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Breve evolução legislativa, em Portugal, do Abuso de Confiança

III. ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO ABUSO DE CONFIANÇA

1. Abuso de Confiança Fiscal

1.1 Breve evolução legislativa, em Portugal, do Abuso de Confiança

Fiscal

Conforme enfatizam Magalhães e Menezes e Fontes (2005) foi através da lei nº 89/89, de 11 de Setembro que a AR (Assembleia da República) deu autorização para que o governo legislasse a respeito das infrações fiscais. Foi assim criado o Regime Jurídico das Infracções Fiscais não Aduaneiras (RJIFNA), através do Decreto-Lei (DL) nº 20- A/90, de 15 de janeiro. O abuso de confiança fiscal teve assim a sua origem no artigo 24º do RJIFNA23, tal como referido por Ferreira dos Reis (2008) com o intuito de punir o não pagamento (pontual) de impostos devidos por substituição tributária, posteriormente prolongou-se ao não pagamento de contribuições da segurança social também por substituição (artigo 27ºB do RJIFNA).

Em 1993 foi parcialmente alterado pelo DL nº 394/93, de 24 de Novembro24. Em 2001, é totalmente revogado, e aprovado o Regime Geral das Infracções Tributárias (RGIT), diploma que unificou os anteriores regimes jurídicos das infrações fiscais, aduaneiras e

23 Redação inicial: “1 – Quem, com intenção de obter para si ou para outrem vantagem patrimonial indevida, e estando legalmente obrigado a entregar ao credor tributário a prestação tributária que nos termos da lei deduziu, não efectuar tal entrega total ou parcialmente será punido com pena de multa até 1000 dias. 2 – Para os efeitos do disposto no número anterior, considera-se também prestação tributária a que foi deduzida por conta daquela, bem como aquela que, tendo sido recebida, haja obrigação legal de a liquidar, nos casos em que a lei o preveja. 3 – É aplicável o disposto no número anterior ainda que a prestação deduzida tenha natureza parafiscal e desde que possa ser entregue autonomamente. 4 – Se no caso previsto nos números anteriores a entrega não efectuada for inferir a 50 000$, a pena será a de multa até 180 dias, e se for superior a 1 000 000$, a pena não será inferior a 700 dias de multa. 5 – Para instauração do procedimento criminal pelos factos previstos nos números anteriores é necessário que tenham decorrido 90 dias sobre o termo do prazo legal de entrega da prestação. 6 – Se a obrigação da entrega da prestação for de natureza periódica, haverá tantos crimes quantos os períodos a que respeita tal obrigação.”.

24 Veio alterar os nºs 1, 4, 5 e 6 da redação original: “1 – Quem se apropriar, total ou parcialmente, de prestação tributária deduzida nos termos da lei e que estava legalmente obrigado a entregar ao credor tributário será punido com pena de prisão até três anos ou multa não inferior ao valor da prestação em falta nem superior ao dobro sem que possa ultrapassar o limite máximo abstractamente estabelecido. (…) 4 – Se no caso previsto nos números anteriores a entrega não efectuada for inferior a 250 000$, o agente será punido com multa até 120 dias. 5 – Se nos casos previstos nos números anteriores a entrega não efectuada for superior a 5 000 000$, o crime será punido com prisão de um até cinco anos. 6 – Para instauração do procedimento criminal pelos factos previstos nos números anteriores é necessário que tenham decorrido 90 dias sobre o termo do prazo legal de entrega da prestação” (o nº 6 nesta redação, corresponde ao anterior nº 5).

26 não aduaneiras (respetivamente RJIFA E RJIFNA). Com a aprovação do RGIT, através da Lei nº 15/2001, de 05 de junho passou o crime de abuso de confiança fiscal a constar no artigo 105º25 e o abuso de confiança contra a segurança social no artigo 107º, da referida lei (RGIT). O crime de abuso de confiança fiscal é modificado e alterado continuamente pela Lei nº 60-A/2005, de 30 de Dezembro26, pela Lei nº 53º-A/2006, de 29 de Dezembro27 e, finalmente, pela Lei nº 64-A/2008, de 31 de Dezembro28, que entrou em vigor em 01/01/2009.

No dizer de Ferreira dos Reis (2008) entre ambos: RJIFNA e RGIT não há coincidência total, a diferença só é notada com a redação dada ao nº 4 do artigo 105º do RGIT pelo artigo 96º da lei nº 53º A/2006, de 29 de Dezembro, diferença essa que abordaremos no ponto seguinte.

Magalhães e Menezes e Fontes (2005) salientam que

[o] crime de abuso de confiança fiscal apresenta uma nota dominante, a existência de uma relação de confiança – ou de fidúcia, se assim se quiser chamar. O abuso de confiança fiscal pressupõe a existência de uma relação jurídica fiscal

25 O normativo original - quando o “Abuso de Confiança Fiscal” passou a constar no RGIT - através do

artigo 105.º, estabelecia: “1 – Quem não entregar à administração tributária, total ou parcialmente,

prestação tributária deduzida nos termos da lei e que estava legalmente obrigado a entregar é punido com pena de prisão até três anos ou multa até 360 dias. 2 – Para os efeitos do disposto no número anterior, considera-se também prestação tributária a que foi deduzida por conta daquela, bem como aquela que, tendo sido recebida, haja obrigação legal de a liquidar, nos casos em que a lei o preveja. 3 – É aplicável o disposto no número anterior ainda que a prestação deduzida tenha natureza parafiscal e desde que possa ser entregue autonomamente.4 – Os factos descritos nos números anteriores só são puníveis se tiverem decorrido mais de 90 dias sobre o termo do prazo legal de entrega da prestação. 5 – Nos casos previstos nos números anteriores, quando a entrega não efectuada for superior a (euro) 50000, a pena é a de prisão de um a cinco anos e de multa de 240 a 1200 dias para as pessoas colectivas. 6 – Se o valor da prestação a que se referem os números anteriores não exceder (euro) 1000, a responsabilidade criminal extingue-se pelo pagamento da prestação, juros respectivos e valor mínimo da coima aplicável pela falta de entrega da prestação no prazo legal, até 30 dias após a notificação para o efeito pela administração tributária. 7 – Para efeitos do disposto nos números anteriores, os valores a considerar são os que, nos termos da legislação aplicável, devam constar de cada declaração a apresentar à administração tributária.”

26O nº 6 foi modificado, passando a ter a seguinte redação: “6 – Se o valor da prestação a que se referem os números anteriores não exceder € 2000, a responsabilidade criminal extingue-se pelo pagamento da prestação, juros respectivos e valor mínimo da coima aplicável pela falta de entrega da prestação no prazo legal, até 30 dias após a notificação para o efeito pela administração tributária.”

27Entrou em vigor a 1 de janeiro de 2007 e veio alterar o nº 4, passando a ter a redação seguinte: “4 – Os factos descritos nos números anteriores só são puníveis se: a) Tiverem decorrido mais de 90 dias sobre o termo do prazo legal de entrega da prestação; b) A prestação comunicada à administração tributária através da correspondente declaração não for paga, acrescida dos juros respectivos e do valor da coima aplicável, no prazo de 30 dias após notificação para o efeito.”

28 Esta última alteração legislativa, revogou o nº 6 e reformulou o nº 1: “1 – Quem não entregar à administração tributária, total ou parcialmente, prestação tributária de valor superior a € 7500, deduzida nos termos da lei e que estava legalmente obrigado a entregar é punido com pena de prisão até três anos ou multa até 360 dias.”

Para que melhor se entendam

fiscal foi alvo, segue a evolução legislativa do Abuso de Confiança Fiscal em Portugal, na Figura 3.1, e nos Apêndices

24º do RJIFNA e do Apêndice

Figura 3.1 Evolução legislativa do Abuso de Confiança Fiscal em Portugal

Este crime desde que nasceu já sofreu diversas modificações de forma que já foi cognominado por vários autores de «crime irrequieto» devido a essas «metamorfoses».