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III. Modalidades de Assédio Moral e Distinção de Figuras Afins

2. Breve Distinção Entre Assédio Moral no Trabalho e Alguns Fenómenos

O assédio moral no trabalho assemelha-se a outros fenómenos característicos da relação laboral sendo, por vezes, bastante difícil distinguir estas figuras, no entanto, tratando-se de realidades diferentes que por isso são objecto de tratamento jurídico diverso torna-se imperativo desenhar os contornos de cada um desses eventos.

2.1. Stresse

Hans Selye foi o criador do conceito de stresse e entendeu que este fenómeno era constituído em simultâneo pelo agente provocador ou stressante e pela reacção do organismo submetido a essa acção, que pode derivar em consequências físicas e

psicológicas127.

O que o assédio moral e o stresse têm em comum é o facto de ambos poderem, eventualmente, produzir efeitos negativos a nível fisiológico e psicológico. No

entanto, estes conceitos distinguem-se facilmente128.

Como refere ISABEL RIBEIRO PARREIRA129, “embora o stresse possa

desgastar bastante uma pessoa e levar a uma depressão por esgotamento, é uma mera consequência não perversa do trabalho, uma espécie de assédio profissional em que não existe humilhação nem falta de respeito para com o trabalhador”.

O stresse no local do trabalho deriva, na maioria das vezes, do excesso de trabalho (agente stressante) que provoca descontrolo e a sensação de nervosismo no trabalhador, diminuindo o seu nível de rendimento podendo degenerar em consequências nocivas para a sua saúde (resposta de stress no trabalhador).

No entanto, o stresse pode constituir uma primeira fase de assédio moral, isto é, este pode agravar-se e transformar-se no fenómeno em análise quando os actos a que o sujeito passivo é submetido não têm como efeito o aumento da sua produtividade mas,

antes, humilham e constrangem o trabalhador130.

127 Cfr. Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit., p. 143. 128

Cfr. Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit., p. 144. 129

Cfr. Isabel Ribeiro Parreira, ob. cit., p. 215. 130

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Ao contrário do stresse, o assédio moral deriva, não do excesso de trabalho mas das relações interpessoais que são estabelecidas dentro da organização. Por outro lado, assédio moral tem como objectivo ou efeito humilhar, vexar o trabalhador, enquanto

no stresse não existe qualquer intenção malévola de o prejudicar131.

A origem do stresse é o excesso de trabalho com vista a aumentar a produtividade do trabalhador, enquanto no assédio moral a origem são as pessoas. Desta forma, quando se diminui o conjunto de tarefas, “a situação resolve-se ao passo

que no assédio moral tal não sucede porquanto se mantém a pressão laboral

tendenciosa”132.

2.2.Conflito

O assédio moral deve ser considerado um conflito exagerado pois deriva, muitas vezes, de um conflito que evolui após um certo tempo, às vezes muito rapidamente, às

vezes depois de semanas ou meses133. No entanto, estas figuras facilmente se

distinguem.

O conflito é um fenómeno intrínseco à própria relação de trabalho porque faz parte da convivência humana, é através do conflito que se superam obstáculos. Quando gerido, este fenómeno pode ser produtivo e até tornar-se condição necessária

para a criatividade134.

Ao contrário, o assédio moral não é benéfico em circunstância alguma, pois o sujeito passivo é ofendido na sua dignidade sendo-lhe criado um ambiente de trabalho hostil e degradante.

Na esteira de ISABEL RIBEIRO PARREIRA135, “o assédio moral distingue-se

do conflito, declarado e aberto, porque não é verbalizado nem manifestado, mas oculto, subterrâneo; porque não integra uma igualdade de posições de ataque como o conflito, mas pressupõe uma assimetria de poderes gerada pela prévia desarmação do adversário, a vítima, que não tem vontade nem forças para contestar ou ripostar”.

131 Cfr. Em sentido idêntico, Isabel Ribeiro Parreira, ob. cit., p. 215: “No stresse e ao contrário do assédio moral, não existe intencionalidade malévola, isto é, visa-se apenas a rentabilidade do trabalhador e da empresa, enquanto no assédio o que está em questão é o indivíduo trabalhador, cuja vontade se tenta apagar tendo em vista outras motivações, máxime, o seu afastamento da empresa”; Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 150.

132 Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 151. 133

Cfr. Heinz Leymann, ob. cit. 134

Cfr. Heinz Leymann, ob. cit. 135

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2.3.Abuso do exercício do poder de direcção

Distinto do conceito de assédio moral no trabalho é o abuso das prerrogativas inerentes à hierarquia.

Esta distinção faz-se tendo em consideração as diferentes motivações das figuras, já que na origem do abuso do poder de direcção por parte do empregador está a procura de maior produtividade com o objectivo de aumentar o lucro, enquanto no

assédio moral o objectivo ou o efeito é humilhar, vexar o trabalhador136.

Para além disso, é possível distinguir a figura do assédio moral do abuso do poder de direcção através das consequências de cada um dos fenómenos. Do abuso das prerrogativas inerentes à hierarquia deriva a ofensa aos direitos laborais relativos ao lugar, ao tempo, ao modo e à contraprestação de trabalho, enquanto o assédio moral

ofende direitos fundamentais137.

Contudo, o exercício abusivo do poder de direcção pode facilmente converter-se em assédio moral, quando um conjunto de actos, pela sua repetição e sistematização, produzirem um trato degradante, humilhante, vexatório ofendendo a dignidade do

trabalhador138.

Isto equivale a dizer que “verificando-se uma reiteração sistemática de actos

que tenham por objectivo ou efeito quer um trato vexatório, quer um ambiente de trabalho degradante, humilhante, então, estamos perante uma situação de assédio moral, mas é manifestamente insuficiente uma qualquer violação por mais abusiva

que seja”139

.

2.4.Violência física

O assédio moral distingue-se da violência manifesta e física, assim como da violência sexual. Para além disto, também a violência proveniente de terceiros à empresa se distingue do fenómeno em análise, salvo se esta tiver conhecimento de tal facto e nada fizer para o evitar. O assédio moral não abarca a violência física por

muito que deste derivem consequências patológicas140.

136 Cfr. No mesmo sentido, Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit., p. 147; Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no

Trabalho…, ob. cit., p. 157.

137 Cfr. Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit, p. 148; Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 157.

138

Cfr. Identicamente, Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit., p. 148. 139

Cfr. Mago Graciano de Rocha Pacheco, ob. cit., p. 149. 140

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