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TERRITÓRIOS E ABORDAGEM METODOLÓGICA 1 INTRODUÇÃO

4. PROCEDIMENTOS 1 As várias fases

Para sustentar esta proposta centrada no estudo comparado do empreendedorismo emigrante português em Andorra, Londres (Bairro de Stockwell), Nice (cidade) e Mónaco, incluindo a deteção de enclaves económicos e respetivos processos de integração social, política e cultural, a consistência dos instrumentos de avaliação utilizados é um fator crítico. Se os instrumentos são mal construídos os seus resultados serão sempre encarados com alguma desconfiança. Assim, para os tornar em instrumentos empiricamente consistentes, foram construídos seguindo algumas etapas.

A primeira versão do inquérito e do guião de entrevista foi elaborada com base nos fatores decorrentes de modelos concetuais, mais ou menos suportados por investigação empírica, onde a revisão da literatura sobre a emigração e sobre o empreendedorismo acabou por ser determinante na deteção desses fatores. Em finais de 2011, foi lançado o primeiro esboço destes instrumentos e solicitada a colaboração de toda a equipa no sentido de averiguar a pertinência das questões e a necessidade de incluir outras.

Numa segunda fase, o processo de construção destes instrumentos envolveu, por um lado, entrevistas com empresários dos diferentes ramos de atividade, que permitiram incluir dimensões de negócio, que de alguma forma escaparam numa primeira análise, e por outro, várias reuniões de equipa, onde as propostas de inquérito e de guião de entrevista foram analisadas item a item, de forma a detetar problemas na formulação e/ou adequação dos itens aos diversos planos de investigação e proceder às respetivas alterações de modo a garantir a inteligibilidade e aplicabilidade das afirmações. Em junho de 2012, foi redigida a versão final destes instrumentos e definido que o inquérito seria de preenchimento online, sendo que a presença do entrevistador estaria sempre garantida. O guião da entrevista, no qual estavam enunciados um certo número de categorias temáticas, tornou-se referência em torno da qual os entrevistados falariam. As categorias temáticas surgem articuladas e não têm uma sequência rígida, permitindo adequar as perguntas mediante o discurso do entrevistado.

Numa terceira fase, já em finais de 2012 e já com a plataforma do inquérito finalizada, foram iniciados os pré-testes com a aplicação de inquéritos em Andorra, Londres (Bairro de Stockwel), Nice (cidade) e Mónaco, onde para além de testar os meios informáticos que estão à disposição dos inquiridores, também permitem averiguar o tempo de administração; as dificuldades na compreensão das questões; verificar se a escolha do idioma português não constitui problema; verificar se as questões são claras e objetivas; verificar se não faltavam categorias nas questões fechadas e verificar o número de não respostas.

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No mesmo período, foram feitas as entrevistas exploratórias, que segundo Oliveira (2008), e referindo Quivy & Campenhoudt (1995), têm como função principal revelar alguns aspetos do fenómeno estudado, que o investigador não teria acesso, pelo simples facto de não exercer controlo sobre estes fenómenos.

No caso da presente investigação, as entrevistas realizadas abriram novos campos de análise que não estavam previstos. Ao possibilitar que os entrevistados enriquecessem as entrevistas com considerações sobre a sua vivência como emigrantes, permitiu que nos questionássemos sobre a forma como se relacionam com a diversidade cultural, tanto no país que os acolheu, como com as diversas culturas que interagem.

Numa quarta fase, entre março e dezembro de 2013 foram aplicados os inquéritos por questionário em formato digital, com o propósito de tornar mais expedita a tarefa da criação da base de dados e foram realizadas as entrevistas.

Como forma de garantir que todos os inquéritos fossem validados, optou-se por uma administração indireta, onde apesar do inquirido poder acompanhar visualmente o mesmo, as tarefas de formular as perguntas e registar as respostas eram da competência do inquiridor.

As entrevistas semidiretivas foram individuais, pois estas permitem o aprofundamento de temáticas de cariz pessoal e íntimo, que se tornam especialmente delicadas sobre os quais a pessoa pode não estar à vontade para falar na presença de pares, mesmo que estes sejam muito próximos em termos de laços familiares e/ou em termos afetivos.

A aplicação dos instrumentos foi realizada nos edifícios das empresas visadas e esteve sujeita a marcação prévia, havendo, em alguns casos, necessidade de remarcação. O objetivo desta tarefa que, apesar de tornar a recolha da informação mais morosa, consistiu na eliminação de eventuais ruídos de contexto e na garantia de que a realização do inquérito e da entrevista apenas tivesse lugar quando os empresários estivessem efetivamente disponíveis, reforçando o carácter voluntário da participação dos mesmos.

Com base na amostragem do nosso ensaio foi realizado ainda um estudo de cariz – sobretudo – quantitativo, alicerçado numa pesquisa na internet com vista a aferir a eventual presença de tais empresas na rede por um lado, mas também a tipologia dessa mesma presença. Paralelamente, foi realizada a mesma diligência em nome dos empreendedores em causa até porque, não raras vezes, a empresa confunde-se com o próprio proprietário, na medida em que é ele o rosto da organização, mas também porque uma parte significativa da amostragem engloba empresas de pequena e/ou média dimensão, acentuando, por conseguinte, a premissa individual do empresário. Assim, em primeiro lugar pretendemos saber se existia ou não algum tipo de alusão virtual das empresas-alvo.

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Num segundo momento, tentámos aferir a intencionalidade de tal presença. Para isso, relacionámos o número de presenças virtuais das empresas/empreendedores com uma aparência intencional, ou seja, empresas com web pages, com referências de e-mail e/ou com conta aberta nas redes sociais. Por outro lado, associamos à presença não intencional na internet, todas aquelas menções às empresas observadas de forma indireta, ou seja, a todo o conjunto de informações mais ou menos dispersas em sites que não pertenciam às referidas empresas. Podemos encontrar, por exemplo, informações sobre um determinado restaurante num site da especialidade ou num roteiro virtual de uma determinada região de turismo, sem que essa informação tenha sido vinculada pela empresa, ou seja, esta empresa acaba por usufruir de uma “publicidade” sem que esta tenha necessariamente sido estruturada por ela. Haverá ainda certamente casos em que a informação não só pode ser desconhecida pela própria empresa como pode inclusivamente “fugir ao seu controlo”. Veja-se, a título de exemplo, o caso do assaz conhecido tripadvisor.com que pode eventualmente conter informações menos agradáveis/desfavoráveis em relação à própria organização em causa.

Numa terceira fase, e tendo em conta somente o grupo de presenças ditas diretas/intencionais na

rede, subdividimo-las conforme a sua tipologia. Neste ponto, pretendemos aferir a percentagem de

presenças através de uma página do tipo institucional ou, pelo contrário, a percentagem de páginas de cariz não institucional. Com efeito, se às primeiras associámos as páginas tipo web de uma determinada empresa, às segundas relevamos as presenças através de redes sociais, blogs e afins.

Finalmente, pretendemos constatar o grau de interação/atualização da informação nas redes sociais. Para isso apenas considerámos esta tipologia na medida em que são as páginas ditas “dinâmicas” do tipo Facebook que nos permitem observar, por um lado, os momentos em que determinada informação é introduzida, como também nos permite, por outro lado, versar acerca da quantidade de informação introduzida na rede. Em contraponto, as páginas web são, na sua própria essência, mais “estáticas”, pelo que não caberiam nesta análise. A nossa observação temporal mediou entre janeiro de 2013 e dezembro de 2014, sendo que considerámos que a informação é “raramente atualizada” quando não se verificam atualizações há mais de doze meses e, em contraponto, entende- se “bastante atualizada” quando se verificam atualizações há menos de um mês.