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III. Modalidades de Assédio Moral e Distinção de Figuras Afins

1. Modalidades de Assédio Moral

1.2. Da Motivação da Conduta

O assédio moral emocional é, regra geral, praticado entre diversos níveis de hierarquia e é essencialmente praticado por um sujeito activo dotado muitas vezes de

uma personalidade obsessiva, perversa ou patológica115.

Parece ser possível inserir nesta modalidade de assédio os designados

“psicopatas das organizações”, termo adoptado por Paul Babiak116

, psicólogo norte- americano, para definir aqueles indivíduos que dotados de evidentes qualidades de um líder, que deve ser energético, afirmativo e dominador, são incapazes de se emocionarem com o sofrimento dos outros, mesmo quando são eles a causar essa dor.

Estes indivíduos vivem numa procura constante de situações de tensão e conflito, são orientados por um desejo patológico de vencer e têm uma forte inclinação para magoar os outros, conseguem manipular colegas e chefias com jogos de segredos e mentiras, intimidação e chantagem.

1.2.2. Assédio moral estratégico

Esta modalidade de assédio moral é prática recorrente daquelas empresas que pretendem promover o afastamento, à margem da lei, dos sujeitos tidos como incómodos. Do ponto de vista da motivação, neste caso de assédio moral, RITA

GARCIA PEREIRA117 faz referência à existência de uma “vontade discriminatória

direccionada a determinados sujeitos e tendencialmente expulsiva”.

Nestes casos estamos perante aquilo a que JÚLIO GOMES118 denomina de “um

certo darwinismo económico, que impõe uma selecção impiedosa dos melhores, que surge então, como mecanismo de justificação do assédio”.

Um bom exemplo de assédio moral estratégico parece ser o da France Telecom. A France Telecom foi privatizada no início dos anos 90, mas grande parte dos seus funcionários manteve o vínculo à função pública. No entanto, a nova gestão de terror com vista à eliminação de 22 mil postos de trabalho, em três anos, por forma a obter

115 Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 175.

116 Cfr. Sobre esta matéria, REVISTA “ÚNICA”, Suplemento do Jornal “O EXPRESSO”, Psicopatas de colarinho branco, por Alberto Vasconcelos, 4 de Dezembro de 2004, pp. 106 a 108, disponível em http://assediomoralonline.com/userfiles/file/psicopatas%20no%20trabalho.pdf.

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Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., pp. 175 e 176. 118

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um aumento de produtividade instalou-se de tal forma que aos funcionários só restavam duas opções: ou a adaptação a novas funções ou o assédio.

Desta forma, foi oferecida formação aos funcionários no sentido de os preparar para a mudança. Para ilustrar o espírito competitivo e impiedoso da empresa foi pedido a uma dezena de formandos que tratassem de um gatinho durante cinco dias, apenas para, ao sexto dia, o matarem.

O objectivo de reduzir a massa salarial em três anos foi superado, eliminaram-se 24 mil postos de trabalho, a France Telecom tornou-se numa das empresas mundiais que mais despedia e tornou-se ainda mais mediática pelo triste facto de 35 dos seus trabalhadores terem cometido o suicídio entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2010

devido ao stresse e ao ambiente de terror e violência vividos dentro da empresa119.

Outro exemplo de assédio moral estratégico passa pela simples violação do dever de ocupação efectiva por parte da entidade empregadora para obrigar o trabalhador a cessar o seu contrato de trabalho, conseguindo assim a sua exclusão da

empresa120.

1.2.3. Assédio moral institucional

O assédio moral institucional, ao contrário do assédio moral estratégico que é dirigido a um grupo específico de pessoas com vista à sua expulsão da organização de trabalho, é aplicado a todo um universo de trabalhadores com vista à implementação de determinados procedimentos ou à proibição de certos comportamentos, visando,

com tais medidas, atingir melhores resultados produtivos121.

1.2.4. Whistleblowing

Para além destas classificações habituais de assédio moral relativas à motivação

da conduta, RITA GARCIA PEREIRA122 aponta uma outra, o whistleblowing, que

traduzido à letra significa denúncia. Este fenómeno retracta aqueles indivíduos que denunciam fraudes, irregularidades, condutas ilegais ou imorais que se desenvolvem

no seio de uma organização e por isso sofrem represálias123.

119 Cfr. Sobre o caso France Telecom, REVISTA VISÃO, Assédio Moral -Histórias de Terror no Trabalho, ob. cit., pp. 118 a 132. 120 Cfr. Messias Carvalho, ob. cit., p. 44.

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Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 176. 122

Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 176. 123

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Nestes casos a conduta assediante visa calar quem não aprova determinadas irregularidades ou castigar quem as denuncia.

1.2.5. Síndrome de Estocolmo Laboral

Outra modalidade de assédio moral no trabalho diz respeito à síndrome de Estocolmo Laboral, “em que o agente activo, mais do que aterrorizar a vítima, tenta

debilitar a sua razão ou fazê-la duvidar dos seus sentidos e percepções”124.

A Síndrome de Estocolmo Laboral não é mais do que o sentimento de apego, identificação e até mesmo o vínculo psico-emocional do indivíduo ou grupo para com as empresas cujas condições de trabalho ou os estilos de gestão são hostis,

inadequados e até mesmo condenáveis125.

1.2.6. Assédio Moral Discriminatório

O assédio moral discriminatório é uma das modalidades do conceito mais amplo de assédio moral, resulta da violação do direito à igualdade e não discriminação abrangendo, assim, parte das condutas e não todo o feixe de comportamentos assediantes.

O assédio moral em toda a sua amplitude tenderá a ofender uma série de direitos como, por exemplo, o direito à ocupação efectiva, o direito à integridade pessoal, o direito à imagem, o direito à reserva da intimidade da vida privada, entres outros e não só o direito à igualdade e não discriminação.

Numa situação de assédio moral discriminatório a motivação da conduta e o seu efeito é o de violar o direito à igualdade e à não discriminação, ao passo que o assédio moral em toda a sua amplitude tem várias motivações que não apenas a discriminatória.

Neste sentido, seguindo a linha de pensamento de RITA GARCIA PEREIRA126,

“ (…) o assédio discriminatório é apenas uma das diversas variantes do conceito mais genérico de assédio moral, uma vez que não cobre nem abrange todos os

124 Cfr. Rita Garcia Pereira, Mobbing ou Assédio Moral no Trabalho…, ob. cit., p. 178.

125Cfr. Félix Socorro, El Síndrome de Estocolmo en la empresa, un fenómeno extraño pero común, disponível emhttp://www.chilecapacita.cl/nweb_portal/mundocapacita/ver_noticia.php?codCodigo=135&codigo=codNoticia&tabla=nmc_ noticias&codCategoria=2&ruta=noticias.

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comportamentos mas, (…) apenas uma parte deles, ou seja os que se fundam em qualidades específicas do sujeito passivo”.

2. Breve Distinção Entre Assédio Moral no Trabalho e Alguns Fenómenos