deste século, bem como seus motivadores, como o aumento do trabalho formal e a maior disponibilidade de crédito. Em um segundo momento foi caracterizada a Classe Média no município de Uberlândia e sua evolução, também na década passada, assim como as alterações nos itens de despesa entre os anos 2000 e 2010.

A quarta seção trata do item identificado neste estudo como de maior destaque entre as despesas das famílias e considerado como o maior desejo de consumo por grande parcela da sociedade, que é a habitação. A temática déficit habitacional é abordada, inclusive em outra perspectiva, a da demanda habitacional, na qual foi constatado que há poucos estudos realizados sobre esta última. Nessa seção também é realizado um resgate histórico das políticas habitacionais até a implantação do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), no ano de 2009. Sobre o Programa, sua análise parte de uma perspectiva nacional até sua abrangência em Uberlândia.

No quinta e última seção é realizado um detalhamento dos resultados do PMCMV em Uberlândia. É revelado como o Programa contemplou cada classe econômica desde sua implantação, em 2009, e quais os procedimentos para obtenção de um imóvel pelo Programa no município. Também é identificada qual a localização dos imóveis na cidade por faixa de renda e, por fim, realiza-se uma análise crítica do direito à cidade, um direito intrínseco a todo cidadão e que não é acessível a grande parcela dos mutuários contemplados pelo Programa, mesmo quando esses obtêm seu maior “sonho de consumo”, a casa própria.

Finalmente, nas Considerações Finais são contempladas as conclusões mais pertinentes do estudo proposto e algumas reflexões sobre a problemática analisada.