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BREVE ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DE LONDRES

ANDORRA, LONDRES, NICE E MÓNACO – TERRITÓRIOS E CULTURAS RECETORAS 1 CONTEXTO E PADRÃO DA EMIGRAÇÃO PORTUGUESA NA ATUALIDADE

3. BREVE ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DE LONDRES

Londres (Figura 12), atual capital de Inglaterra e do Reino Unido, situada sobre as margens do rio Tamisa, desde (pelo menos) os tempos do Império Romano, tem tido sempre uma relevante importância geoestratégica não só enquanto ponte comunicacional entre o velho continente e os vários povos da atual Irlanda e Escócia, como também enquanto zona tampão que impediria ataques ao próprio Império Romano. Paulatinamente, e com o decorrer da História e das próprias vicissitudes da grande ilha, Londres acabaria por se afirmar quer enquanto sede do poder real e britânico, quer enquanto grande metrópole marítima, industrial, científica e cultural.

Hoje, encontra-se entre as maiores, as mais ricas e as mais multiculturais metrópoles a nível mundial. Em 2015, terá já ultrapassado os 8 milhões de habitantes (DN Globo, 2014; BBC News, 2015) que se estendem por mais de 1500 quilómetros quadrados.

Como é sabido, o reino de sua majestade esteve intimamente ligado aos grandes movimentos coloniais da história da Humanidade. Também por isso, a sua capital desde cedo tornou-se numa metrópole mundial, da qual partiram e chegaram gentes e culturas de todo o mundo. Deste modo, não é de todo estranho perceber que Londres tem sido naturalmente uma plataforma onde circulam vários fluxos emigratórios e imigratórios. Na verdade, tais migrações não só são originárias de diferentes partes do globo, como têm sido, também, muitíssimo diversificadas ao longo do tempo. Com efeito, ainda hoje se sentem os ecos – entretanto multiplicados – da enorme pujança económica inglesa, fazendo da capital londrina um local muito atrativo para quem procura uma vida melhor, seja ele oriundo do “velho continente” ou até de uma antiga colónia mais longínqua. A própria Commonwealth é, em si mesmo, representativa desta vitalidade nas relações entre as várias comunidades de língua inglesa. Uma vez mais, a cidade onde reside a coroa britânica assume a sua proeminência.

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Figura 12 – Mapa de Londres

Fonte: Viver e Trabalhar em Londres – Portugueses em Londres, 2015.

Assim, se é verdade que a expansão colonial e as relações com o Império fizeram de Londres uma cidade apetecível para quem procurava e procura negócios e/ou simplesmente um trabalho, é igualmente verdade que a revolução industrial e o estabelecimento da bolsa de Londres fizeram da cidade uma verdadeira metrópole mundial onde fervilhavam e fervilham empresas, capitais e, naturalmente, pessoas.

Grosso modo, se até 1983 Londres assiste a um maior número de partidas do que chegadas de

migrantes, a partir dessa data, e sobretudo a partir do alargamento da União Europeia aos países de Leste em 2004, a City – à imagem do que ocorre no Reino Unido em geral (Vargas-Silva & Markaki, 2015) – é decisivamente mais um porto de chegada do que de partida de gentes e culturas (Gidley, 2010, p. 9).

Paralelamente, Londres tem-se cimentado na contemporaneidade enquanto plataforma multicultural, fruto também da enorme projeção artística constante na cidade, a qual representa, na prática, a “montra” por excelência das grandes tendências culturais a nível global.

Por outro lado, a zona central de Londres é ainda considerada – a par de Nova Iorque, Singapura e Hong-Kong –, um dos quatro grandes centros financeiros mundiais (GFCI, 2015, pp. 2-4), na qual estão sediadas, por exemplo, inúmeras multinacionais de grande relevo5.

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Deste modo, Londres tem-se afigurado como uma verdadeira placa giratória onde converge, se mescla e, não raras vezes, se difunde, todo um conjunto de dinamismos económico-financeiros, políticos, sociais e culturais, o que, no que concerne a taxas de criação de emprego, se traduz naturalmente num local onde a diáspora poderá encontrar as oportunidades que tanto almeja.

Aliado a tudo isto, junta-se a crise económico-financeira dos mercados da Europa do Sul. Todos eles provocaram toda uma série de influências que, em última análise, fez com que Londres se tenha tornado um destino de eleição – também – para os emigrantes portugueses da atualidade.

Não obstante a divergência entre os números oficiais e reais da emigração, decorrente do facto de nem todos os emigrantes fazerem a inscrição para a Segurança Social inglesa aquando da chegada, os dados relativos ao primeiro trimestre de dois mil e catorze, colocam Portugal no sexto lugar na tabela dos países com maior número de inscrições, logo atrás da Polónia, Roménia, Espanha, Itália e Índia (in Observatório de Emigração, maio, 2014).

Com efeito, e se compararmos com a lista dos 15 países mais representados em Londres elaborada pelo Office for National Statistics (2012), a crescente presença lusitana em Londres parece exponencial, na medida em que em 2011 não estava sequer contemplada nas primeiras 15 nacionalidades residentes na capital inglesa.

Uma vez chegados a Londres, boa parte da comunidade lusa acabou por tender a estabelecer residência no bairro de Stockell. Com efeito, o espaço onde outrora fora conhecido por se tratar de um bairro multiétnico problemático, hoje é sobretudo frequentado não apenas por portugueses, como também por todos aqueles que procuram consumir os produtos portugueses. Assim, a hospitalidade e gastronomia portuguesa parecem ter conquistado uma boa imagem junto dos londrinos e que não passa ao lado de algumas revistas como a Time Out (Time Out London, 2015) que convidam à visita a este “pequeno Portugal” em Londres.

Percorrendo as ruas de Stockell, e alguns sites comerciais (Sintra Café Online, 2015) é comum depararmo-nos com a alusão aos produtos e simbologias lusitanos, onde não faltam naturalmente as mercearias e a restauração com os bens de consumo mais típicos de Portugal e onde, da mesma forma, não são raras as alusões a comemorações e a eventos que projetam a cultura e identidades mais intrínsecas de Portugal, entre os quais o fado é um notório exemplo (Figuras 13 e 14).

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Figura 13 – Publicidade alusiva às comemorações do 25 de Abril em Stockell, Londres

Fonte: Labour, 2013

Figura 14 – Publicidade alusiva a um jantar com fado ao vivo, em Stockell, Londres

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