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De acordo com Vieira (2005 apud ROCHA NETO 2009) inicia seu relato histórico sobre a educação profissional no Brasil a partir do Período Imperial (1822 a 1888), destacando que, nas suas origens, fora principalmente destinada a amparar órfãos e demais desvalidos da sorte. Esta perspectiva foi aparentemente modificada durante a República Velha (1889 a 1929) no início de um esforço público de organização da educação profissional, migrando da preocupação principal com o atendimento de menores abandonados, para outra – a de preparar operários para o exercício profissional. Note-se que já se iniciava uma abordagem com base na Teoria do Capital Humano (TCH) que foi proposta nos EUA na década de 60 do século passado.

O principal interesse do citado historiador foi o de marcar a relação da educação profissional e tecnológica com os setores de produção, especificamente em relação aos atuais Arranjos Produtivos Locais (APL), uma forma de organização que somente se iniciou no Brasil no final da década de 1990, sobretudo inspirada na experiência europeia. Esses arranjos são caracterizados por aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm conexões, vínculos, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais - governo, associações empresariais, instituições de crédito e ensino e pesquisa.

A existência e a dinâmica desses arranjos sugerem as vocações tecnológicas locais (especializações), que poderiam servir de orientação da educação profissional e tecnológica. Este deveria ser um critério para efeito de avaliação, isto é, a adequação dos cursos oferecidos e da infraestrutura às demandas dos arranjos produtivos locais, formalizados ou não. Destaca que em 1861 foi organizado, por Decreto Real, o Instituto Comercial do Rio de Janeiro, cujos diplomados tinham preferência no preenchimento de cargos públicos das Secretarias de Estado.

Foram criadas também sociedades civis destinadas a amparar crianças e jovens órfãos e abandonados - as mais importantes delas foram os Liceus de Artes e Ofícios, inspirados nos museus de “Arts et Métieurs” da França, dentre os quais podem ser destacados os do Rio de Janeiro (1858), Salvador (1872), Recife (1880), São Paulo (1882), Maceió (1884) e Ouro Preto (1886). Os Liceus de Artes e Ofícios estão na origem da inspiração dos atuais Centros de Vocação Tecnológica (CVT) que foi iniciado no Brasil pelo Deputado Federal Ariosto Holanda no Ceará. É importante enfatizar que as motivações e missões dos CVT não são muito diferentes da ideia inicial dos Liceus.

Em 1906, o ensino profissional passa a ser atribuição do Ministério da Agricultura, Indústria, e Comércio. Consolida-se, então, uma política de incentivo ao desenvolvimento do ensino comercial e agrícola.

Por iniciativa de Nilo Peçanha, em 1909, foram instaladas dezenove escolas de aprendizes e artífices destinadas aos pobres e humildes, distribuídas nas várias unidades da Federação. Eram escolas similares aos Liceus de Artes e Ofícios, voltadas basicamente para o ensino industrial, mas custeadas pelo Estado. No mesmo ano, foi reorganizado, também, o ensino agrícola, objetivando formar chefes de cultura, administradores e capatazes.

Durante a década de 1910 foram instaladas várias oficinas destinadas à formação profissional de ferroviários, que desempenharam importante papel na história da educação profissional brasileira, como embriões da organização do ensino profissional e técnico na década seguinte. Na década de 1920, a Câmara dos Deputados promoveu uma série de debates sobre a expansão do ensino profissional, propondo a sua extensão a todos e não apenas aos desafortunados.

Em 1931, foi criado o Conselho Nacional de Educação e, nesse mesmo ano, também foi efetivada uma reforma educacional que levou o nome do Ministro Francisco Campos e que prevaleceu até 1942, ano em que começou a serem aprovadas as Leis Orgânicas do Ensino, conhecidas como Reforma Capanema.

Em 1932, foi divulgado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, buscando a avaliar e sugerir rumos às políticas públicas em matéria de educação e, nesse mesmo ano realizou-se a V Conferência Nacional de Educação, cujos resultados se refletiram na Assembleia Nacional Constituinte de 1933.

A Constituição de 1934 (BRASIL) inaugurou objetivamente uma nova política nacional de educação ao estabelecer como uma das competências da União, traçar diretrizes da educação nacional.

Durante o Estado Novo (1937 a 1945), com a Constituição outorgada de 1937, muito do que foi definido em matéria de educação em 1934 foi abandonado. Entretanto, pela primeira vez, a Constituição tratou das escolas vocacionais e pré- vocacionais, como um dever do Estado para com as classes menos favorecidas (Art. 129). Essa obrigação do Estado deveria ser cumprida com a colaboração das indústrias e dos sindicatos, as chamadas classes produtoras, as quais deveriam criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados.

A partir de 1942 foram baixadas por Decreto as Leis Orgânicas da educação nacional: Ensino Secundário e Normal e do Ensino Industrial (1942), Ensino Comercial (1943) e Ensino Primário e do Ensino Agrícola (1946). Como resultado propiciou a criação de entidades especializadas como o (SENAI) Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (1942) e o (SENAC) Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (1946), bem como a transformação das antigas escolas de aprendizes artífices em escolas técnicas.

Em 1942, o Governo Vargas, por um Decreto-Lei estabeleceu o conceito de menor aprendiz para os efeitos da legislação profissional, e por outro dispôs sobre a Organização da Rede Federal de Estabelecimentos de Ensino Industrial. Com estas providências a educação profissional se consolidou no Brasil. Note-se que o conceito de rede já estava presente nesta época.

No conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional o objetivo do ensino secundário e normal e superior (atribuído como competência do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores) era o de formar as elites dirigentes e o objetivo do ensino profissional (anteriormente afeto ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio), oferecer formação adequada aos filhos dos operários, e aos menos afortunados, aqueles que necessitam ingressar precocemente na força de trabalho.

Na década de 1950 foi concedida equivalência entre os estudos acadêmicos e profissionalizantes. A plena equivalência entre todos os cursos do mesmo nível, sem necessidade de exames e provas de conhecimentos, só veio a ocorrer com a promulgação da Lei Federal n.º 4.024/61, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) classificada por Anísio Teixeira como, “meia vitória, mas vitória”.

A primeira LDB equiparou o ensino profissional do ponto de vista da equivalência e da continuidade de estudos, para todos os efeitos ao ensino acadêmico, neutralizando, pelo menos do ponto de vista formal, a velha dualidade entre ensino para elites do país e ensino profissional para trabalhadores e operários. No Período Militar (1964 a 1985), houve nova centralização dos planos governamentais, que se tornaram importantes instrumentos do Governo Federal, e assim houve também perda significativa de função do Conselho Federal de Educação - CFE (TANURI, 1981).

A Lei Federal n.º 5.692/71, que reformulou a 4.024/61 com relação ao ensino de primeiro e de segundo graus, atual educação básica, também representou um capítulo importante da história da educação profissional, ao introduzir a profissionalização generalizada no ensino médio, então denominado segundo grau. O efeito da lei não interferiu diretamente na qualidade da educação profissional tradicional das instituições especializadas, mas o fez no sistema público de ensino, que não conseguiu oferecer uma formação de qualidade e compatível com as demandas de desenvolvimento do país.

A LF n.º 7.044/82 tornou facultativa a profissionalização no ensino de segundo grau. Por um lado, o tornou livre das amarras da profissionalização, de outro, praticamente restringiu a formação profissional às instituições especializadas nessa modalidade de ensino. As leis n.º 5.692/71 e 7.044/82, além de se constituírem no principal fator determinante da falta de identidade do ensino médio, geraram também falsas expectativas em relação à educação profissional.

Por outro lado, a 9.394/96 – LDB, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional - no Capítulo III aborda a Educação Profissional nos artigos 39 a 42. O parágrafo único do artigo 39 da LDB determina que o aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional.

A regulamentação (Decreto Federal nº 2.208/97) dos dispositivos da LDB definiu que a educação profissional de nível tecnológico corresponde a cursos de nível superior na área tecnológica, destinados aos egressos do ensino médio e técnico (inciso III do Artigo 3º) e que os cursos de nível superior deverão ser estruturados para atender aos diversos setores da economia, abrangendo áreas

especializadas, e concessão do diploma de tecnólogo. Cursos superiores de tecnologia como cursos de graduação têm seus critérios de acesso disciplinados pela Constituição Federal pela LDB (Parecer CNE-CP 95/98, CNE-CES 98/99, e Decretos no2.406/97 e nº 3.860/2001).

Os cursos superiores de tecnologia passaram a ser ministrados por instituições especializadas em educação profissional de nível tecnológico (centros de educação tecnológica) e instituições de ensino superior (universidades, centros universitários, faculdades integradas, institutos ou escolas superiores), sem quaisquer outras exigências complementares.

A estruturação curricular dos cursos superiores de tecnologia deverá ser formulada em consonância com o perfil profissional de conclusão do curso. O respectivo Projeto Pedagógico deveria contemplar o pleno desenvolvimento de competências profissionais gerais e específicas da área da habilitação, que conduziriam à formação de um tecnólogo apto a desenvolver suas atividades profissionais, de forma plena e inovadora. Esses cursos podem ser organizados por etapas ou módulos, sempre com efeitos terminais, correspondentes a qualificações efetivamente requeridas pelo mercado de trabalho. Os módulos concluídos dão direito a certificados de qualificação profissional, os quais conferem determinadas competências necessárias ao desempenho de atividades no setor produtivo.

Os projetos pedagógicos dos cursos deverão ser elaborados a partir de necessidades do mundo do trabalho, devendo cada modalidade referir-se a uma ou mais áreas profissionais. A orientação quanto à organização curricular dos cursos superiores de tecnologia é essencial à concretização de uma educação profissional que seja integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia (Artigo 39 da LDB), objetivando o permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e a capacidade de adaptar-se, com flexibilidade, ativamente, “às novas condições de ocupação e aperfeiçoamentos posteriores” (Artigo 35 da LDB).

Quanto à formação de docentes para a educação profissional de nível tecnológico deve-se considerar a qualificação acadêmica exigida para a docência no ensino superior. Admite-se nessa carreira que os portadores de certificados de especialização, como pós-graduação lato sensu. Prevê ainda, que na ponderação da avaliação da qualidade do corpo docente das disciplinas da formação

profissional, a competência e a experiência na área deverão ter equivalência com o requisito acadêmico, em face das características desta modalidade de ensino.

O Governo Federal por meio da Lei 11.195/2005 determinou a criação de 214 novas escolas técnicas, agora transformadas em IFET.

Do artigo Breve histórico da Educação Profissional no Brasil, encontrado em (www.mec.gov.br) foi possível destacar os seguintes marcos históricos da educação profissional e tecnológica no Brasil:

As atividades de educação vocacional e profissional foram iniciadas no Brasil logo após o descobrimento, para treinamento de índios e escravos. Pouco antes de 1875, profissionais brasileiros eram treinados nos arsenais da Marinha.

Dentre os fatos históricos da educação profissional no Brasil são destacados os seguintes:

• 1785 – Proibição do Colégio das Fábricas, sob a alegação da Coroa Portuguesa de que o Brasil, com operários qualificados, concorreria com Portugal com vantagens competitivas face aos recursos naturais disponíveis; reconhecimento do poder do conhecimento para o desenvolvimento e competitividade;

• 1809 – Re-criação do Colégio das Fábricas, com a chegada da Família Real ao Brasil;

• 1906 – Consolidação do ensino técnico-industrial no Brasil (Nilo Peçanha) que marcou o início da institucionalização da educação profissional;

• 1909 – Decreto 7.566: Criação da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica: Escolas de Aprendizes e Artífices, que no período de um século conseguiu organizar menos de uma centena de escolas; na realidade até os dias de hoje, não funciona segundo o conceito moderno de rede;

• 1927-Projeto Fidelis – Ensino Profissional Obrigatório, com o retorno do dilema ensino propedêutico x profissional;

• 1930 - Criação do Ministério da Educação e Saúde Pública;

• 1934 – Superintendência do Ensino Profissional, uma importante tentativa de organizar o sistema;

• 1937–Transformação das Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Profissionais (mudança apenas nominal e cosmética?);

• 1941–Reforma Capanema – Nível Médio; Exames de Admissão; dois ciclos; e estágio supervisionado;

• 1942. Criação das Escolas Industriais e Técnicas;

• (1951-1956)–Plano de Metas JK – Processo de Industrialização, que aumentou a demanda para o ensino técnico de forma bastante significativa; situação similar aos dias de hoje;

• 1959 – Escolas Técnicas Federais – Autarquias;

• 1971–Lei de Diretrizes e Bases da Educação;

• 1978–Transformação das Escolas Técnicas em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), que marca o início da educação tecnológica de nível superior;

• 1994–Instituição do Sistema Nacional de Educação Tecnológica;

• 1996–LDB separa a educação profissional da educação básica e instituição de certificação profissional;

• 1997–Regulamentação da Educação Profissional e criação do PROEP; e,

• Retomada do processo iniciado em 1978.

(WITTACZIK, 2008) apresenta um panorama histórico da educação profissional, desde os períodos remotos até o surgimento de novas tecnologias no setor produtivo nas últimas décadas. Mostrou que a formação profissional realizada por escolas do setor público e, também privado, bem como pelas instituições do Sistema S, guardam íntima relação com os avanços tecnológicos. Faz a conexão entre a história e as perspectivas da educação tecnológica.

Com base na legislação educacional brasileira vigente e diante da responsabilidade das instituições de ensino de gerar os saberes coletivos, flexíveis, sintonizados com as novas bases e formas de organização produtiva fundadas na produção e difusão das inovações tecnológicas.

Aborda a educação por competência como uma metodologia adequada à educação profissional. Considera que, a partir da disseminação das Escolas de Artes e Ofícios, as escolas técnicas passaram a ser, sistematicamente difundidas, com o propósito de preparar as gerações para exercer novos ofícios determinados pelos avanços tecnológicos.

Com as novas tecnologias ocorreram significativas mudanças nos modos de produção, acarretando novas demandas à educação profissional e tecnológica. Por exemplo, a formação em Mecatrônica se tornou necessária às indústrias dos

centros mais dinâmicos. Também a Internet e a educação na modalidade à distância abriram novas possibilidades para a educação profissional.

Hoje há dominância de ensino da informática e das TIC, o que antes era eletricidade e mecânica e competências para o comércio.

Segundo (Colombo, 2008), no período do governo Getúlio Vargas teve início à legislação que consagra os primeiros sistemas orgânicos de funcionamento do Estado, estabelecendo conexões da administração pública com a sociedade, representada pela oligarquia empresarial urbana.

Foi possível estabelecer conexões sistêmicas entre as ações públicas, envolvendo segurança, industrialização, política trabalhista e sindical, educação profissional e tecnológica, entre outras dimensões relacionadas às relações de interdependência entre capital e trabalho. Até então, as ações de governo eram pontuais e espasmódicas, caracterizadas pela informalidade, falta de planejamento e, voluntarismo das instituições de orientação social e educação.

Ainda segue confirmando alguns dos marcos históricos apresentados anteriormente, mas destaca a criação do Ministério da Educação em 1934, durante o Governo provisório de Vargas.

Com relação à comparação com as experiências internacionais de educação profissional, Rocha Neto (2009) destacou que o Modelo Dual iniciado pela Alemanha que vem sendo adotado por outros países desenvolvidos, incluindo França, China e Reino Unido, que envolve a formação profissional compartilhada entre as instituições educacionais e as empresas. Na Alemanha há mais de 500 mil empresas credenciadas. Em quase todos os casos há forte influência do Estado. No Brasil esse Modelo Dual sequer foi cogitado, até mesmo pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e tampouco pelo MEC e escolas técnicas. A base teórica das experiências internacionais de educação profissional ainda é a TCH.

Na atual década foi introduzida pela Capes a modalidade de Mestrado Profissional, conceito ainda não consolidado e que ainda apresenta a dualidade da educação profissional, sendo mais valorizados os programas de orientação acadêmica, descomprometida com o processo de desenvolvimento do País.

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